Ministro reclama de manchetes e diz que fala de Lula sobre Haddad foi “brincadeira”

Paulo Pimenta, chefe da Secom, diz que fala de Lula foi "recurso de retórica" e reclama que anúncio de medidas de crédito ficou em segundo plano na imprensa

Equipe InfoMoney

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) posa para foto ao lado do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta (PT) | Foto: Ricardo Stuckert / PR

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O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), reservou os minutos iniciais de um café da manhã com jornalistas, nesta terça-feira (23), no Palácio do Planalto, para comentar as manchetes de jornais sobre uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) direcionada a ministros na véspera.

Ontem (22), durante o lançamento do programa “Acredita”, que traz novos instrumentos de créditos a distintos grupos da sociedade, Lula cobrou de subordinados que entrassem mais em campo para ajudar na articulação política junto ao Congresso Nacional.

Na ocasião, o mandatário pediu que o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), fosse “mais ágil” e “converse mais” que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), deixe de ler livro e dedique mais tempo a discussões com parlamentares.

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“Isso significa que o Alckmin tem que ser mais ágil, tem que conversar mais. O Haddad, ao invés de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara. O Wellington [Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome], o Rui Costa [ministro-chefe da Casa-Civil], passar maior parte do tempo conversando com bancada A, com bancada B”, disse Lula.

As declarações ocorreram em um momento de dificuldades para o governo nas relações com o Congresso Nacional e em meio a riscos de derrotas importantes em pautas de interesse nas duas casas legislativas. Mais tarde, questionado por jornalistas sobre as declarações, Haddad disse: “Só faço isso (conversas com parlamentares) da vida”.

No café da manhã com jornalistas, nesta terça-feira, Paulo Pimenta adotou tom cordial para tratar do assunto, mas deixou explícito seu incômodo com o destaque que os comentários receberam na imprensa. Segundo ele, aquela foi uma “brincadeira” de Lula com os ministros e que acabou por ofuscar o anúncio do que classificou como “o mais importante programa de crédito já anunciado na história do Brasil”.

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“Quem conhece o presidente Lula sabe da maneira alegre, fraterna e amiga que ele estabelece uma relação com todas as pessoas com quem ele convive – e também conosco, que fazemos parte de sua equipe”, afirmou o ministro.

“Eu acho curioso que, em um evento tão importante quanto o de ontem, em que foram feitos anúncios tão significativos, num momento em que o presidente Lula fez uma brincadeira, como um recurso de retórica − e qualquer pessoa que estava lá presente percebeu que se tratava de uma forma generosa e carinhosa que o presidente Lula normalmente faz com as pessoas que quer bem… Ele fez uma brincadeira com Alckmin, Haddad, Rui e Wellington… Nós tenhamos como manchete de boa parte da imprensa brasileira não os anúncios. Tantos anúncios importantes, milhões de reais de crédito inédito acabam secundarizados, como se aquela brincadeira tivesse sido uma crítica, uma bronca, uma reprimenda do presidente Lula insatisfeito com a sua equipe ou com aqueles ministros que ele citou”, prosseguiu.

Antes de passar a palavra a Lula, Pimenta também defendeu uma “qualificação” da relação entre o governo e a imprensa, para que, na sua visão, sejam valorizados aspectos relacionados “à política pública, ao país, à geração de empregos, ao crescimento da economia”. “Tantos fatos importantes e relevantes, como ontem, que acabaram ficando secundarizados por conta daquilo que, evidentemente, para qualquer pessoa que tinha boa vontade, bom senso e estava lá presente, viu que foi uma brincadeira”, disse.

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Já Lula, logo no início de seu discurso, lembrou de episódio passado em que ele e a direção do Partido dos Trabalhadores (PT) se incomodaram com reportagens negativas veiculadas na imprensa e resolveram convidar jornalistas para um encontro de relacionamento.

Ele disse que à época chegou à seguinte conclusão: “Se a gente não quiser a manchete negativa, a gente não tem que dar pretexto para que as pessoas façam as manchetes”.

“É preciso que a gente pense o que vai falar, porque tudo que você falar pode virar uma manchete”, concluiu o presidente.