Bolsonaro oficializa candidatura à reeleição pelo PL; Braga Netto é confirmado como vice

Candidatura é lançada em megaevento no Maracanãzinho, que misturou palanque e culto aos apoiadores, entre "ameaça de comunismo" e "vontade de Deus"

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante manifestações no dia 7 de setembro (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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O Partido Liberal (PL) oficializou, por aclamação, neste domingo (24), a candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. A convenção nacional da sigla é realizada em evento com estrutura de comício, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro (RJ). O partido também confirmou o nome do general Walter Braga Netto como vice na chapa.

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É a primeira vez que um presidente disputa um novo mandato ao Palácio do Planalto com uma chapa “puro sangue”, ou seja, com um vice da mesma legenda. General de quatro estrelas, Braga Netto é homem de alta confiança de Bolsonaro. Na atual gestão, atuou como ministro chefe da Casa Civil, comandou o Ministério da Defesa e mais recentemente exercia o cargo de assessor especial da Presidência da República – do qual foi exonerado em julho.

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Com um militar de vice, Bolsonaro repete estratégia adotada quando disputou a presidência em 2018. Naquela ocasião, o escolhido foi o general Hamilton Mourão, com quem colecionou desavenças ao longo do mandato. Nos bastidores do poder, a decisão de ter um vice militar e sem trânsito político é vista como uma espécie de “seguro” adicional contra um possível impeachment, já que o nome do possível substituto costuma provocar desconfiança dos políticos.

Ao contrário da última corrida presidencial, Bolsonaro agora também aposta na força das estruturas tradicionais de campanha – embora ainda trate a comunicação nas redes sociais como pilar estratégico para sua reeleição. Em vez do nanico (à época) PSL e do discurso crítico ao “centrão”, o mandatário resolveu filiar-se ao PL, de Valdemar Costa Neto, uma das mais tradicionais legendas do grupo, e atraiu aliança com o Progressistas, o Republicanos e o PTB.

Tal estrutura garantirá maior tempo para propaganda no rádio e na televisão, mais recursos financeiros para a campanha e maior capilaridade para palanques nos estados e municípios. Prova do movimento é o próprio evento montado para a oficialização da candidatura. O PL trabalhava com a expectativa de reunir cerca de 10 mil pessoas no Maracanãzinho, estratégia muito diferente da adotada pelas siglas adversárias, que contaram com estrutura mais modesta.

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Os ingressos para o evento foram disponibilizados inicialmente pela internet, mas bolsonaristas acusam opositores de tentarem “sabotar” a convenção, ao convocar apoiadores a se inscreverem para o evento e não comparecerem, de modo a esvaziar a convenção.

Pelo calendário da Justiça Eleitoral, os partidos têm entre 20 de julho e 5 de agosto para realizar as reuniões que definirão coligações e a escolha candidaturas à presidência, aos governos e aos cargos de deputado federal, estadual e distrital. Depois, as siglas têm até 15 de agosto para solicitar os registros de candidatura junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Bolsonaro é o quarto presidenciável a oficializar candidatura para essas eleições. Antes dele, tiveram suas candidaturas lançadas Ciro Gomes (PDT), na quarta-feira (10), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta-feira (21), e André Janones (Avante), no sábado (23).

Bolsonaro hoje aparece na segunda colocação nas pesquisas para o comando do Poder Executivo, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tenta voltar ao Palácio do Planalto para um terceiro mandato. O petista ocupou o cargo de 2003 a 2010.

Considerando os principais levantamentos das últimas quatro semanas, Lula lidera a disputa com algo entre 43% (BTG/FSB, 27/06 e PoderData, 20/07) e 47% (Datafolha, 24/06) das intenções de voto. Uma vantagem que varia de 6 a 19 pontos percentuais sobre Bolsonaro.

Bolsonaro hoje aparece em desvantagem sobretudo entre o público feminino, o eleitorado de baixa renda e residente da região Nordeste. Tais grupos têm sido a prioridade do mandatário, que tem investido em agenda intensa de pré-campanha, para recuperar terreno nas pesquisas. Um dos movimentos mais fortes nesse sentido foi a aprovação da PEC dos Auxílios no Congresso Nacional, que cria programas sociais e amplia benefícios existentes.

Entre as medidas da emenda aprovada estão a ampliação das parcelas do Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00 mensais a todas as famílias elegíveis, o aumento do Vale Gás para garantir a compra de um botijão a cada dois meses aos beneficiários, a criação de um “voucher” de R$ 1.000,00 a caminhoneiros autônomos e o pagamento de um auxílio emergencial a taxistas. As medidas vão apenas até 31 de dezembro, mas o mandatário tem prometido manter o auxílio turbinado em 2023.

Ataques ao Supremo e acenos às mulheres

A campanha de Bolsonaro investiu em um megaevento para o lançamento da candidatura à reeleição. Em uma tentativa de demonstrar de força, trouxe apoiadores vestidos com as cores verde e amarelo ao Maracanãzinho e contou com a presença de importantes aliados políticos, como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL). Entre os filhos do mandatário, apenas o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ocupava posição de destaque no palco.

Durante sua fala, que durou mais de 1 hora, Bolsonaro voltou a emular o fantasma do “comunismo” e levantar a bandeira do combate à corrupção, como forma de atingir a campanha de Lula. “Eu tenho quase que uma rotina. Nessa passagem, eu dobro meus joelhos, rezo um pai nosso e peço a Deus que esse povo brasileiro nunca experimente as dores do comunismo”, afirmou logo no início.

“Quando se fala em poder do povo, alguém acha que o povo cubano não quer a liberdade? Tem? Não. Como chegar a esse ponto? Por escolhas erradas (…) A nossa missão é não atrapalhar a vida de vocês. É, cada vez mais, tirar o estado de cima de vocês. Estado forte, povo fraco. Povo forte, estado forte”, disse.

Aos gritos de “Lula, ladrão” que vinham das arquibancadas, entoou pautas conservadoras como a contrariedade ao aborto. Também manifestou-se contra a regulação da imprensa.

Pouco antes do fim de sua fala, Bolsonaro convocou os apoiadores para saírem as ruas “pela última vez” no próximo 7 de setembro e voltou a subir o tom contra o Supremo Tribunal Federal (STF). “Nós somos maioria, nós somos do bem, nós temos liberdade para lutar pela nossa pátria. Convoco todos vocês agora, para que todo mundo, no 7 de setembro, vá as ruas pela última vez”, disse, aos gritos de “mito”.

“Vamos às ruas pela última vez”, reforçou. “Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Interessa para todos nós. Não queremos o Brasil dominado por outra potência. E temos outras poucas potências de olho no Brasil”.

Em outro momento, na parte inicial do discurso, Bolsonaro havia dado outra oportunidade aos apoiadores para atacarem o STF. “Iniciamos o governo com sérios problemas éticos, morais e econômicos. Formar ministério não foi fácil. Muita gente queria que os ministérios fossem formados a exemplo de outros governos. Conseguimos, pela coragem que peço a Deus, escolher um time de ministros. Vocês hoje conhecem nossos ministros, conhecem, em grande parte, os deputados federais, os senadores, sabem o que é Poder Legislativo. Hoje vocês sabem também o que é Supremo Tribunal Federal”, pontuou. Os presentes vaiaram o tribunal e gritaram palavras de ordem: “Supremo é o povo”.

Ao se referir ao vice na chapa, o general Braga Netto, adotou tom ambíguo ao se referir aos seus apoiadores como “exército”. “Esse, Braga Netto, é o nosso exército, é exercito do povo, o exército que está do nosso lado, que não admite corrupção, não admite fraude. Esse é o exército que quer transparência, quer respeito. Quer, não, merece e vai ter”, disse.

Apesar de ter usado a palavra “fraude” e mencionado “eleições limpas”, Bolsonaro não fez nenhuma nova referência às urnas eletrônicas.

Na última segunda-feira (18), o presidente fez uma apresentação a cerca de 70 embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada na qual criticou o sistema eleitoral brasileiro, fez insinuações de fraude em pleitos anteriores (sem apresentar provas) e acusou ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) de conspirarem pela vitória de Lula (também sem apresentar qualquer prova).

O episódio gerou forte desconforto entre aliados do “centrão”, que buscaram apagar incêndios nos dias seguintes e cobraram outra postura do mandatário, mas não houve grandes alterações no tom adotado. A avaliação de integrantes deste grupo político é que o discurso de Bolsonaro contra o sistema eleitoral não agrega votos e pode ser interpretado como justificativa antecipada em caso de derrota em outubro.

No discurso deste domingo (24), Bolsonaro também buscou acenar ao eleitor do Nordeste, ao confrontar governadores da região. “Lamentamos todas as mortes, fizemos o possível. A condução do combate à Covid, por decisão judicial, passou a ser de governadores e prefeitos. Alguns conduziram muito bem, outros nem tanto. Esses ‘nem tanto’ fizeram com que vocês experimentassem um pouquinho do que é ditadura. ‘Fique em casa’. Mandando sua força policial prender surfista, mulheres em praça pública, pequenos comerciantes que tinham colocado o carrinho em uma esquina. E, também grave, mandaram fechar igrejas e templos religiosos. Nem em guerra se fecha uma igreja ou um templo religioso. Alguns governadores, em especial do Nordeste, tomaram medidas restritivas não permitidas sequer em Estado de Sítio. Sentimos na pele o que é uma ditadura”, afirmou.

Também neste caso houve referência a possíveis casos de corrupção. Ao mencionar a CPI da Covid, que produziu relatório crítico à sua gestão, Bolsonaro disse que os parlamentares “não quiseram apurar o Consórcio do Nordeste, onde enfiaram R$ 50 bilhões de reais e não compraram um respirador sequer”. “Teve nordestino que morreu asfixiado por falta de respirador”, disse.

A referência à CPI da Covid ocorreu num momento em que Bolsonaro criticava o senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado de Lula e que foi relator no colegiado. “Sabemos do caráter do presidente da comissão, que foi ministro da Justiça de Fernando Henrique. Que foi procurado pelo então sindicalista Lula para botar em liberdade 10 sequestradores e chamou os sequestradores de ‘meninos que se equivocaram’ quando fizeram o sequestro”, pontuou.

Renan Calheiros é o principal adversário político de Arthur Lira em Alagoas. O presidente da Câmara dos Deputados, que tem garantido apoio ao mandatário no parlamento, esteve presente na convenção nacional do PL e ocupou posição de destaque no palco. Ele foi chamado de “amigo de longa data” por Bolsonaro. “Ele é o dono da pauta da Câmara dos Deputados. Nada é colocado em votação se não for por decisão dele”, disse o mandatário.

“Eu sei que a figura mais importante hoje aqui sou eu. Mas se não é Arthur Lira, esse cabra da peste de Alagoas, não teríamos chegado a esse ponto”, reforçou.

E para mirar os eleitores de baixa renda, Bolsonaro chamou atenção para programas implementados em sua gestão, como o auxílio emergencial durante a pandemia, que se transformou em Auxílio Brasil – instrumento que substituiu o Bolsa Família e ampliou as parcelas até então pagas pelo governo federal às famílias contempladas.

“Nós gastamos, em 2020, com o Auxílio Emergencial, o equivalente a 15 anos de Bolsa Família. Como assim o governo não pensa no mais pobre? Esse governo, no final do ano passado, dentro da responsabilidade fiscal, extinguiu o Bolsa Família, que pagava em média R$ 190,00. Tinha mulheres ganhando R$ 80,00. Passaram a ganhar, no mínimo, R$ 400,00. E agora, com o apoio do nosso parlamento, passamos para R$ 600,00. E conversei essa semana com o Paulo Guedes: esse valor será mantido a partir do ano que vem”, prometeu.

Bolsonaro também salientou os esforços de sua gestão no combate à inflação – enaltecendo a expectativa de deflação para o mês de julho – e na redução dos preços dos combustíveis a partir da diminuição de impostos cobrados. Mencionou “responsabilidade fiscal” ao falar em novos programas sociais e redução do tamanho do Estado. Mas, para alguns dos presentes, a exploração da pauta econômica foi aquém do esperado, já que o assunto é tratado como prioridade pelo eleitor em 2022.

De olho no eleitorado feminino, logo no início Bolsonaro passou a palavra à sua esposa, Michelle Bolsonaro – tida como figura carismática pela direita e estratégica para a aproximação do presidente com as eleitoras. A primeira-dama discursou após uma oração feita pelo deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP).

Michelle Bolsonaro, em sua fala, usou intensamente de elementos de religião cristã, um dos pontos centrais na identificação com o eleitorado conservador, amalgamado à narrativa de patriotismo. Disse que Bolsonaro “é um escolhido de Deus” e que ela ora diariamente na cadeira do mandatário.

“Irmãos, foi a preço de sangue estarmos aqui”, disse ao lembrar do episódio da facada sofrida por Bolsonaro em 2018. “Deus ama essa nação. Essa nação é abençoada, é próspera, é rica. Ela só foi mal administrada”, afirmou.

“Deus ama essa nação. Nós aprendemos a interceder por ela. Nós aprendemos a amar nosso Brasil. Com a campanha dele (Jair Bolsonaro), foi resgatado o patriotismo, essa chama foi acendida. Hoje nós temos orgulho de dizermos que somos brasileiros – uma terra santa, uma terra escolhida por Deus. E Deus tem promessas para o Brasil. E todas as promessas irão se cumprir”, reforçou, em fala que mistura culto religioso e palanque eleitoral.

Michelle também insistiu que “a reeleição não é um projeto de poder” e classificou a campanha à reeleição de seu marido como um “projeto de libertação para a nossa nação”. No intuito de rebater críticas de parcela importante do eleitorado feminino ao presidente, afirmou que Bolsonaro “foi o presidente que mais sancionou leis para a proteção das mulheres” na história.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.