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Seguro Pix custa a partir de R$ 2,90, mas não é para qualquer situação: veja como funciona e quem oferece

Modalidade que protege transações é barata, mas tem cobertura restrita

Giovanna Sutto

Com valores entre R$ 2,90 e R$ 24,99 por mês é possível contratar um “Seguro Pix”, como ficou conhecido o produto que promete proteção para transações envolvendo o sistema criado pelo Banco Central, com coberturas que variam entre R$ 3 mil e R$ 50 mil.

Especialistas consultados ressaltam que o consumidor precisa redobrar a atenção antes de contratar as apólices, devido às opções restritas de cobertura.

Via de regra o que se tem no mercado são seguros individuais que cobrem transações Pix em situações específicas, com preços mensais baixos e proteções que variam conforme os planos e a categoria do cliente. Além disso, são facilmente contratados dentro dos apps dos bancos e fintechs.

O modelo ofertado pelo mercado não é exatamente novo. Essa modalidade de seguro é facilmente encontrada para cartões, TED e itens pessoais.

“O que as instituições buscaram foi uma maneira de monetizar o Pix para as pessoas físicas, visto que o recurso é gratuito. Viram essa oportunidade de ampliar o portfólio e dar uma nova opção de produto para os correntistas”, diz Ricardo Pandur, líder de meios de pagamentos na Accenture.

Por que esse seguro é considerado restrito? O que prestar atenção na hora de contratar? Para quem é vantajoso? O InfoMoney separou as principais informações sobre o tema. Confira:

Seguro Pix é restrito

A cobertura é específica. “Esse tipo de seguro inclui proteção para transações via Pix feitas em casos de sequestros e situações sob coação ou extorsão”, diz Ricardo Pandur, líder de meios de pagamentos na Accenture.

É comum o consumidor contratar o seguro imaginando que qualquer Pix feito estará protegido, mas não funciona assim. “Na maioria dos casos, fraudes online, má-fé, danos reputacionais ou físicos, casos de engenharia social e até furtos não estão inclusos na cobertura”, complementa Lucio Anacleto, líder de riscos financeiros e sócio da KPMG.

A engenharia social é um problema recorrente e inclui aqueles golpes em que a vítima é enganada e instruída pelo criminoso por alguma plataforma, como o WhatsApp, a fazer um Pix e só depois o consumidor percebe ser vítima de uma fraude. Além disso, golpes, como o caso recente de uso do vírus que intercepta transferências via Pix, também não são cobertos.

Quem oferece?

Esse modelo de seguro individual é ofertado por instituições financeiras com apoio de suas próprias seguradoras ou parceiras.

O consumidor vai encontrar o seguro Pix embutido em outras proteções, como o ressarcimento de itens pessoais roubados (mochila, bolsa, pastas, carteiras, notebooks) e celulares.

Mas esses combos não ampliam a cobertura das transações Pix em si, por isso, é importante ficar atento. Via de regra, apenas as transações feitas nas situações mencionadas pelos especialistas são protegidas.

O produto atende uma demanda específica, mas que já foi discutida. O Banco Central se manifestou em 2021 sobre uma alta de casos de sequestro-relâmpago envolvendo o Pix, quando o criminoso sequestra a vítima e a obriga a fazer um Pix na hora e depois a libera. Na época, a autoridade monetária não compartilhou dados, mas afirmou que era uma preocupação.

De lá para cá, o BC já anunciou uma série de mecanismos na tentativa de reduzir o problema, como estabelecendo limites nos valores das transferências, sobretudo, em horários noturnos e regras extras no processo de abertura de contas.

“As novas regras e limites ajudam porque o criminoso vai pensar duas vezes antes de fazer um sequestro para conseguir roubar R$ 1.000 da vítima, por exemplo. É muita exposição para roubar um valor considerado baixo perto do que seria possível pegar sem limite algum”, avalia Anacleto, da KPMG.

O que prestar atenção antes de contratar?

Os especialistas recomendam prestar atenção em seis pontos principais antes de contratar o serviço.

“Os seguros para Pix, geralmente, não possuem franquia e têm vigência imediata. Mas é preciso checar os pontos da apólice com cuidado para evitar surpresas”, explica Luis Reis, presidente da comissão de seguros gerais da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais). Além disso, é importante checar a existência de limite de sinistros por período e se o valor da cobertura é anual ou mensal.

Baixo custo pode acabar

Por que o custo do seguro é tão baixo para o segurado? Na visão de Pandur, “o valor barato pode sinalizar que a taxa de sinistralidade também é baixa, justamente por se tratar de uma cobertura bem específica e nova no mercado”.

A taxa de sinistralidade reflete a relação entre: quanto o segurado pagou à seguradora na apólice (valor do prêmio) e quanto a seguradora pagou em indenizações (custo dos sinistros). Por isso, o especialista entende que as instituições cobram pouco porque provavelmente devem indenizar poucos clientes.

Outra fonte do setor, mas que não quis se identificar, mostra outra cenário. Para ele, a frequência de sinistros vem se mostrando elevada. Se essa tendência se confirmar nos próximos anos, os preços serão mais calibrados.

Luis Reis, presidente da comissão de seguros gerais da FenSeg, acrescenta que o custo quase irrisório do seguro pode ser temporário. “Leva tempo para as seguradoras entenderem o tamanho do risco e a taxa de sinistralidade de um produto novo. Estão buscando o equilíbrio entre oferecer um preço atrativo com coberturas que façam sentido”.

“O prêmio precisa ser compatível com o produto, mas não pode dar prejuízo para a seguradora. Com os modelos de mercado funcionando, mais dados vão sendo compilados para equalizar melhor valor para o cliente e o custo da seguradora. Não tem como cravar se vai ficar mais caro, mas os valores devem ser reavaliados com o tempo”, complementa Reis.

Segundo a Susep (Superintendência de Seguros Privados), entidade reguladora do setor, a modalidade é enquadrada como seguro individual, mas ainda não possui categoria específica. O órgão do governo federal diz não ter dados sobre crescimento, prêmios e sinistralidade referentes ao “Seguro Pix”.

Para quem serve o seguro Pix?

Os especialistas consultados entendem que cada consumidor, munido de informações sobre o produto, pode decidir se o custo-benefício faz sentido.

“Para uma fatia da população pagar R$ 3, R$ 10 por mês pode ser irrisório, considerando a cobertura ofertada em alguns casos. Então, valer a pena ou não passa a ser associado à condição social do cliente”, avalia Anacleto.

Pandur já entende que vale a pena para quem está muito exposto no dia a dia. “Quem tem uma preocupação com a sua exposição na rua e tem receio das abordagens presenciais pode ser vantajoso”.

Reis, da FenSeg, acrescenta que um seguro Pix que cobre transações feitas após roubo e furto pode ser uma opção para se proteger de eventuais prejuízos financeiros.

Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o número de pedidos de bloqueios de celulares roubados em 2022 cresceu 7%, chegando a quase 1 milhão de solicitações, o que sinaliza aumento expressivo nas ocorrências de roubos e furtos de smartphones.

Opções disponíveis

O InfoMoney contatou as seguintes instituições: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, C6 Bank, Inter, Itaú, Mercado Pago, Nubank, Pic Pay e Santander. O Nubank afirmou não possuir serviço de seguro para Pix. Na mesma situação está a Caixa, que afirmou, por nota, ter planos de desenvolvimento da cobertura.

Das instituições contatadas, nenhuma possui franquia em caso de sinistro com transações Pix. C6 Bank e Itaú, no entanto, não encaminharam detalhes sobre isso. Os valores de cobertura variam conforme o tipo de cliente e plano ofertado.

Veja as principais características do seguro Pix em cada instituição:

Instituição O que cobre?   Valor da Cobertura  Prêmio mensal  Carência  Vigência (todas renováveis) Prazo de reembolso
Banco do Brasil Transações realizadas sob coação física (saque, compras, transferências e Pix); Bens materiais e dinheiro perdidos após roubos seguidos de saques em caixas eletrônicos; Até R$ 3 mil R$ 9,90 Não tem 1 mês Não informou
Bradesco  Transações (Pix, Transferências, TED, DOC) realizadas por terceiros em situações como perda, furto simples ou qualificado ou roubo do dispositivo móvel, e/ou coação sofrida pelo segurado; Entre R$ 1 mil e R$ 40 mil Entre R$ R$ 9,99 e 15,99

 

Não tem 12 meses 30 dias após envio da documentação
C6 Transações (Pix, TED ou DOC) feitas sob ameaça, extorsão, roubo ou sequestro; R$ 250 a R$ 20 mil* R$ 4 por mês para cartão C6; R$ 4,75 para cartão C6 Platinum; R$ 7 para cartão C6 Carbon;* Não tem 12 meses 30 dias após entrega da documentaçaõ
Itaú Transações via Pix, DOC, TED e TEF realizadas pelo site e aplicativo do banco em situações de sequestro ou coação do segurado; Entre R$ 10 mil e R$ 50 mil A partir de R$ 2,90; Dia seguinte ao da contratação Não informou 30 dias úteis após entrega da documentaçaõ
Inter Transações sob coação ou violência por Pix, TEDs, DOCs, TEFs ou compras por Pix no Super App nos casos de força física ou grave ameaça física; Transações com Pix a partir de roubo do celular; Até R$ 2 mil ou Até R$ 5 mil R$ 3,50 ou R$ 8,00; 48h após prazo da vigência (que é de 24h) 12 meses 30 dias após a entrega da documentação
Mercado Pago Perda, roubo e furto do cartão, compras, saques em dinheiro e saques e transferências sob coação (Pix, Código QR, transações via app) realizadas após a perda, roubo ou furto do celular, transações por aproximação não reconhecidas e bens pessoais em caso de roubo ou furto qualificado; Até R$ 5 mil R$ 5,99; Não tem 5 anos 30 dias após a entrega da documentação
PicPay Transações Pix; peer-to-peer (P2P), pagamentos com cartões e informações digitais no caso de invasão de conta; Até R$ 5 mil Entre R$ 4,90 e R$ 19,50 Não têm 12 meses 30 dias após entrega da documentação
Santander Transações feitas sob coação para transferências (Pix, DOC, TED e TEF); ressarcimento de itens comprados pelo cliente, via Pix Santander, e roubados em até sete dias após o recebimento. R$ 3,5 mil, R$ 8 mil ou R$ 20 mil (anuais) Varia entre R$ 9,99, R$ 18,99 ou R$ 24,99 30 dias 12 meses 8 dias úteis, em média

*O C6 Bank enviou as informações sobre valor de cobertura e a atualização do prêmio depois da publicação da matéria. As informações foram atualizadas às 15h22 de 15 de março.  

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.