Super quarta com Fed e Copom: em diferentes momentos do ciclo de alta de juros, o que esperar das reuniões?

Em diferentes momentos do ciclo de aperto monetário, alta de juros já é esperada tanto no Brasil quanto nos EUA, mas próximos passos serão monitorados

Lara Rizério

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O Federal Open Market Committee (Fomc) do Federal Reserve, Banco Central dos EUA, e o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do brasil, têm reuniões de política monetária na quarta-feira (4) em diferentes momentos do ciclo de alta de juros, mas com questões que se assemelham. Até onde ir para conter a persistente alta de preços?

Assim, a super-quarta será acompanhada de perto pelos investidores, não só pelas decisões de juros em si, mas também pelas sinalizações dos próximos passos das autoridades monetárias.

No caso do Copom, os economistas esperam que o Banco Central eleve a Selic para 12,75% na próxima reunião, com destaque para a sinalização dos próximos passos do comitê. Apesar da percepção de que o ciclo de aperto se aproxima do fim, não é descartado que o Comitê mantenha a porta aberta para uma alta mais prolongada da taxa básica à medida em que a inflação segue em nível incompatível com a meta.

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Tão importante quanto a decisão será o comunicado do BC após o anúncio. “O comitê deverá indicar um ajuste adicional moderado em sua próxima reunião [de junho], mantendo a flexibilidade, reafirmando que o balanço de riscos para a inflação é assimétrico e que suas próximas decisões estarão condicionadas à evolução da atividade econômica, ao balanço de riscos e às projeções de inflação e expectativas para o horizonte de política monetária relevante” aponta análise do Itaú.

O tom do Copom nessa mensagem pode sinalizar até quando os juros devem continuar subindo. Alguns analistas já preveem Selic terminal acima de 14%, visto os últimos dados de inflação. O IPCA-15 de abril, por exemplo, teve sua maior variação mensal (1,73%) em quase 30 anos. “Entendemos que o Banco Central deixará suas decisões futuras condicionadas à evolução do cenário, sem se comprometer, por enquanto, com o encerramento desse ciclo de alta”, diz análise do Bradesco.

A XP destaca que a análise de dados desde o último Copom não aponta alívio para a dinâmica de preços. A inflação continua em nível alto, as projeções para 2022 e 2023 aumentaram e o ambiente global se deteriorou. As simulações dos economistas da casa replicando o modelo do Copom sugerem alta da projeção do IPCA para 2022 de 7,1% para 7,8%, e estabilidade em 3,4% para 2023 em relação à reunião de março, avaliam.

Assim, ainda que em linha com as outras análises, esperam alta de 1 ponto na taxa Selic nesta reunião, como o cenário de inflação continua pressionado e incerto, entende que o Copom optará por deixar a porta aberta para um possível reajuste adicional em junho.

Os economistas da XP projetam atualmente que o Copom entregará uma última alta de 1 ponto na reunião seguinte, levando a Selic para 13,75%. “Pode ser também um aumento final menor, mas optamos por manter o ritmo de 1 ponto, que a nosso ver maximiza a probabilidade de uma convergência tempestiva da inflação à meta. Se o movimento provar exagerado, o Copom terá a oportunidade de iniciar um ciclo de flexibilização antes do esperado”, avaliam.

Já o Safra contempla ainda mais um aumento de 0,5 ponto na reunião de junho após a alta nessa reunião, com a taxa de juros encerrando o ciclo de aperto monetário no próximo mês, em 13,25%.

Por outro lado, há quem veja que o Copom deve apertar ainda mais o passo, caso do Credit Suisse e do BNP Paribas.

No documento a ser divulgado após a reunião, o Credit espera que o Banco Central apresente as seguintes importantes alterações em relação ao comunicado anterior: (i) a retirada do ano-calendário 2022 do horizonte da política monetária, enquanto deve manter  2023 e adicionar 2024; e (ii) uma indicação de um último aumento em junho, mas um mais gradual do que o ritmo de aperto atual de 1 ponto percentual.

Contudo, o Credit diz preferir uma abordagem mais dependente de dados e com uma menor orientação futura, principalmente quando há grandes incertezas em relação ao atual processo inflacionário no país e sobre a trajetória da política monetária nos EUA e seus efeitos sobre as moedas dos mercados emergentes.

“Nossa projeção para a trajetória da taxa Selic contempla altas de 1 ponto percentual em maio, 0,75 ponto em junho e 0,5 ponto em agosto, levando a taxa para 14,0% para o restante do ano”, avaliam os economistas. O outro cenário, que não é base para o banco suíço, seria de uma parada antecipada em junho (em 13,5%) se o cenário para a inflação se torne mais favorável do que nossas expectativas atuais de inflação de alta de 8,3% para 2022 e de alta de 4,6% para 2023.

O BNP Paribas, por sua vez, reiterou que esperará as sinalizações do BC pós-Copom para revisar suas projeções para Selic, mas ainda reforça a avaliação de que ela irá para 14,25% até o fim deste ano e terminará 2023 a 10,50%. Nesta terça-feira, os economistas do banco elevaram as projeções para a inflação de 8,5% para 10%.

Fomc: além da alta de 0,5 ponto

Com potencial de impactar ainda mais o mercado está a decisão do Federal Reserve às 15h (horário de Brasília). A expectativa é de alta de 0,5 ponto nos juros, passando da banda de 0,25%-0,50% para 0,75%-1,00%, com aceleração no ritmo de elevação em meio à persistência da inflação. Além da decisão, os mercados devem acompanhar de perto a coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell, após sinalizações mais duras sobre os juros feitas no final do mês passada por ele e que impactaram o mercado.

As grandes expectativas ficam para o ritmo de alta de juros e também para a redução do balanço de ativos do Fed. Para este ano, o Safra espera outras cinco altas dos juros de mesma magnitude nos Fed funds, que devem encerrar 2022 na banda 3,25%-3,50%.

O Goldman Sachs aponta que o Fed deve anunciar o início da redução do seu balanço de ativos e destaca as questões-chave sobre o que vem a seguir.

“Prevemos outro aumento de 0,5 ponto em junho, seguido de uma desaceleração para um ritmo de aperto de 0,25 ponto  para o resto de 2022, mas vemos chances razoavelmente altas de que o Fomc continue a apertar o passo em 50 pontos até atingir sua estimativa de taxa neutra mediana de 2,25- 2,5%. Ficaremos, portanto, atentos a quaisquer comentários de Powell na conferência de imprensa que sugiram que o Fomc pretende subir em incrementos de 0,5 ponto além de junho”, destacam os economistas do banco.

Há duas questões adicionais que são importantes para alguns investidores antes da reunião de maio, destaca o Goldman. Primeiro, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, levantou recentemente a possibilidade de um aumento de 0,75 ponto no futuro, mas o Goldman vê essa aceleração no aperto monetário como improvável, especialmente porque vários participantes do Fomc enfatizaram que não veem um aumento desta magnitude como apropriado.

Em segundo lugar, a ata da reunião do Fomc de março abriu a porta para a venda de títulos lastreados em hipotecas (MBS) durante o processo de redução do balanço patrimonial, mas o Goldman acredita que o Fomc não o fará, já que os participantes têm uma forte preferência por usar a taxa de juros como a principal ferramenta para ajustar a política monetária e as participações em MBS como parte do balanço do Fed não devem chegar a um nível desconfortável.

Já para o Credit Suisse, a redução do balanço de ativos do Fed deve seguir o que saiu na ata da última reunião de março. Na ocasião, o documento destacou: “Os dirigentes concordaram que os limites mensais de cerca de US$ 60 bilhões para títulos do Tesouro e cerca de US$ 35 bilhões para os MBS provavelmente seriam apropriados. Os dirigentes também concordaram em geral que os limites poderiam ser implementados em um período de três meses ou um pouco mais, se as condições de mercado assim o justificarem”, diz o texto.

Em recentes declarações, dirigentes do Fed sinalizaram que estão cada vez mais preocupados com a inflação acima da meta e estão prontos para alterar a política monetária rapidamente em direção às estimativas da taxa neutra. Mesmo integrantes tradicionalmente pacifistas sugeriram que os juros devem chegar perto do neutro até o final deste ano. As estimativas das autoridades a taxa básica de juros neutra de longo prazo mal se moveu no ano passado, com uma mediana de 2,4%.

“Esperamos que o Powell elabore a justificativa para um aumento de 0,5 ponto, enfatizando a importância de reduzir a inflação. Ele provavelmente repetirá que a recuperação da inflação para a meta é de suma importância e que o mercado de trabalho mercado está muito apertado. Powell provavelmente parecerá mais preocupado com uma possível espiral de preços-salários, mas deve repetir que as expectativas de inflação de longo prazo permanecer ancoradas”, avalia o Credit, apontando esperar que o presidente do Fed deva manter as opções de novas altas de juros de 0,5 ponto em aberto.

Com relação ao balanço patrimonial, se perguntado, o Credit espera que Powell tenha “a mente aberta” sobre a potencial necessidade de vendas de MBS – mantendo opções para um ajuste já este ano. “Em nossa opinião, com a inflação elevada e as preocupações com a credibilidade em alta, esperamos que o Fed evite surpresas dovish – e entregue pelo menos o que o mercado está precificando para as próximas reuniões. Uma vez que a política monetária tem um certo atraso em impactar a inflação, faz sentido um início de ciclo mais agressivo”, apontam os economistas.

Cabe ressaltar que a trajetória de alta de juros pelo Fed é acompanhada de perto pelos investidores, principalmente em meio aos temores de que um avanço muito forte nas taxas possa levar a um período de recessão para a maior economia do mundo.

Em relatório recente, do final de abril, o Deutsche Bank destacou que o Fed provavelmente precisará implementar o aperto monetário mais agressivo desde os anos de 1980 para conter a taxa de inflação mais alta em quatro décadas. Isso, na visão dos economistas do banco alemão, pode levar a uma profunda recessão nos EUA no ano que vem.

Na visão dos economistas, os planos do Fomc de elevar os juros para um nível neutro – que não estimula nem contrai o crescimento – de cerca de 2,5% não serão suficientes para aliviar a inflação. “Teremos uma grande recessão, mas acreditamos fortemente que quanto mais cedo e mais agressivamente o Fed agir, menos danos de longo prazo haverá para a economia”, apontaram.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.