Real digital para comprar imóveis e carros? Santander propõe operação em testes; confira

Protótipo busca reduzir custos na compra e venda de bens

Giovanna Sutto

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Entre setembro de 2022 e fevereiro deste ano, o Santander desenvolveu um protótipo de tokenização de carros e imóveis para reduzir burocracias da operação de compra e venda, digitalizar o processo, baixar custos transacionais e agilizar a transferência desses bens entre os envolvidos a partir do Real Digital.

O projeto busca colaborar com as discussões de evolução propostas pelo Banco Central, no âmbito do Lift (Laboratório de Inovações Financeiras Tecnológicas), um programa do BC que visa criar casos de uso do Real Digital, dando cara para possíveis utilidades da nova versão da moeda – que está em testes via Piloto RD. Na terça-feira (25), durante o evento Lift Day, promovido pelo Banco Central, os desafios da implantação do projeto foram esmiuçados.

A tokenização de um ativo nada mais é do que a criação de uma representação digital do ativo, que pode ser negociada. No protótipo do Santander, o Real Digital do comprador e o token do carro ou imóvel do vendedor são transferidos entre carteiras digitais dentro do app do banco.

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“Emitida a ordem de compra e venda de um veículo, por exemplo, a transferência de titularidade aconteceria de forma automática”, explica Evandro Camilo, líder de produtos digitais no Santander Brasil. No momento, o procedimento de transferência de bens, como carros e imóveis, é demorado.

Desafios

Segundo Evandro Camilo, do Santander, o projeto de tokenização não tem previsão de ser comercializado. Ele destaca que o maior desafio para fazer a operação virar realidade é promover a interoperabilidade de todas a partes envolvidas.

Isso porque para essa operação ser viável seria necessário a integração tecnológica entre: banco comercial, representado pelo Santander; Banco Central para a emissão do real digital; autoridades de trânsito (Detrans) ou imobiliárias, que fiscalizam a documentação e registram a operação; de marketplaces, que seriam os intermediadores da operação, para que todo o processo pudesse ser verificado, comprovando a identidade dos envolvidos, da transação e dos bens negociados. E ainda tem os consumidores nesta lista, parte fundamental no processo.

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Slide abaixo mostra a conexão necessária:

(Reprodução/ YouTube do BC)

“Não é uma tarefa simples de se executar. Seria a integração de 27 Detrans, cartórios de notas, cartórios de registros de imóveis, entre outras entidades. Mostramos que a tokenização é possível, mas a provocação que fica é o desafio de criar algo operacionalizável entre vários agentes na negociação. É possível eliminar as fricções que existem para o cliente e para a operação, reduzindo custos, mas todos [os entes da operação] têm que cooperar. Identificando essas necessidades podemos provocar o mercado e mostrar que podemos evoluir”, diz Camilo.

Outros cinco desafios já foram identificados para o projeto seguir sua evolução:

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“É importante olhar para a dificuldade de tokenizar [bens, itens] para entender como podemos evoluir”, afirma o executivo.

Como poderia funcionar?

Na concepção do Santander a negociação completa dentro desse contexto seria totalmente digital e envolveria os participantes já citados:

Nos testes práticos do protótipo, no entanto, Camilo explica que as partes do BC, da autoridade de trânsito/imobiliária e do Marketplace não foram consideradas. O foco foi na tokenização e na transferência automática da titularidade.

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Porém, o banco estudou como poderia ser a jornada dos consumidores nesse processo e chegou em uma hipótese de design de jornada para o consumidor.

Segundo o Santander, poderia funcionar assim:

A troca instantânea entre Real Digital e ativo tokenizado permite a transferência da propriedade do bem para o novo dono, conforme explica Camilo. Esse processo é possível porque a transação ocorre em uma blockachain, que registra as transações, via protocolo DvP (entrega versus pagamento) através de smart contracts, que são autoexecutáveis e não precisam de um intermediário na operação.

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Segundo Camilo, o contrato digital precisaria, no cenário atual, de alguns pontos, como:

Ainda há muitas brechas e mais perguntas que respostas para o projeto. Camilo ressaltou, inclusive, que a iniciativa do Santander foi apenas um teste, já finalizado e apresentado ao BC e não tem previsão de ser lançado ao público. Apesar disso, pode ser uma sinalização de novas frentes de negócios que o banco pode vir a explorar a partir do desenvolvimento do Real Digital no país.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.