Gestora global responsável por US$ 730 bi recomenda ajustes nas carteiras de renda fixa, com alta dos juros nos EUA no horizonte

AllianceBernstein sugere diversificação em mercados emergentes menos afetados pela pandemia 

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Um dos grandes temas, talvez o principal deles, a permear as discussões no mercado financeiro durante os últimos meses diz respeito ao risco de alta da inflação e dos juros nos Estados Unidos. Os estímulos fiscais nos países desenvolvidos, em um ambiente de juros baixos, têm levado os investidores a questionar quando pode terminar a fase de bonança para os preços dos ativos de maior risco.

A expectativa é que esse momento possa chegar justamente quando começar o enxugamento da liquidez com a qual os bancos centrais irrigaram os mercados. Embora o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) venha defendendo que a pressão dos preços observada atualmente é temporária, causada por um descompasso momentâneo entre oferta e demanda, a volatilidade na renda fixa americana, que se transmite para todos os demais ativos globais, ao que tudo indica, veio para ficar ainda por um bom tempo.

Neste cenário, a asset global AllianceBernstein (AB), que tinha cerca de US$ 730 bilhões em ativos sob gestão em maio, sendo perto da metade disso em renda fixa, publicou nesta semana um artigo no qual defende que os investidores globais devem estar cientes e preparados para movimentos de mercado com potencial para gerar impactos indesejados nos portfólios.

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“Não esperamos que a inflação se torne a principal preocupação do mercado como há 50 anos, mas investidores deveriam fazer ajustes em suas carteiras. Mesmo uma inflação moderadamente mais alta corrói o retorno real dos investimentos e, muitas vezes, leva a taxas de juros maiores”, escreveram os gestores de renda fixa da AB, Gershon Distenfeld e Scott DiMaggio.

De toda forma, eles destacam que não está no horizonte da gestora hoje uma repetição dos eventos de 2013, que ficaram conhecidos como taper tantrum, quando o Fed sinalizou ao mercado que começaria a redução dos estímulos que persistiam desde a crise imobiliária americana de 2008, o que causou forte volatilidade na ocasião.

“O Fed aprendeu com seu erro em 2013, quando surpreendeu os mercados com uma mudança na política monetária, provocando uma alta expressiva nos prêmios dos títulos. Desta vez, o banco central está preparando as bases com bastante antecedência para evitar surpresas.”

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Vale lembrar que a preocupação com os próximos passos do Fed não está circunscrita somente aos gestores globais. As consequências que o início do aperto nas condições monetárias nos Estados Unidos podem gerar também têm estado entre os principais pontos de atenção no mercado local.

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Mais do que aspectos relacionados ao ambiente macroeconômico doméstico de qualquer matiz, o sobreaquecimento da atividade na maior economia global, que pode forçar o Fed a subir o juro em um ritmo mais acelerado, foi destacado recentemente como o maior risco no radar por Luis Stuhlberger, da Verde Asset.

“Se tem algo que pode estragar o mundo bom que a gente vive nos mercados seria o caso de ter inflação alta nos Estados Unidos e os juros subirem de uma maneira significativa”, afirmou o gestor (leia mais aqui).

Oportunidades emergentes

Com ou sem emoção, o fato é que, frente às perspectivas de um nível maior de volatilidade nos mercados por conta do debate sobre a alta dos juros nos Estados Unidos, a gestora AB tem algumas indicações aos interessados em explorar as melhores oportunidades no mercado de títulos públicos e privados.

Reduzir de maneira moderada o prazo médio (duration) dos portfólios, em busca de papéis que sofram menos em um ambiente de alta dos juros em comparação àqueles de mais longa duração, e com prazos que facilitem os saques quando as oportunidades aparecem, está entre as recomendações dos especialistas.

No entanto, ao mesmo tempo em que apontam uma redução do risco atrelado ao aumento dos juros, os gestores da AB destacam que, em um ambiente de taxas ainda bastante baixas, é importante que o investidor direcione uma parte da carteira para ativos de crédito de alto rendimento (high yield).

E para obter retornos mais atraentes adequadamente ajustados ao risco, os especialistas apontam no leque de opções para diversificar a carteira oportunidades em títulos atrelados ao mercado imobiliário americano ou a países emergentes.

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Na avaliação da gestora, três pilares no âmbito da recuperação econômica global podem significar um “trampolim poderoso para os emergentes menos afetados pela pandemia”. São eles uma expansão fiscal voltada para investimentos em infraestrutura nos países desenvolvidos, além da transição em curso para uma economia verde e dos primeiros sinais de melhorias nas relações comerciais.

De toda forma, em linha com o banco central americano, a asset global espera que a pressão dos preços observada atualmente nos Estados Unidos perca força um pouco mais à frente.

O efeito base de comparação, com os dados fracos do ano passado bastante influenciados pela pandemia, e a volta da demanda em um ritmo acima da oferta, que tende a logo se ajustar, estão entre os pontos apontados pela AB para embasar sua expectativa.

O índice de preços ao consumidor CPI dos Estados Unidos subiu 0,6% em maio, e 5% na base anual, acima do esperado pelos economistas. A alta na comparação com o mesmo período de 2020 foi a maior para o período desde agosto de 2008, quando chegou a 5,3%.

“O Fed está mais preocupado em apertar a política monetária muito cedo do que tarde demais, estando disposto a arriscar, e até mesmo encorajar, um excesso de inflação para apoiar um crescimento mais forte”, aponta a AB.

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