Tesla, Facebook, Apple e videogames: empresas de tecnologia comandam os bons resultados nos EUA no 2º trimestre

Mesmo com as empresas americanas, em geral, apresentando queda de receita e lucro, resultados vieram acima do esperado pelo mercado

Rodrigo Tolotti

(Getty Images)

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SÃO PAULO – A pandemia do coronavírus acertou em cheio as companhias do mundo todo, e mesmo as gigantes americanas não conseguiram escapar de ver seus resultados caírem no segundo trimestre deste ano por conta da crise. Apesar disso, analistas, em geral, viram como positivos os números divulgados pelas companhias.

Esta visão se dá mesmo diante de uma queda de 9,8% das receitas e de 7,4% dos lucros das empresas dos Estados Unidos. Isso porque mesmo com o recuo, os resultados ficaram, em geral, bem acima do que esperavam os especialistas, cujas projeções apontavam para recuos de 11,5% e 33% na receita e lucro, respectivamente.

Em relatório, Guilherme Giserman, estrategista internacional da XP Investimentos, ressalta que, com este desempenho melhor que o esperado, 5 em cada 6 empresas americanas superaram as estimativas de lucros, que ficaram 22% maiores que o esperado.

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Entre os setores, o grande destaque ficou para o de tecnologia, que chamou atenção nas últimas semanas levando o índice Nasdaq para sua máxima histórica. As empresas do setor conseguiram aumentar em 6% a receita, enquanto os lucros recuaram apenas 0,8%.

Na sequência, Giserman destaca também as empresas de saúde e comunicação (em que está incluído o Facebook) como os melhores setores do trimestre. Já do lado negativo, as companhias petrolíferas viram seus lucros desabarem 55%, enquanto o setor de bens de consumo e materiais teve recuo de 20% no faturamento.

Dentro do grupo FAAMGs (que é diferente do FAANG, trocando Netflix por Microsoft), o Facebook não sofreu grande impacto do boicote às propagandas de mais de 1.000 marcas em sua plataforma e registrou receitas 11% acima do esperado. Para o futuro, o estrategista da XP destaca que a empresa de Mark Zuckerberg está “na vanguarda do desenvolvimento do ecossistema de comércio eletrônico e segue com investimentos agressivos em inovação, acelerando a migração para plataformas de anúncios direcionados”.

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Já a Apple conseguiu superar em 24% as projeções de vendas de iPhones, que chegaram a US$ 26,4 bilhões, sendo que o lançamento do modelo mais barato iPhone SE se mostrou uma estratégia acertada. Além disso, Giserman ressalta que o isolamento acelerou as vendas de iPads e Macbooks e que agora o desafio da empresa é o lançamento do 5G e no futuro do foco da empresa no mercado de saúde.

A Amazon, por sua vez, teve receitas de US$ 89 bilhões, superando em 10% as já altas expectativas do mercado, e apontou ainda um guidance de US$ 93 bilhões em receita no terceiro trimestre, indicando que o crescimento de vendas deve seguir. Enquanto isso, a Microsoft teve faturamento 17% maior no segmento de nuvem, ao passo que o Office365, Azure, Linkedin e Dynamics saltaram 30% na comparação anual, com destaque ainda para o Xbox, com receitas crescendo 65%.

O Google (Alphabet) teve o resultado menos impressionante, segundo o estrategista da XP. Foi a primeira vez na história que a companhia teve queda na receita, o que se deu pela queda de publicidade, em especial com viagens e turismo. Do lado positivo, porém, o Google Play e as assinaturas da YouTube cresceram 26% e ajudaram a compensar as perdas.

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E se o grupo dos FAAMGs já está completo, o mercado já se prepara para incluir mais uma companhia, a Tesla. Segundo Giserman, a empresa de Elon Musk teve ótimos resultados e registrou seu quarto trimestre consecutivo de lucro líquido, se encaixando agora nos critérios para ser incluída no S&P 500. Pelo tamanho da companhia, ela pode representar cerca de 1% do índice e acessar mais de US$ 4 trilhões em fundos indexados ao índice.

Ele ressalta que a Tesla superou as expectativas do mercado em todas as linhas do resultado, com receitas batendo em 12% as previsões e margem operacional dos últimos 12 meses próxima a 5%, com perspectiva de expansão e meta de liderar a indústria. “Além do mais, ela foi a única montadora a aumentar a entrega de automóveis durante o primeiro semestre de 2020”, afirma o estrategista, que aponta, pelo lado negativo, que parte dos lucros vieram de créditos regulatórios e não propriamente de operações.

Games em alta na pandemia

Por conta do isolamento, ocorreu um forte aumento da busca por formas de distração e diversão para quem estava em casa durante os últimos meses, por conta disso, a indústria voltada para videogames conseguiu fortes resultados entre abril e junho.

Entre os destaques, segundo a XP, a Activision Blizzard surpreendeu com o jogo Call of Duty Warzone, que trouxe 75 milhões de jogadores para a base da franquia, que nos últimos 5 anos representou 25% das receitas da companhia. Além disso, a empresa já tem uma base de lançamentos previstos que devem sustentar o aumento de seus lucros nos próximos 18 meses.

A Nintendo foi outra que conseguiu um ótimo desempenho, superando em 13% as projeções mais otimistas do mercado. E boa parte disso se deu pelo sucesso do jogo Animal Crossing, que vendeu 12 milhões de cópias em 11 dias e já superou a marca de 23 milhões de games vendidos. Segundo a empresa, houve também um aumento de demanda pelo console Switch.

Na mesma linha, a Sony, dona do PlayStation, registrou receitas de US$ 20 bilhões, superando em 25% as estimativas, por conta da sua unidade de videogames, em especial o lançamento do jogo The Last of Us Parte 2. Para os próximos meses, as projeções seguem otimistas com a expectativa do lançamento do novo console, o PlayStation 5, marcado para novembro.

Ainda no segmento, a Take-Two, dona de games como GTA, NBA2K e Red Dead Redemption, teve US$ 1 bilhão em pedidos. Por outro lado, a companhia acredita que os efeitos positivos da pandemia durem apenas até o próximo trimestre. Já a Tencent, dona do WeChat, superou em 5% as projeções de receita por conta do forte faturamento com os jogos mobile.

Outras tecnológicas

Outro destaque do trimestre foi o setor de pagamentos digitais, com atenção especial para PayPal e Square. A primeira teve crescimento de 30% no volume transacionado e de 25% nas receitas, alta que deve se manter forte no terceiro trimestre. Já a Square teve volume de pagamentos digitais 50% maior na comparação anual, com uma carteira que chegou a 30 milhões de usuários.

Os outros números de empresas do setor acabaram sendo mais mistos. Do lado mais positivo, a Nasdaq teve receitas de US$ 700 bilhões, ficando 2% acima do projetado, enquanto o Mercado Livre seguiu sua forte arrancada, com crescimento de 70% nos usuários diários no Brasil. Recentemente, a companhia argentina, inclusive, se tornou a mais valiosa da América Latina.

Já o Netflix teve um balanço morno, com a adição de usuários chegando a 10 milhões e superando a expectativa, que era de 8 milhões. Por outro lado, o mercado não reagiu bem aos números por conta do guidance menor de captação para o próximo trimestre, levantando preocupações sobre o ritmo de crescimento da companhia.

Entre os números mais fracos, destaque para o Spotify, que viu sua receita cair 20%, apesar de uma visão de longo prazo ainda positiva. Já o Twitter, conseguiu superar a projeção de usuários diários, que chegou a 185 milhões, mas teve queda de 20% na receita 20%, mostrando uma grande dificuldade de monetizar sua base.

Turismo e outros setores

Como no mundo todo, as companhias aéreas e empresas de viagens foram as que mais sofreram com a pandemia até agora por conta do cancelamento de voos e isolamento social.

Neste sentido, a American Airlines teve um prejuízo de US$ 3 bilhões, ao passo que as receitas da Lufthansa caíram 80% no segundo trimestre, com 80% do faturamento da companhia vindo do transporte de carga.

Já Tripadvisor e Booking viram, suas receitas desabarem. A primeira com queda de 86%, para US$ 59 milhões, e a segunda de 84%, a US$ 630 milhões. Apesar disso, Giserman destaca que as duas superaram em 22% as projeções do mercado: “É tudo sobre expectativas; resultados muito ruins, mas acima do esperado”.

O lado positivo veio da Disney, que apesar de sofrer um prejuízo de US$ 2 bilhões por conta do fechamento de seus parques temáticos, conseguiu surpreender positivamente o mercado, principalmente por conta do seu serviço de streaming, o Disney+, que já passou de 60 milhões de usuários antes de completar um ano de seu lançamento. O segmento de mídia, com a ESPN e a ABC, também foram positivos, com o corte de custos compensando as menores receitas.

Entre outros setores, a Beyond Meat, que vende “carnes” à base de plantas, teve receita de US$ 113 milhões, 14% acima das projeções, com um crescimento de 195% nas receitas no varejo dos EUA na comparação anual. Já a Uber registrou um balanço misto, com a unidade de entrega de comida tendo alta de 106% no faturamento e compensando a queda de 75% das operações de passageiros.

Diante dos números do segundo trimestre, Guilherme Giserman destaca que as companhias de tecnologia continuam com desempenho superior à média do mercado, demonstrando resiliência, apesar da crise, e tendência não dá sinais de enfraquecimento.

“A demanda por tecnologia, aparelhos eletrônicos, serviços de streaming, aplicativos e plataformas digitais deve permanecer como um dos principais geradores de crescimento”, completa o estrategista.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.