Quero fazer um viagem internacional; devo comprar dólar agora?

O dólar está em tendência de alta no longo prazo; então aproveite correções momentâneas para travar uma cotação interessante e garantir sua viagem

João Sandrini

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A pergunta que os leitores mais têm enviado à redação do InfoMoney ultimamente é: “farei uma viagem internacional nos próximos meses; devo ou não comprar dólar agora?”

Sempre que sou confrontado com essa questão respondo imediatamente que ninguém sabe se o dólar vai continuar subindo ou se vai realizar parte da alta recente nas próximas semanas ou meses. Ninguém sabe se a moeda americana vai voltar para R$ 3 ou superar R$ 4. E todo mundo que finge que sabe está fazendo apenas uma aposta, com chances de acerto semelhantes às de um jogo de cara ou coroa.

São tantas variáveis que influenciam a cotação do dólar que o câmbio é considerado o “atoleiro dos economistas” – é ali onde são enterradas excelentes reputações.

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O que planejadores financeiros podem, sim, ajudar as pessoas é na definição da estratégia a ser adotada. O principal erro que vejo as pessoas cometerem é deixar a decisão para a última hora. Se você precisa comprar dólar para viajar na semana que vem, será preciso contar muito com a sorte para encontrar uma cotação interessante.

No entanto, se você está planejando uma viagem para o final do ano, minha recomendação é fazer “hedge” e travar o dólar a uma cotação interessante sempre que houver uma oportunidade. Isso porque o dólar está em tendência de alta contra o real desde meados de 2011. A moeda americana se valorizou de patamares próximos a R$ 1,55 para o patamar próximo a R$ 4,00 – ou seja, mais que dobrou de valor.

Contra uma cesta com as principais moedas mundiais, o dólar também está em alta há mais de quatro anos. Os ciclos de alta da moeda americana costumam ser longos – os últimos dois foram de agosto de 1980 a fevereiro de 1985 e depois entre maio de 1995 e maio de 2002. Então a maioria dos analistas acredita que o atual ciclo também está longe do fim.

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Já se convenceu de que é preciso se proteger da alta do dólar? Ok, então chegou a hora de definir a estratégia. É melhor comprar tudo de uma vez? E a que preço?

Muitos especialistas indicam que as pessoas comprem dólar aos poucos, fazendo um preço médio interessante. Acredito que essa é uma boa tática. Mas acho que as pessoas devem ser mais agressivas nas compras se aparecerem boas janelas de oportunidade.

Se o dólar cair para algo próximo a R$ 3, por exemplo, pode ser interessante comprar tudo que será necessário para uma viagem daqui a 12 meses. Sempre existe a possibilidade de que o dólar caia ainda mais e chegue a R$ 2,90 ou R$ 2,80. Mas você nunca saberá isso antes que aconteça. Então aproveite um preço que lhe satisfaça e trave o valor – ao menos você vai dormir tranquilo.

E que instrumento financeiro utilizo para travar a cotação do dólar? Considerando apenas as questões tributárias, a melhor forma de fazer “hedge” é, sem sobra de dúvida, também a mais arcaica: comprar dólar em papel-moeda nas casas de câmbio ou agências bancárias. Essa operação é taxada apenas com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 0,38% – ou seja, quase nada.

O investidor também ganha dinheiro se pesquisar os bancos que vendem dólar turismo mais barato. O Banco Central ajuda a população e divulga em seu site, ainda que algum atraso, quais instituições cobram menos pelo dólar. O grande problema de comprar papel-moeda é guardar em segurança os dólares antes e durante a viagem.

Quem não se sente seguro andando com dólar no bolso ou guardando cédulas debaixo do colchão pode utilizar os cartões pré-pagos de viagem. Como pagamentos com esse tipo de cartão exigem a inserção de senha, o cliente pode ficar mais tranquilo em caso de roubo ou perda do plástico.

A desvantagem do cartão pré-pago é o IOF porque a alíquota sobre esse tipo de operação foi elevada durante o governo Dilma de 0,38% para 6,38%. Se converter R$ 10.000 em dólares, o turista vai pagar R$ 638 em IOF no cartão – contra só R$ 38 para dinheiro em espécie.

Outro custo é que a maioria desses cartões cobra uma “taxa de inatividade”. A cada seis meses, por exemplo, o emissor pode debitar alguns reais armazenados em seu cartão caso você não faça uso no período.

Mas por que não investir em um fundo cambial para escapar dessa taxa e do IOF? Essa é uma saída mesmo, mas lembre-se que, em um fundo cambial, se o dólar se valorizar, o valor de suas cotas em reais vai subir e você precisará pagar Imposto de Renda sobre esse ganho de capital no momento do resgate – a alíquota varia entre 22,5% e 15% e cai à medida que o prazo do investimento aumenta.

Vou ilustrar isso com minha própria experiência. Em 2014 investi R$ 20.000 em um fundo cambial para proteger despesas com minha viagem de férias. Fiz a viagem e decidi não resgatar o dinheiro no dia do vencimento da fatura seguinte do cartão de crédito como havia planejado porque combinei com minha namorada que, ao final de 2015, faríamos outra viagem internacional.

Em meados de março de 2015, esses R$ 20.000 haviam se transformado em R$ 27.493,72, mas minha corretora já me informava que eu teria de pagar nada menos do que R$ 1.107,60 em IR se resgatasse o dinheiro naquele momento.

Além da mordida do leão, o diretor técnico da Wagner Investimento, José Faria Jr., alerta que a maioria dos fundos cambiais não oferece um “hedge” perfeito para a alta do dólar por outros dois motivos.

Em primeiro lugar, esses fundos cobram taxa de administração. No meu caso, o Votorantim FIC de FI Cambial Dólar taxa os investidores em 0,85% do dinheiro aplicado ao ano.

Faria Jr. também avisa que, ao contrário do que as pessoas pensam, esses fundos não investem diretamente em dólares, mas em títulos de renda fixa cotados em dólar. Como movimentos de alta dos juros geralmente provocam perdas para esses títulos e vice-versa, os fundos cambiais conseguem apenas entregar um retorno próximo ao do dólar.

Uma alternativa para quem quer um produto o mais correlacionado possível à moeda americana é comprar minicontratos de dólar futuro negociados na BM&F. Cada contrato tem valor de US$ 10.000 – mas não é preciso ter todo esse dinheiro, já que, na BM&F, as operações são alavancadas e as pessoas só precisam depositar garantias e fazer ajustes diários.

Se alguém investe em minicontratos com o dólar a R$ 3,20 e vende quando o dólar chega a R$ 3,30, haverá um ganho de R$ 0,10 para cada dólar “travado” – nesse caso, um lucro de R$ 1.000 (0,10 X 10.000). Caso o dólar caia de R$ 3,20 para R$ 3,10, da mesma forma haverá perda de R$ 1.000.

O problema dos minicontratos é que não há liquidez para os papéis com vencimento mais longo. Então quem quiser travar um preço para o dólar em 1º de dezembro de 2019 não conseguirá fazer isso com o minicontrato com vencimento nessa data (WDOZ19) porque não haverá vendedores.

A pessoa terá que comprar um minicontrato de dólar para 1º de abril (WDOJ19) e, no último dia de março, rolá-lo para 4 de maio, e assim sucessivamente até dezembro. Haverá custos com custódia, emolumentos da Bolsa, corretagem e IR a cada mês. É por essa trabalheira que não recomendo “hedge” com minicontratos.

Pessoalmente acho que a melhor forma de travar a cotação do dólar é comprando dinheiro em espécie. Mas admito que muita gente pode considerar o fundo cambial e o cartão pré-pago mais interessantes pela questão da segurança de não ter dinheiro vivo em casa ou no bolso.

Entre essas duas possibilidades, a mais vantajosa será o cartão se o dólar subir muito e o fundo cambial se o dólar se valorizar pouco – porque o IR sobre o fundo cambial varia de acordo com a alta e pode até ser zero se houver queda.

Para escrever esse post, eu construí uma planilha que calcula os custos para travar a cotação do dólar com diversos produtos e em qualquer cenário. Se você deseja simular quanto teria de despesas com impostos e taxas para sua própria viagem, clique aqui e faça o download da planilha gratuitamente.

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