Desenho do real digital limita riscos de desintermediação, avalia Moody’s

Agência de avaliação de risco relembra que outros modelos adotados mundo afora envolvem "maior risco de desintermediação" para os bancos

Equipe InfoMoney

stack of Brazilian coins with a real highlighted and the Brazilian flag in the background. selective focus.

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O modelo do piloto do real digital, a nova apresentação totalmente virtual da moeda brasileira, limita os riscos de desintermediação temidos pela comunidade internacional no desenvolvimento e implantação de moedas digitais de bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês), avalia a Moody’s em relatório divulgado na quarta-feira (8).

O desenho adotado pelo real digital prevê que a moeda será usada apenas para as operações no atacado, ou seja, entre as instituições reguladas pelo Banco Central e a própria autarquia. No varejo, o projeto prevê que serão usados tokens (representação digital de um ativo) de depósitos bancários.

O usuário final, desse modo, irá lidar apenas com ativos digitais emitidos pelos próprios bancos, conhecidos como stablecoins.

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“Ao não permitir que clientes de varejo tenham acesso direto à CBDC, o Banco Central amortece o risco de saídas de depósitos dos bancos que poderiam reduzir a disponibilidade de financiamento para o sistema financeiro”, destaca a agência de classificação de risco.

A Moody’s também lembrou que o real digital está sendo desenvolvido de um jeito diferente das propostas da União Europeia, do Reino Unido e da China, que preveem que o cidadão custodie suas próprias moedas digitais, “com maior risco de desintermediação” para os bancos.

A agência observa que o foco principal do BC brasileiro é usar a estrutura blockchain e sua natureza programável para reduzir os custos de transação e fomentar a inovação na oferta de produtos ao consumidor.

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A agência de classificação de riscos ainda destaca que o BC pretende alavancar a infraestrutura do Pix. Além disso, o arcabouço do real digital deve usar a legislação já existente para ativos tradicionais. A iniciativa também tende a impulsionar a tokenização de diferentes classes de ativos no futuro, como carros e casas, diz a Moody’s.

“Fazendo isso, vai expandir o alcance dos mercados financeiros em promover a inclusão financeira, o que aumentará a agilidade nas transações e permitirá a padronização de contratos entre diferentes partes”.

Segundo a agência, a tecnologia blockchain visa reduzir os custos de transação e tempo de registro, que são um “obstáculo particular” no Brasil. “Uma redução nos custos de transação também reduzirá as barreiras de entrada para novas empresas, incluindo fintechs e neobanks”.

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O relatório reforçou ainda que o real digital é mais uma das iniciativas de inovação do BC brasileiro, depois do Pix e do Open Finance. “O Banco Central garantirá segurança da informação do sistema e estabilidade financeira”.

Piloto

O BC divulgou na última segunda-feira (6) o início dos testes do real digital, com foco na privacidade das transações e na programabilidade. Para esse primeiro piloto, serão simuladas operações com títulos do Tesouro Nacional, com expectativa de que sejam testadas transações de entrega versus pagamento, em que as duas operações ocorrem simultaneamente.

Os testes devem se alongar até pelo menos o final de 2023 e o cronograma inicial prevê que o real digital estará disponível para o público no fim de 2024. Serão selecionados participantes do mercado, entre instituições financeiras e de pagamento, para participar do primeiro piloto, com workshop previsto já para abril.

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(Com Agência Estado)