Dividendos da Petrobras vão acabar? 5 respostas sobre a situação da petroleira 

O anúncio de veto aos pagamentos extraordinários de dividendos repercutiu mal entre acionistas, que se questionam sobre distribuições futuras

Monique Lima

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A decisão da Petrobras (PETR3;PETR4) de não pagar dividendos extraordinários causou uma avalanche no mercado: queda de 10% no valor das ações, revisão de recomendação pelos analistas, especulações sobre o estatuto, até culminar em uma intervenção federal que poderá reverter a decisão anterior. E tudo isso pela distribuição extraordinária, porque a empresa fará o pagamento obrigatório normalmente.  

Nos últimos anos, a petroleira se destacou com pagamentos bilionários de proventos, que a colocou entre as maiores pagadoras do mundo. Os dividendos extraordinários eram parte relevante deste montante. O veto a esse pagamento por integrantes do conselho de administração da Petrobras levantou dúvidas nos investidores em relação à política de proventos da empresa e suas distribuições futuras. Afinal, os dividendos da Petrobras vão acabar?  

O InfoMoney questionou agentes do mercado para entender essa possibilidade e diferenciar o que é mito e verdade em relação aos proventos da companhia. Confira as respostas:  

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1. A Petrobras vai parar de pagar dividendos?

Mito. O pagamento de dividendos com o lucro excedente faz parte do estatuto social da Petrobras e da Lei das Sociedades Anônimas do Brasil. Portanto, os dividendos obrigatórios devem ser distribuídos sempre que a empresa tiver lucro excedente. Entretanto, a decisão sobre os dividendos extraordinários – que estão em debate no momento – cabe ao conselho da empresa. Sua distribuição não é obrigatória.  

Entretanto, os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Pérez, do BTG, ressaltam dois motivos para a estatal manter, pelo menos parcialmente, seus pagamentos extraordinários no futuro. O primeiro é a falta de ativos grandes o suficiente para consumir o montante (de US$ 8,8 bilhões em 2024) e o segundo é a demora para desembolsos em investimentos maiores, como a aquisição da Vibra ou da refinaria de Mataripe.  

“Mesmo em um cenário onde todos os desembolsos pretendidos são feitos, nossas estimativas atuais para pagamentos de Petrobras permanecem relativamente inalterados”, escrevem em relatório.  

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2. Os dividendos caíram por interferência do governo?

Verdade. A mudança de governo também trouxe mudanças na diretoria e no planejamento estratégico para o futuro da Petrobras. Felipe Moura, analista da Finacap, destaca que uma grande alteração foi a volta do foco na atividade de refino, que tem menos margem de lucro e, consequentemente, muda a perspectiva de ganhos da empresa. Além disso, a transição para energias renováveis deverá ter bastante impacto nas decisões e investimentos futuros.  

“Todas essas mudanças fazem parte de um cronograma de investimentos que será executado daqui para a frente e, naturalmente, os investidores devem ver os dividendos diminuírem para dar espaço para o uso do lucro nos outros projetos”, diz Moura.  

3. A Petrobras está dando pouco lucro?

Mito. O lucro da Petrobras caiu 28,7% em 2023, quando comparado com 2022. Entretanto, a base de comparação é o valor recorde de R$ 188,3 bilhões registrado em 2022. Um levantamento do sócio fundador da Elos Consultoria, Einar Rivero, mostra que os R$ 124,6 bilhões do ano passado é o segundo maior desde 2010, considerando valores nominais, sem correção pela inflação. Em relação às petroleiras mundiais, a queda no lucro da Petrobras foi a terceira menor. Somente a inglesa BP não teve recuo em 2023 – mas é porque recuou em 2022 e recuperou em 2023.  

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“A Petrobras mantém sua posição como a segunda empresa mais rentável em uma seleção de 13 empresas do mercado internacional de petróleo. Seu lucro em dólares no ano de 2023 foi de US$ 25,7 bilhões, ficando atrás apenas da Exxon Mobil, que registrou um lucro de US$ 36,0 bilhões no mesmo período”, diz Rivero. 

4. Petrobras sempre pagou muitos dividendos?

Mito. A estatal durante muitos anos esteve entre as empresas boas pagadoras, mas não a melhor. Entre 2008 e 2014, a média de pagamento por ação era de R$ 1,07. Então, foram três anos sem distribuição devido ao endividamento elevado e a prejuízos bilionários. Até que, em 2018, os dividendos voltaram no mesmo nível dos anos anteriores.  

Os pagamentos volumosos vistos em 2021, 2022 e 2023 nunca foram a regra. Wendell Finotti, CEO e fundador da Meu Dividendo, afirma que uma redução nesse volume já era esperada, pois a empresa estava pagando valores acima do lucro líquido. “Não era sustentável. A empresa estava destinando mais do que o seu lucro apenas para remunerar os acionistas. Isso tira a capacidade de realizar investimentos e aumentar a produtividade para melhorar os negócios”, diz.  

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5. Ação perde apelo sem dividendos extraordinários?

Verdade. Com as últimas movimentações, muitos analistas rebaixaram suas recomendações para as ações da Petrobras. Alguns de neutro para venda, outros de compra para neutro. Segundo compilado LSEG, de dez casas que cobrem PETR4, cinco casas recomendam manter a ação, e outras cinco indicam compra.

As justificativas variam, mas, em comum, as análises mencionam inconsistência dos retornos e potencialmente mais risco para o investidor. O BBI destaca que há pares emergentes menos arriscados. Para o Santander, os fundamentos permanecem sólidos, mas a alocação de curto prazo perdeu a previsibilidade.  

A posição fora da curva é do BTG, que mantém sua recomendação de compra, por acreditar que os múltiplos estão muito descontados. Em relatório, analistas questionam “quão barato é o suficiente?” Segundo eles, um dividend yield de 13% ainda é atraente, mesmo sem pagamentos extraordinários, e que a empresa está bem-posicionada em comparação a pares emergentes que também estão expostos a riscos políticos.

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As contas de dividend yield, porém, variam para 2024: de 13% do BTG até a casa de 9% de outros bancos.