Com falência de SVB, rendimentos dos treasuries têm maior queda desde 2008

Perspectiva de especialistas é que Federal Reserve freará alta dos juros para evitar problemas maiores para bancos americanos

Vitor Azevedo

Silicon Valley Bank (Justin Sullivan/Getty Images)

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Os rendimentos dos títulos do tesouro americano despencam nesta segunda-feira (13), na esteira da falência do Silicon Valley Bank na sexta e seus desdobramentos até esta data. O treasury para dez anos perdia, por volta das 13h (horário de Brasília), 21 pontos-base, a 3,478%, e o para dois anos, 44,3 pontos, na maior queda desde 2008, a 4,145%.

O Federal Reserve, na véspera, junto com o Tesouro americano e com o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), garantiu que os clientes do SVB terão acesso ao capital depositado no banco em sua integralidade. De acordo com a nota divulgada pelas instituições, o intuito da movimentação é “proteger a economia americana e fortalecer o setor bancário”.

A questão é que parte da crise causada nos bancos pequenos e médios dos Estados Unidos, caso também do Signature e do First Republic Bank, é causada pela alta dos juros impostas pelo Federal Reserve para tentar diminuir a inflação nos Estados Unidos.

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A conjuntura pesa na receita dos empréstimos dos bancos e é um problema maior para bancos menores por mais de um motivo.

Primeiramente, esses bancos dependem mais de suas carteiras de empréstimos, enquanto bancos grandes têm maior participação do varejo e do braço de investimentos em suas receitas.  Em segundo lugar, a alta dos juros e o aperto quantitativo do Fed (que está recomprando títulos do tesouro) impacta a reserva dessas instituições menores, com títulos do tesouro antigos (e com taxas menores) menos valorizados frente às novas emissões (com taxas maiores), e também à receita desses bancos, com queda dos spreads.

Economistas do Goldman Sachs, com isso, veem que o Federal Reserve pode repensar suas próximas altas de juros, para evitar que o problema vá além.

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Eles apontam que esperam que as medidas tomadas pelos reguladores, que estão garantindo os depósitos, forneçam liquidez substancial aos bancos que enfrentam saídas de depósitos e melhorem a confiança entre os depositantes, mas afirmam que há uma incerteza considerável sobre a trajetória de aumento das taxas após março.

Para o gestor de multimercados macro da XP Asset, Bruno Marques, o Fed já deve manter as taxas de juros inalteradas em sua próxima reunião, ou elevar em apenas 25 pontos-base – sendo que a visão mais recente, após dados macroeconômicos apontaram que a economia americana ainda está muito aquecida, era que a instituição monetária iria aumentar a fed funds em 50 pontos-base.

Segundo Marques, se houver uma interrupção nos canais de crédito, com a combinação de juros altos e bancos em risco, isso poderia atrapalhar desde o financiamento de automóveis até as exportações, como ocorreu em crises anteriores, e atrapalhar bastante a atividade econômica.

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Na avaliação do executivo, o problema de crédito parecia mais concentrado em bancos ligados a criptoativos no começo da semana passada, com a quebra do Silvergate Capital Corp, o que mudou de figura com a notícia da quebra do SVB.

“É uma crise de uma instituição que se alavancou e gerou um descasamento entre passivo e ativo. Se deixasse quebrar, geraria uma crise sem precedentes. As autoridades americanas agiram rápido”, diz. “É uma crise de uma instituição, mas que pode virar uma crise de confiança mais forte. Tem muita coisa que pode acontecer daqui pra frente”.