Mercado prevê juros mais altos: hora de fugir para as colinas da renda fixa? 

Especialistas falam como lidar com os investimentos em novo momento de aversão a risco; veja recomendações

Leonardo Guimarães

Publicidade

O mercado financeiro viveu os primeiros meses do ano com expectativa de Selic entre 8,5% e 9% ao fim de 2024. Mas com a deterioração do cenário nos Estados Unidos, agentes econômicos já precificam juros básicos entre 9,5% e 10% no Brasil, e corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom – e não mais 0,5 ponto. 

Em relatório recente, a XP lembra que, em dezembro, esperava um cenário global benigno, o que daria espaço para o início de cortes de juros nos Estados Unidos ainda neste primeiro semestre, mas “esse ambiente externo positivo não se materializou”, o que fez a casa a revisar a projeção de Selic para 10% no fim deste ano.

Baixe uma planilha gratuita para calcular seus investimentos em renda fixa e fuja dos ativos que rendem menos

Continua depois da publicidade

O Itaú também revisou seu cenário-base para 2024, projetando o primeiro corte de juros nos Estados Unidos apenas para dezembro – assim como a XP. “Atividade econômica forte e inflação mais persistente devem levar o Fed a esperar mais tempo e coletar mais dados”, diz o banco em relatório. 

Diante das mudanças no cenário macroeconômico, os juros futuros subiram, títulos públicos passaram a pagar mais e a Bolsa amarga queda relevante em abril, que faz investidores se perguntarem: é o momento de revisar a carteira?

Conheça seu perfil de investidor

Antes de qualquer decisão de portfólio, os investidores devem conhecer seus limites e saber quanto suportam carregar de risco e volatilidade na carteira. A dica não é repetida à toa: conhecer a si mesmo como investidor é fundamental para escolher os melhores ativos para o seu bolso. 

Continua depois da publicidade

“Vejo investidores que aumentam a exposição a ativos de risco além do que deveriam e ficam muito inseguros, quando a volatilidade não deveria incomodar tanto se os ativos forem adequados ao perfil”, diz Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator. 

Portanto, sentir incômodo com o risco que a carteira carrega pode estar relacionado a um otimismo exagerado enquanto a Bolsa andava bem. “Entendemos que é preciso olhar com certa distância os dados, sem fazer muitas movimentações de curto prazo”, pontua Lemos.

O que fazer na renda fixa

Para Marcelo Fatio, sócio fundador e CCO da Asset 1, a renda fixa segue bastante atrativa, com juro real alto, o que deve atrasar o movimento de volta do investidor à renda variável. “Isto não é ruim; a renda fixa seguirá como boa opção até vermos uma melhora no cenário”, completa. 

Continua depois da publicidade

Os títulos do Tesouro IPCA+ são os preferidos do momento. “Eles oferecem, hoje, juro real muito grande e acho razoável essa migração”, diz Bruno Carvalho, sócio fundador e gestor de renda fixa da Asset 1. 

Para os especialistas da Asset 1, o crédito privado é uma boa opção para quem aceita um pouco mais de risco na carteira. Caio Schettino, head de alocações da Criteria, cita os setores hospitalar e de saneamento com “taxas gordas” e “nomes de qualidade, que têm caixa de curto prazo para honrar dívidas tranquilamente a partir de 2028 e vão ajudar o investidor a pegar o fechamento da curva de juros”.

Os fundos de renda fixa também podem ajudar os investidores que querem capturar os melhores títulos emitidos recentemente: “oferecem liquidez menor e taxas mais baixas do que as de fundos multimercados”, pontua Carvalho. 

Continua depois da publicidade

De volta à lição sobre o perfil nos investimentos, Schettino, lembra que “numa carteira balanceada, investidores agressivos e moderados vão manter a estrutura das carteiras, mudando aos poucos as posições em renda fixa e variável”. 

Ou seja, pode haver rebalanceamento da carteira, com aumento de exposição à renda fixa – elogiada por Schettino –, mas a migração deve ser feita “aos poucos”, já que uma carteira equilibrada e racional não deveria ser totalmente alterada do dia para a noite. 

E na Bolsa?

Para os investidores já acostumados com a volatilidade da renda variável e que têm certo apetite por risco, há algumas opções para seguir em momentos de aversão ao risco. Uma delas é enxergar a turbulência como oportunidade, o que vai depender da leitura que o investidor faz do cenário e de um estômago superior à média dos investidores para suportar a volatilidade. 

Continua depois da publicidade

Lemos recomenda procurar por oportunidades independentemente do setor: “quem está comprando empresas olhando apenas para os setores que podem se beneficiar com o momento precisa ter muito cuidado porque pode ver as concorrentes subindo e sua ação não”. 

Por outro lado, quem tem ações na carteira pode optar por diminuir o risco. A maneira mais óbvia é desfazer algumas posições na Bolsa e comprar títulos de renda fixa. Outro jeito de lidar com o cenário adverso é migrar para ações consideradas defensivas. “É um ajuste muito fino, de olhar para a composição da carteira e talvez trocar algumas posições para ações de empresas com menor volatilidade e fluxo de caixa constante”, diz Isabel. 

Schettino, da Criteria, diz que “não precisa inventar moda” e que os bancos são boas opções para o momento, com Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) com bons pontos de entrada. “Em energia, Eletrobras (ELETR3, ELETR4) é um ótimo case, além de Copel e Equatorial, que também são ações defensivas: faça chuva ou faça sol, vão gerar caixa”, completa.