Vivo (VIVT3) e TIM (TIMS3): 4º trimestre testou capacidade de expansão das operadoras de telecom

Empresas podem não ter passado totalmente ilesas ao cenário conturbado, tendo dificuldades em ajustar preços e aumentar suas receitas

Mitchel Diniz

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As empresas de telecomunicações são consideradas opções de investimento defensivas, por serem menos sensíveis à volatilidade do cenário macroeconômico. Dificilmente alguém deixará de usar a internet ou abrir mão de seus canais de comunicação, mesmo em um cenário de inflação ainda elevada e crédito mais caro. Mas as empresas podem não ter passado totalmente ilesas a essa situação, tendo dificuldades em ajustar preços e aumentar suas receitas. Os resultados do quarto trimestre, com as características sazonais do período,  vão ser um tira teima nesse sentido.

Os analistas têm mostrado expectativas distintas sobre os balanços do setor. A XP diz esperar por números sólidos e destaca o cenário competitivo “mais racional”, com a consolidação do mercado após a compra dos ativos da Oi Móvel pelas operadoras. Para os analistas, tanto a TIM (TIMS3) quanto a Vivo  (VIVT3) estão conseguindo aumentar preços e manter os cancelamentos sob controle.

O período entre outubro e dezembro de 2022 também foi o primeiro trimestre cheio com a redução de alíquota de ICMS que caiu, em média, 10 pontos percentuais no último mês de agosto.

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O Santander, por sua vez, espera números mornos. A casa prevê um crescimento apenas marginal nas receitas das companhias, uma redução da rentabilidade e aumento do capex (investimentos em bens de capitais).

O Santander e a XP têm a mesma visão de um ambiente competitivo mais racional no segmento mobile, mas acredita em um quarto trimestre fraco em termos de recargas no pré-pago, impactado pela volatilidade no ambiente macroeconômico. Também descreve uma “ausência de elevação de preços” no período, o que pode impactar negativamente os resultados.

Além disso, o banco calcula que haverá contração nas margens das empresas de telecomunicações, o que representaria uma disrupção de tendências observadas no terceiro trimestre do ano passado.

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“Esperamos que a desaceleração nos resultados da TIM seja mais significativa do que no caso da Vivo”, escreveram os analistas Felipe Cheng e Cesar Davanco. Eles acreditam que pode haver melhora nas tendências operacionais de ambas as companhias com uma maior consolidação de sinergias. Porém, isso só deve ficar mais aparente a partir do segundo semestre deste ano.

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TIM: Crescimento robusto ou apenas tímido?

A TIM é a primeira das grandes operadoras a divulgar resultados nesta quinta-feira (9), após o fechamento do mercado. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido de R$ 444,87 bilhões no quarto trimestre, queda de 56,17% em relação a um ano antes. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) previsto é de R$ 2,894 bilhões, alta de 152,75% na comparação com o mesmo período de 2021.

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A XP acredita que o balanço do quarto trimestre da empresa vai ser parecido com o do terceiro tri, com as receitas de serviços móveis mantendo nível robusto de crescimento – a casa prevê avanço anual de 23% no faturamento, para R$ 5,3 bilhões. A XP calcula receita líquida total de R$ 5,8 bilhões no período, alta de 21% na comparação anual e de 3%, na trimestral.

“Vale ressaltar a sazonalidade positiva no quarto trimestre, principalmente no pré-pago”, escreveram os analistas da casa, Bernardo Guttmann e Marco Nardini. A dupla não acredita que o desligamento de clientes inativos da Oi vá impactar as receitas da companhia.

Sobre a redução de alíquota do ICMS no pré-pago, a XP calcula impacto positivo de 0,5 ponto percentual de crescimento na margem Ebitda, que deve continuar se recuperando e atingir 49,6% (alta de 1,5 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre).

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A casa também prevê lucro líquido normalizado de R$ 390 milhões no quarto trimestre, queda de 49% na comparação anual e de 18% em relação ao terceiro trimestre.

O Santander calcula que as receitas da TIM no quarto trimestre tenham crescido 3,3% em relação ao terceiro tri, para R$ 5,8 bilhões (alta de 20,8% na comparação anual). A receita de serviços móveis teria avançado 2,4%, na comparação trimestral, para R$ 5,279 bilhões. A cifra é 22,1% maior que a registrada no mesmo período do ano passado. Porém, os analistas do Santander observam que, no terceiro trimestre, o faturamento havia avançado 26%.

Para o banco, a desaceleração no crescimento deve refletir um baixo número de adições líquidas de usuários e uma dinâmica mais fraca do pré-pago. A rentabilidade também deve crescer menos, de acordo com os cálculos do Santander. A projeção para o Ebitda do quarto trimestre é de R$ 2,9 bilhões, alta de 19% na comparação anual. No terceiro trimestre, o Ebtida havia crescido 24% em relação a um ano antes.

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O Santander também calculam que o capex da TIM será de R$ 1,5 bilhão no quarto trimestre e de R$ 4,8 bilhões no acumulado de 2022, em linha com o guidance.

Por fim, o Santander projeta lucro líquido de R$ 414 milhões, o que representaria um declínio de 46% em relação ao resultado do quarto trimestre de 2021.

Vivo: Trimestre vai testar poder de reajuste

A Telefônica Brasil/ Vivo divulgará seus resultados no dia 15 de fevereiro, após o fechamento da Bolsa. O consenso Refinitiv projeta lucro líquido de R$ 1,068 bilhão no período, queda de 59,36% na comparação anual. Para o Ebitda, a projeção é de R$ 5,227 bilhões, alta de 4,68% em relação ao mesmo período de 2021.

Assim como na avaliação sobre a TIM, a XP também acredita que a Vivo consiga apresentar resultados sólidos no quarto trimestre, refletindo bons desempenhos operacionais contínuos. Os analistas destacam que a companhia tem conseguindo entregar um saldo positivo de adições líquidas no pós-pago – reflexo de uma estratégia “assertiva” de migração do pré-pago e planos controle, além do saldo positivo de portabilidade.

“O reajuste de preço realizado para sua base de clientes controle também deverá contribuir para o crescimento da receita no trimestre”, escreveram os analistas. A XP calcula que a receita líquida operacional da Vivo seja de R$ 12,565 bilhões no quarto trimestre, com alta de 9% em bases anuais e de 3% na comparação trimestral. A receita de serviços móveis, nessas projeções, é de R$ 7,930 bilhões, 14% maior que a de um ano antes.

Os analistas da XP também afirmam que o segmento de telefonia fixa continua com uma “dinâmica positiva”, alavancada pela aceleração de adições líquidas na Fibra que compensam o declínio de receitas “non-core” dos sistemas legados.

No final do ano passado, a Vivo descontinuou os serviços de TV por assinatura (DTH) e os impactos desse movimento só devem se refletir nos resultados financeiros a partir do primeiro trimestre deste ano. O negócio gerava receitas de R$ 200 milhões por ano.

Uma maior relevância dos serviços B2B e a inflação do trimestre devem impactar a margem Ebitda da companhia. A XP projeta uma queda de 1 ponto percentual, na comparação anual, para 41,68%. Por fim, a casa prevê que o lucro líquido da Vivo seja de R$ 1,231 bilhão, queda de 53% em bases anuais e de 14% comparada ao lucro do terceiro trimestre.

Já o Santander acredita em um leve desaceleração no crescimento do segmento mobile, enquanto a parte de telefonia fixa deve ter tendências similares ao do terceiro trimestre.

Nos cálculos do banco, a receita dos serviços móveis da operadora devem crescer 13% na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 7,872 bilhões. No terceiro trimestre, essa linha do balanço havia crescido em proporção um pouco maior, de 15%.

No segmento de telefonia fixa, o Santander calcula que a Vivo obtenha R$ 3,729 bilhões em receitas, alta de 2,1% em bases anuais. Assim, o faturamento da parte fixa deve crescer na mesma proporção em que avançou no terceiro trimestre.

Para o Santander, a Vivo deve fechar o quarto trimestre com receita líquida de R$ 12,5 bilhões. A cifra é 9% maior que a obtida um ano antes, mas o faturamento deve crescer menos que no terceiro trimestre, quando as receitas avançaram 11%.

Ainda de acordo com a projeções do Santander, a Vivo deve obter Ebtida de R$ 5,3 bilhões no quarto trimestre, alta de 7,3% em relação ao ano anterior. Para a margem Ebitda, é esperada uma queda de 60 pontos-base na mesma base de comparação, para 42,3%. O lucro líquido previsto pelo Santander para a operadora é de R$ 1,137 bilhão, queda de 56,7% na comparação anual e de 20,9% em relação ao terceiro trimestre.

O banco acredita que uma das pressões negativas sobre a linha final do balanço é o capex, previsto em R$ 2,5 bilhões no trimestre – e em R$ 9,5 bilhões no ano de 2022 como um todo. “Acreditamos que o capex pode ser uma surpresa negativa no trimestre, pressionado pelo lançamento do 5G e a expansão do FTTH [fibra óptica]”.

O BTG Pactual, por sua vez, prevê “resultados decentes” no quarto trimestre da Vivo. Os analistas calculam alta de 9,5% da receita de serviço. A cifra deverá ser impulsionada pelo crescimento de 13,3% na receita de serviço móvel – com o apoio da consolidação da Oi.

“Este trimestre será o primeiro desde o 1T22 em que a Vivo não se beneficiará de um aumento de preço em seus planos”, diz o relatório do banco. De acordo com o BTG, o crescimento da receita móvel estimado está ligeiramente abaixo do terceiro trimestre e reflete sólidas adições líquidas no segmento pós-pago.

“Nos meses de outubro e novembro, a Vivo adicionou 292 mil clientes pós-pagos por mês, em média, tornando-se líder do segmento no período”.

O BTG também prevê uma leve aceleração no crescimento da receita de telefonia fixa, liderado por negócios relacionados à fibra.

“Vemos R$ 5,3 bilhões de Ebitda ajustado ( 7,3% a/a), com margem de 41,9% (-1p.p. a/a). A margem mais baixa em relação ao ano passado reflete custos de pessoal mais altos e um mix de receita diferente”, diz o relatório do banco.

Por fim, o BTG projeta lucro líquido de R$ 1,1 bilhão no quarto trimestre, levando a empresa a fechar o ano de 2022 com R$ 4 bilhões.

“Em comparação ao 4T21 e 3T22, esse é um nível de lucro bem menor, mas está relacionado ao reconhecimento de R$ 1,4 bilhão em créditos tributários no 4T21 e R$ 1 bilhão no 3T22”, afirma o BTG.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados