Conteúdo editorial apoiado por

Tragédias causadas pelas chuvas no país evidenciam proteções (e problemas) do seguro residencial

Desastres recentes em Pernambuco, no Rio e na Bahia jogam luz sobre a cobertura de eventos potencializados pelas mudanças climáticas

Lucas Sampaio

(Getty Images/Montagem Leo Albertino)

Mais de 90 mortos na última semana no Grande Recife. Mais de 230 mortos em fevereiro em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Mais de 20 mortos em janeiro na Bahia. Em comum a todas essas tragédias que assolaram diferentes regiões do Brasil neste ano estão as fortes chuvas, que causaram um rastro de destruição.

Newsletter

Segura Essa

Cadastre-se e receba semanalmente as principais notícias que você não pode deixar de saber sobre o universo dos seguros de um jeito rápido e fácil

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Para além das dezenas de vítimas — um prejuízo inestimável —, há também as perdas econômicas dessas tragédias: famílias que veem suas casas serem engolidas por deslizamentos de terra, junto com todos os seus bens (que foram conquistados ao longo de décadas, mas são destruídos em questão de segundos), e pequenos comerciantes que se sentem completamente impotentes e desolados ao verem o trabalho de uma vida toda ser levado por uma enxurrada.

Em Petrópolis, pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) calculou um prejuízo de R$ 665 milhões apenas em danos diretos a empresas. Na Bahia, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estimou perdas de R$ 1,6 bilhão dias após a tragédia.

Em meio a tantos eventos extremos (e previsões ainda mais pessimistas devido às mudanças climáticas), muitos podem se perguntar: qual é a melhor forma de proteger o patrimônio? Os seguros residenciais estão ficando muito mais caros por causa dessas tragédias? Qualquer seguro cobre danos contra alagamentos e/ou deslizamentos? Eu consigo mudar o meu seguro para incluir essas proteções?

A cobertura para alagamentos e desmoronamentos é quase como um dilema para a bolacha Tostines (quem nasceu depois dos anos 90 talvez não entenda a referência): as pessoas não fazem seguros residenciais com a proteção porque as seguradoras não oferecem esse tipo de cobertura ou as seguradoras não têm o produto porque as pessoas não procuram?

Uma coisa é fato: a grande maioria das residências não tem seguro no Brasil (cerca de 85% de todas as moradias, segundo dados do setor). E mesmo em mercados mais desenvolvidos, como o estado de São Paulo e a região Sul, a penetração não chega a 20-25%. Para piorar, não são todas as seguradoras que oferecem essas proteções — e, quando oferecem, o valor da cobertura geralmente tem um limite baixo.

Leia também:

Atenção ao limite da cobertura

“Alagamento, chuva e desmoronamento são itens polêmicos no seguro residencial”, afirma Manes Erlichman, vice-presidente e diretor técnico da Minuto Seguros. “É comum [as seguradoras] não cobrirem, e quando cobre normalmente são percentuais baixos”.

Exemplo: você pode fazer um seguro residencial com cobertura de R$ 500 mil em caso de incêndio ou explosão e ter o cuidado de contratar as proteções extras de desmoronamento e alagamento, mas se não ficar atento aos detalhes essas cláusulas podem ter coberturas muito menores (às vezes de apenas R$ 10 mil). Então, se houver uma tragédia relacionada às chuvas, a seguradora só vai cobrir o seu prejuízo até o limite da cobertura — e você terá de arcar com todo o resto.

Erlichman alerta para uma outra questão: a seguradora pode se recusar a oferecer um seguro residencial com cláusula para alagamento em uma área que sofre recorrentemente com o problema (ou com a proteção contra desmoronamento caso você more perto de uma área de risco). “O conceito do seguro é indenizar pessoas por eventos aleatórios, futuros e incertos. Quem mora em região de alagamento não preenche dois dos três requisitos: aleatório e incerto. Sabemos que vai ter um sinistro lá, a questão é só saber quando.”

Luciano Romano de Ávila, um dos sócios-fundadores do Piquenique Seguros, diz que “dá para contar nos dedos as seguradoras que cobrem desmoronamento”. “Não é um cobertura automática. Ela também é mais cara e tem um limite, por isso é importante verificar a apólice do seguro”, afirma o especialista, que ressalta que “o X da questão” é verificar sem há a cobertura e qual é o limite da indenização. “Tenho um cliente que a maior preocupação é com um possível desmoronamento. Então conseguimos um grande valor para isso, mas é mais caro e não é uma cobertura ‘de prateleira’.”

Baixa procura e mais sinistros

Maior seguradora do segmento residencial no Brasil, a Porto (que tirou recentemente o Seguro do nome para evidenciar que está diversificando suas linhas de negócio) é uma das que têm cobertura para desmoronamento. Jarbas Medeiros, diretor-executivo de Ramos Elementares da empresa, diz que esse tipo de desastre é muito localizado em áreas onde a penetração de seguros é baixa.

Já a proteção contra alagamentos a seguradora passou a oferecer há pouco mais de um ano, e as chuvas do começo deste ano já afetaram o resultado da empresa. “A sinistralidade total dos produtos patrimoniais e de transportes aumentou 1,1 ponto percentual no trimestre (vs. 1T21), explicado principalmente pela inflação de custos em equipamentos eletroeletrônicos e pela ocorrência de sinistros relacionados a eventos climáticos (com maior frequência sazonal no primeiro trimestre) acima da média histórica”, afirmou a Porto ao divulgar um lucro 40% menor.

O diretor-executivo de Ramos Elementares da Porto diz que o impacto de alagamentos e desmoronamentos no resultado trimestral foi “menor”, mas admitiu que quem procura a cobertura por alagamento está em uma região mais exposta — e que houve um aumento nas indenizações de quem a contratou. “Isso vem acontecendo por causa das mudanças climáticas e só tende a se agravar nos próximos anos. É óbvio que causa um impacto.”

Mais risco = seguro mais caro

Medeiros afirma, no entanto, que a empresa olha um histórico grande de eventos climáticos e projeta uma tendência do que deve acontecer no futuro para precificar o preço do seguro — e que, se o risco aumentar, isso é repassado para o preço. “E nossos preços são regionalizados, então onde ocorre mais [eventos climáticos] cobramos mais. Se isso acontecer ainda mais, vamos repassar mais na politica de preços.”

A Porto tem mais de 2,2 milhões de contratos (e mais da metade são no estado de São Paulo). O executivo revela que o seguro residencial é muito mais caro na região Sul, por exemplo, porque “o risco de um evento climático é obviamente maior” e “os eventos são mais críticos”. “Algumas regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm vendavais que destroem tudo. Têm [chuva de] granizo também.”

Ele diz que o Rio tem mais histórico de alagamentos, mas a incidência é menor até do que em São Paulo, e as áreas com “maior ocorrência de eventos climáticos” são a região Sul, algumas partes do interior de São Paulo, de Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais. “No Rio e no Nordeste é obvio que acontece, mas em uma frequência muito menor. Então, no Sul, [o seguro] é bem mais caro e no Rio é bem mais barato.”

Vida Segura

Série de reportagens do InfoMoney aborda as novas demandas provocadas pela pandemia de Covid-19 no setor de seguros.

9 formas de transformar o seu Imposto de Renda em dinheiro: um eBook gratuito te mostra como – acesse aqui!

Leia mais:

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.