Auditores da PwC serão investigados no caso da Americanas (AMER3) por Conselho

Auditoria aprovou balanços da companhia sem ressalvas e nem referência às operações de “risco sacado” que causaram rombo bilionário para a companhia 

Rikardy Tooge

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Na esteira da “bomba” contábil de R$ 20 bilhões no balanço da Americanas (AMER3), a atuação da auditoria externa responsável por garantir a lisura da demonstração de resultados não passou despercebida. No caso da varejista, foi a PwC que auditou os últimos balanços da empresa, em substituição à KPMG, que saiu da função em outubro 2019.

A atuação da empresa de auditoria e dos profissionais deverá ser alvo de investigações por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e por conselhos de classe. Um deles, inclusive já se manifestou. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) informou na quinta-feira (12) que a instauração de um processo administrativo ético-disciplinar para apurar “a conduta dos profissionais da contabilidade envolvidos no caso”.

Na mesma linha, a Abradin, associação que reúne minoritários de empresas de capital aberto, apresentou nesta sexta-feira denúncia à CVM para pedir apuração de responsabilidades sobre a revelação pela Americanas. A denúncia assinada pelo presidente da associação, Aurélio Valporto, pede que as apurações englobem a empresa de auditoria PwC, responsável por analisar os balanços contábeis da companhia. A PwC também auditava a Petrobras à época do escândalo da Lava Jato, lembrou Valporto.

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A CVM já instaurou três processos administrativos contra a Americanas. A autarquia sinaliza que um dos processos tem como alvo a própria contabilidade da companhia, enquanto o outro vai tratar do anúncio do fato em si. Não está especificado se a PwC também será ouvida, embora profissionais do direito empresarial indicam que a presença da auditoria externa nas apurações será inevitável.

Tanto PwC quanto KPMG fazem parte das “Big Four”, como são conhecidas as principais empresas de auditoria do mundo. Além da dupla, fazem parte a Ernst & Young (EY) e a Deloitte. Empresas abertas costumam contratar companhias desse grupo pois demonstra credibilidade ao mercado e elas possuem a confiança dos grandes investidores.

O que diz o último balanço

Porém, o caso da Americanas colocou em xeque a atuação da PwC. No último balanço anual auditado pela empresa, referente a 2021, a auditoria sinaliza cinco pontos de atenção, mas nenhum deles relacionado ao problema contábil.

A saber, a PwC apontou combinação de negócios, contingências fiscais, trabalhistas e cíveis, reestruturação societária, incidente cibernético e avaliação do valor recuperável do ativo intangível como itens que merecem a atenção dos gestores da Americanas.

“Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes a posição patrimonial e financeira da Americanas S.A. e da Americanas S.A. e suas controladas em 31 de dezembro de 2021, o desempenho de suas operações e os seus respectivos fluxos de caixa consolidados”, diz a PwC em trecho do relatório anual da Americanas.

O rombo bilionário

No entanto, o ex-CEO da Americanas Sergio Rial expôs que havia, sim, problema em relação à forma como era contabilizado o pagamento de fornecedores via bancos, o chamado risco sacado. Segundo o executivo, a companhia não registrava da forma correta essas operações, distorcendo o tamanho da dívida da Americanas. Isso significa que R$ 20 bilhões estão em linhas erradas da peça.

“A empresa deve ao banco e não ao fornecedor, mas, ao não separar isso, deixa de ser uma conta “Fornecedor” clássica no balanço. E se é dívida, onde está reportado o custo financeiro?”, questionou o executivo em conferência na quinta-feira.

Essa jogada dentro do balanço, prosseguiu Rial, dificulta a interpretação das auditorias nos balanços das empresas de varejo e é um problema que vem ocorrendo desde a década de 1990 no setor, segundo ele.

A CVM já fez diversos ofícios alertando para problemas causados em contabilizar de maneira errada o risco sacado (ou forfait), sendo o aumento artificial do lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, em inglês), estoques inflados e margem bruta distorcida as principais consequências.

“As áreas técnicas da CVM entendem que os auditores devem dedicar especial atenção a estas operações, sobretudo quando envolverem companhias altamente alavancadas (endividadas), pelo potencial risco de distorção da realidade econômica a ser reportada (gerenciamento de estrutura de capital)”, escreveu a autarquia.

Procurada, a PwC ainda não retornou. Assim que o fizer, o texto será atualizado.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br