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Sell in may and go away? Ibovespa cai 0,58% nesta quarta, mas sobe 3,7% em maio, com impulso de empresas “domésticas”

Aprovação de texto do arcabouço fiscal, IPCA-15 mais fraco e projeção de recuo da Selic impulsionaram índice brasileiro no mês

Vitor Azevedo

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A queda de 0,58% do Ibovespa nesta quinta-feira (31) e as demais da registradas todos os dias desta semana não foram suficientes para minimizar o otimismo visto em maio. O principal índice da Bolsa brasileira acumulou no quinto mês do ano uma alta de 3,74%, ficando nos 108.335 pontos, refutando o velho ditado do mercado “sell in May and go away”. O índice foi impulsionado, principalmente, pela perspectiva de que o Banco Central brasileiro começará, em breve, um ciclo de baixa dos juros, em um mês marcado por avanço do arcabouço fiscal e dados e perspectivas melhores de inflação.

“Maio foi marcado por uma descompressão dos ativos brasileiros, principalmente Bolsa e juros, com a continuidade da melhora iniciada com a divulgação do novo arcabouço fiscal. Os indicadores de inflação divulgados recentemente também foram positivos e impulsionaram apostas em cortes nas taxas de juros no 2o semestre”, explica Leonardo Ruffino, sócio e gestor de renda variável da Mantaro Capital.

O IPCA-15, uma prévia do principal índice da inflação brasileiro, veio com leitura abaixo do esperado para maio. Quanto ao arcabouço fiscal, a câmara já aprovou o texto e o número alto de votantes sugere o projeto, que agora segue para o Senado, não deve enfrentar muitos problemas.

“Esses elementos – tramitação do arcabouço no Congresso e novos números de inflação – tendem a continuar dominando a agenda de junho, e podem contribuir para a continuidade da melhora”, completa Rufino.

A curva de juros brasileira recuou em bloco. Os DIs para 2025 e 2027 estavam no último pregão de abril com taxas de 12,07% e 11,81%, que foram, agora, para 11,51% e 10,93%. As taxas dos DIs para 2029 saíram de 12,11% para 10,93%, e as dos DIs para 2031, de 12,32% para 11,51%.

Com esse recuo das taxas de juros, empresas mais ligadas ao cenário interno, as de crescimento e as mais alavancadas foram destaque do Ibovespa em maio. As ordinárias da Yduqs (YDUQ3) ganharam, por exemplo, 73,28%, as preferenciais da Azul (AZUL4), 54,73%, e as ordinárias da Locaweb (LWSA3), 46,85%. Os papéis da Via (VIIA3) e da MRV (MRVE3) subiram 29,35% e 40%, respectivamente.

“Maio foi um mês positivo para bolsa, com dispersão importante de retornos entre os ativos. Continuamos acreditando que o fechamento da curva de juros continuará beneficiando especialmente ações de empresas ligadas ao mercado doméstico, como setor financeiro, locação de veículos e consumo, e também as que são sensíveis aos juros reais longos”, aponta Paulo Abreu, gestor da Mantaro.

Do outro lado, entre as principais quedas, ficaram ações de exportadoras de commodities, com o peso do temor sobre a retomada da China, que anda trazendo dados frustrantes, e de uma recessão nos Estados Unidos. As ordinárias da Vale (VALE3) recuaram 11,86%, as da SLC (SLCE3), 7,05%, e as da 3R Petroleum (RRRP3), 4,29%.

“Mercado está um pouco mais arisco, com temor de que a recessão pode estar chegando. Isso pesou bastante nas commodities, que vêm caindo no ano, tanto as agrícolas quanto as energéticas. Estamos bastante atentos a isso e continuaremos. Será importante acompanhar mês a mês, semana a semana, os dados”, fala Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

A curva de juros nos Estados Unidos teve comportamento diferente da curva brasileira em maio. Os treasuries yields para dois anos, por exemplo, saíram de 4,13% no início do mês para 4,40%. Os para dez anos, de 3,43% para 3,63%.

“Atenção, por lá, para os dados de inflação, que impactam também as taxas de juros. Por enquanto, ainda estão resilientes, com as taxas ficando altas por mais tempo e em patamares mais elevados, o que reforça a perspectiva de recessão”, debate Guilherme Paulo. “Em junho, temos uma nova decisão do Federal Reserve. Havia a expectativa que a última reunião teria sido a última com alta da fed funds, mas agora já há a perspectiva de que teremos uma nova alta. As bolsas de apostas mostram isso e é reflexo, justamente, dos dados mistos”.

Nos últimos dias, diretores do Federal Reserve voltaram a trazer em suas falas um tom mais hawkish, ou seja, de aperto monetário. Thomas Barkin, do Fed de Richmond, por exemplo, falou ontem que a inflação ficará alta “por mais tempo do que muitos esperam”. Loretta Mester, Cleveland, mencionou que as opções para junho estão em aberto, mas que “progresso na inflação é lento”.

Em destaque entre os índices de inflação por lá, o núcleo da inflação do consumo (PCE) dos EUA subiu 0,4% em abril ante março, ante projeção de 0,3% do mercado.

Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram 0,41%, 0,60% e 0,63% nesta quarta, na sequência. No mês, o primeiro caiu 3,49%, o segundo subiu 0,26% e o terceiro avançou 5,80% – este, principalmente, na esteira do bull market da inteligência artificial.

“Vamos acompanhar ainda de perto o relatório para buscar pistas de como o Federal Reserve irá atuar. Estamos em um cenário sem muito paralelo para entender o que irá acontecer”, fala o especialista da Manchester. “Teto da dívida também, no começo do mês, continua em destaque. Aparentemente será um teto curto, que deverá durar um ou dois anos”.

Os juros mais altos nos Estados Unidos e mais baixos no Brasil acabaram, por fim, impactando o real, diminuindo o chamado carry trade. A moeda americana fechou maio com alta de 1,73% frente a brasileira – e de 0,61% hoje – a R$ 5,073 na compra e na venda.

“Números de inflação bastante benignos e sinalizações mais receptivas a cortes de juros vindas do Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central] iniciaram uma reversão na apreciação do câmbio, que foi acelerada também por comentários mais hawkish de membros do Federal e dados bastante fracos de China”, fala Valter Unterberger, gestor de moedas do Opportunity Total. “Para junho, passado risco do debt ceiling e ausência de noticias ruins vindas dos bancos regionais americanos, a atenção volta para a decisão do FOMC, que pode dar o tom para o dólar de maneira global. Dados de inflação e sinalização de quando se inicia o ciclo de corte no Brasil, bem como desempenho de commodities, devem ditar o rumo do BRL”.