Pimco: Fed escolherá entre conter inflação e garantir condição financeira; alta de juros pode acabar em março

Percepção do mercado mudou após falência do SVB e piora no setor bancário; até semana passada, agentes precificavam postura mais dura do BC dos EUA

Bruna Furlani

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O forte estresse gerado no mercado americano nesta segunda-feira (13), após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e notícias envolvendo outros bancos menores, pode fazer com que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tenha que encerrar o ciclo de altas dos juros até o fim deste mês.

A avaliação é de Daniel Ivascyn, CIO da renomada gestora Pimco, com US$ 1,7 trilhão sob gestão. Em entrevista à Bloomberg nesta manhã, o executivo disse que é a “primeira vez” em que há um “trade off” – uma decisão que consiste na escolha de uma opção em detrimento de outra – entre lutar contra a inflação e garantir as condições financeiras.

“Nós acreditamos que os dirigentes de política monetária vão levar isso em conta. É possível que o Fed pare em março e nós acreditamos que haverá maior reverberação dentro do setor bancário”, alertou o profissional.

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Fed: novos passos

Outras instituições também voltaram a repensar os próximos passos do Fed. É o caso do Goldman Sachs. Em relatório divulgado hoje, os analistas do banco disseram que as medidas tomadas pelos reguladores, que estão garantindo os depósitos, fornecem liquidez substancial aos bancos e melhoram a confiança entre os depositantes.

Os especialistas, no entanto, destacaram que o movimento também gera uma incerteza considerável sobre a trajetória de aumento das taxas de juros pela autoridade monetária após março.

Na tarde desta segunda-feira (13), o CME Group mostrava que a percepção do mercado – capturada pelas negociações de futuros dos Fed Funds – se movimentou nos últimos dias após os abalos no setor bancário americano.

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As operações registradas na plataforma embutiam uma probabilidade implícita de 66,4% de que a alta dos juros seja 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5% ao ano na reunião de março, que será realizada na próxima semana. O grande destaque, no entanto, está no aumento da probabilidade de que o Fed mantenha os juros na faixa de 4,50% e 4,75%, que agora está em 33,6%.

A título de comparação, uma semana antes, a possibilidade de manutenção nem estava na mesa. O mercado colocava uma chance de 69% de a elevação dos juros ser de 0,25 ponto percentual e de 31% de ser de 0,50 ponto percentual.

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Entre os investidores que ainda defendem a elevação de 0,25 ponto percentual na reunião de março está Mohamed El-Erian, economista, presidente do Queens’ College da Universidade de Cambridge e ex-CEO da gestora americana Pimco.

Em entrevista à rede CNBC nesta manhã, o economista disse que se fosse o Fed elevaria os juros em 25 pontos-base e deixaria bem claro que possui as ferramentas necessárias para garantir a estabilidade financeira e para lutar contra a inflação. Na ocasião, El-Erian afirmou que o colegiado deveria enfatizar também que não irá “confundir” os dois instrumentos.

Ao olhar para a reação hoje nos mercados com o forte recuo na curva futura de juros americana, o professor foi taxativo: “Os mercados votaram que o Fed terá que voltar atrás no processo de combate à inflação”.

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No caso do título com vencimento em dez anos, o rendimento recuava de 3,695% para 3,537%, por volta das 14h15 desta segunda-feira. O percentual é o mais abaixo para o papel em mais de um mês. Já o treasury para dois anos oferecia uma taxa de 4,0989%, na maior queda desde 2008.

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