Petrobras: a onda de corte de recomendações para as ações após decepção com dividendos

Santander, Bradesco BBI, Morgan Stanley e Bank of America cortaram recomendação dos ativos para neutra vendo ação como pouco atrativa sem os dividendos extraordinários

Lara Rizério Camille Bocanegra

Sede da Petrobras, no Rio de Janeiro 22/01/2021 REUTERS/Ricardo Moraes

Publicidade

A decepção com o não-pagamento de dividendos extraordinários já trouxe efeitos na recomendação dos bancos para as ações da Petrobras (PETR3;PETR4). Quatro grandes bancos rebaixaram os ativos, revisando também suas projeções para dividendos depois do anúncio da última quinta-feira (7).

Durante a manhã, o Santander e o Bradesco BBI rebaixaram a recomendação dos ativos de equivalente à compra (outperform, ou desempenho acima da média do mercado) para neutro após a proposta do Conselho de Administração de distribuição de dividendos de R$ 14,2 bilhões, enquanto analistas esperavam uma distribuição extraordinária. Em vez disso, o conselho optou por direcionar US$ 9,0 bilhões (cerca de R$ 43,9 bilhões) na criação de uma reserva de Remuneração de Capital.

Mais tarde nesta sexta, foi a vez dos analistas do Bank of America Caio Ribeiro e Leonardo Marcondes cortarem a recomendação dos papéis da companhia, bem como preço-alvo das ações para R$ 38 (US$ 16 para o ADR) ante R$ 48 reais (US$ 20,20), citando expectativas significativamente mais baixas de retorno de caixa total e maior percepção de risco.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

No fim da sessão, o Morgan Stanley cortou a recomendação para equal-weight (peso equivalente, similar à neutro) da classificação anterior de overweight (peso superior, similar à compra) por considerar que há menos confiança em retornos adicionais para acionistas nos dividendos extraordinários no curto prazo. Embora o banco estrangeiro admita que os principais pilares da tese de investimento permanecem em vigor, como a qualidade de ativos, a forte geração de fluxo livre de caixa (FCF, na sigla em inglês) e múltiplos de avaliação atrativos, o potencial de alta que havia anteriormente com um programa de remuneração considerado “convincente” já não existe mais.

“Tendo em consideração o forte desempenho das ações e o retorno total de +72% nos últimos 12 meses, ficaríamos à margem até vermos mais evidências de que a conta de remuneração de capital será utilizada para financiar dividendos adicionais nos próximos trimestres”, apontou o Morgan.

“A empresa optou por reter caixa, enquanto o mercado esperava US$ 4,0-5,0 bilhões em pagamentos extraordinários referentes a 2023. A empresa pagará apenas US$ 2,9 bilhões em dividendos pelos resultados do 4T23 com base na política mínima”, ressaltaram os analistas do BBI. O banco lembrou a informação da Petrobras de que os US$ 8,8 bilhões em dividendos poderiam ser retidos para um potencial pagamento futuro, mas o momento para isso é incerto. “Esta decisão traz incerteza à política de remuneração, que antes era muito clara”, afirma a equipe de análise.

Continua depois da publicidade

Assim, os analistas do BBI reduziram a premissa de US$ 5 bilhões/ano para dividendos extraordinários para US$ 2 bilhões/ano (além dos pagamentos mínimos de US$ 9,6 bilhões para o restante de 2024 e US$ 7,8 bilhões para 2025), o que traria o dividendo yield (rendimento de dividendos, ou dividendo sobre o preço da ação) restante esperado para 2024 para 9% e para 2025, ante 12% (com potencial adicional de queda).

“Como resultado, não vemos mais o rendimento de dividendos da Petrobras como atraente em comparação com seus pares globais”, afirmam os analistas do banco, que reduziram o preço-alvo para PETR4 de R$ 48 para R$ 41, ou uma alta de apenas 1,5% frente o fechamento de quinta; para os ADRs PBR (equivalente aos ordinários), o preço-alvo caiu de US$ 20 para US$ 17, um potencial de alta de 1,8%.

“Do ponto de vista dos investidores dos mercados emergentes, acreditamos que os fluxos poderão afastar-se da Petrobras para as empresas petrolíferas chinesas (PetroChina, Sinopec), dada a recente reviravolta na disciplina de capital e nos fortes programas de recompra, e também para a Aramco numa potencial oferta secundária”, avalia o banco.

Continua depois da publicidade

O Santander, além da recomendação, cortou o preço-alvo de R$ 52 para R$ 47 para PETR3 (ainda um upside de 14%) e de US$ 19 para US$ 18 para o ADR PBR (upside de 8%). O banco vê a Petrobras mantendo fundamentos sólidos, mas avalia que a visibilidade em relação à alocação de capital de curto prazo cai significativamente, especialmente dada a posição de caixa de em 2023.

Além disso, sem dividendos extraordinários, o banco vê a Petrobras negociando com um dividend yield (dividendo em relação ao dividendo das ações) de cerca de 9%, o que está em grande parte em linha com os pares latino-americanos/europeus.

“Acreditamos que a falta de dividendos extraordinários envia sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo, especialmente porque vemos a Petrobras com US$ 18 bilhões em caixa no final de 2023 (contra uma posição de caixa de referência de cerca de US$ 8 bilhões, que assumimos ser suficiente para cobrir planos de Opex/Capex). Isto sugere uma posição de caixa excedente de aproximadamente US$ 10 bilhões. Esperamos que a Petrobras gere um fluxo de caixa operacional de cerca de US$ 40 bilhões em 2024, o que é mais que suficiente para financiar investimentos”, apontam os analistas do Santander.

Publicidade

O banco vê a Petrobras potencialmente acelerando a atividade de fusões e aquisições em 2024, o que poderia limitar o potencial de pagamentos extraordinários de dividendos, aproximando o rendimento de dividendos da Petrobras dos seus pares.

O Santander também reduziu as suas expectativas de dividendos para 2024 de US$ 16 bilhões para US$ 9,5 bilhões (8,8% de dividend yield), até ter mais clareza sobre o momento/magnitude dos pagamentos extraordinários de dividendos no futuro. Assim, embora o conselho de administração tenha proposto que os R$ 43,9 bilhões fossem direcionados para a “reserva de remuneração de capital”, que deveria ser usada para dividendos, juros sobre capital próprio e/ou recompras, agora há menor visibilidade sobre quando esse capital poderia ser distribuído. “Com um rendimento de dividendos de aproximadamente 9%, vemos a Petrobras sendo negociada em um nível próximo aos pares latino-americanos/europeus”, avalia o Santander.

A Genial Investimentos, por sua vez, destacou seguir com a recomendação de manutenção para PETR4, com preço-alvo de R$ 47 (upside de 16%). O provento, avalia a casa, implica em um rendimento de 2,7% no 4T23 e 10,8% em termos anualizados – interessante, mas não o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel. Tendo em vista que a companhia poderia pagar um dividendo maior tendo em vista a geração de caixa da empresa, “o grande temor permanece no uso desses recursos com foco de acelerar a transição energética em projetos que julgamos pouco interessante tendo em vista os grandes retornos do segmento de E&P, especialmente o pré-sal e a margem equatorial”.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.