BBB 2021: como investir para multiplicar (e não dizimar) o prêmio de R$ 1,5 milhão?

InfoMoney ouviu cinco especialistas, que sugeriram o passo a passo para alocar uma "bolada" como a que Juliette, vencedora do reality show, levará para casa

Mariana Segala

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SÃO PAULO – Se uma bolada de R$ 1,5 milhão caísse no seu colo, como investiria esse dinheiro?

A advogada Juliette, vencedora da edição de 2021 do reality show Big Brother Brasil, já deve estar fazendo essa pergunta a si mesma. A final do programa ocorreu nesta terça-feira (4) e ela levou o prêmio, batendo a influenciadora Camilla de Lucas e o cantor Fiuk com 90,15% dos votos.

No Instagram do InfoMoney, os leitores deixam sugestões. Alguns apostariam em uma carteira de ativos que pagassem bons dividendos. Outros prefeririam comprar imóveis. Vários aproveitariam para comprar criptomoedas e alguns dizem que manteriam o dinheiro na poupança.

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Ganhar R$ 1,5 milhão de uma só vez pode ser um divisor de águas na vida de alguém – e não é algo que aconteça apenas no BBB. Quem recebe uma herança, vende um negócio ou ganha na loteria também pode se ver diante de uma pequena fortuna. As decisões sobre o que fazer com o dinheiro, no entanto, é que definirão a possibilidade de multiplicá-lo ou não.

“Sem planejamento, esse valor é menor do que as pessoas pensam”, diz Felipe Dexheimer, head de alocações da XP. Gastando R$ 20 mil por mês, por exemplo, uma cifra que permitiria a uma família levar uma vida confortável – mas não luxuosa -, o dinheiro terminaria em 75 meses, ou 6 anos e 3 meses. Com um gasto mensal de R$ 10 mil, tudo seria consumido em 12 anos e meio.

“É uma luta contra a natureza humana. Tipicamente, as pessoas tendem a gastar a renda inesperada relativamente rápido, voltando à situação original”, diz Dexheimer.

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Como fazer o dinheiro durar então? O InfoMoney ouviu cinco especialistas, que sugeriram um passo a passo para quem quer investir R$ 1,5 milhão. Confira:

Check-up nas contas

Antes de começar a investir, Patrícia Palomo, sócia-diretora da Sonata Gestora de Patrimônio, sugere dar um passo atrás. “Por melhor que seja um portfólio de investimentos, ele dificilmente renderá acima dos juros de um empréstimo, especialmente no caso de dívidas no cheque especial ou no cartão de crédito”, diz.

A primeira coisa a fazer, portanto, é avaliar a própria estrutura financeira. “Parte do dinheiro deve ser usada para quitar dívidas ruins e caras, pois elas podem facilmente abocanhar mais do que o ganho que a pessoa teria nos seus investimentos”.

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É importante lembrar que um prêmio como o do BBB 2021 é uma entrada grande – porém, única. “É muito importante entender, antes de tudo, como estão as finanças e como encaixar o R$ 1,5 milhão nessa realidade, fazendo o dinheiro trabalhar e continuar crescendo”, diz Betina Roxo, estrategista-chefe da corretora Rico.

Reserva de emergência

Resolvidas as dívidas, o passo seguinte é pensar no pior cenário: se tudo der errado dali para frente, de quanto a pessoa precisaria para sobreviver durante algum tempo? Com essa pergunta em mente, é hora de reservar uma parte da bolada para formar uma reserva de emergência.

Os especialistas costumam recomendar que a reserva de emergência seja de 6 a 12 vezes o valor dos gastos mensais da pessoa ou da família – já considerando eventuais mudanças no padrão de consumo diante da nova folga financeira. Assim, alguém que tenha gastos mensais de R$ 10 mil, por exemplo, deveria manter de R$ 60 mil a R$ 120 mil na reserva de emergência.

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Letícia Camargo, planejadora financeira certificada, sugere que o tamanho final deve considerar três fatores: os gastos, a empregabilidade e a regularidade da renda. Assim, profissionais autônomos – usualmente mais sujeitos a flutuações de renda – devem ter uma reserva maior do que quem trabalha em uma empresa. O mesmo vale para quem possui custos fixos elevados, como mensalidades escolares e outros compromissos do gênero.

A regra básica é manter a reserva aplicada em produtos seguros e com alta liquidez, como títulos públicos ou CDBs de instituições de primeira linha. Patrícia sugere escalonar o investimento. “Uma opção é manter uma parte em aplicações com liquidez imediata, outra parte em produtos com vencimento em 3 meses, uma outra com prazo de 6 meses, e assim por diante”. Essa é uma forma de encontrar alternativas com rendimento um pouco melhor.

Investimento em si próprio

Os especialistas reforçam que os participantes saem do BBB 2021 com um ativo muito valioso: sua própria imagem. “Dificilmente um investimento financeiro renderá mais do que um investimento em si mesmo e na própria carreira”, diz Patrícia.

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Eventualmente, a depender da profissão do vencedor, é possível avançar a partir de uma especialização ou uma certificação, por exemplo. “É importante identificar qual desses investimentos pode trazer um retorno maior e de forma perene”, sugere a gestora de patrimônio.

Diversificação

Depois de acertar todas as pontas, é hora de definir como investir o que sobrou. Não há uma receita única e generalizável sobre como distribuir o patrimônio. Isso depende dos objetivos, do horizonte de tempo e do perfil de risco de cada um. Mas um elemento é consensual entre todos os especialistas com sugestões sobre as melhores aplicações: a diversificação.

“Isso é regra para todos os perfis, os objetivos e quantias de dinheiro. Diversificação em classes de ativos e geografias é fundamental”, diz Betina, da Rico. Isso porque com os juros básicos da economia – a taxa Selic – estacionados nos menores patamares da história, é cada vez mais difícil fazer uma carteira render acima da inflação. Para conseguir, é preciso incluir algum nível de risco na distribuição do patrimônio.

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O efeito de manter investimentos que consistentemente perdem para a inflação é a redução do poder de compra do dinheiro. Um exemplo: o prêmio do BBB é de R$ 1,5 milhão desde 2010. Para ter atualmente o mesmo poder de compra que a bolada oferecia 11 anos atrás, seria preciso ganhar quase R$ 2,8 milhões, considerando a inflação medida pelo IPCA.

Para ampliar os retornos, Patrícia sugere uma composição entre ativos de renda fixa e variável. Na renda variável, ela enxerga oportunidades nas ações de empresas sólidas que tenham sofrido com as restrições causadas pela pandemia – e que tenham perspectiva de voltar aos níveis operacionais de antigamente nos próximos anos. É o caso, na sua visão, de companhias em setores como consumo, energia e financeiro.

“Muitas delas têm adquirido outras empresas para ganhar tempo ao implementar as inovações tecnológicas aceleradas pela pandemia”, explica.

Rodrigo Marcatti, da Veedha Investimentos, lembra que as projeções para o Ibovespa têm sido revisadas para cima nos últimos tempos, o que reforça a expectativa de que os investimentos na bolsa tenham boa rentabilidade neste ano e nos próximos. “Sabendo que o mercado tem volatilidade e estando ciente de que é um investimento para o longo prazo, faz sentido investir em ações”, diz. Para quem não tem experiência no pregão, a recomendação é procurar bons fundos, com histórico de performance consistente.

Também vale a pena, segundo Marcatti, olhar para os fundos imobiliários (FIIs). Com o fechamento do comércio e a disseminação do home office, muitos perderam valor desde a eclosão da pandemia. Em 2020, o Ifix – índice da B3 que acompanha o desempenho de uma carteira formada por 20 fundos imobiliário – recuou 10,24%. Entre janeiro e abril deste ano, ficou no zero a zero.

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Na visão de Marcatti, existem fundos e fundos. Os FIIs de shopping centers ou de lajes corporativas talvez demorem um pouco mais para se recuperar. “Mas os fundos de recebíveis imobiliários estão indo muito bem, pagando rendas elevadas”, diz. Da mesma forma, FIIs que compram galpões logísticos, cada vez mais demandados em função da expansão do e-commerce, também tem apresentado boa performance.

Ainda na renda variável, Patrícia recomenda direcionar uma parte dos investimentos para ativos internacionais. “O viés doméstico deixa o investidor muito dependente das questões políticas e econômicas locais. Investimentos em ativos estrangeiros permitem ter exposição segmentos que não existem na bolsa brasileira”, diz.

Um exemplo, segundo Marcatti, são as empresas de tecnologia e e-sports, que têm avançado nos últimos anos, mas são difíceis de encontrar localmente.

Entre as ferramentas para investir no exterior a partir do Brasil estão os BDRs (recibos de ações estrangeiras negociados na B3), os ETFs (fundos que replicam índices – alguns deles internacionais – também negociados na bolsa) e também os fundos de investimentos, alternativa considerada mais simples. “Negociar os ativos diretamente no pregão exige, por exemplo, se habituar a recolher Imposto de Renda mensalmente, o que pode ser difícil para quem não tem muita experiência”, explica Patrícia.

As opções na renda variável são numerosas, mas é importante manter uma parcela considerável do patrimônio em papéis de renda fixa também. Eles são menos sujeitos a oscilações bruscas e conferem um grau de estabilidade à carteira. Marcatti destaca os títulos públicos pós-fixados (que pagam a taxa Selic) e também os que são atrelados à inflação.

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No caso dos papéis pós-fixados, a diferença de remuneração entre os títulos públicos e os papéis privados – como CDBs de bancos – é pequena. “Optaria pelo que tiver maior liquidez”, diz. Mas se o investidor encontrar bons papéis de crédito privado ligados à inflação, eles podem ser uma alternativa.

Patrícia não descarta também investimentos em títulos públicos prefixados, mesmo diante da perspectiva de alta da Selic até o fim de 2020 – que costuma desvalorizar esses papéis. “Alguns papéis com vencimento entre 3 e 4 anos oferecem taxas de 7% a 8% ao ano, que é uma boa remuneração para quem os mantém na carteira até o vencimento”, explica. Saques antecipados no Tesouro Direto são feitos a preços de mercado e estão sujeitos a perdas.

Rentabilidade e perfil de risco

A rentabilidade de uma carteira diversificada pode variar bastante, mas a tendência é de que consiga oferecer aos investidores retornos melhores com riscos diluídos.

Um exemplo: a carteira de investimentos com perfil de risco moderado elaborada por Dexheimer – composta por papéis de renda fixa pós-fixados e atrelados à inflação, ações de empresas brasileiras e estrangeiras e fundos multimercados – rende atualmente 9,73% ao ano, o que representa juros reais (descontada a inflação) na faixa dos 4,35% ao ano.

“Investindo R$ 1,5 milhão em um plano de previdência VGBL com uma rentabilidade equivalente a essa, com tributação regressiva, é possível alcançar cerca de R$ 5,4 milhões depois de 30 anos”, calcula. Mesmo sem considerar nenhuma rentabilidade, seria o suficiente para viver com R$ 20 mil por mês durante os 22 anos seguintes.

Mas quanto é recomendável alocar em cada tipo de ativo entre os sugeridos pelos especialistas? Para investidores de perfil moderado, Patrícia sugere manter até 15% dos investimentos em ações, até 10% em fundos imobiliários e 15% em ativos internacionais. Os fundos de private equity – que investem em empresas com alto potencial de crescimento, em geral ainda não listadas na bolsa – podem ser também uma opção adicional, para até 10% do capital.

A parcela mais significativa – de 40% – deve ficar em alocada nos papéis de renda fixa, sendo 10% em títulos prefixados, 15% nos atrelados à inflação e 15% nos que pagam a Selic ou o CDI. Patrícia recomenda ainda manter 10% do capital não alocada, para que o investidor tenha a chance de aproveitar alguma oportunidade que apareça no meio do caminho.

Já para investidores de perfil arrojado, Marcatti sugere manter 10% do capital em renda fixa pós-fixada e 15% em títulos atrelados à inflação. Cerca de 10% poderiam ser destinados a investimentos em ações, 25% para fundos multimercados, 20% para FIIs e 20% para ativos internacionais.

Os especialistas lembram que a alocação não deve ser estática, e sim dinâmica. “Investimentos considerados bons hoje não serão ao longo dos próximos 30 anos”, pondera Dexheimer. “É importante se preocupar com a reciclagem dos ativos pelo menos uma vez por ano”.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney