Artigo culpa “pilotos inexperientes” por acidentes com Boeing 737 Max

As práticas de recrutamento das companhias aéreas low-cost podem estar por trás dos acidentes que vitimaram 346 pessoas

Allan Gavioli

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SÃO PAULO – Todos os modelos do Boeing 737 Max estão parados em hangares por todo o mundo há meses, após dois acidentes fatais com cinco meses de diferença que mataram 346 pessoas. A Boeing assumiu a maior parte da culpa pelos acidentes, em parte por causa de problemas nos sistemas de software e no design que, segundo se acredita, contribuíram para a tragédia.

Mas um novo artigo da The New York Times Magazine se volta para culpar “pilotos inexperientes” e um setor que exige um fluxo constante de novos talentos para a equipe, com baixos salários, devido a suas operações de custo reduzido: as companhias aéreas low-cost.

Enquanto muitos atribuíram a culpa por esses acidentes ao software defeituoso da Boeing, o artigo publicado quarta-feira (23) aponta para a falta de experiência da tripulação em ambos os acidentes.

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A Boeing perdeu mais de US $ 1 bilhão desde que seu modelo 737 Max foi proibido de decolar no início ano, após a morte de 346 pessoas em dois acidentes similares em outubro e março, segundo o mais recente balanço financeiro da empresa.

Acidente da Lion Air

O autor do artigo na revista, William Langewiesche, ex-correspondente nacional do The Atlantic, detalhou como as companhias aéreas de baixo custo permitiram que os pilotos novatos voassem em rotas internacionais – colocando em risco a vida de dezenas a bordo de seus jatos.

Langewiesche escreveu sobre a Lion Air, a companhia aérea indonésia cujo o 737 Max caiu em 29 de outubro, matando todas as 189 pessoas a bordo.

“A Lion Air é uma companhia aérea agressiva que domina o mercado indonésio, devida a uma rápida expansão nas viagens aéreas de baixo custo e é um dos maiores clientes da Boeing em todo o mundo”, escreveu Langewiesche. “Ela é conhecida por contratar pilotos inexperientes – a maioria deles recém-formados em sua própria academia – e por pagar pouco e exigir muito”, conclui.

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De acordo com o artigo, um cidadão indiano chamado Bhavye Suneja, de 31 anos, foi encarregado de pilotar o 737 mais cedo do que pilotaria em uma companhia aérea mais tradicional. E uma vez que o 737 Max estava tendo problemas, a equipe da Lion Air não atenuou as falhas, dizia o artigo.

Alguns outros acontecimentos comunicaram a falta de experiência de Suneja – por exemplo, ele disse ao controle de tráfego aéreo que não conhecia a altitude do avião, segundo o relatório.

Acidente da Ethiopian Airlines

O artigo ainda argumenta sobre as semelhanças entre o caso da Lion Air e o da Ethiopian Airlines, companhia aérea que sofreu o acidente com o 737 cinco meses depois, no dia 10 de março. O relatório diz que o co-piloto do voo em questão tinha, apenas, 200 horas de simulador de voo contabilizadas.

Rosa Aimer, CEO da Aero Consulting Experts, uma consultoria jurídica de aviação, disse ao Business Insider que 200 horas de simulador para um profissional é “pouco e muito preocupante” e que “em casos de emergência, o piloto pode ter problemas”.

“Se você tem um avião complicado e basicamente coloca um piloto aluno lá, isso não é uma coisa boa”, acrescentou Aimer. “Mesmo se o cara no banco esquerdo tiver anos de voo, um desequilíbrio de experiência entre a tripulação pode ser um problema.”

O relato de Langewiesche alerta que “milhares de tripulações semelhantes” estão transportando passageiros em todo o mundo em condições parecidas.

Ainda que as aeronaves não sejam um 737 Max, os pilotos inexperientes e as companhias aéreas que fazem de tudo para manter seu crescimento acelerado e constante ainda continuam operando.

Boeing inocentada?

Ainda que o artigo revele que problemas externos à Boeing podem ter causado os acidentes, é importante não isentar a companhia da responsabilidade por problemas no software da aeronave.

Pilotos de diversos locais do mundo já alertavam sobre a “filosofia desastrosa” da companhia e seus descuidos com falhas em peças e na cabine de comando.

Um ex-capitão da Ethiopian Airlines, depois de ter alertado a companhia sobre problemas no 737 Max antes do acidente de março, disse que pediu por meses para que gerentes da companhia verificassem o recurso de controle de voo automatizado, mecanismo que apresentou falhas nos dois acidentes. 

Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.