XP eleva projeção para o Ibovespa para 130 mil pontos ao fim de 2023 e recomenda visão seletiva para small caps

Os estrategistas da casa acreditam que pode ser a hora de começar a adicionar algum risco, mas ainda com uma visão seletiva.

Lara Rizério

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A combinação de taxas mais baixas de juros futuras e uma maior visibilidade em relação aos gastos fiscais aumentou o otimismo para os ativos brasileiros, com o Ibovespa subindo 3,7% em reais e 1,8% em dólares em maio.

Em relatório em que destaca esse cenário, a XP elevou o valor justo do Ibovespa de 128 mil pontos para 130 mil pontos para o final de 2023, ou um potencial de valorização de 20% frente o fechamento de maio, devido à melhora nas taxas de juros futuras.

Na avaliação dos estrategistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, o Brasil continua com um desempenho superior relativo aos mercados globais em grande parte por conta dos níveis de valuation ainda bastante atrativos.

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Atualmente, apontam, o Preço/Lucro (P/L) projetado do Ibovespa se encontra em 7,4 vezes, um desconto de mais de 30% em relação à média histórica de 11 vezes.

“Mesmo quando retiramos as empresas de commodities, ou somente a Petrobras e Vale, o P/L vai para 10 vezes e 9,3 vezes, respectivamente – ambos menores do que suas próprias médias históricas. E ‘quebrando’ o Ibovespa setorialmente, vemos que todos os setores no Brasil estão com seus múltiplos negociados abaixo ou próximos às médias de longo prazo”, citam os estrategistas.

Em relação à renda fixa, as ações brasileiras também continuam mais atrativas, apontam Ferreira, Jennie e Rebecca. Segundo eles, o prêmio de risco, que compara rendimento de renda variável com as taxas de juros reais, mostra que as ações brasileiras estão baratas mesmo considerando o alto nível das taxas de juros locais.

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A equipe da XP ainda lembra que, setorialmente, as principais altas no mês passado foram nos setores sensíveis às taxas de juros. “Podemos observar que setores como Educação (+55,3%), Construtoras (+27,4%) e Varejo (+13,9%) estiveram entre os que tiveram melhor desempenho. Enquanto isso, Mineração & Siderurgia (-9,6%) continuou em queda após dados econômicos decepcionantes vindos da China”, avalia. Ao analisar os fatores, também complementa que se pode observar que “o estilo de alto crescimento” (+17,9%) e baixa qualidade (+18,1%) tiveram um desempenho forte também.

Small caps: bom crescimento, mas sejam seletivos

As ações de small caps também começam a apresentar uma performance melhor no Brasil, como reflexo de um rali forte em ações de maior risco. Desde as mínimas registradas em março, o índice Small Caps subiu +20%, em comparação com +9% do índice Mid-Large Caps das empresas maiores. O desempenho sólido das Small Caps, assim como do Ibovespa, é explicado pelas taxas de juros futuras menores, apontam os estrategistas.

Com um P/L em 10,8 vezes, as Small Caps ainda são negociadas com um desconto em relação à média histórica. Em comparação, o índice Mid Large Caps atualmente possui um P/L de 7,0 vezes.

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“Embora isso signifique que as Small Caps estão ‘mais caras’ do que as Large Caps, a diferença entre elas está em linha com a média histórica. Além disso, a recente alta das Small Caps fez com que os múltiplos se expandissem, mas a relação P/L ainda está 1 desvio-padrão abaixo da média”, lembra a equipe de estratégia.

Enquanto veem as Small Caps apresentando um rali muito forte (mediana de todas as 119 ações no índice subiu +47% desde as mínimas), ainda há espaço para alcançar as máximas anteriores (mediana da queda de todas as ações foi de -64%). Enquanto isso, a mediana das quedas de todas as ações no índice Mid Large está em -39%, em comparação com uma recuperação mediana de +35%.

Os estrategistas observam uma forte correlação entre a diferença de desempenho entre ações Small Caps e ações Large Caps em relação às taxas de juros de longo prazo.

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Ao analisar a composição por setor, também pode observar que as Small Caps têm uma exposição maior à atividade doméstica, com 33% do índice composto por ações nos setores de Consumo Básico e Consumo Discricionário, em comparação com apenas 10% para as Large Caps. Desde o início do ano, as expectativas mercado para o PIB de 2023 foram revisadas para cima, de 0,8% para os atuais 1,1%, enquanto a equipe de economia da casa também revisou suas projeções de crescimento para este ano, de 1,0% para os atuais 1,4%.

“Observamos que essa combinação de menores taxas de juros (mesmo que gradualmente) no futuro e uma perspectiva melhor para a atividade econômica nos últimos meses também ajudaram a impulsionar o rali das Small Caps”, avaliam.

Neste cenário, a equipe de estratégia da XP questiona: “será este o momento para as Small Caps?”

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Os estrategistas acreditam que pode ser a hora de começar a adicionar algum risco, mas ainda com uma visão seletiva.

“Permanecemos cautelosos pois as taxas de juros ficarão em dois dígitos por um tempo, o que significa que empresas altamente alavancadas podem continuar sofrendo. Além disso, o ruído político continua no radar, com a reforma tributária potencialmente sendo discutida no segundo semestre de 2023. E, é claro, ainda existem riscos de recessão no exterior, com o crescimento dos Estados Unidos desacelerando. No entanto, vemos mais espaço para o Brasil ir bem se as taxas de juros caírem ainda mais em direção a níveis mais normalizados”, pondera a equipe de estratégia.

Portanto, eles decidiram adicionar mais risco em suas carteiras para o mês de junho, reduzindo algumas posições de ações defensivas e adicionando um pouco de duration (mais sensíveis a taxas de juros).

Em sua carteira Top 10, a XP cortou a exposição aos setores de Saúde e Utilidade Pública, realizando lucros com Hypera ([ativo=HYPE3)] e Equatorial (EQTL3); ao mesmo tempo, adicionou Petrobras (PETR4) devido ao seu valuation muito descontado.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.