Gestores de crédito privado chamam atenção para assimetria de retorno na classe, mas alertam quanto à volatilidade

Segundo especialistas, prêmio oferecido pelo risco de calote das empresas, frente à real capacidade de elas pagarem suas dívidas, está distorcido

Mariana Zonta d'Ávila

InfoMoney na Expert 2020 (Getty Images/Leo Albertino)

SÃO PAULO – Apesar da recuperação nos preços dos ativos financeiros após o auge da crise provocada pela pandemia de coronavírus, em março, gestores de fundos de crédito acreditam que a correção ainda não atingiu em cheio os títulos corporativos. Por isso, avaliam que o cenário ainda oferece boas oportunidades no segmento da renda fixa. O investidor, contudo, precisa estar preparado para mais volatilidade de agora em diante.

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O tema esteve no centro do debate de gestoras de fundos de investimento durante a Expert XP, realizada entre os dias 14 e 18 de julho.

André Fadul, gestor da CA Indosuez, disse, por exemplo, que o mercado de renda fixa ainda não teve a mesma correção de preços como vista na Bolsa. E destacou o prêmio do Tesouro IPCA+ (antigamente conhecida por NTN-B) com vencimento em 2050, que no pior momento da crise, chegou a oferecer uma taxa acima de 5,5%, e hoje paga um juro real próximo de 4%. Embora tenha se ajustado para baixo, o prêmio do título segue atraente, afirmou Fadul.

Segundo ele, há uma grande distorção, principalmente no crédito high grade, de empresas de melhor qualidade e menor risco. A avaliação é de que existe uma assimetria entre o prêmio oferecido pelo risco de calote das companhias e a real capacidade de elas pagarem suas dívidas.

Um exemplo citado por Fadul é o dos papéis da Via Varejo (VVAR3). Embora as ações da varejista na Bolsa estejam subindo 76,5% no ano, os títulos corporativos continuam sendo negociados com taxas equivalentes às de emissores de alto risco.

“Esses prêmios ainda não fecharam e, de todas as classes de ativos no mercado local, parece ser a de melhor assimetria positiva para o investidor”, afirmou.

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Essa assimetria, criada por uma distorção de liquidez, disse o gestor da CA Indosuez, tem data para acabar, e deve durar entre seis e 12 meses.

Assim como Fadul, o sócio e CEO da Sparta Fundos de Investimento, Ulisses Nehmi, avalia que há perspectiva de ganhos para fundos de crédito, mas alerta que as oscilações devem seguir presentes.

“O investidor precisa se acostumar com um pouco de volatilidade e entender que ela pode ser um benefício, porque surgem oportunidades para ganhar o que ele não conseguiria nem em dois, três anos acumulados na renda fixa normal”, disse Nehmi.

Durante a crise, a gestora chegou a fazer as “melhores aquisições da vida”, de títulos de empresas de alta qualidade, como Sabesp, Multiplan e Localiza, cujos preços ficaram bastante atraentes, afirmou.

Retorno maior = mais risco

Na busca por melhores retornos na renda fixa, o investidor terá que se arriscar um pouco mais. E isso inclui a exposição a ativos de crédito high yield, que embutem maior expectativa de retorno e de risco, emitido por empresas de menor porte, mais vulneráveis nas crises.

Segundo Rafael Fritsch, CIO dos fundos de crédito da Canvas Capital, o retorno desses papéis pode chegar a 3,5% ou 4%, mais a variação do CDI, o principal referencial da renda fixa.

“Quando você está disposto a fazer crédito high yield, tem que assumir que uma parcela da sua carteira pode ter um problema”, afirmou Fritsch.

Como o mercado de crédito privado não goza da mesma liquidez da Bolsa, disse o CIO da Canvas, uma análise redobrada sobre a saúde financeira da empresa emissora da dívida, e de suas garantias, é primordial antes da efetiva alocação.

Além de uma análise minuciosa do balanço das investidas em potencial, o investidor interessado em ativos de crédito precisa ter em mente um horizonte de investimento mais longo, defendeu Fritsch.

“Se quiser mais rendimento em crédito, o investidor vai ter que abrir mão da liquidez”, disse o especialista, acrescentando que alta liquidez, risco baixo e alto rendimento são pontos que normalmente não conversam entre si.

Fundos com prazos mais esticados de resgate

Os gestores do mercado avaliam ainda que, após o susto de março, com a pressão vendedora dos ativos de crédito privado, o momento é de adequar os fundos que trabalham com a estratégia, alongando os prazos de resgate para evitar novas aberturas desproporcionais nos prêmios.

Ter alocações em crédito privado com prazo D+0 ou D+1 não vai ser mais condizente com o cenário esperado, disse Albano Franco, sócio da SPX. “Os fundos vão ter que migrar para um perfil mais longo, como D+30, D+45 e D+60”, avalia o especialista.

Beny Parnes, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da SPX, contou que a gestora não oferece liquidez diária em seu fundo de crédito privado, o SPX Seahawk FIQ, por conta do risco dos ativos.

Segundo ele, a casa prefere trabalhar com a cotização D+45 e não se incomoda de deixar “um pouco de dinheiro na mesa para ter mais tranquilidade para diminuir o risco para o cliente”.

A tendência, segundo Marcelo Domingos, sócio gestor da DLM Invista, é que a indústria alongue o mandato dos fundos, de forma que eles tenham uma meta maior de retorno.

Títulos públicos: ainda há oportunidade

Mesmo com a forte correção dos prêmios oferecidos pelos títulos públicos – o pedaço mais tradicional da renda fixa –, gestores também acreditam que ainda há gordura para ser aproveitada nesses papéis, impulsionada pelo espaço, ainda que pequeno, para novos cortes da Selic.

Na Ibiuna Investimentos, a visão é de que, sem pressão inflacionária no horizonte de curto prazo, a taxa básica de juros, já no piso histórico de 2,25% ao ano, pode cair ainda mais um pouco, para 2%, ou até para 1,75%.

Segundo Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiuna Investimentos e ex-diretor do Banco Central, após os ajustes finais, os juros deverão ficar estáveis até meados de 2021 e, possivelmente, até além disso.

Diante desse cenário, a gestora tem uma pequena posição aplicada no juro local, de olho no “chorinho” do fim do ciclo de queda da Selic, dado que o mercado precifica uma elevação da taxa começando no último trimestre deste ano ou no início do próximo.

A gestora também tem preferência por papéis atrelados à inflação, com um componente de juro real, com a parcela de proteção do portfólio composta por posições corrigidas pelo IPCA, caso haja um problema fiscal.

A avaliação é compartilhada pela Persevera. De acordo com Guilherme Abbud, sócio fundador e diretor de investimentos da Persevera, a volta ao “normal” pós-pandemia deverá ser com empresas e indivíduos com maior endividamento e dificuldade para crescer, o que deveria pressionar o Banco Central a agir.

E não só cortando a taxa Selic, mas sinalizando que os juros ficarão estáveis por um longo período, de até três anos, para derrubar os prêmios da parte mais longa da curva de juros. “Não adianta ter Selic de 1% ou 2%, e o prefixado longo a 8% ao ano, porque é onde é formado o preço do crédito da economia”, afirmou Abbud.

Diante desse quadro, ele vê com bons olhos as taxas por volta de 6% pagas por títulos de renda fixa prefixados com vencimento em cinco anos, ou de 4% ao ano mais a inflação, no caso dos papéis do tipo Tesouro IPCA+ com vencimento próximo a 20 anos.

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