Com 920 mil novos cotistas no 1º semestre, fundos de renda fixa perdem para o CDI e cobram até 1,75% ao ano

Entre os 20 fundos de renda fixa com maior entrada de cotistas entre janeiro e junho, 15 perderam para o CDI, mostra levantamento do InfoMoney

Mariana Zonta d'Ávila Lucas Bombana

(pcess609/Getty Images)

SÃO PAULO – Em um cenário já difícil de ganhar dinheiro na renda fixa, por conta da taxa básica de juros na mínima histórica, o custo de se investir em produtos com altas taxas de administração ficou ainda mais expressivo, pressionando os rendimentos muitas vezes irrisórios das aplicações mais conservadoras.

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Mesmo cada vez mais orientado da necessidade de analisar as taxas de suas aplicações financeiras, o investidor brasileiro segue investindo em produtos caros de baixa rentabilidade.

Levantamento feito pelo InfoMoney com base em dados da Economatica mostra que, entre os 20 fundos de renda fixa com maior entrada de cotistas no primeiro semestre deste ano, as taxas cobradas chegam a 1,75% ao ano, número que, por sinal, corresponde à variação do CDI na primeira metade do ano. No período, cerca de 977 mil cotistas entraram nesses fundos.

Além de caros, a maior parte dos fundos têm performado mal. Um total de 15 deles perdeu do CDI, caso de produtos como o “BB Renda Fixa LP Automático FC FI”, com ganho de 0,4%, e do “BB Renda Fixa LP Inflação FC”, que registrou perda de 2,2% na primeira metade do ano. Mesmo assim, esses 15 fundos conquistaram, juntos, 920,5 mil novos investidores.

Para o levantamento, foram considerados apenas fundos de renda fixa não exclusivos com histórico de pelo menos 12 meses, até junho.

Entre os cinco produtos que superaram o CDI no semestre, destaque para o “BB Renda Fixa Dívida Externa Mil FI”, que possui, no mínimo, 80% do portfólio alocado em títulos da dívida externa e apresentou valorização de 33,6% no período – resultado impulsionado pela alta de 36% do dólar.

João Beck, especialista em investimentos e sócio do escritório de agentes autônomos BRA, ressalta que a taxa de administração é uma forma de o cliente remunerar o gestor e sua equipe pela expertise na gestão do seu dinheiro.

Contudo, é importante que o investidor fique atento aos diferentes tipos de fundos de renda fixa, como DI e crédito privado, buscando entender quais ativos compõem a carteira do produto.

“Há uma grande diferença entre fundos de renda fixa. No Brasil, esses produtos sempre foram dominados pelos fundos DI, atrelados à Selic, que têm liquidez relativamente alta. Mas, nos Estados Unidos, o espectro de renda fixa é maior. Lá, tem fundos como money market, que são D+0, D+1, notas promissórias, crédito high grade, crédito high yield e special situation”, observa Dan Kawa, sócio da gestora de patrimônio Tag Investimentos.

Segundo ele, o mercado brasileiro de crédito privado já está se desenvolvendo, com a maior oferta de fundos de crédito high grade (com maior qualidade de crédito e, portanto, menor risco), que podem oferecer liquidez D+1, e de produtos com maior prazo de resgate, como D+30 e D+45, que têm como objetivo um retorno maior com mais risco de crédito. Há ainda aqueles com cotização acima de 90 dias, que visam oferecer retornos da ordem de CDI+7%, assinala.

“Todos esses são fundos de renda fixa, mas totalmente diferentes, e cabem no portfólio do cliente, com tamanho a depender do perfil de cada um”, diz o especialista, ao afirmar que o investidor precisa ter uma diligência maior na hora de montar o portfólio e escolher seus fundos de renda fixa.

Fundos automáticos lideram entrada de cotistas

Dos fundos de renda fixa que mais captaram cotistas entre janeiro e junho, a maior parte ficou concentrada em quatro produtos de aplicação automática do Banco do Brasil.

Destaque para o “BB Renda Fixa CP Automático Mais FICFI”, com o ingresso de cerca de 485 mil cotistas e ganho de apenas 0,6% no primeiro semestre.

Conhecidas como “raspa conta”, as aplicações automáticas têm esse nome por direcionarem o saldo disponível em conta corrente a produtos conservadores de renda fixa, sempre com liquidez diária. A ideia é que o dinheiro parado sempre esteja rendendo, porém permitindo ao correntista resgatar o recurso a qualquer momento.

Procurado pelo InfoMoney, o banco afirmou que esses produtos “são utilizados como ferramenta de apoio à gestão de fluxo de caixa para rentabilização de recursos de curtíssimo prazo e não compõem a carteira sugerida ao cliente”.

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Embora sigam elevadas, as taxas de administração desses quatro fundos do BB, que oscilavam de 2,5% a 3%, em dezembro de 2019, foram reduzidas com os cortes da Selic para o atual patamar máximo de 1,75%.

“Os bancos estão baixando as taxas, mas o custo ainda é muito alto”, afirma o planejador financeiro com certificação CFP Bruno Mori.

Para Kawa, da Tag, fundos que tenham na carteira apenas títulos públicos mas que cobram altas taxas de administração estão com os dias contados.

“Os bancos vão continuar oferecendo enquanto o cliente não perceber. Mas mesmo aquele investidor mais desatento, que não olha o extrato, vai notar com o passar do tempo. Isso porque, se em seis meses, ou um ano a taxa de administração for igual ao CDI, ele vai ter rendimento zero”, diz.

Na prática, essa situação já está acontecendo há alguns anos.

Menor taxa, maior custo de entrada

Na avaliação de Mori, o investidor mais penalizado tende a ser justamente o de menor poder aquisitivo, com menos alternativas à disposição nos grandes bancos. “Quanto mais acessível o produto, com menor tíquete de entrada, maior costuma ser a taxa cobrada”, afirma.

Um exemplo disso pode ser visto no fundo “Safra Soberano Institucional FC FI RF Simples”, que possui uma taxa de administração de 0,15%, mas um valor mínimo de aplicação de R$ 300 mil.

Por outro lado, há corretoras que oferecem isenção da cobrança de taxa em fundos de curto prazo, alocados essencialmente em títulos públicos atrelados à variação da Selic, embora nem sempre a informação chegue ao público-alvo.

Entre os quatro fundos automáticos do BB que lideram a captação de cotistas em 2020, o menor valor de entrada é de R$ 50, e o maior, de R$ 200.

O fundo “BB Renda Fixa Referenciado DI LP Plus”, disponível a partir de R$ 0,01, cobra uma taxa de administração de 1% – o que ainda é elevado, diz Mori, para o investidor que busca uma aplicação segura, de alta liquidez e baixo rendimento.

No Tesouro Direto, por exemplo, pagando uma taxa de custódia de 0,25% ao ano, o investidor tem acesso a ativos que entregam retorno similar ao dos fundos de curto prazo dos grandes bancos. Isso sem considerar ainda que há fundos DI sem cobrança de taxa de administração nas plataformas de corretoras.

“O investidor que pagar mais do que 0,5% em um fundo DI está sendo prejudicado”, afirma o planejador.

Seja pelo fato de os investidores do “BB Renda Fixa Referenciado DI LP Plus” terem percebido a alta cobrança e baixa rentabilidade, de 0,96% no semestre, como pela necessidade de liquidez em meio à pandemia, o fundo registrou uma saída de 15,4 mil cotistas no período.

O mesmo aconteceu com o “BB Renda Fixa Referenciado DI LP Vip”, que teve uma perda de 20,8 mil investidores na primeira metade do ano. Com valor mínimo de R$ 100 mil e taxa de administração de 0,5%, o fundo apresentou ganhos de 1,22% entre janeiro e junho deste ano.

Fundos com maiores perdas de cotistas

Por mais que alguns fundos de renda fixa tenha registrado captação de cotistas no primeiro semestre, com a crise do coronavírus forçando muitas pessoas a resgatarem investimentos de curto prazo para cumprir com suas obrigações, a categoria registrou saques relevantes nos últimos meses.

De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a renda fixa encerrou junho com uma participação de 38,2% do total da indústria, ante uma fatia de 42,4% no mesmo intervalo de 2019. Essa foi a menor participação na indústria de fundos desde 2016.

Levantamento do InfoMoney com a Economatica mostra que, entre os fundos de renda fixa com as maiores perdas de investidores na primeira metade do ano, lideraram os produtos “BB Renda Fixa Referenciado DI Ágil Fc” e “Bradesco Fc de DI RF Simples Automático”, com baixas de 50.721 e 49.312 investidores, respectivamente.

Ambos os fundos cobram taxas de administração elevadas, de 1,75% e 1,95%, respectivamente, e apresentaram retornos abaixo da variação do CDI na primeira metade do ano, com ganhos de 0,76%, no do BB, e de 0,73%, no caso do fundo do Bradesco.

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