Como a dificuldade de logística e de custos devem afetar Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) em 2022?

Gargalos de logística verificados no 4º trimestre devem se repetir no 1º deste ano; na produção, impacto vem da alta dos preços de energia

Augusto Diniz

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Após o anúncio dos resultados do quarto trimestre de Suzano (SUZB3) e de Klabin (KLBN11), dois dos principais players de papel e celulose do País, o setor indica dificuldades a curto prazo relacionadas a custos e logística, mesmo com aumento de preço dos produtos promovido por ambas companhias.

Segundo a Suzano, o aumento de preço especificamente da celulose tem sido favorecido com estoques baixos e demora de início de operação comercial de novos projetos de fábricas na América Latina.

Por outro lado, a empresa afirma que houve aumento de custos de matéria-prima e gargalos logísticos provocados pela variante ômicron da Covid-19 e por greves em países compradores.

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Enquanto isso, a Klabin chegou a anotar no seu balanço que tinha “baixa expectativa de normalização no curto prazo na logística” e a Suzano informou que “o contexto de restrição logística em 2022 segue desafiador”.

Gargalos devem seguir

Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, disse que os gargalos de logística verificados no 4T21 se repetirão no 1T22.

Conforme ele, na apresentação do último balanço pela Suzano, foi informado que os portos chineses estão operando em circuito fechado, onde ninguém sai, ninguém entra, para controlar a disseminação da covid-19, gerando atraso de operação: “Isso é custo na veia”.

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O analista vê reflexo também em ferrovias, operando com mais pausas. “Tem que se repensar toda logística”, afirma. E isso terá que ser ainda mais apurado por conta de demanda maior na Europa e América do Norte.

“Remanejar parte da produção de uma operação muito grande, de altos valores e cargas, como na China, com contratos de frete e seguro, é muito difícil”, afirma.

Arbetman vê que a questão só poderá ser melhor equacionada no segundo semestre.

Petróleo presente em várias etapas da cadeia

No que se refere aos custos de produção, há uma questão importante para 2022: aumento do preço de energia e do petróleo.

O petróleo, por exemplo, está em várias fases da cadeia do papel e da celulose, desde veículos de operação na extração da madeira, passando pelo carregamento, uso de gás na industrialização até os navios de transporte oceânico.

“Os custos de energia e petróleo neste momento estão pressionando. Já havia pressionado o setor no quarto trimestre. No curto prazo não dá para fugir”, avalia.

Segundo o analista da Ativa Investimentos, isso é possível observar no custo caixa, tanto da Klabin como da Suzano: “É muito difícil desassociar isso do preço de insumos”. Esses custos terão impacto forte na cadeia no primeiro semestre de 2022.

“No segundo semestre talvez tenha dissipação desses custos”, avalia. “A gente está num cenário (de demanda) americano e europeu fortes. Há indícios de melhora do mercado da China. O real desvalorizado mitiga também o aumento dos custos”, afirma ele, já que as ofertas de produto das empresas são em dólar.

Novas fábricas

Esse ano, novas fábricas de papel e celulose devem entrar em operação, pressionando os preços.

A LD Celulose, joint venture formada entre a Dexco (ex-Duratex) (DXCO3) e o grupo austríaco Lenzing, por exemplo, está com 90% de avanço das obras da planta em Indianópolis, no Triângulo Mineiro – a fábrica será capaz de produzir 500 mil toneladas de celulose solúvel por ano.

Leia também: Dexco vê demanda internacional aquecida e repasse de inflação aos produtos 

“O incremento (de novas fábricas) se dará de forma mais dissipada do que a gente previa”, afirma. Ilan Arbetman lembra que o start up da Bracell ano passado foi um exemplo de quem nem tudo ocorreu como se previa.
Papel mudou na pandemia

No âmbito do papel, dois fatores chamam a atenção sob influência direta da pandemia. O papel ondulado, responsável pelas embalagens usados no e-commerce e nas entregas, 75% dele é reciclado.

O fechamento do comércio por conta do isolamento social caiu substancialmente o recolhimento de papel para reciclagem. Mas a situação tende a se normalizar.

Já o papel de escrever e imprimir caiu em função da adoção do home office e da digitalização acelerada provocada pela pandemia. Nesse item, não se sabe ao certo se irá voltar o consumo nos patamares anteriores.

“No 4T21 o desempenho de papel e embalagens foi mais cômodo. A demanda foi muito grande na pandemia. Agora a gente vê uma normalização. Vemos as empresas colocarem tecnologia e eficiência no processo”, afirma o analista da Ativa Investimentos.

“Nesse momento, verifica-se também a indústria indo do papelão para o papel cartão, como no caso da Klabin, que está colocando as duas novas máquinas (da unidade de Ortigueira, no Paraná) para operar nesse segmento”, explica.

Cenário de longo prazo tem vários desafios

Num cenário global de longo prazo divulgado no último dia 13 sobre o setor de papel e celulose, o Bradesco BBI aponta que os preços globais de terra florestal e de madeira seguem aumentando até em ritmo mais acelerado do que o esperado.

O banco vê crescimento da concorrência do uso da madeira por outros segmentos econômicos, como indústria da construção, biocombustíveis e substituição do plástico.

Quem detém ativos florestais próprios levam vantagem, como a Suzano e Klabin. Executivos da Suzano, em linha com essa questão, chegaram a citar na apresentação do balanço 4T21 da empresa que vem aumentando sua base florestal e aproximando as mesmas das unidades industriais, visando futura redução de custos.

Porém, o documento do Bradesco BBI, aponta que o plantio para atender à produção de celulose não é um fator simples, devido ao custo da terra, logística e riscos ambientais.

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