Braga Netto, o general que Bolsonaro escolheu como candidato a vice

Ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, militar da reserva é alinhado ao presidente e considerado ‘cumpridor de ordens’

Nome completo:Walter Souza Braga Netto
Data de nascimento:11 de março de 1957
Local de nascimento:Belo Horizonte, Minas Gerais
Formação:Academia Militar das Agulhas Negras (Aman)
Profissão:Oficial do Exército, hoje na reserva
Cargos em destaque:Chefe do Estado Maior do Exército, ministro da Casa Civil, ministro da Defesa e assessor especial da Presidência
Partido:PL
Patrimônio declarado:R$ 1,63 milhão

Walter Braga Netto é um político e militar da reserva brasileiro. Filiado ao PL, é o candidato a vice-presidente da República na chapa liderada por Jair Bolsonaro (PL) para as eleições de outubro de 2022. Durante o atual governo, ele passou pelos cargos de assessor especial da Presidência, ministro da Defesa, ministro chefe da Casa Civil e chefe do Estado Maior do Exército.

Braga Netto deixou seu último posto no Planalto em 1o de julho de 2022 e teve sua candidatura a vice oficializada em 24 de julho. Ele atua como um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, ao lado de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, Ciro Nogueira (PP), ministro da Casa Civil, e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), senador e um dos filhos de Jair.

General de Exército, posto mais alto da hierarquia das Forças Armadas, Braga Netto exerce em 2022 o papel que em 2018 foi de seu colega, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos). Mourão é candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul.

Jair Bolsonaro repetiu a estratégia de escolher um militar para vice, para desgosto de parte de seus aliados, que queriam um político. O nome da ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (PP-GO), era o preferido de grande parcela do Centrão, grupo de políticos e partidos que apoiam o governo. O argumento era que ela poderia atrair mais votos, especialmente entre as mulheres.

Mais uma vez, a escolha de um militar de alta patente para vice é vista como um “seguro” de Bolsonaro contra eventual processo de impeachment, caso seja reeleito. Nessa lógica, a cassação do presidente teria como consequência a posse de alguém potencialmente mais autoritário e com maior respaldo das Forças Armadas.

Quem é Braga Netto?

Walter Souza Braga Netto nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 11 de março de 1957. Foi aluno do Colégio Militar da capital mineira. Em 1975, entrou para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), escola de formação de oficiais do Exército, em Resende, Rio de Janeiro. Formou-se em 1978 na arma de Cavalaria e tornou-se aspirante a oficial.

Foi promovido a segundo tenente em 1979 e a primeiro tenente em 1980. Cursou a Escola de Educação Física do Exército, em 1981, e em 1984 chegou ao posto de capitão. Em 1988, formou-se na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (Esao), com mestrado em Operações Militares. Em 1994, concluiu doutorado em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares na Escola de Comando e Estado Maior do Exército (Eceme).

Em 1996, fez o curso do Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus, no Amazonas. Sua formação inclui ainda pós-graduação em Gestão Estratégica da Informação pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em 1999, e o curso de pós-graduação em Política, Estratégia e Alta Administração do Exército, em 2006.

Foi assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República durante a implantação do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam/Sivam), de 1997 a 1999, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e chefe do Grupo de Observadores Militares da Autoridade Transitória das Nações Unidas no Timor Leste, em 2000.

Em 2001, assumiu o cargo de comandante do 1o Regimento de Carros de Combate e foi promovido a coronel. Chefiou ainda a Escola Preparatória de Cadetes do Exército.

De 2005 a 2007, trabalhou como adido militar na embaixada do Brasil em Varsóvia, na Polônia, e de 2011 a 2013 exerceu a mesma função na embaixada brasileira em Washington, nos Estados Unidos. Chegou ao posto de general em 2009, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário de Bolsonaro nas eleições de 2022.

Em 2013, Braga Netto assumiu o cargo de secretário de segurança presidencial e de chefe da Casa Militar da Presidência da República, no governo de Dilma Rousseff (PT). No mesmo ano, foi nomeado coordenador geral da Assessoria Especial dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, posição que ocupou até 2015.

Seu nome começou a ganhar o noticiário quando o Exército ocupou o Complexo da Maré, na zona norte da capital fluminense, em 2014.

Entre 2015 e 2016, comandou a 1a Região Militar, que inclui os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Em 2016, foi coordenador geral de Defesa da Área dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016.

De 2016 a 2019, exerceu o cargo de comandante Militar do Leste, que abrange RJ, ES e Minas Gerais. Em 2018, foi nomeado interventor federal na área de Segurança Pública do Estado do Rio, no governo de Michel Temer (MDB).

Na época, tornou-se conhecido do grande público. Nos dez meses em que Braga Netto esteve à frente da segurança pública do Rio, houve redução dos roubos no estado, mas aumento das mortes provocadas pela polícia.

“O que ocorre é que o bandido no Rio tinha uma política de enfrentamento irracional. Ele estava às vezes cercado, com armamento pesado, e buscava o confronto. Mas a tropa estava adestrada e tinha muita tropa no local, Polícia Militar, Polícia Civil, o que fosse. Nessa postura irracional do bandido, se ele não se entregava, ele acabava morrendo. Essa [categoria de morte] aí realmente aumentou”, justificou.

Carreira política

De 2019 a 2020, foi chefe do Estado Maior do Exército, segundo posto mais importante da Força. Deixou o cargo para assumir a chefia da Casa Civil de Bolsonaro, em fevereiro de 2020, no lugar de Ônix Lorenzoni (PL), hoje candidato ao governo do Rio Grande do Sul, e passou para a reserva.

Quando Braga Netto era ministro chefe da Casa Civil, a pasta aprovou o nome de sua filha, Isabela Oassé de Moraes Ancora Braga Netto, para ocupar uma vaga na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No entanto, ela acabou desistindo da função. 

Em março de 2021, assumiu o Ministério da Defesa no lugar do colega Fernando Azevedo e Silva. A saída de Azevedo e Silva em meio ao desgaste com Bolsonaro gerou uma crise, e os então comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica se demitiram em protesto. O presidente levantou suspeições de uma eventual ruptura institucional e colocou as Forças Armadas como sua linha auxiliar. 

Braga Netto permaneceu na Defesa até março de 2022, depois foi nomeado assessor especial da Presidência, posição que ocupou até 1o de julho. Deixou o governo para se dedicar à campanha. Em 28 de março, ele já havia se filiado ao PL e seu nome vinha sendo considerado para a vaga de candidato a vice.

Recentemente, foi revelado que Braga Netto recebeu R$ 926 mil somados em salários e verbas afins durante a pandemia, em março e junho de 2020, muito acima do teto constitucional de R$ 39,9 mil por mês. A justificativa seria que os pagamentos foram referentes a férias não usufruídas e adicionais não recebidos ao longo da carreira, e têm fundamento legal.

Em sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, Braga Netto informou ter um patrimônio de R$ 1,63 milhão.

Alinhamento

Braga Netto é considerado fiel ao projeto bolsonarista e um “cumpridor de ordens”. Nos diferentes cargos que ocupou no governo, defendeu o chefe e respaldou seus posicionamentos. Com Mourão, o presidente teve várias desavenças.

“Vocês vieram mais para ver o presidente do que eu. O vice tem que ficar quieto”, disse Braga Netto no lançamento oficial da chapa, em 24 de julho. A atitude do candidato a vice contrasta com a de Mourão, que volta e meia comenta decisões do governo e falas do presidente, nem sempre concordando.

“Esse, Braga Netto, é o nosso exército”, declarou Bolsonaro no mesmo evento. O político busca sempre vincular apoio das Forças Armadas ao seu projeto.

A campanha tenta suavizar a imagem de Braga Netto como militar de poucas palavras, discreto e descrito como “durão” por colegas, para torná-lo mais político. Uma das iniciativas é deixar a patente de general fora das eleições. Apenas o nome Braga Netto vai aparecer nas urnas.

O candidato a vice pode ser um homem de poucas palavras, mas quando fala mostra seu alinhamento com Bolsonaro. Em 30 de março de 2022, o Ministério da Defesa, então liderado por Braga Netto, divulgou nota chamando o golpe de 1964, que deu início à ditadura militar no Brasil, de “marco histórico da evolução política brasileira”. O presidente já deu acenos positivos ao período de ditadura militar no Brasil (1964 – 1985).

Em julho de 2021, quando o governo tentava aprovar o voto impresso no Congresso, Braga Netto fez chegar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mensagem dizendo que não haveria eleições em 2022 sem voto impresso e “auditável”.

A manifestação ocorreu no mesmo dia em que Bolsonaro fez ameaça semelhante. “Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não vou nem falar mais nada. Se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado”, declarou o presidente. Mas o projeto de voto impresso foi derrotado no Congresso.

Em 2020, então como ministro da Casa Civil, Braga Netto foi designado para comandar o comitê de crise do governo para o enfrentamento da pandemia de Covid-19, numa tentativa do Planalto de concentrar ações na área e reduzir o protagonismo do ministro da Saúde à época, Luiz Henrique Mandetta.

Em abril de 2021, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou abertura de procedimento para apurar a conduta de Braga Netto na ocasião. O TCU apontou “graves omissões”, entre elas o então ministro “não ter contribuído da forma que seria esperada para a preservação de vidas”.

Ao longo da pandemia, Bolsonaro foi contra medidas de isolamento social, o uso de máscaras e agiu como negacionista de vacinas. O Brasil já registra mais de 683 mil mortes por Covid-19.

Ainda em 2021, durante a realização da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, atacou o “lado podre” das Forças Armadas por suposto envolvimento em “falcatrua” no governo.

Em reposta, nota assinada por Braga Netto, então ministro da Defesa, e pelos comandantes das três forças, dizia que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”. A nota foi considerada intimidatória por políticos e representantes da sociedade civil.

Já como candidato a vice, Braga Netto disse em evento para empresários no dia 24 de agosto, em São Paulo, que as Forças Armadas vão aceitar o resultado das eleições, independentemente de quem vencer.

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