De olho em elevação da poupança “precaucionária”, Ibiuna descarta pressão da inflação no curto prazo

Durante painel na Expert XP, Rodrigo Azevedo, sócio da gestora, disse ainda que juros deverão ficar estáveis até pelo menos meados de 2021

Beatriz Cutait

InfoMoney na Expert 2020 (Getty Images/Leo Albertino)

SÃO PAULO – A forte injeção de liquidez e as medidas de estímulo fiscal implementadas no mundo, especialmente pelos Estados Unidos, para conter os efeitos da crise de coronavírus não devem gerar pressão inflacionária no curto prazo. Essa é a visão de Rodrigo Azevedo, sócio da Ibiuna Investimentos e ex-diretor do Banco Central, que vê diferenças importantes do contexto atual e o da crise financeira de 2008.

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A preocupação em relação a um aumento de preços faz sentido, disse Azevedo, ao participar do painel “Política monetária pós pandemia: cenários e oportunidades”, da Expert XP.

Enquanto na década passada a crise foi financeira e bancária, com medidas voltadas a salvar esse sistema em particular e com o dinheiro mais engessado nessas instituições, agora, o problema tem afetado empresas, indivíduos e famílias. E, como resposta, os governos deram recursos diretamente à população.

A cautela, contudo, está maior. “Nossa expectativa é de que haja uma elevação da poupança precaucionária”, afirmou o ex-diretor do Banco Central, indicando que, na dúvida, as pessoas devem poupar mais.

Por isso, a visão da gestora é de que, no curto prazo, não haja um avanço suficiente do nível de consumo para gerar inflação. Já nos próximos dois ou três anos, o quadro poderá ser diferente.

“É uma questão em aberto para o médio prazo”, disse Azevedo, atento a um movimento de redução da liquidez despejada nos mercados pelos bancos centrais.

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Enquanto o mais recente relatório Focus, do Banco Central, aponta para uma inflação de 3% em 2021, a Ibiuna está revisando a estimativa, que deve ficar mais próxima de 2,5% ou abaixo desse patamar.

A situação fiscal brasileira, entretanto, pode ameaçar esse prognóstico, apontou o sócio da gestora, diante do ajuste necessário e relevante a ser feito nos próximos anos. Uma desconfiança de que o Brasil não consiga controlar sua questão fiscal poderá ter impacto sobre a inflação.

Juros em baixa por um longo período

Sem pressão inflacionária no horizonte de curto prazo, a Ibiuna vê a taxa Selic próxima de seu piso, podendo cair novamente para 2%, ou para até 1,75% ao ano. Azevedo ressaltou que os juros deverão ficar estáveis até pelo menos meados de 2021, e possivelmente até além disso.

Diante desse cenário, a gestora tem uma pequena posição aplicada em juros, de olho no “chorinho” do fim do ciclo de queda da Selic, dado que o mercado precifica uma elevação da taxa começando no último trimestre deste ano ou no início do próximo.

A gestora também tem preferência por papéis atrelados à inflação, com um componente de juro real, e a parcela de proteção do portfólio é composta por posições compradas em inflação, caso haja um problema fiscal.

Dólar

Variável mais difícil de se prever, a tendência vista pela Ibiuna é de enfraquecimento do dólar, o que naturalmente beneficiaria o Brasil, dado o reflexo de alta dos preços das commodities, um maior crescimento econômico, um fortalecimento das moedas de emergentes e a busca por maior risco dos investidores.

O único problema é que a tese não é nova, conta Azevedo, ressaltando que ela já tem sido defendida pela menos nos últimos três anos. É um tema que está no radar da Ibiuna, que tem algumas posições pequenas na tese.

Riscos no horizonte

Embora os mercados tenham tido um rali de abril a junho e os ventos estejam soprando mais a favor do que contra, o ex-diretor do BC deixou claro que existem três principais riscos no horizonte a serem observados de perto.

O primeiro deles se refere a uma segunda onda de contaminações pelo coronavírus; o segundo, ao que vai acontecer quando os estímulos fiscais forem retirados; e o terceiro, às eleições presidenciais americanas.

“Como tem essas três preocupações grandes, acho que ainda tem muita gente que não se posicionou do lado de compra dos ativos. Se esses três riscos se dissiparem, achamos que ainda tem uma onda grande de preços de ativos de risco para cima no segundo semestre”, afirmou.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.