Fundos de Bitcoin deixam outras carteiras de criptos para trás e dominam lista de maiores retornos do ano

No 1º trimestre, fundos com exposição apenas ao BTC superaram as estratégias com criptomoedas mais arrojadas; confira a lista de destaques

Paulo Barros

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As criptomoedas de menor valor de mercado estão perdendo espaço nesse ano, e isso teve reflexos no desempenho dos fundos de investimentos focados no segmento. As carteiras que investem apenas em Bitcoin (BTC) saíram na frente e dominaram a lista de melhores retornos.

No primeiro trimestre do ano, os fundos de BTC entregaram até 64% de retorno aos cotistas, superando os ganhos registrados em demais fundos de investimentos em criptomoedas com teses ainda mais arrojadas.

Segundo levantamento realizado pela Quantum a pedido do InfoMoney, os campeões de retorno nos primeiros três meses do ano foram o Trend Bitcoin, da XP Asset, que tem exposição quase total ao ETF BITH11; além do Hashdex Bitcoin (incluindo os “irmãos” I FIM e FIC FIM), que compram cotas de um fundo 100% BTC — todos entregaram resultado na casa dos 64%.

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Logo atrás na lista vem o QR BTC MAX, da QR Asset, com 63,75%, seguido dos fundos passivos de Bitcoin do BTG Pactual, com cerca de 62% de retorno alcançado em três meses.

O levantamento considerou todos os fundos que indiquem alocação em criptomoedas na política de investimento.

O desempenho é um alívio para quem passou pela queda de cerca de 80% da moeda digital no ano passado. Para a Hashdex, o resultado é uma amostra de que quem aposta no longo prazo acaba sendo premiado.

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“Cripto, como performance, é mais volátil, mais nervoso”, diz Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex. “É ruim para o investidor de curto prazo. O de longo prazo tem que ter estômago, mas acaba ganhando dinheiro. A gente sempre fala: é uma tese de cinco a dez anos”.

Confira os dez fundos de criptomoedas com melhor desempenho no primeiro trimestre de 2023:

Fundo Gestora Retorno no 1º trimestre de 2023 Retorno no 4º trimestre de 2022 Retorno no 3º trimestre de 2022 Retorno no 2º trimestre de 2022 Retorno no 1º trimestre de 2022
TREND BITCOIN DÓLAR FIC MULTIMERCADO XP Asset 64,55% -16,68% 5,79% -54,58% -17,66%
HASHDEX BITCOIN I FI MULTIMERCADO Hashdex 64,22% -16,31% 5,81% -54,22% -17,91%
HASHDEX BITCOIN FIC MULTIMERCADO Hashdex 64,20% -16,61% 5,61% -54,43% -17,97%
QR BTC MAX INVESTIMENTO NO EXTERIOR FI MULTIMERCADO QR Asset 63,75% -17,52% 4,75% -53,66% -15,87%
BTG PACTUAL REFERENCE BITCOIN 100 INVESTIMENTO NO EXTERIOR FI MULTIMERCADO BTG Pactual 62,75% -15,83% 5,16% -53,43% -14,93%
BTG PACTUAL REFERENCE BITCOIN 100 INVESTIMENTO NO EXTERIOR FIC MULTIMERCADO BTG Pactual 62,15% -16,00% 4,69% -53,11% -15,05%
BLP CRYPTO 100 INVESTIMENTO NO EXTERIOR FI MULTIMERCADO BLP Crypto 58,20% -22,24% 13,84% -59,42% -22,99%
HASHDEX CRIPTOATIVOS III INVESTIMENTO NO EXTERIOR FI MULTIMERCADO Hashdex 57,00% -16,08% 13,11% -58,18% -17,44%
HASHDEX 100 NASDAQ CRYPTO INDEX FI MULTIMERCADO Hashdex 56,96% -15,88% 12,89% -58,23% -18,30%
TREND CRIPTO DÓLAR FI MULTIMERCADO XP Asset 56,76% -15,81% 13,02% -58,79% -20,26%

Fonte: Quantum

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Fundos ativos de altcoins

O desempenho dos fundos de criptomoedas é um espelho do cenário visto nos fundos negociados em bolsa (ETFs) neste começo de 2023: os que investem em Bitcoin também se deram melhor no trimestre, na comparação com os ETFs temáticos mais específicos, que apostam na tese de diversificação dentro da classe de ativos — ou seja, que investem também em criptoativos menores.

Ainda assim, alguns fundos do tipo merecem destaque, como o BLP Crypto 100, da gestora BLP Crypto. Cotistas que mantiveram os recursos no produto mesmo após a crise do ano passado obtiveram um retorno de 58% no primeiro trimestre de 2023.

Sendo um fundo com gestão ativa que aposta também nas chamadas altcoins (criptomoedas alternativas ao Bitcoin), a saída para driblar a volatilidade foi atuar na defensiva. No período de turbulência do setor, a gestão do BLP Crypto 100 optou por aumentar o peso de Bitcoin e Ethereum (ETH) na carteira ainda no segundo semestre de 2022.

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“Nós diminuímos o beta [nível de risco da carteira] e fomos para os menos voláteis, para os considerados, dentro desse universo, os mais seguros em crise”, conta Alexandre Vasarhelyi, gestor e sócio da BLP Crypto.

Após a crise desencadeada pela FTX, a gestora passou a considerar reduzir as posições em BTC e ETH e comprar criptos menores, mas optou por uma postura mais conservadora, realizando aportes pequenos em apenas um punhado de ativos. Alguns deles deram resultado. “Para nossa sorte, as poucas alts que a gente tinha tiveram um primeiro trimestre fantástico”.

Um dos ativos de destaque do fundo no período foi o Threshold (T), criptomoeda ligada a uma plataforma de dados para aplicativos descentralizados que surgiu da combinação de dois projetos, Keep Network e NuCypher. O token T fechou o primeiro trimestre com alta acumulada de 162%.

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Outro com retorno nas alturas foi a Optimism (OP), moeda de uma blockchain de segunda camada que ajuda a desafogar a rede Ethereum (ETH) em momentos de pico, e que é elogiada pela boa usabilidade para desenvolvedores. Entre janeiro e março, o token OP subiu 150%.

À reportagem, gestores de fundos temáticos de criptomoedas contam que o investidor de fundos ativos que incluem altcoins na carteira é naturalmente mais conhecedor do assunto na comparação, por exemplo, com aquele que investe apenas por meio de ETFs, normalmente um público mais iniciante.

Isso justificaria a maior resiliência dos cotistas, mais propensos a sustentar o investimento visando o longo prazo.

Está ruim, mas está bom

Em consequência do cenário mais favorável ao Bitcoin dentro da classe de ativos, os fundos de criptomoedas que buscam diversificação foram os que mais sofreram no primeiro trimestre do ano.

Ainda assim, dentre os dez piores resultados do período, apenas um foi negativo: o fundo Bohr Arbitrage, da gestora KPTL, teve retorno de -0,49% de janeiro a março. O produto, dedicado a negociar derivativos de criptomoedas no exterior, chegou a ter um dos melhores desempenhos do segundo trimestre de 2022, mas não repetiu a dose neste ano.

Recentemente, o fundo foi encerrado porque, segundo a KPTL, a operação dependia da infraestrutura provida pelos bancos americanos Signature e Silvergate, que foram encerrados em março.

Confira os dez fundos de criptomoedas com pior desempenho no primeiro trimestre de 2023:

Fundo Gestora Retorno no 1º trimestre de 2023 Retorno no 4º trimestre de 2022 Retorno no 3º trimestre de 2022 Retorno no 2º trimestre de 2022 Retorno no 1º trimestre de 2022
BOHR ARBITRAGE CRIPTO INVESTIMENTO NO EXTERIOR FI MULTIMERCADO KPTL -0,49% -9,58% -1,95% 12,33% -15,47%
HASHDEX CRYPTO DINÂMICO LONG BIASED FIC MULTIMERCADO Hashdex 4,75%
TITANIUM CRIPTO ACCESS FIC MULTIMERCADO Titanium 7,40% -2,22% 0,70% -11,73% -3,29%
BTG PACTUAL REFERENCE ETHEREUM 20 FI MULTIMERCADO BTG Pactual 8,14% -3,66% 9,23% -12,55% -2,68%
TITANIUM CRIPTO STRUCTURE INVESTIMENTO NO EXTERIOR FI MULTIMERCADO Titanium 8,45% -8,66% 6,90% 5,43% 3,14%
EMPIRICUS CRIPTO PREVIDÊNCIA 20 FI MULTIMERCADO Empiricus 9,32% -3,01% 1,74% -10,22%
VITREO CRIPTO METALS BLEND FIC MULTIMERCADO Vitreo 10,84% 3,47% -2,49% -11,05% -12,22%
BLP CRYPTO 20 FI MULTIMERCADO BLO Crypto 12,23% -1,95% 5,68% -13,56% -3,01%
HASHDEX 20 NASDAQ CRYPTO INDEX FIC MULTIMERCADO Hashdex 13,06% -1,12% 5,87% -13,20% -1,18%
HASHDEX CRIPTOATIVOS I FI MULTIMERCADO Hashdex 13,15% -0,85% 6,06% -12,75% -0,95%

“Temporada de altcoins” vem aí?

Fundos multiativos de criptomoedas só fazem sentido para o investidor que embarca na ideia de que há espaço para tokens menores no mercado, para além de Bitcoin e Ethereum.

Os fundos desse tipo se sobressaem quando há o que se chama de “temporada de altcoins“, momento em que esses ativos dispararam múltiplos dígitos — mas isso ainda não aconteceu no recente rali do setor.

O Bitcoin vem reinando até o momento, mas acontecimentos recentes dão nova esperança de que o cenário possa mudar em breve. Após a atualização “Shanghai” do Ethereum nesta semana, o ETH voltou a acelerar, recuperando parte do tempo perdido em relação ao Bitcoin no ano.

Subidas do Ethereum têm o histórico de impulsionar criptomoedas menos relevantes, abrindo espaço para ganhos percentuais mais fortes para quem topa correr ainda mais risco. No entanto, quem acompanha o mercado de perto não acha que o cenário para altcoins irá mudar no curto prazo.

“Ainda não estamos vendo altseason [temporada de altcoins]”, diz Vasarhelyi, da BLP. “Esse momento vem quando entra dinheiro em fundos ativos, e não em só em Bitcoin. Quando fundos ativos recebem dinheiro, eles compram, e aí o movimento começa. Por enquanto, é Bitcoin e Ethereum”.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos