O gráfico que vai fazer você fugir (ou se manter longe) da Bovespa

Nos últimos 35 anos, o Ibovespa teve apenas três grandes ciclos de alta e três grandes ciclos de baixa; minha recomendação é bem simples: fique fora da Bolsa nos períodos ruins

João Sandrini

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(SÃO PAULO) – Gostaria de compartilhar com os leitores desse blog o gráfico abaixo, a quem fui apresentado há um bom tempo pelo amigo e especialista em finanças Richard Rytenband. A imagem mostra o desempenho do Ibovespa em dólar nos últimos 35 anos. No gráfico é possível perceber que o principal índice de ações do Brasil costuma ser afetado diretamente pelo desempenho da economia e apresenta longos ciclos de alta nos bons momentos e longos ciclos de baixa nos maus momentos. A imagem mostra que, desde o início da década de 1980, tivemos apenas três ciclos de alta: de 1983 a 1986, depois de 1991 a 1997 e finalmente de 2002 a 2008. Igualmente longos, os ciclos de baixa foram de 1986 a 1991, de 1997 a 2002 e de 2008 até agora, conforme você pode observar abaixo:

Ciclos Ibovespa

Mas por que isso importa muito para quem investe em ações? Porque um método super simples de turbinar exponencialmente seu rendimento com aplicações financeiras é concentrar pesadamente os recursos em Bolsa quando a economia anda de vento em popa e colocar (quase) todo seu patrimônio em renda fixa nos anos de ressaca. Vou dar um exemplo. Considerando todo o período entre julho de 1994 (criação do Plano Real) e janeiro de 2015, alguém que só investiu em Bolsa obteve um retorno de 1.210% (resultado do Ibovespa) enquanto aqueles que só ficaram na renda fixa ganharam 3.487% (retorno acumulado do CDI). Já quem não remou contra os ciclos econômicos e permaneceu na renda fixa nos anos ruins e comprou Bolsa nos anos bons levou para casa um retorno de nada menos do que 17.951%. Ou seja, esse investidor ganhou 5 vezes mais do que quem não saiu da renda fixa e quase 15 vezes do que quem casou com a Bovespa!!!

Ainda não está convencido que é melhor pensar duas vezes antes de investir em Bolsa nos ciclos ruins? Então gostaria de chamar sua atenção para alguns números que levantei para o trabalho de conclusão de meu MBA na FIA. Considerando um período que vai do início do atual ciclo de baixa (em 21 de maio de 2008, logo após o índice bater um recorde histórico pela última vez) até o final de fevereiro de 2015, apenas 52 das 249 ações com liquidez negociadas em todo o período conseguiram gerar um retorno superior à principal referência para investimentos em renda fixa no Brasil, o CDI, cujo retorno total foi de 91,92% nesses anos. O investidor, portanto, só obteve um prêmio pelo risco que correu em 20,9% dos casos.

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Agora você pode estar pensando que os investidores profissionais ou aqueles com grande habilidade para escolher as melhores ações conseguem obter uma taxa de sucesso muito maior do que essa, não é mesmo? Pois bem, também fui atrás desses números com a ajuda da consultoria Economatica. Pude observar que dos 149 fundos de ações em que o gestor tem enorme liberdade para escolher os papéis que quiser na Bovespa, apenas 13,4% conseguiram bater o CDI nesse mesmo período – ainda que 82,5% tenham superado o Ibovespa. Ou seja, houve um percentual menor de fundos que superaram o CDI do que de ações que conseguiram essa façanha.

Mas eu costumo seguir as carteiras recomendadas dos analistas da minha corretora, será que essas indicações não conseguiram bater o CDI? Não existe uma base de dados consolidada sobre os resultados dessas carteiras recomendadas. Mas consegui levantar no próprio InfoMoney o resultado das carteiras entre 2010 e 2014. Meu trabalho foi prejudicado porque a maior parte das corretoras interrompeu a elaboração das carteiras no meio do caminho. Das mais de 30 instituições que chegaram a divulgar suas carteiras no InfoMoney, apenas 6 fizeram isso em todos esses 60 meses. E dessas 6 carteiras, apenas uma, a do Bradesco, bateu o CDI no período, o que representa uma taxa de sucesso de 16,7%.

O que quero dizer com todos esses números? Basicamente que alguém que fica comprado em ações durante os ciclos de baixa até pode obter um resultado superior ao da renda fixa, mas as probabilidades estarão contra essa pessoa. Colocando isso de uma maneira mais matemática, imagine que você fez a análise fundamentalista de uma ação da Bovespa e chegou à conclusão que há motivos de sobra para ela se valorizar 50% nos próximos 12 meses. Parece um excelente negócio, não? Pois é, mas como vimos acima, a chance real de que uma ação suba acima do CDI durante um ciclo de baixa é, na melhor das hipóteses, de 20,9%. Então o valor matemático que eu atribuiria a esse investimento é igual a 50% X 0,209 = 10,45%. Mas para ganhar 10,45% correndo um baita risco na Bolsa, não é melhor ter um retorno líquido e certo equivalente ao CDI (hoje 12,60% ao ano)? Sim, e é exatamente esse o meu ponto.

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OK, estou convencido que por ora as probabilidades estão contra meus investimentos em Bolsa. Mas como saber quando acabou um ciclo ruim e começou um novo ciclo bom para que eu volte a investir em ações? Essa é a pergunta de US$ 1 milhão que ninguém sabe a resposta. Mas meu conselho aos pequenos investidores é que não tentem acertar na mosca o ponto da virada. Muita gente passou os últimos anos tentando antecipar o início de um novo ciclo de alta – e quebrou a cara. Pessoalmente acho (e aqui posso estar errado) que ainda não estamos prestes a ver uma reversão. Sem dúvida nenhuma, o governo Dilma 2 é bem melhor que o Dilma 1. Acredito, no entanto, que a recente alta da Bovespa deve-se apenas a uma forte diminuição dos riscos de que o Brasil siga o caminho da Venezuela, de continuidade da deterioração das contas públicas e de uma nova emissão de ações da Petrobras. No mais, os problemas continuam todos aí.

Mas o que precisaria acontecer para a Bovespa dar uma virada definitiva? Novamente posso estar errado, mas, em relação a esse assunto, penso bem parecido com Jim O’Neill, o economista que criou o termo BRIC e que disse que o Brasil voltará a ser interessante quando os preços das commodities voltarem a subir. Em entrevista ao Valor publicada em março, O’Neill afirmou: “É ridículo como o Brasil continua uma economia cíclica, muito dependente do preço das commodities. (…) Não é impossível que a economia brasileira volte a bombar se os preços das commodities voltarem a subir acentuadamente – o que eu não acredito.” Ou seja, assim como O’Neill, eu também ficaria mais confortável em investir na Bovespa quando ficar claro que os preços das commodities já fizeram fundo.

Então é para ficar longe da Bovespa, vender tudo e não comprar mais nada por um bom tempo? Também não é isso que defendo. Acredito que a Bolsa não é um bom negócio por ora se você é um investidor de longo prazo, que vai comprar ações para ficar sentado sobre elas por muitos anos. Se esse é seu caso, no seu lugar eu aguardaria mais para entrar ou aproveitaria eventuais oportunidades de vender papéis cíclicos quando houver preços interessantes na tela. Na Bolsa, entretanto, existem dezenas de estratégias cujo sucesso está totalmente descorrelacionado dos resultados do Ibovespa. Para esses casos, o mercado acionário sempre poderá ser um excelente negócio. Mas então quais são essas estratégias? Esse é um assunto que abordarei em futuros posts desse blog.

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