Tesouro Direto: taxas dos títulos públicos voltam a subir nesta 2ª; papéis de inflação pagam retornos de até 5,15% ao ano

Investidores monitoram revisões para cima nas projeções de inflação e incertezas sobre programas de transferência de renda do governo

Bruna Furlani

(Rmcarvalho/Getty Images)

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SÃO PAULO – O mercado de títulos públicos opera com alta nas taxas na abertura desta segunda-feira (18), após piora nas projeções feitas pelo mercado para o crescimento da atividade econômica e para a inflação oficial no Brasil neste ano e no próximo, segundo dados do Relatório Focus divulgados nesta manhã.

Outro destaque que ajuda a pesar sobre as taxas de juros é o problema fiscal envolvendo programas de transferência de renda para famílias mais carentes. Segundo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a questão deve ser resolvida ainda nesta semana.

Já na cena internacional, investidores estão preocupados com o PIB da China, que veio abaixo do esperado pelos analistas e com a alta nos preços de energia.

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Nesse contexto, os títulos atrelados à inflação são destaque na sessão. Os papéis do Tesouro IPCA + com vencimento em 2035 e 2045, por exemplo, ofereciam retorno real de 5,07% na tarde desta segunda-feira (18), contra 5,10% na manhã de hoje. Ainda assim, o percentual era maior do que os 5,05% vistos na sessão anterior.

Da mesma forma, o juro real pago pelo Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2055 e juros semestrais era de 5,15% ao ano, na última atualização do dia. O valor mostra certo recuo em relação às taxas da manhã, que foram de 5,18% ao ano. Ainda assim, na sexta-feira à tarde, o título era negociado com retorno de 5,11% ao ano.

Já entre os prefixados, a remuneração do título com vencimento em 2024 avançava de 10,15% ao ano, na tarde de sexta-feira (15), para 10,25%, na atualização das 15h18. No mesmo horário, a taxa paga pelo papel com vencimento em 2031 era de 11,08%, frente aos 11,01% pagos na sessão anterior.

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Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (18): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Focus e Relatório de Estabilidade

Na cena nacional, investidores repercutem mais revisões apresentadas no Relatório Focus divulgado nesta manha pelo Banco Central. O mercado financeiro elevou, pela 28ª semana consecutiva, suas projeções para a inflação este ano – desta vez, de 8,59% para 8,69%. Também houve piora nas estimativas para o indicador em 2022, pela 13ª semana, de 4,17% para 4,18%.

Os economistas ainda reduziram as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e agora esperam crescimento de 5,01% da economia este ano e de 1,50% no próximo. No levantamento anterior, as projeções eram de expansão de 5,04% e 1,54%, respectivamente.

Diante de perspectivas de avanço para a inflação, as estimativas para a taxa básica de juros (Selic) ao fim do ano encontram-se em patamares mais elevados do que os vistos em janeiro. Hoje, as projeções apontam para taxa básica de juros a 8,25% em dezembro e a 8,75% ao fim de 2022 – sem alterações em relação à semana anterior.

Também nesta segunda-feira, o Banco Central apresentou o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do primeiro semestre deste ano. De acordo com a autoridade monetária, os testes de estresse de capital demonstram que o sistema bancário está preparado para enfrentar todos os choques macroeconômicos simulados.

O documento mostra ainda que, na primeira metade do ano, o Sistema Financeiro Nacional (SFN) manteve suas provisões elevadas, enquanto as perdas esperadas com crédito se reduziram. O relatório destaca também que a capitalização do sistema bancário melhorou e que a liquidez manteve-se confortável durante o período.

Auxílio Brasil e caminhoneiros

Na frente política, as atenções recaem sobre programas de transferência de renda que o governo pretende criar ou modificar, com a aproximação do ano eleitoral.

Na noite de domingo (17), João Roma, ministro da Cidadania, disse em entrevista à TV Brasil que o Auxílio Brasil, programa de transferência de renda previsto para substituir o Bolsa Família em novembro, deve beneficiar perto de 17 milhões de pessoas com um pagamento médio de R$ 300 ao mês. Os dois números são maiores do que o programa atual, que atende 14,6 milhões de pessoas, com pagamento mensal de R$ 190 na média.

Mas como a medida pode ter forte impacto fiscal, a equipe econômica está indo atrás também de um plano B para oferecer um programa de transferência de renda do governo de forma mais ampla. Segundo apuração da XP Política, o plano consiste em corrigir o Bolsa Família pela inflação e complementar o valor com um auxílio temporário para alcançar os R$ 300 pretendido pelo Palácio do Planalto.

De acordo com a XP Política, os preparativos técnicos para essa saída já estão em andamento. Por não ser permanente, esse auxílio estaria desobrigado de ter uma fonte de receita nova, como seria o caso do Auxílio Brasil, que foi desenhado pelo governo como programa permanente. A correção do Bolsa Família atual apenas pela inflação também dispensaria compensação.

Investidores também acompanham a movimentação para novos protestos de caminhoneiros ao redor do país. Três entidades nacionais de trabalhadores vinculados ao setor de transporte de cargas anunciaram que vão iniciar greve nacional a partir de 1º de novembro, se o governo federal não atender reivindicações que remontam à paralisação dos caminhoneiros em 2018.

A decisão foi tomada durante encontro no Rio de Janeiro que reuniu as entidades Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), vinculada à CUT; Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), segundo comunicado enviado à imprensa na noite do sábado (16).

Ainda sobre o tema dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira que tanto a questão do auxílio quanto a questão do diesel devem ser resolvidas ainda nesta semana.

“Se Deus quiser, nós resolveremos esta semana a extensão do auxílio emergencial, como devemos resolver também esta semana a questão do preço do diesel”, afirmou o presidente durante evento.

Cena internacional

Enquanto isso no cenário externo, investidores mundo agora seguem repercutindo o PIB da China, que mostrou que a economia chinesa cresceu 4,9% no terceiro trimestre na comparação anual, conforme informações do Escritório Nacional de Estatísticas.

Os dados vieram abaixo da expectativa de analistas ouvidos pela agência internacional de notícias Reuters, de alta de 5,2%. A produção industrial avançou 3,1% em setembro, frente à expectativa de alta de 4,5%.

Investidores também monitoram a informação da agência Bloomberg de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados mais uma vez não teriam conseguido bombear petróleo suficiente para cumprir as metas de produção.

A preocupação é porque isso agrava o déficit de oferta justo quando as economias se recuperam da pandemia.