Índice SMLL sobe mais do que o dobro do Ibovespa em maio: chegou a hora das Small Caps?

Com possível recuo do juros, investidores estão de olho em companhias menores e também nas ligadas ao mercado interno

Vitor Azevedo

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No acumulado de maio até a abertura desta sexta-feira (26), o índice de Small Caps SMLL registra uma alta de quase 13%, ficando consideravelmente acima do Ibovespa, que subiu aproximadamente 5,5% no mesmo período. Esse movimento dos benchmarks serviu de gatilho para uma discussão que de tempos em tempos aparece a respeito do momento correto de se investir nas companhias menores listadas na Bolsa.

Com a curva de juros brasileira caindo, por conta do arcabouço fiscal e da divulgação recente de dados de inflação mais fracos do que o esperado, investidores passaram a ficar mais de olho nessas companhias.

“Small Caps, nesses momentos, têm duas vertentes de ganhos”, avalia Werner Roger, diretor de investimentos da Trígono Capital. Cabe ressaltar que o índice de small caps conta com uma participação muito mais expressiva de empresas de consumo e de construtoras em relação ao Ibovespa, o que justifica o desempenho superior recente.

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Essas empresas necessitam de capital para crescer e, em um cenário de queda de juros, podem fazer captações mais baratas, sendo este o primeiro ponto de destaque e que mostra um ambiente mais positivo para as companhias. Recentemente, contudo, os juros altos têm pressionado os ativos.

Em segundo lugar, o desempenho dos ativos dessas companhias estão atrelados à atividade doméstica. “Quanto maior a taxa de juros, menor a perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e também delas. Elas foram impactadas pela política do Copom, pelo aperto monetário”, avalia Roger. Assim, com a perspectiva de juros mais baixos, a expectativa é também por uma melhora na demanda pelos produtos dessas companhias.

Werner Roger expõe que há também a questão do valuation. “Olhamos os múltiplos, como o de dívida líquida sobre Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] e o de preço sobre lucro. Quando há o crescimento de lucro, ou do Ebitda, esses múltiplos se tornam menores. Isso favorece as empresas. Entra a vertente do crescimento”, debate.

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Por fim, ele menciona que em um cenário de juros mais altos, com crédito mais caro, o mercado de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) fica parado – o que também prejudica as Small Caps, que usualmente são alvo de ofertas do tipo.

“Momento do mercado é de maior apetite, pela perspectiva de queda da taxa de juros. Não sabemos se daqui três ou seis meses, mas vai acontecer”, fala o gestor.

Ao mesmo tempo que a perspectiva de que os juros irão cair ganha força, ações com peso no Ibovespa têm perdido atratividade, caso de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3;PETR4). A primeira acompanha, majoritariamente, o preço do minério de ferro e a segunda, conta com a incerteza em relação à nova gestão da estatal. Além disso, o desempenho também reflete a tendência de rotação de carteiras.

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Max Bohm, estrategista de ações da Nomos, além da questão do impacto das taxas de juros nas companhias e no valuation, lembra também que o contexto macro, no passado, forçou fundos de investimentos a desmontarem posições.

“Essa também foi uma dinâmica perversa e que também machucou essas empresas. O que vejo para frente? Os juros começam a cair e isso vai ter um reflexo positivo. A inflação está mais baixa e o arcabouço fiscal passou com regras mais rígidas. Já vimos, então, um movimento nesse mês. Acho que isso pode continuar se tivermos um início de uma trajetória de queda da Selic”, menciona.

A Suno Research vai na mesma linha, pontuando que a redução de liquidez, com investidores buscando a renda fixa, pesou mais nas empresas menores.

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“Diante de uma virada de ciclo – o que deve ocorrer -, vejo que em um primeiro momento podemos ter uma busca maior por large caps (por serem empresas maiores e mais robustas) e, posterior a este momento, devemos ter uma demanda mais por investimento em small caps”, fala João Daronco, analista da casa. “Gosto de dizer que temos que analisar caso a caso, mas, em linhas gerais, essa é a minha visão”.

Como um contraponto, o Morgan Stanley divulgou relatório defendendo que não vê as Small Caps como boas opções de alocação, mesmo em um cenário de juros mais baixos no longo prazo.

Para os estrategistas do banco, é possível ter ações com o mesmo beta ( indicador  da volatilidade de uma ação em comparação ao desempenho de um benchmark financeiro) entre ações que compõem o Ibovespa em relação a ações que compõem o índice de small caps, mas com liquidez muito superior.

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O banco destaca que o benchmark de small caps é negociado com um desconto de cerca de 30% em relação ao grupo doméstico ex-bancos do índice principal (Ibovespa), mas os investidores têm que pagar um preço em forma de menor liquidez. Este fator é muito importante, uma vez que ações com menor volume médio diário negociado no Brasil geralmente são negociadas a múltiplos muito mais baratos versus seus pares mais líquidos, uma vez que sair de posições em companhias menos líquidas é uma tarefa mais difícil.

O Morgan, por isso, prefere no momento empresas ligadas ao cenário interno, mas com mais liquidez. Os estrategistas destacam os nomes de Azul (AZUL4), Magazine Luiza (MGLU3), Stone (ação negociada na Nasdaq, cujo BDR é STOC31), B3 (B3SA3), Localiza (RENT3), BTG Pactual (BPAC11), Banco do Brasil (BBAS3), Lojas Renner (LREN3) e Natura (NTCO3) como vencedoras num cenário de corte de juros.

A Guide aponta ter preferência por nomes sensíveis a juros, o que inclui o SMAL11 , ETF que busca refletir a performance, antes das taxas e despesas, do Índice de Small Cap.

Em sua carteira de small caps de maio, destacou preferir, por enquanto, manter uma postura mais defensiva. “Mantemos algumas pouco cíclicas como Sanepar (SAPR11), Ecorodovias (ECOR3) e Panvel (PNVL3), além de algumas empresas exportadoras como Irani (RANI3) e São Martinho (SMTO3). Além disso, temos exposição para empresas que se beneficiam da queda dos juros, como Direcional (DIRR3) e Vamos (VAMO3)”, mencionaram.

A Trígono tem maior exposição em exportadoras, açúcar e etanol e fornecedores da indústria.

“Estamos investidos e não pretendo no momento abrir o leque, concentrando nas mesmas. As principais posições sem ordem de importância são Ferbasa (FESA4), Schulz (SHUL4), São Martinho, Tupy (TUPY3), Kepler Weber (KEPL3) e Metal Leve (LEVE3)”, diz Werner Roger.

Max Bohm, por fim, afirma que está mais posicionado em small caps do setor doméstico, principalmente varejo, tecnologia e construção civil.