Ouro, dólar e bolsa americana: conheça os investimentos mais rentáveis do primeiro semestre de 2020

Em meio à crise, investidores partem para investimentos considerados mais seguros; recomendação é pela diversificação do portfólio

Mariana Zonta d'Ávila Beatriz Cutait Lucas Bombana

(Pincio/Getty Images)

SÃO PAULO – Em um semestre atípico para o mundo e também para o mercado financeiro, caracterizado principalmente pelo avanço da pandemia de coronavírus, que resultou em uma crise global sem precedentes, o dólar e o ouro foram os ativos mais rentáveis no Brasil, com valorizações da ordem de 36% e 53%, respectivamente, na primeira metade do ano.

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Em um contexto de enfraquecimento da economia global, juros baixos, expansão fiscal e aumento de liquidez, investidores aumentaram a posição na moeda americana, como proteção e menor disposição ao risco.

A divisa, que começou o ano cotada a R$ 4, chegou à máxima de R$ 5,88, em 12 de maio. Apenas em março, quando o Brasil confirmou o primeiro caso de Covid-19, o dólar subiu 24,3% frente ao real.

Como resultado, o contrato de ouro negociado na Bolsa brasileira (de 250 gramas) disparou, dado que sua cotação incorpora a variação cambial. “O ouro é um ativo considerado livre de risco, um porto seguro para os investidores, e, em momentos de crise como o atual, tende a se valorizar”, diz Daiane Reis, assessora de investimentos do escritório Monte Bravo.

Ainda na renda variável, apesar do desempenho positivo de junho, o Ibovespa acumula perdas da ordem de 17,8%. A queda é compartilhada pelo índice de small caps, que recua cerca de 20,7% no ano. Já o índice de BDRs (Brazilian Depositary Receipts), beneficiado pela alta da moeda americana, avança cerca de 32,4%.

Enquanto isso, na renda fixa, o CDI teve variação de 1,75% no semestre, enquanto a poupança rendeu 1,38% no período. Confira a seguir como performaram as principais aplicações financeiras nos primeiros seis meses de 2020:

Além do impacto severo do coronavírus, Daiane lembra da guerra do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, que pesou negativamente sobre os mercados em um momento já frágil da economia. Em 20 de abril, o contrato futuro de petróleo do tipo WTI para maio caiu 171,7%, para o inédito patamar de US$ 13,10 negativos.

Com os mercados globais em queda livre, investidores aproveitaram para aumentar a fatia de exposição no exterior, em especial no mercado acionário americano, considerado mais seguro e “barato” em termos relativos.

Na avaliação de Fabiano Rios, gestor da Absolute Investimentos e convidado do sexto episódio do podcast do InfoMoney Outliers“, as empresas que vão sair vencedoras da crise estão nos Estados Unidos.

“Poucas coisas vão ter uma relação entre risco e retorno tão boa como estar comprado em ações, em especial americanas”, disse.

Berço de gigantes da tecnologia como Amazon, Google e Facebook, por exemplo, o índice Nasdaq fechou o semestre com ganhos de 12,1%. Em 12 meses, a valorização é de 25,6%.

Já os índices S&P 500 e Dow Jones sofreram maior impacto da Covid-19, embora com perdas inferiores às apresentadas na Bolsa brasileira: queda de 4,04% e de 9,55%, respectivamente.

Com a recuperação recente dos preços das bolsas americanas, contudo, alguns gestores começam a enxergar potencial de ganhos mais expressivos em outras praças, como o continente asiático.

Matéria do InfoMoney mostra que grandes gestoras do mercado estão otimistas com a recuperação das economias no Oriente, que, segundo eles, têm adotado uma saída mais rápida e inteligente da crise, com o uso de tecnologia, permitindo uma expectativa de retomada mais acelerada.

Na avaliação de casas consultadas, empresas de tecnologia na Ásia estão com preços mais atrativos do que as americanas.

Os mais impactados da Bolsa

Assim como as demais bolsas mundiais, a brasileira não passou ilesa pela pandemia de coronavírus. Em meio à forte volatilidade e incerteza, o índice, que beirava os 120 mil pontos antes da crise, chegou ao piso de 63.570 pontos, em 23 de março – menor patamar desde 10 de julho de 2017, quando ficou em 63.025 pontos.

No ano até junho, a queda foi de 17,8%, com o principal benchmark de renda variável encerrando o semestre aos 95 mil pontos.

Entre os setores mais afetados da Bolsa, estão os de aviação e shopping centers. No semestre, companhias como Azul (AZUL4) e Embraer (EMBR3) perdem 65,5% e 59%, respectivamente, enquanto as operadoras de shoppings BR Malls (BRML3) e Multiplan (MULT3), por exemplo, caem 44,2% e 37,8%.

O momento, contudo, foi visto como oportunidade, principalmente em meio a juros na mínima histórica. Marco Bismarchi, sócio e gestor da Tag Investimentos, conta que aproveitou o período para comprar ações descontadas.

“A Bolsa voltou a ficar em um patamar muito atrativo após as quedas de março”, diz o especialista, lembrando que, entre os principais investimentos que acompanha, apenas o petróleo teve uma queda maior que a Bolsa local. O contrato futuro de petróleo WTI com vencimento em agosto, por exemplo, recua 35% no ano.

Isolamento social e fundos imobiliários

Em meio às medidas de isolamento social para conter a disseminação da Covid-19, os fundos imobiliários também estiveram sob pressão na primeira metade do ano.

Mesmo com desempenhos positivos de 4,4%, em abril, 2%, em maio, e de 5,6%, em junho, o Ifix, principal referencial dos FIIs negociados na Bolsa, segue com perdas de 12,2% no ano, reflexo da queda expressiva, em março, da ordem de 15,9%.

Entre os setores mais impactados pela crise, o de shopping centers se destacou em um primeiro momento, devido ao fechamento dos estabelecimentos durante a quarentena.

Depois, com cada vez mais empresas adotando o trabalho remoto e analisando a possibilidade de torná-lo permanente, outro setor, o de escritórios, passou a ganhar atenção.

Levantamento feito pelo InfoMoney com base em dados da Economatica mostra que, dos 20 FIIs do Ifix com maiores perdas no semestre, sete são de shoppings e sete de lajes corporativas.

As perdas chegam a 50,5% no fundo TRX Edifícios Corporativos (XTED11), seguidas pela queda de 49% do fundo General Shopping (GSFI11) no ano.

Cortes da Selic e renda fixa

Com juros básicos em queda livre, culminando no corte mais recente da Selic para 2,25% ao ano, os rendimentos em renda fixa, que já estavam baixos, passaram a ficar ainda mais pífios.

É o caso da caderneta de poupança, que rendeu apenas 1,38% nos últimos seis meses, perdendo para demais aplicações conservadoras. No período, o CDI, principal benchmark de renda fixa, teve variação de 1,75%.

Entre as oportunidades na renda fixa, Bismarchi conta que a Tag iniciou o ano com maior foco em crédito privado “high yield”, que embute maior expectativa de risco e retorno, emitido por empresas de menor porte.

“Estávamos bem céticos com os ‘high grade’ [crédito de maior qualidade] de grandes empresas ou bancos, vendo muito pouco prêmio”, diz, acrescentando que a baixa liquidez do segmento “high yield” protegeu o rendimento dos ativos, já que eles ficaram menos expostos às vendas desenfreadas no pico da volatilidade em comparação com os “high grade”.

No entanto, após a forte abertura de taxas como reflexo da crise, em março, até os títulos privados grau de investimento voltaram a apresentar taxas atrativas, recorda o sócio gestor da Tag. “Títulos de primeira linha, da Natura e do Itaú, que no começo do ano pagavam um prêmio abaixo de 1%, chegaram a ultrapassar 4%.”

A grande lição da crise

Para Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management, a grande lição da crise para o investidor é ter mais uma prova de que a diversificação funciona.

“Essa é a principal atitude que todo investidor deve ter. A diversificação protege em uma crise, quando o risco de se tomar uma decisão errada no caminho aumenta. A melhor coisa nessas horas é não ter que tomar decisão”, diz. “Nem se trata de uma nova lição, mas de um mandamento”, reforça.

Na avaliação de Patah, o pior já passou. Monitorando aspectos como a pandemia em si, os reflexos sobre a economia e o cenário político, ele afirma que, apesar de uma situação ainda desconfortável e um processo lento de evolução, a sinalização é mais positiva, com uma recuperação econômica nos últimos dois meses “bem surpreendente”.

Em países em estágio mais avançado de retomada, como a China, o estrategista do UBS menciona uma possível retomada na forma de “V”. “Economistas ficaram muito pessimistas e subestimaram a capacidade do ser humano de se adaptar”, observa.

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