Sergey Brin: o matemático russo que criou o algoritmo do Google

A história do imigrante que saiu da União Soviética com a família para fundar uma das empresas mais valiosas do mundo nos Estados Unidos

Nome completo:Sergey Mihailovich Brin
Ocupação:Empreendedor
Local de Nascimento:Moscou, Rússia
Data de Nascimento:21 de agosto de 1973
Fortuna:US$ 66 bilhões (segundo ranking da Forbes, em setembro de 2020)

Quem é Sergey Brin?

Sergey Brin é filho de um matemático e uma pesquisadora russos, que emigraram para os Estados Unidos quando o filho tinha seis anos.

Durante o doutorado na Universidade Stanford, Brin conheceu Larry Page em um grupo de alunos do ensino médio que já haviam sido aceitos no curso. E foi ódio à primeira vista. Os dois passaram o dia discutindo. Mas acabaram percebendo que tinham muito em comum. Quando Page voltou para Stanford, poucos meses depois, os dois começaram uma amizade.

Quando Page percebeu que poderia usar links para hierarquizar as páginas da internet, usando como inspiração o sistema de referência dos artigos científicos, convidou Brin para participar do projeto. O matemático, que ainda não havia encontrado um projeto fascinante o suficiente para se aprofundar, gostou do desafio. Nascia o Google, o sistema que organizou a internet na forma como ela existe hoje.

Em torno de um motor de buscas, Brin e seu sócio, Larry Page, construíram um império financiado pelos bilhões arrecadados com anúncios no ecossistema de produtos composto pelo YouTube, Android, Chrome, Waze, Google Maps, Orkut, o próprio buscador, entre (muitos) outros.

Em 2019, ele e Page deixaram o comando da companhia. Desde então, Brin tem investido em projetos de exploração espacial e aviação.

Família e formação

Sergey Brin nasceu em Moscou, então União Soviética, em 1973, durante a Guerra Fria.

Seu pai, Mikhail, de família judia, queria estudar astronomia. Mas, naquela época, os judeus tinham dificuldade em acessar alguns departamentos da Universidade de Moscou. O departamento de Física, que cobria o curso de Astronomia, era um deles. Então, ele decidiu estudar matemática, formando-se com mérito em 1970. Mikhail foi trabalhar como economista no Comitê Estatal de Planejamento soviético.

Sem acesso a uma pós-graduação, ele continuou estudando matemática sozinho, pesquisando e escrevendo artigos e desenvolvendo, por conta própria, uma tese de doutorado. Naquela época, um estudante da União Soviética poderia conseguir o doutorado passando por alguns exames e contando com uma instituição que concordasse em receber sua tese. Assim, ele conseguiu defender seu estudo em uma universidade na Ucrânia, recebendo seu Ph.D. Mas o título mudou pouca coisa em sua vida.

Eugenia, a mãe de Sergey, graduou-se em Mecânica e Matemática pela Universidade de Moscou e trabalhava como pesquisadora no Instituto Soviético de Óleo e Gás.

A família Brin vivia em um apartamento de 32 m² e três cômodos, dividido com a mãe de Mikhail. No prédio de cinco andares, havia um pátio onde o pequeno Sergey saia para brincar por duas horas todos os dias.

Em 1977, depois de voltar de uma conferência em Varsóvia, na Polônia, Mikhail voltou para a Rússia com a ideia de deixar o país e mudar-se com a família para os Estados Unidos, onde haveria melhores oportunidades para todos. Eugenia ficou preocupada com a possibilidade de a família aplicar para o visto de saída do país e não consegui-lo. Se isso acontecesse, eles seriam “refuseniks”, um termo não-oficial para indivíduos – principalmente judeus – aos quais foi negada a permissão para emigrar. Essas pessoas eram vistas como párias da sociedade e dificilmente conseguiam emprego. O que fez, enfim, Eugenia aceitar sair da Rússia foi o futuro de Sergey.

Assim que deram entrada no pedido de visto para saída, em setembro de 1978, Mikhail foi demitido. Eugenia também precisou deixar seu posto. Para sustentar a família, Mikhail trabalhava traduzindo livros técnicos para inglês e começou a aprender sobre programação. Eugenia conseguiu um trabalho escondendo a intenção da família de se mudar e os dois passaram a dividir os cuidados com Sergey, que foi retirado da escola.

Em maio de 1979, oito meses depois do pedido de visto, a família recebeu a autorização do governo para deixar o país. A jornada não foi simples: primeiro foram para Viena e receberam ajuda da Sociedade de Imigração Judaica local. Depois, foram para Paris. De lá, com a ajuda do matemático Anatole Katok, Mikhail conseguiu um trabalho como professor na Universidade de Maryland. Eugenia começou a trabalhar como cientista na Nasa.

A família desembarcou nos Estados Unidos em outubro de 1979, recebendo 2 mil dólares emprestados da comunidade judaica local. Com o dinheiro, compraram um carro e alugaram um apartamento. Brin foi matriculado em um colégio com metodologia Montessori, que enfatiza a autonomia e liberdade da criança.

Com seu forte sotaque russo, Brin teve dificuldades para se adaptar à nova vida nos primeiros anos. Mas, pouco tempo depois, Brin já falava inglês como um nativo. O irmão mais novo de Sergey, Sam Brin, nasceria pouco tempo depois. Formado em ciência da computação, Sam não alcançou a fama do irmão. Mas, atualmente, ele trabalha no Robinhood, uma empresa de serviços financeiros que ganhou os holofotes recentemente por ajudar pessoas físicas a investir.

No ensino básico, o conhecimento avançado de matemática de Brin já chamava atenção dos professores. Tanto que ele “pulou” um ano de estudo, entrando na Universidade de Maryland aos 16 anos. Brin se formou aos 19, graduado em Ciência da Computação. De lá, depois de ter sua entrada recusada no MIT, seguiu para Stanford, para continuar os estudos.

De estudante a bilionário

Sociável e atlético, o jovem Sergey Brin passou a praticar uma série de esportes: iatismo, natação, mergulho, ginástica, esqui e patinação.

Como gostava de conhecer novas pessoas, no verão de 1995, Sergey Brin se voluntariou para ser o guia de um grupo de alunos que haviam sido aceitos na Universidade de Stanford, mas ainda não tinham decidido se estudariam lá. Ele levou a turma para um passeio pelo campus e pela cidade de São Francisco. Entre os estudantes estava Larry Page. Os dois passaram os dias se alfinetando. Mas encontraram alguns pontos em comum.

Assim como Brin, Larry vinha de uma família de pesquisadores e estudiosos. O pai de Larry foi uma das primeiras pessoas a receber um doutorado em ciência da computação e sua mãe era professora de programação. Os dois estudantes também vinham de famílias com ascendência judaica, embora nenhum dos dois fosse muito religioso.

Alguns meses depois, Page voltaria para Stanford para um doutorado em Ciência da Computação. Lá, ele selecionou Terry Winograd, um pioneiro na interação entre humanos e computadores, para ser seu orientador do doutorado e se debruçou sobre a tarefa de tentar criar um ranking para as páginas por meio dos links que direcionavam para elas.

A ideia era aplicar na internet o que já acontecia com trabalhos científicos. No meio acadêmico, quase tão importante quanto publicar um artigo, é ter seu artigo citado em outras pesquisas. Nesse meio, quanto mais citações de centros de estudos mais relevantes, maior será a reputação do artigo. Page queria fazer o mesmo com os links que apontavam para outras páginas. Assim, cada link funcionaria como uma “citação”.

Seu projeto de mapeamento e organização da internet foi chamado de BackRub. E o tamanho do desafio de “organizar” a internet foi o que atraiu Sergey Brin, seu futuro parceiro e sócio, para o plano. Neste período, os dois já haviam superado a rivalidade inicial e eram amigos.

Brin e Page desenvolvem um sistema de ranqueamento de páginas chamado de PageRank (o nome era uma referência ao sobrenome de Larry e à palavra página, em inglês). Cada página recebia uma nota, baseada na quantidade e qualidade dos links que redirecionam para ela.

A diferença principal era que, na época, os principais buscadores listavam os resultados de acordo com a quantidade de vezes que o termo buscado aparecia no texto. Isso gerava um ranking que poderia ser facilmente manipulável. Page e Brin queriam mostrar que o sistema de referências gerava um resultado melhor para o usuário que os sistemas que já existiam, como o AltaVista.

Para colocar o sistema para rodar, a dupla transformou o quarto de Page em um servidor, lotado de computadores montados a partir de peças de segunda mão. Enquanto isso, o quarto de Brin virou o escritório. A infraestrutura da Stanford, uma das mais modernas do mundo, fazia o resto. Com a internet superveloz do campus os dois rastreavam e indexavam todas as páginas disponíveis na internet. Com o trabalho, o algoritmo chegava a consumir metade de toda a banda de internet de Stanford e acabou derrubando a conexão da universidade em mais de uma ocasião.

O trabalho de rastreamento começou em março de 1996. No final de agosto, um ano depois de terem se conhecido, Brin e Page lançaram a primeira versão do que seria o Google, no site de Stanford. A versão beta tinha 75 milhões de páginas indexadas e 207 gigabytes de conteúdo baixado. Por comparação, um computador padrão vendido naquele ano tinha cerca de 2 GB de armazenamento.

A patente do sistema foi registrada em 10 de janeiro de 1997 por Larry Page. No documento oficial, ele cita Sergey Brin, além dos professores de Stanford Terry Winograd, Alan Steremberg e Rajeev Motwani, e o colega Scott Hassan, que trabalhou como desenvolvedor.

Curiosamente, o registro também faz referência a uma outra patente, o RankDex, desenvolvido por Robin Li, um estudante chinês que havia desenvolvido o sistema enquanto trabalhava em uma empresa da Dow Jones. Quando voltou para China, Li licenciou a patente por um pequeno valor e criou seu próprio site: o Baidu, o maior buscador da China.

Enquanto o Google crescia, Brin e Page percebiam o tamanho do negócio que tinham nas mãos e decidiram rebatizar o projeto. Gostaram da sugestão de um colega: “googol”, o nome usado para o número formado pelo numeral 1 seguido de cem zeros. O nome resumia as intenções pouco modestas da dupla. Quando foram checar se o domínio estava disponível, erraram na digitação e saiu google.com. Page e Brin gostaram ainda mais da versão “errada” e decidiram mantê-la.

O domínio com erro de digitação foi registrado no dia 15 de setembro de 1997. Anos depois, em 2006, os dicionários Merriam Webster e Oxford incorporariam o neologismo com o seu novo significado: usar o sistema Google para conseguir alguma informação na internet.

Quando fizeram o registro, o negócio ainda era rudimentar. O logo original, por exemplo, foi desenhado por Brin. Os sócios estavam mais interessados em vender o mecanismo de buscas por um bom dinheiro e continuar seus estudos. E eles bem que tentaram. Procuraram várias empresas pelo Vale do Silício, incluindo a AOL e o Yahoo, e pediram US$ 1 milhão pelo sistema. Felizmente para ambos, nenhuma empresa se interessou.

Sem conseguir fechar negócio, a solução foi abandonar Stanford e ver até onde o Google poderia chegar. Mas o plano era temporário: os dois tinham intenção de voltar para a faculdade e terminar o doutorado por motivos diferentes: Page queria o título como homenagem ao seu pai, que havia morrido em 1996, e Brim por pressão familiar. Seus pais, acadêmicos, nunca se conformaram com o abandono dos estudos do primogênito.

O primeiro passo seria doloroso: em 1998, quando já recebia cerca de 10 mil buscas diárias, o Google ainda estava hospedado no site de Stanford e usava a infraestrutura do campus da universidade. Para escalar o negócio, seria preciso ir para o mundo. E isso custava dinheiro.

Para ajudar os alunos, um professor agendou uma reunião com Andy Bechtolsheim, fundador da Sun Microsystems. Um encontro foi o suficiente para que a dupla recebesse um cheque de US$ 100 mil, direcionado para o Google, Inc. Mas havia um problema: a empresa ainda não existia.

Nas semanas seguintes, Brin e Page se enterraram nas burocracias para abrir uma empresa oficialmente e conseguir depositar o cheque de Bechtolsheim. Assim, em 4 de setembro de 1998, era fundado, oficialmente, o Google.

A empresa ainda receberia dinheiro de mais três investidores-anjo: o investidor David Cheriton, o empreendedor Ram Shriram e o fundador da Amazon, Jeff Bezos. Com cerca de US$ 1 milhão arrecadado com parentes e amigos, dinheiro não seria mais um problema na história da companhia.

O próximo passo

Sem a estrutura de Stanford, os sócios precisavam achar uma nova casa para o Google (e seus servidores). A solução foi alugar a (hoje célebre) garagem de Susan Wojcicki, colega de faculdade da dupla e atual CEO do YouTube. Susan também apresentou a Brin sua irmã mais nova, Anne. Os dois começaram um relacionamento que viraria casamento em 2007.

Enquanto isso, o Google crescia. E, por isso, aumentava sua necessidade por mais investimento.

Em 1999, depois de mais uma tentativa frustrada de venda, Page e Brin buscaram fundos de venture capital. Apesar de ainda não gerar receita, o crescimento exponencial da empresa chamou a atenção dos fundos Sequoia Capital e Kleiner Perkins. Juntos, eles aportaram US$ 25 milhões no Google. O anúncio do investimento foi feito no primeiro press release divulgado pela companhia. Com o caixa recheado, a sede da empresa foi transferida da garagem de Susan para Palo Alto, na Califórnia.

Larry Page e Sergey Brin
(Crédito: Kim Kulish/ Getty Images)

Crescimento exponencial

Enquanto a empresa e sua receita cresciam com a venda de publicidade, a liderança errática de Larry Page, na presidência, causava controvérsias. Era comum haver discussões acaloradas entre Page, Brin e os demais executivos da empresa.

Em 2001, Eric Schmidt, ex-CEO da empresa de software Novell, assumiu o comando do Google com a missão de ser “o adulto na sala”. Com a chegada do novo executivo, Page virou presidente de produtos e Brin, de tecnologia.

Não é possível dizer ao certo quando o Google virou um fenômeno cultural (a ponto de se tornar sinônimo de fazer uma pesquisa na internet). Mas não existe dúvida sobre o dia em que o Google passou a ser visto como um negócio sério: 29 de abril de 2004, quando a empresa deu entrada no seu pedido de IPO.

Nessa data, investidores descobriram que uma companhia de buscas podia sim dar muito lucro. Em uma carta divulgada no mesmo dia, Brin e Page afirmaram que a empresa não era convencional e nem pretendia ser.

Os investidores gostaram do que ouviram. Sob o controle de Schmidt, o Google fez um IPO que tornou seus fundadores, Page e Brin, bilionários. Em 16 de agosto de 2004, primeiro dia de negociação das ações da gigante de tecnologia na Bolsa, o preço da ação subiu de US$ 85 para US$ 100.

Outros negócios e a criação da Alphabet

Em 2005, o Google já não era apenas uma empresa de pesquisas. Nesse ano, a empresa comprou, por US$ 50 milhões, a startup Android, mas manteve a equipe de desenvolvimento do sistema operacional. Após uma largada atrasada, o Android superou o iOS, do iPhone, no segundo trimestre de 2010 no número de novas instalações – e se mantém no topo desde então.

No final do mesmo ano que confirmou o sucesso do Android, uma série de notícias sobre o clima de trabalho ruim do Google começaram a ser publicadas. Com 24 mil funcionários e quase 15 anos de história, a empresa perdia funcionários para outras companhias que estavam começando, como o Facebook, e já não era o lugar mais desejado para se trabalhar.

Com a repercussão negativa, Page retornou para a presidência em 2011 e Sergey Brin, à frente da iniciativa X da companhia, que pesquisava tendências e tecnologias vanguardistas, virou uma espécie de patrocinador do Google Glass. É praticamente impossível encontrar uma foto de Sergey sem o gadget nos anos que se seguiram. Mas com questões de privacidade, bugs e falhas na bateria, o aparelho foi, aos poucos sendo deixado de lado até desaparecer completamente.

Muitos outros projetos surgiram (e sumiram) como Google+ e Google Wave. Com tantas novas frentes, os fundadores tomaram uma atitude. Em 2015, Brin e Page anunciaram a criação da Alphabet, uma holding que conteria o Google e outras iniciativas.Brin e Page estavam na liderança da holding.

Em 3 dezembro de 2019, Brin e Page anunciaram em conjunto que deixariam suas funções na Alphabet e Sundar Pichai, que estava no comando do Google, assumiria também a holding. Desde então, os dois mantém sua influência na companhia, mas têm dedicado-se a outros projetos, relacionados à aviação e espaço. Brin, por exemplo, estaria construindo o que foi chamado de um “iate voador” ao custo de mais de US$ 100 milhões.

Estilo de vida e filantropia

Sergey Brin e Anne Wojcicki se casaram em 2007 e tiveram dois filhos: Benji Wojin, nascido em 2008, e Chloe Wojin, nascida em 2011. Um ano antes do casamento, enquanto Brin desenvolvia o Google, Anne fundou, ao lado da sócia Linda Avey, a 23andMe, uma empresa de biotecnologia que fornece testes genéticos rápidos.

O casal se separou em 2013, após um caso extraconjugal de Brin com uma funcionária do Google vir à tona. O relacionamento acabou escancarado em sites de fofocas e a repercussão negativa fez com que a amizade entre Brin e Page ficasse estremecida.

Dois anos depois, Brin e Anne assinaram os papéis de divórcio. Juntos, eles ainda dividem a responsabilidade dos filhos e da The Brin Wojcicki Foundation, além de serem grandes doadores da fundação do ator Michael J. Fox, que pesquisa tratamentos contra o Mal de Parkinson.

Brin também financia sociedades de apoio a imigrante judeus e fez uma doação à Escola de Medicina da Universidade de Maryland, onde sua mãe, diagnosticada com Parkinson, recebe tratamento.

Em 2018, ele se casou com Nicole Shanahan, fundadora de uma empresa de tecnologia jurídica. O casal teve uma filha no final do mesmo ano.

Para saber mais

Artigos

  • The birth of Google (Wired)
  • The story of Sergey Brin (Momento Magazine)

Livros

  • Estou com Sorte: Confissões do funcionário número 59 do Google (Douglas Edwards)
  • Como o Google funciona (Eric Schmidt)
  • Google – A Biografia. Como o Google pensa, trabalha e molda as nossas vidas (Steven Levy)
  • Google: Lições de Sergey Brin e Larry Page, os criadores da empresa mais inovadora de todos os tempos (Janet Lowe)

TED