O que esperar da temporada de resultados do 2º trimestre? Confira ações e setores para ficar de olho

Analistas veem um trimestre sem brilho para empresas de commodities, com forte peso no Ibovespa, e varejo ainda fraco

Lara Rizério

Mercado de ações/moedas (Foto: Getty Images)

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O cenário macroeconômico deve continuar como um fator de peso para as empresas brasileiras no segundo trimestre de 2023 (1T23), com muitas companhias ainda se esforçando para recuperar suas margens. Apesar da recente melhora de visibilidade com a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária na Câmara, o cenário segue adverso para alguns setores voltados ao consumo doméstico, ainda que apontem para uma trajetória de recuperação.

Para Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, a recuperação das margens passa pela necessidade de melhorias operacionais e disciplina de custos. “Além disso, temos a queda do preço das commodities em relação ao ano passado. Tudo isso impactará o resultado das empresas no segundo trimestre de 2023”, aponta.

De acordo com o Morgan Stanley, que faz suas análises tendo como moeda-base o dólar, as empresas brasileiras devem apresentar resultados fracos na moeda estrangeira, projetando uma queda de 5% na base anual para as receitas, de 26% para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), além de uma baixa anual de 40% para os lucros (de 56% para o segmento de commodities e de 9% para as empresas domésticas).

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Olhando para os setores, além de commodities, analistas de mercado veem algumas tendências se mantendo, com Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) devendo novamente apresentar melhores números frente Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4) entre os bancões.

Já para o varejo, espera-se ainda uma temporada fraca, frente a um poder de compra ainda pressionado, base de comparação difícil e efeitos pontuais relacionados ao clima para varejistas de moda.

Confira o calendário de resultados do 2º trimestre de 2023 da Bolsa brasileira

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Confira abaixo as empresas e setores que devem se destacar no 2º tri:

Setor financeiro

Uma diversa temporada de resultados do segundo trimestre de 2023 está a caminho das instituições financeiras brasileiras, com os investidores em busca de pistas para entender se o primeiro semestre de 2023 foi o ponto baixo para a indústria e como o segundo semestre de 2023 e o ano de 2024 estão se moldando, aponta o Itaú BBA.

Entre as empresas de capitalização de mercado elevada, os analistas do BBA apontam estarem particularmente otimistas em relação ao BTG (BPAC11) e ao Nubank (NUBR33), ambos com boas chances de apresentar resultados sólidos e possíveis revisões positivas.

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“Banco do Brasil BBAS3 e B3 B3SA3 também estão posicionados para entregar bons resultados. Do lado negativo, espera-se que Bradesco BBDC4 e Santander Brasil SANB11 apresentem mais um conjunto de resultados fracos devido a pressões persistentes sobre a margem financeira, despesas operacionais e provisões de crédito”, avaliam os analistas do banco. Porém, ao contrário do trimestre anterior, os analistas veem que os níveis de “valuation” estão menos distorcidos.

Já a Cielo (CIEL3) é amplamente esperada para ser um destaque negativo da temporada, com fraco volume total de transações ofuscando possíveis melhoras de preço.

“Entre as empresas de menor porte, preferimos BR Partners BRBI11 devido aos primeiros sinais de recuperação no mercado de capitais e a Vinci diante de melhor dinâmica de ativos sob gestão. No geral, a próxima temporada de resultados do segundo trimestre de 2023 deve ser favorável para nossas principais escolhas no setor: BTG, Nubank e B3″, avalia.

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Olhando para os bancões, o JPMorgan avalia esperar tendências ainda desafiadoras de qualidade de ativos, com os bancos ainda imprimindo alta formação de inadimplência (NPL).

“Quanto ao poder de lucros, esperamos que o Banco do Brasil e o Itaú continuem sendo os melhores da categoria, e prevemos outro trimestre desafiador para o Bradesco, principalmente na qualidade dos ativos, novamente, mas o resultado do mercado deve continuar melhorando sequencialmente e as taxas em queda para continuar sustentando o desempenho das ações”, avalia.

Na mesma linha, o Goldman Sachs também possuem preferência relativa por Itaú e Banco do Brasil, que devem continuar apresentando bons resultados e com ROEs (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) ainda modestamente acima de 20%.

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Embora o crescimento da receita líquida de juros (NII) deva moderar um pouco, o crescimento ainda saudável dos empréstimos e NIMs (margem líquida de juros) deve permitir um crescimento de dois dígitos na receita líquida de juros. Enquanto isso, carteiras de empréstimos relativamente saudáveis ​​devem manter as provisões sob controle.

“Por outro lado, Bradesco e Santander Brasil devem continuar atrás, com ROEs abaixo de 12%. As taxas ainda altas devem continuar a pressionar a margem de lucro do mercado, mantendo o crescimento da receita líquida de juros em um dígito baixo, enquanto as tendências de qualidade de ativos mais fracas devem manter o custo do risco elevado”, aponta.

Varejo

Na visão da XP, a projeção é de um 2º trimestre fraco para o varejo, frente a um poder de compra ainda pressionado, base de comparação difícil e efeitos pontuais relacionados ao clima para varejistas de moda.

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Varejistas de alta renda devem continuar a apresentar uma dinâmica de crescimento resiliente, mas a forte base de comparação é um desafio para margens, enquanto o Grupo Mateus (GMAT3) deve se destacar de seus pares novamente com um forte crescimento orgânico.

“O destaque positivo da temporada deve ser os varejistas alta renda, com Vivara (VIVA3) e Track & Field (TFCO4) se sobressaindo, enquanto o Grupo Mateus (GMAT3) deve ter uma performance superior aos seus pares”, aponta.

Em relação aos destaques negativos, Alpargatas (ALPA4) e Multi (MLAS3) seguem enfrentando desafios relacionados aos seus processos de reestruturação, e varejistas de alimentos também passam por desafios frente desaceleração da inflação de alimentos, aumento da competição e alavancagem elevada.

Para o Itaú BBA, nas varejistas de alimentos, o Grupo Mateus deve ser o destaque, enquanto Carrefour Brasil (CRFB3) e Assaí (ASAI3) devem mostrar números mais fracos.

Em vestuário, nomes de alta renda ganham os holofotes, com destaque para Vivara e Track & Field , que devem apresentar melhora de lucratividade. Já no segmento online, Mercado Livre (MELI34) deverá despontar com boas vendas, enquanto o espaço de drogarias provavelmente terá números mais fracos devido ao menor patamar de inflação de medicamentos. Além dessas, Smart Fit (SMFT3) deve ser outro destaque, com números fortes.

Para vestuário e calçados, no 2T23, o Grupo SBF deve ser o destaque positivo em seu espaço de cobertura de vestuário e calçados, com um crescimento robusto da Fisia (Nike Brasil, +15% na base anual) e melhoria de margem (margem Ebitda +220 pontos-base na comparação anual) – apesar das remarcações de preços para baixo.

Por outro lado, a Alpargatas deve ser o destaque negativo, segundo o BBA, com menores volumes de vendas em todas as regiões (-18% ano a ano) e pressão de margem devido à menor diluição de despesas.

Quanto a Lojas Renner (LREN3) e Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, base de comparação de vendas difícil e um inverno mais quente do que o normal em 2023 devem resultar em uma queda de ~5% na base anual na receita (para ambas). Enquanto isso, a maior inadimplência continua a afetar suas divisões financeiras, embora a Midway (da Guararapes) deva ter um Ebitda positivo, enquanto a Realize da Renner deve ser Ebitda negativo.

As varejistas de alimentos, de acordo com BBA, devem apresentar resultados pressionados, com o setor sendo afetado por deflação de alimentos e uma competição mais acirrada, especialmente na região Sudeste do País.

“Esperamos que as empresas expostas a essas regiões (Assaí e Carrefour) apresentem números mais fracos, enquanto o Grupo Mateus provavelmente terá um desempenho melhor devido à exposição a uma concorrência mais suave na região Nordeste. A pressão sobre a lucratividade, porém, deve afetar todas as companhias neste trimestre, sendo o Carrefour a mais negativamente afetada”, apontam os analistas do BBA.

Para varejo de vestuário, não veem uma tendência definida. Os nomes de vestuário de alta renda devem apresentar números melhores do que outros nomes de vestuário devido a vendas sólidas. O destaque fica para Vivara e Track&Field, que devem apresentar tendências favoráveis de alavancagem operacional, enquanto outros nomes de vestuário devem ter números mais fracos.

Já Lojas Renner  (LREN3) provavelmente será o principal destaque negativo devido à exposição a uma base de comparação difícil e tendências sequencialmente piores para a Realize (braço financeiro). “No entanto, continuamos otimistas em relação à empresa”, avalia.

Novamente, o Mercado Livre deverá ser o destaque do segmento de comércio eletrônico uma vez que, não apenas deve apresentar melhores números de crescimento de GMV (vendas online) do que os concorrentes, mas também obterá ganhos de lucratividade advindos da tendência de monetização de sua plataforma.

Magazine Luiza (MGLU3), por outro lado, deve ter números mais suaves, com crescimento de GMV online de 7% em relação ao ano anterior e alguma pressão sobre a lucratividade, principalmente devido a uma margem bruta apertada neste trimestre.

Enquanto isso, a desaceleração do reajuste de preços de medicamentos deve afetar o setor de farmácias. Como resultado, espera alguma pressão sobre a lucratividade de todas as empresas do segmento; a pressão sobre Panvel (PNVL3) provavelmente será menos acentuada, principalmente devido a ganhos de eficiência nas despesas logísticas decorrentes de seu novo centro de distribuição.

Entre outros segmentos, é esperado que a Smart Fit mantenha seu bom momento operacional no segundo trimestre de 2023, com volumes crescentes e tendências favoráveis de alavancagem operacional.

Do lado negativo, Lojas Quero-Quero (LJQQ3) deve ser novamente um destaque ruim neste trimestre devido a tendências desafiadoras do mercado em geral. Natura &Co (NTCO3) também deve ter uma lucratividade mais suave neste trimestre devido a tendências desfavoráveis de alavancagem operacional. Por último, projeta que a Petz (PETZ3) mostre uma reversão sequencial nas tendências de lucratividade no trimestre devido a números de vendas mais suaves e a uma pressão de lucratividade maior do que o esperado.

Commodities

Mineração e siderurgia

Com preços de minério de ferro mais baixos e um ambiente desafiador para aumentos de preços na indústria siderúrgica, a expectativa de analistas é de um desempenho sequencial mais fraco.

Do lado positivo, a XP espera que a melhoria da produção da Vale (VALE3) posicione a empresa como o único nome a registrar melhoria do Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] no trimestre e a Gerdau (GGBR4) reporte um melhor desempenho relativo em relação aos pares.

Por outro lado, projeta que CBA (CBAV3), Usiminas (USIM5) e CSN Mineração (CMIN3) sejam os destaques negativos do trimestre no setor.

O Itaú BBA espera que a Vale registre um aumento de 11% no Ebitda na comparação trimestral, impulsionado pela divisão de ferrosos, devido a maiores volumes e menores custos mais que compensando menores preços realizados. Na divisão de metais de base, esperamos queda sequencial de 19% no Ebitda.

Para Gerdau, antecipa uma queda de Ebitda de 11% em base trimestral diante de resultados mais fracos nas divisões do Brasil, com pior mix de vendas, e da América do Norte, com menor volume e diluição de custos fixos. Para as divisões de América do Sul e de Aços Especiais, esperamos margens (rentabilidade) estáveis na comparação trimestral.

Sobre CSN, estima declínio de 37% no Ebitda em relação ao primeiro trimestre diante de resultados mais fracos nas divisões de mineração e siderurgia, pressionando o melhor desempenho esperado nos outros negócios. Já para Usiminas, projeta números mais fracos, com o Ebitda caindo 41% na comparação trimestral devido a desempenhos piores no segmento de siderurgia (menores preços e volumes, e maiores custos) e de mineração, com menores preços realizados se sobrepondo a maiores volumes no segundo trimestre.

Por fim, para CBA, projeta uma diminuição de Ebitda de 64% em relação ao primeiro trimestre, principalmente devido aos preços baixos de alumínio, que acabaram pesando mais do que melhores volumes e menores custos. “Em paralelo, estimamos um Ebitda de energia negativo em R$ 40 milhões e de níquel negativo em R$ 9 milhões no segundo trimestre”, finaliza o BBA.

Papel e celulose

Após a recente queda nos preços da celulose, os analistas da XP esperam que a Suzano (SUZB3) e a Klabin (KLBN11) sejam mais severamente impactadas por um desempenho mais fraco da receita. Por outro lado, o perfil de receita mais resiliente da Irani (RANI3) deve mitigar parcialmente a pressão de custos ao longo do 2T23.

O BBA também projeta resultados mais fracos para Suzano e Klabin no segundo trimestre, principalmente devido a menores preços de celulose, menores volumes (diante das paradas para manutenção) e maiores custos.

Para a Suzano, a XP projeta resultados fracos no 2T23 (-37% no trimestre), impactados principalmente por: (i) menores preços realizados de celulose, que espera em cerca de US$ 550 a tonelada; (ii) maiores custos devido às paradas para manutenção das linhas de Imperatriz e Mucuri, apesar de uma potencial pequena recuperação no custo caixa relacionado a preços mais baixos de petróleo (-5% no trimestre); e (iii) menor demanda e preços de papel. Para: (i) celulose, espera Ebitda de R$ 3,3 bilhões (-38% no trimestre), com margem de 45% (redução de 58% no 1T23); e (ii) papel, espera Ebitda de R$ 600 milhões (-32% trimestre a trimestre), com margem de 30% (redução de 39% no 1T23).

Para a Klabin, a XP espera resultados no 2T23, com Ebitda atingindo R$ 1,3 bilhão (-32% na base trimestral, -28% na comparação anual) e margens contraindo para 31% (ante 40% no 1T23). “Ressaltamos que os resultados devem ser impactados principalmente por: (i) menores resultados na divisão de celulose (-51% trimestre a trimestre), impulsionados tanto por volumes (-14% trimestre a trimestre, devido à parada para manutenção em Puma I) quanto por preços (-22 % trimestre a trimestre, com preços de fibra curta e longa mais baixos no trimestre); e (ii) maiores custos, impactados pela parada para manutenção, que também reduziu a diluição do custo fixo durante o 2T23”, avalia.

Para celulose, projeta Ebitda de R$ 500 milhões e margens de 40%, enquanto para os negócios ex-celulose, espera Ebitda de R$ 900 milhões e margens de 27%.

Por fim, para a Irani apresente resultados levemente mais fracos no 2T23, embora relativamente melhores em relação aos seus pares, avalia a XP, com Ebitda atingindo R$ 110 milhões (-14% trimestre a trimestre, -24% na base anual) e margens contraindo para 27% (comparado a 32% no 1T23).

Os analistas destacam: (i) volumes resilientes tanto para papelão ondulado, papel rígido e papel flexível (estáveis vs. o trimestre anterior); (ii) preços ligeiramente menores de papelão ondulado (-1% no trimestre) e papel rígido (-1% no trimestre); e (iii) menor resultado no segmento de resinas devido a menores volumes (-1% na base trimestral) e preços (-9% trimestralmente). Nos custos, espera que os preços mais baixos do OCC (old corrugated cardboard) tenham um efeito positivo, embora compensado negativamente por custos mais altos relacionados a paradas de manutenção.

Petróleo e petroquímica

Mais uma vez, a Petrobras deve ser o destaque, com grande expectativa para o pagamento de dividendos. “Juntamente com os lucros, a empresa poderia anunciar dividendos de cerca de US$ 3,9 bilhões”, projeta o Goldman Sachs.

O Goldman projeta um Ebitda de R$ 61,95 bilhões no 2T23, uma queda de 45% na base anual, enquanto projeta uma receita de R$ 119,4 bilhões, ou baixa de 30%. Para o lucro líquido, projeta baixa anual de 49%, para R$ 27,59 bilhões.

Entre as distribuidoras de combustíveis, o Citi vê a Ultrapar (UGPA3) com um Ebitda de R$ 997 milhões, cerca de 8% abaixo do 1T23 e lucro líquido de R$ 220 milhões, com base nos resultados de suporte vindos da Ultragaz e dos maiores volumes de vendas da Ultracargo devido à sazonalidade e plena operação do terminal de Vila do Conde no ano. Para o Ipiranga, espera maior volume de vendas devido aos efeitos da sazonalidade no período.

De petroquímica, sobre a Braskem (BRKM5), analistas veem uma demora no momento de inflexão da companhia.

Para o 2T23, os analistas do Citi esperam uma maior taxa de utilização no México, devido ao maior fornecimento de etano, produção estável de propileno (PP) nos EUA/União Europeia e menor produção de polietileno (PE) no Brasil, devido a problemas operacionais na planta do RJ e cenário climático adverso na planta do Rio Grande do Sul e menor utilização para atender a menor demanda da região.

“Apesar dos menores spreads (ou o diferencial de preço entre o custo de matérias-primas e o preço de seus produtos) de resina durante o 2T23 e do cenário de desestocagem dos agentes de mercado, esperamos um maior volume de vendas no trimestre nos EUA/UE e México, e menores volumes no Brasil, devido às maiores importações de PE no país”, avalia a equipe de análise.

Com base nisso, o Citi estima um Ebitda ajustado de US$ 135 milhões (83% de queda na base anual, 34% em baixa no trimestre) no período. O JPMorgan também espera queda dos preços de propileno (PP) e polietileno (PE) no 2T23, estabilizando apenas no segundo semestre do ano.

Alimentos, bebidas e agro 

Entre as empresas de bebidas, o destaque fica para a Ambev (ABEV3). A expectativa é que o volume de vendas de cerveja no Brasil, que chegou a ser um destaque nos últimos trimestre, tenha menos brilho com uma base de comparação difícil, enquanto os custos de commodities e fatores não operacionais estarão no radar dos investidores.

Em termos de rentabilidade, o Bradesco BBI reduziu suas estimativas para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Ambev em apenas 1% neste ano, mas aumentou a projeção do Ebitda em 1% para 2024 (resultando em um número 6% acima do consenso), pois projeta uma redução do custo produto vendido (CPV)/ hectolitro em 7% contra alta prevista de 4% anteriormente, devido à forte queda dos preços das commodities em reais (que são responsáveis por uma parcela relevante dos custos da Ambev) nos últimos meses.

Para o 2T23, o BBI projeta um Ebitda 6% abaixo do consenso, portanto, os resultados podem ser lidos como ligeiramente negativos para as ações, já que prevê uma contração de margem mais forte no trimestre para a divisão América Latina Sul da Ambev (que inclui a Argentina, um país que enfrenta desafios macroeconômicos) e para seu segmento brasileiro de bebidas não carbonatadas. Diante disso, o banco acredita que os volumes de cerveja brasileira (um fator-chave para a ação) caindo 1% na comparação anual no 2T23 (forte base de comparação) está amplamente em linha com as expectativas do mercado.

A XP espera um 2T23 misto para a empresa, em uma base de comparação difícil levando a uma visão neutra sobre os números. As iniciativas de gestão de receita devem continuar a sustentar nossa percepção positiva, levando a uma sólida tendência positiva para a receita operacional líquida (ROL) por hectolitro (hl) no Brasil, enquanto uma redução no custo das mercadorias vendidas (COGS) é uma mudança de cenário bem-vinda. No entanto, a casa também aponta que o volume deve decepcionar (Cerveja Brasil em queda de 2% na base anual). Os analistas da XP veem um posicionamento errático da marca que pode prejudicar as melhorias de margem.

Já sobre a fabricante de massas e biscoitos M.Dias Branco (MDIA3), a XP espera que os resultados voltem aos trilhos, com margens convergindo para níveis históricos.

Apesar de um abril mais fraco do que o esperado com uma demanda de varejo errática, os analistas da casa projetam volumes maiores na base anual.

“No entanto, os principais destaques devem ser a manutenção dos repasses de preços feitos até o 1S23, acalmando as preocupações do mercado de que os preços cairiam, além de uma recuperação de margens devido à queda nos custos das commodities, embora ainda não 100% refletida nos resultados”, apontam. Além disso, veem a manutenção dos repasses de preços, custos de insumos mais baixos e maior eficiência no capital de giro e nas despesas de SG&A (gerais e administrativas) como uma combinação poderosa e esperam um forte momentum nos resultados à frente.

Com relação às empresas de proteínas, o Bradesco BBI projeta recuperação de margens para a JBS (JBSS3) a partir do 2T23, levando inclusive a uma elevação recente de recomendação pelo banco, também de olho no cenário mais à frente. “O BBI projeta Ebitda para 2024-2025 8% acima do consenso e espera que as margens aumentem para 7,5% em 2024 e 8,2% em 2025 (partindo de 2,5% no 1T23) a partir do 2T23”, afirma. Analistas também ficam de olho em BRF (BRFS3) após a capitalização, com casas como o Goldman ainda vendo um cenário desafiador, com alta competição e demanda ainda fraca nos principais mercados impactando o lucro da companhia.

Entre as empresas agrícolas, os analistas do Morgan Stanley projetam queda de receita e Ebitda para todas as empresas, em parte devido a bases de comparação difíceis, preços mais baixos do etanol e seca na Argentina.

Para os analistas, os resultados da SLC (SLCE3) no 2T23 devem ser afetados por menores volumes e preços de soja e baixos volumes de algodão da safra antiga. Já sobre São Martinho (SMTO3), os resultados devem ser impactados pela base de comparação difíceis e queda nos preços do etanol.

Educação

O Morgan Stanley projeta bons resultados para players de livros didáticos (Arco Educação e Vasta) e crescimento razoável da receita para empresas com exposição no ensino superior, com alguma melhoria de margem. Por outro lado, projeta pressão de lucro por ação por conta do custo financeiro, ainda alto.

Os analistas do banco esperam melhores resultados a empresas expostas em Medicina e EAD (ensino a distância), como Afya, Vitru e Yduqs (YDUQ3), mas também recuperação de níveis mais baixos para players de volume, como Cogna (COGN3) e Ser (SEER3).

Cogna, na visão do Morgan, deve ver a Kroton (segmento do ensino superior) ter uma alta de 9% da receita na base anual, além de um aumento de margem de 160 pontos-base, impulsionado por ganhos de escala e maior participação de EAD. Para a Yduqs, prevê outro trimestre de resultados fortes: crescimento de receita de 10% ano a ano e 21% de crescimento do Ebitda ajustado (margens de até 280 pontos-base), ligeiramente acima do guidance, impulsionado pelas adesões EAD e premium.

Já para Anima (ANIM3) e Cruzeiro do Sul (CSED3), não veem o resultado como um catalisador. Para a Anima, projetam um um crescimento de receita de 4% ano a ano e alguma pressão de margem neste trimestre impactada por reajustes salariais, que provavelmente serão compensados ​​no 2S23 devido ao redimensionamento das despesas gerais e administrativas e corpo docente.

Para Cruzeiro do Sul, as tendências positivas na base de alunos e no crescimento da receita devem continuar. Os analistas esperam um aumento de receita de 11% em relação ao ano anterior. No entanto, estimam margens planas, impactadas por custos e despesas de PDD (com forte ingresso de alunos).

Construção

Os dados operacionais de construtoras divulgados já trazem algumas sinalizações importantes sobre o que esperar da temporada.

Entre os players de média renda, os analistas do BBA destacaram o forte desempenho da Cyrela (CYRE3)  e da Even (EVEN3), que sustentam a visão de recuperação para o setor. “Esperamos que o desempenho operacional das empresas continue a melhorar à medida que as taxas de juros comecem a cair. Isso, juntamente com as condições macroeconômicas mais favoráveis, deve continuar a apoiar a recuperação das ações”, avaliam.

Bens de capital e transportes

A temporada de resultados do 2T23 para as empresas de bens de capital começa com a WEG (WEGE3).

Para o Bradesco BBI, a WEG deve ser um destaque positivo, sustentando sua margem Ebitda em 20,6%, devido ao sólido desempenho dos negócios de ciclo longo.

Na avaliação da Genial Investimentos, a WEG irá reportar resultados um pouco melhores na comparação com 1T23. Mesmo com o câmbio médio inferior em relação ao trimestre passado, os analistas da casa esperam uma receita robusta, suportada principalmente pela boa carteira de pedidos construída nos últimos anos.

“Voltamos a observar melhora nos volumes de exportação de máquinas no Brasil e fortes volumes em T&D [transmissão e distribuição] tanto nos EUA e quanto no mercado doméstico. A composição do mix favorável e o movimento de estabilização de custos devem contribuir para mais um trimestre com margens operacionais acima dos 20%”, aponta a Genial.

Sobre as outras companhias, para o BBI, espera-se que a Iochpe-Maxion (MYPK3) inicie a (aguardada) recuperação de margem Ebitda no 2T23, beneficiada pela maior demanda internacional e pela normalização dos níveis de estoque. “Esses fatores devem se traduzir em um ganho de margem Ebitda de 2,2 p.p. no trimestre, o que pode surpreender positivamente o mercado”, apontam os analistas do banco.

Por outro lado, a transição para a regulamentação Euro 6 e paradas de montadoras aqui no Brasil podem prejudicar os resultados de algumas empresas, principalmente Marcopolo (POMO4) e Tupy (TUPY3).

“No entanto, para Randon (RAPT4) e Mahle Metal Leve (LEVE3) a resiliência do mercado de reposição deve compensar parcialmente esses eventos”, diz o BBI.

Já para transportes, entre as aéreas, apesar do efeito sazonal negativo, a Genial acredita que o trimestre poderá ser interpretado como positivo para as companhias.

Com uma menor pressão de custos, o 2T23 foi um trimestre importante para as companhias se reorganizarem. Além disso, apontam os analistas, o dólar relativamente mais baixo no trimestre aliado aos contínuos reajustes no preço do combustível devem mitigar boa parte dos custos operacionais atrelados à moeda.

“Por outro lado, a menor demanda do trimestre deve trazer consigo uma menor diluição de custos fixos. Diferentemente do que observamos historicamente no período, esperamos uma diminuição marginal nas tarifa/km voados das companhias”, avaliam os analistas.

Para eles, enquanto Azul (AZUL4) manteve sua ocupação próxima aos 80%, Gol ([ativo=GOLL4)  apresentou números próximos a 77%, o que indica que Gol pode ter sido mais agressiva em precificação, o que resultaria em Yields maiores. “Enxergamos um trimestre melhor para Gol”, avaliam.

Setor de saúde

A XP espera que as empresas de saúde apresentem resultados neutros no 2T23. “Acreditamos que (i) o segmento B2C do Fleury possa impulsionar a receita, mais do que compensando os impactos negativos das operações em hospitais, (ii) a Hypera (HYPE3) possa apresentar resultados sazonalmente em linha com o guidance de 2023, e (iii) a Blau ([ativo=BLAU3]) possa se recuperar parcialmente dos resultados mais fracos do último trimestre, embora ainda com algumas dinâmicas ruins no segmento de biológicos”, avalia a XP.

Os analistas do BTG Pactual, por sua vez, preveem resultados razoáveis neste trimestre. Normalmente, a sazonalidade do segundo trimestre não é boa para as operadoras (mais síndromes respiratórias no inverno e mais dias úteis), mas é para os provedores, que geralmente se beneficiam de volumes maiores.

No entanto, essa dinâmica pode não ser verdadeira para todas as empresas, pois os microfatores podem se desviar das tendências macro mais amplas desta vez (menor índice de sinistralidade na base trimestral na Sulamérica e OdontoPrev ODPV3).

“Nesse cenário, vemos a Rede D’Or (RDOR3) e OdontoPrev superando os seus pares, apresentando sólido crescimento de receita e Ebitda, enquanto Hapvida (HAPV3) e Qualicorp (QUAL3) devem ficar atrás de seus pares, com Ebitda e resultados financeiros sob pressão”, avaliam.

Telecomunicações

O BTG Pactual apontou esperar que as principais empresas de telecom do Brasil reportem bons resultados no 2T23.

Enquanto o principal destaque da Vivo (VIVT3) deve ser o crescimento da receita de serviço móvel (+7,6% ao ano), crescendo mais que o dobro da inflação no período, o banco projeta que a TIM (TIMS3) entregue uma sólida expansão de margem (+1,7 p.p. ano a ano).

Os resultados da TIM ainda serão beneficiados pela consolidação da aquisição da Oi, pois ela passou a consolidar os números a partir de maio de 2022, enquanto os números da Vivo não terão esse benefício, pois reportou o 2T22 com a operação da Oi consolidada para todo o trimestre.

Para a Vivo, o forte desempenho de crescimento da receita reflete os aumentos de preços da Vivo em sua base de clientes. Em abril, a Vivo elevou os preços em 15% para 50% de sua base de assinantes híbridos do Controle e implementou um aumento de 7% para dois terços de sua base pós-paga pura. A Vivo também aumentou o valor mínimo de recarga dos planos pré-pagos em maio, de R$ 12 para R$ 15.

O Ebitda ajustado da Vivo deve totalizar R$ 4,9 bilhões, na visão do BTG, com margem de 39% (+0,3 p.p. ano a ano). As maiores margens refletem principalmente o fim do contrato de transição de serviços (TSA) com a Oi. A Vivo estava pagando à Oi cerca de R$ 50 milhões por trimestre desde o 2T22, e como o contrato tinha duração de 12 meses, os pagamentos cessaram no 1T23. Mas o forte crescimento nas operações B2B de baixa margem da Vivo compensarão parcialmente a expansão da margem. O lucro líquido provavelmente será próximo a R$ 914 milhões (+23% ao ano), enquanto o capex deve ser de R$ 2,3 bilhões.

Para o BTG, a TIM também deve registrar bons resultados, com crescimento de margem impressionante. “Prevemos alta de 8,4% ano a ano na receita de serviços e 1,7 p.p. de margem Ebitda na base anual. (….) Prevemos que a receita de serviços móveis (MSR) aumente 8,5% a/a, beneficiada por aumentos de preços no trimestre. A TIM aumentou os preços de seus planos híbridos no trimestre, impulsionando as receitas móveis do 2T23”, avalia.

No negócio de telefonia fixa, os analistas esperam que o crescimento da receita mantenha o ritmo do primeiro trimestre, em +6% ano a ano. A parceria com a V.tal ainda está em seus estágios iniciais e não deve gerar resultados significativos ainda.

Já sobre a Totvs (TOTS3), os analistas esperam que ela reporte resultados fortes no segundo trimestre e em linha com nossas estimativas, refletindo a manutenção de um bom ritmo de vendas e repasses contratuais, mostrando a resiliência de seu modelo de negócios no segmento de Gestão e boa evolução no segmento de Business Perfomance.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.