“Sell in May and go away”: O que significa esse velho ditado do mercado

Faz sentido a crença de que o desempenho da bolsa de valores piora a partir de maio? Conheça a origem e saiba se vale a pena deixar o pregão nesse período

Mariana Segala

(Imagem: iStock / Getty Image)

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Se você já investe na bolsa de valores, mesmo que esteja só começando, provavelmente já ouviu ou leu essa frase: “Sell in May and go away”. Traduzido para o português como “venda em maio e vá embora”, o velho ditado é uma espécie de lenda do mercado financeiro – que, aliás, muita gente leva a sério.

A frase sugere que os investidores devem vender suas ações e sair do pregão a partir desse mês, porque os resultados dali para frente costumam ser piores do que no restante do ano. Mais valeria, portanto, deixar o mercado temporariamente e voltar mais tarde, quando as coisas começassem a melhorar. Mas esse movimento sazonal realmente existe e funciona?

Origem do “Sell in May”

Entender a origem deste velho ditado exige saber que ele é um pouco mais longo do que a frase curta usada mais frequentemente. Na verdade, a versão completa seria: “Sell in May and go away, and come back on Saint Leger Day” (ou Venda em maio e vá embora, volte no Dia de Saint Leger, em tradução livre). Ela se refere ao fato de que, décadas atrás, os homens de negócio da City de Londres, na Inglaterra, costumavam deixar a cidade para as férias de verão, indo para o interior para participar de eventos esportivos mais comuns na época do calor.

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A temporada de verão terminava em setembro com uma corrida de cavalos na cidade de Doncaster, em Yorkshire, intitulada exatamente Saint Leger. Nesse entremeio, as atividades na capital do país amornavam – entre elas, as negociações na bolsa de valores.

Ainda hoje, o período de férias de verão no Hemisfério Norte ainda é apontado como uma das razões para um desempenho supostamente menos positivo do mercado acionário entre maio e outubro. O volume de negociações tende a diminuir, se comparado com o que se registra nos meses frios, em que todos estão dentro dos escritórios trabalhando.

Alguns investidores e analistas brasileiros dão eco a essa crença, justificados tanto pelo nível de correlação existente entre o Ibovespa e as bolsas estrangeiras (especialmente americanas) quanto pelo fato de que o volume de investidores estrangeiros na B3 é elevado. Se eles estão em férias na Europa e na América do Norte, é provável que não operem por aqui também. A dúvida que paira, no entanto, é se o mercado de fato piora nessa época – ou se essa é meramente uma tradição tomada como verdade absoluta.

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Mito ou verdade?

Centenas de estudos e levantamentos já procuraram verificar se o ditado do mercado de ações é mito ou verdade. Uma análise publicada pela revista Barron’s dá o tom do que se admite como o mais provável atualmente. Considerando o índice S&P 500 – um dos mais importantes das bolsas americanas – desde a sua criação, o seu desempenho médio para os períodos entre novembro e abril é de 5%. É uma valorização maior do que a média de 2% verificada nos períodos entre maio e outubro.

Essa diferença, no entanto, vem diminuindo bastante recentemente. Considerando apenas o período entre 2015 e 2020, o desempenho médio do S&P 500 foi de 3,76% entre novembro e abril, apenas um pouco mais alto que os 3,24% verificados entre maio e outubro. Por conta de resultados como estes, cada vez mais participantes do mercado acreditam que o “Sell in May” tem feito menos sentido nos últimos tempos – embora historicamente tenha se estabelecido como uma relação aparentemente verdadeira.

No Brasil, maio tem fama de ser o pior mês na bolsa de valores. Não é à toa. Nos 15 anos entre 2005 e 2019, o mês de maio registrou desempenho negativo em dez deles. Antes de 2019, o último ano em que maio havia tido desempenho positivo tinha sido em 2009. No entanto, os analistas têm dificuldades para determinar uma razão para isso – que não o acaso.

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Vale a pena vender em maio?

Existem muitas estratégias diferentes de investimento na bolsa de valores. Algumas estão focadas no curto prazo, enquanto outras têm o longo prazo como horizonte. Uma análise comum entre os especialistas em ações, no entanto, é comum a várias delas: é muito difícil prever com exatidão o ponto ideal para vender os papéis (a cotação mais alta possível), assim como o de comprá-los (a cotação mais baixa possível).

Por isso, na tentativa de acertar na mosca, muitos investidores acabam perdendo boas oportunidades tanto para comprar quanto para vender suas ações. É comum deixarem “passar o ponto”, e por isso acabam amargando prejuízos maiores do que poderiam.

A tentativa de capturar os efeitos do “Sell in May” pode causar esse tipo de efeito no portfólio dos investidores menos experientes. No lugar disso, muitos analistas recomendam elaborar uma estratégia de compras e vendas graduais. Adquirindo ações em pequenos pacotes, a cada semana, quinzena ou mês, o investidor é capaz de diluir seu preço médio. Da mesma forma, vendendo de pouco em pouco, o investidor talvez perca a cotação mais alta possível, mas também evitará se desfazer de todos os seus papéis em um momento desfavorável.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney