Sell in may and go away? Cautela com mercado americano é caminho para maio, com volatilidade no radar

Alta de juros pelo Fomc, desaceleração da economia global levam a uma maior cautela para as bolsas americanas

Felipe Alves

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O mês de maio chegou com o peso do rastro de desempenhos negativos deixados pelos principais índices das bolsas norte-americanas nos últimos meses. Diante de um cenário de preocupação com a inflação, com as tensões geopolíticas internacionais e com o desabastecimento da cadeia de suprimentos, será que o mês de maio vai seguir à risca a famosa frase do mercado financeiro “sell in may and go away” (venda em maio e vá embora)?

A frase se baseia no desempenho histórico inferior dos índices de ações no semestre de “verão” do Hemisfério Norte com início em maio e término em outubro em comparação com o semestre de “inverno”, de novembro a abril. Pelo raciocínio, o ideal seria vender os ativos em maio e só voltar a investir novamente entre outubro e novembro.

Para especialistas ouvidos pelo InfoMoney o momento é de cautela. Ficar de olho na renda fixa, se expor mais a ativos ligados a commodities e bens de consumo ou a setores menos impactados pela inflação podem ser alternativas para tentar escapar da alta volatilidade que ainda paira sobre o mercado.

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Do início do ano até abril, o S&P 500 caiu 13%, representando o pior começo de ano para o índice desde 1939. Em abril, o S&P 500 fechou com queda de 8,8%, representando o pior desempenho mensal do índice desde março de 2020, no início da pandemia de Covid-19. Já a queda de 13,3% da Nasdaq em abril foi a pior desde outubro de 2008, quando explodiu a crise financeira global.

Para maio, o Bank of America é taxativo: fique na defensiva. Segundo os estrategistas do banco, a queda acentuada do S&P 500 em abril não quer dizer que maio será de altas. “Esperamos que a volatilidade permaneça elevada e recomendamos ações de alta qualidade e de setores defensivos, como saúde e bens de consumo”.

José Cassiolato, sócio da Nexgen Capital, acredita que o momento é de repensar o portfólio de forma estrutural e privilegiar ativos com liquidez. “Quando temos mudanças como a que aconteceu nos últimos meses devemos pensar a carteira estruturalmente, privilegiando segmentos da renda fixa e também dentro da renda variável uma abordagem mais tática, mais cirúrgica, selecionando os setores que sejam menos dependentes da dinâmica de juros, como o setor de commodities e até o setor financeiro, que se beneficia da taxa de juros”, afirma ele.

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Segundo Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, para aqueles investidores que não têm tempo para fazer análises aprofundadas, o ideal é manter o foco em aportes constantes e não ficar tentando adivinhar se e quando o S&P vai cair ou subir.

Pensando na conjuntura estrutural, Nobre acredita que não é o momento de aumentar a exposição no exterior. “É importante para o investidor ter exposição em ativos internacionais, 15%, 20%, 30%. Mas não é o momento estrutural pra aumentar esse percentual, pois o S&P ainda está negociando acima da média histórica”, ressalta. Ele cita que o S&P já chegou a ser negociado ao múltiplo de 27 vezes o lucro, hoje está em cerca de 20 vezes, mas ainda está acima da média histórica de 17-18 vezes.

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Para Pietra Guerra, analista de mercados internacionais da XP, ter exposição internacional é sempre importante. Ela destaca que os setores de crescimento, como de tecnologia, ainda devem impactar as empresas ao longo de 2022. Por outro lado, o setor que tende a ser mais resiliente é o de consumo básico, diz Guerra.

Desde 1928 o período de maio-outubro tem o menor retorno médio comparado a qualquer outro período de 6 meses do ano com o S&P 500 subindo 66% das vezes e com um retorno médio de 2,25%. Este período de 6 meses (maio-outubro) é de onde o velho ditado do mercado recebe seu nome, mas como os retornos médios de maio a outubro não são negativos, a estratégia de “vender em maio e ir embora” deixa muito a desejar, na visão do Bank of America.

Um novembro-abril fraco tende a preceder um maio-outubro fraco

Na janela dos últimos seis meses, de novembro de 2021 a abril de 2022, o S&P 500 caiu 10,28%. Assim, este é o 12º período de novembro-abril mais fraco para o SPX desde o final da década de 1920.

Dados históricos compilados pelo Bank of America e pela Bloomberg sugerem que o SPX é menos negociado em alta no período de maio-outubro quando o período de novembro-abril tem um retorno do SPX abaixo da média ou negativo.

Em outras palavras, em momentos em que de novembro a abril o SPX ficou negativo, como é o caso de novembro de 2021 a abril de 2022, a tendência é de um retorno menor no período subsequente de maio a outubro, conforme destacado na tabela abaixo, elaborada pelo BofA:

Na última terça-feira (03) a XP ajustou o preço-alvo do S&P 500 para 4.600 pontos para este ano frente aos 4.900 esperados desde o ano passado (preço/lucro equivalente de 20,9x).

O movimento leva em conta o impacto do aumento na taxa de juros de 10 anos dos EUA na precificação das ações e uma série de fatores que têm abalado os mercados internacionais.

Pietra Guerra, analista de mercados internacionais da XP, ressalta que o mercado tem acompanhado nos últimos seis meses a elevação da expectativa dos juros de longo prazo nos Estados Unidos. De lá para cá, o rendimento das taxas dos títulos do Tesouro americano de 10 anos subiu de 1,6% para 2,9%, sendo este o principal driver para o momento atual.

“Vale lembrar que juros mais altos impactam negativamente a bolsa pelo próprio racional de trazer a valor presente o valuation das ações. Os Treasuries foram negociados na segunda-feira acima de 3%, valor mais alto desde 2018. Esse aumento é uma antecipação também do ciclo de aperto monetário que devemos ter mais clareza hoje (com a reunião do FOMC).

Os analistas da XP acreditam que o prêmio de risco nas bolsas americanas (retorno adicional de um investimento quando comparado aos rendimentos dos títulos públicos do país) está atrativo e ajudará a manter o valor da bolsa.

“Vale pontuar que não estamos preocupados com o crescimento dos lucros das empresas, já que um aumento no PIB nominal ajudará a sustentar lucros mais altos, mesmo com a inflação salarial mais alta e desaceleração no PIB real. Além do mais, acreditamos que, mesmo se houver uma recessão no horizonte, é mais provável que seja em 2023”, destaca a XP.

Resultados do 1º tri são sólidos, mas não animam os índices

O head de equity strategy research na Julius Baer, Mathieu Racheter, destaca que a rigorosa política de zero Covid-19 da China está pressionando o motor do crescimento global, ao passo que os investidores estão de olho nas ações do FED (Federal Reserve) e sua capacidade de amenizar os impactos na economia. Por outro lado, as empresas continuam a registrar ganhos sólidos no primeiro trimestre de 2021 nos EUA (81%) e na Europa (65%).

Nem o resultado de Big Techs da última semana, por exemplo, animou os índices americanos – pelo contrário. Até abril deste ano, oito das maiores Big Techs mundiais acumulavam perdas de valor de mercado de US$ 1,8 trilhão em 2022. A decepção com o primeiro trimestre de prejuízo da Amazon (AMZO34) desde 2015 lançou uma sombra sobre o mercado.

Para o UBS os resultados do primeiro trimestre das empresas dos EUA têm sido, de forma geral, sólidos – mas com algumas decepções, como é o caso da Amazon.

“Com mais da metade do S&P 500 reportado, em geral os resultados foram bons. Mais de 70% das empresas estão superando as estimativas em vendas e 80% estão superando as estimativas de lucros. No total, os ganhos estão batendo em 5,5%. A fraqueza está principalmente nos segmentos de consumo, e em alguns casos reflete o retorno após forte crescimento durante a pandemia”, afirma o UBS.

Por outro lado, segundo a Julius Baer, os guidances das companhias têm se mostrado mais nebulosos. A proporção de empresas do S&P 500 com guidances mais altos versus mais baixos tem a menor correlação desde o segundo trimestre de 2020.

“Além disso, as estimativas de consenso de lucro estão altas para o segundo e o quarto trimestre deste ano, aumentando a probabilidade de revisões para lucros negativos mais à frente”, afirma o head de equity strategy research da Julius Baer.

De olho nos eventos da semana

Até o momento, com dois pregões encerrados, maio foi positivo. Na segunda-feira (2) o S&P 500 fechou em alta de +0,57% e o Nasdaq em alta de +1,63%. Na terça (03), o S&P 500 avançou +0,48% e o Nasdaq subiu +0,22%.

Mas os olhares desta semana estão voltados para os eventos que devem impactar os mercados como um todo neste mês e nos próximos.

Nesta quarta-feira (04) haverá a reunião do Fomc (Federal Open Market Committee), que deve decidir sobre uma provável alta dos juros nos Estados Unidos.

Segundo José Cassiolato, sócio da Nexgen Capital, o momento é importante não só pela definição da taxa de juros, mas para sinalizar para qual caminho vai ser direcionada a política monetária americana.

Ele cita que não só a taxa de juros deve trazer impactos, mas também a queda da atividade econômica como um todo. Houve queda nas projeções de crescimento de todo o mundo, em especial de países que têm grande percentual do PIB (Produto Interno Bruto) da economia mundial, como EUA, China e Alemanha.

Em 19 de abril o FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu em 0,8% a perspectiva de projeção da economia global em 2022 de 4,4% (estimada em janeiro) para 3,6% (estimada em abril). “São poucas ocasiões em que vemos uma redução tão significativa”, afirma Cassiolato. Para 2023, a instituição reduziu a previsão do PIB global de 3,8% para 3,6%.

Para Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, estamos cada vez mais caminhando para um cenário de alta inflação e baixo crescimento. “Empresas não conseguem necessariamente vender mais e nem sempre têm capacidade de repassar preço para o consumidor. Isso impacta nas ações globais de uma forma geral. E o fenômeno de baixo crescimento não está restrito só aos EUA, à Europa ou ao Brasil”, destaca ele.

Fraquezas e fortalezas mês a mês

Ainda sob o ponto de vista do “sell in may and go away”, o Bank of America ressalta que os investidores costumam ver um rali ao longo dos meses de verão dos Estados Unidos, já que o histórico do SPX desde 1928 confirma essa tendência.

Assim, em vez de “vender em maio e ir embora”, diz o Bank of America, segundo os dados históricos, o certo seria “compre em maio e venda em julho e agosto”. A sazonalidade mensal sugere vender no mês de abril, aproveitar para comprar nas fraquezas do mês de maio e vender de julho a agosto.

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