Santander Brasil (SANB11): lucro foi acima do esperado, mas por que resultado do 1º tri não animou analistas?

Dado um pouco acima do esperado veio de uma taxa de imposto de renda positiva, mas receitas de serviços foram mais suaves e as despesas subiram

Lara Rizério Mitchel Diniz

(Bloomberg)

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O Santander Brasil (SANB11) inaugurou a temporada de balanços do primeiro trimestre de 2023 (1T23) para os bancões brasileiros sob a desconfiança do mercado, que não esperava números muito animadores da instituição financeira.

A princípio, contudo, os números foram acima do esperado, com o banco registrando um lucro de R$ 2,140 bilhões no primeiro trimestre deste ano, queda de 46,6% na base anual, enquanto na comparação com o quarto trimestre de 2022, a variação foi positiva em 26,7%. O número, porém, ficou acima das previsões do consenso Refinitiv, de R$ 1,83 bilhão.

O Retorno sobre o patrimônio (ROE)  ficou em 10,6%, acima dos 5,7% esperados pelo Bradesco BBI, dos 9,4% projetados pelo Itaú BBA e dos 8,3% do 4T22.

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Contudo, mesmo com esses resultados, os números não animaram os analistas de mercado. Conforme aponta o Itaú BBA, que projetava lucro de R$ 1,9 bilhão, o dado um pouco acima do esperado veio de uma taxa de imposto de renda positiva, uma vez que a Margem financeira (NII) melhor do que o esperado e provisões mais baixas foram compensados por receitas de serviços mais suaves e despesas mais altas.

Nesta terça-feira (25), as units SANB11 chegaram a subir mais de 2%, mas fecharam em alta de 0,73%, a R$ 26,56, indicando uma reação tímida do mercado aos números do 1T23.

O Santander também registrou uma reversão de provisão fiscal de R$ 4,2 bilhões sobre o tema tributário do PIS/Cofins, que foi compensada com provisões adicionais, não impactando o lucro por ação do trimestre. Com isso, o índice de cobertura foi elevado para 244%, o que ajudará a amortecer os impactos de perdas específicas de crédito corporativo nos próximos trimestres, segundo o BBA.

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O banco destacou no release de resultados que, considerando a evolução desse processo sobre o PIS/Cofins, “com o voto favorável do relator [no STF], segundo avaliação dos assessores jurídicos, baseada nos aspectos processuais e no mérito da discussão, o prognóstico do risco foi classificado como perda possível, não sendo provável uma saída de recursos para liquidar as obrigações do PIS e da Cofins”, diz o Santander. Assim, houve o resultado gerencial positivo mais específico de R$ 4,236 bilhões com a reversão das provisões fiscais, contabilizado em “outras receitas operacionais”.

A decisão do banco de fazer essa reversão de provisão foi vista com desconfiança pelo JPMorgan.

“Nos parece que o caso não foi finalizado no Supremo Tribunal e o do Santander não foi concluído, o que pode levar alguns a acreditar que foi uma reversão prematura. Precisamos ver se outros bancos se sentirão confortáveis em reverter também. Excluindo esta reversão, que foi integralmente alocada em provisões, as provisões no trimestre foram de R$ 6,8 bilhões, abaixo da formação de novos NPL [inadimplência], o que para nós é negativo”, avalia o JPMorgan.

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O lucro antes de taxas (EBT) ficou cerca de 20% abaixo do esperado pelo JPMorgan. Já o Citi aponta que o EBT foi 22% abaixo de suas estimativas, apesar do lucro gerencial ter sido 6% maior. “Enquanto a NII (+5% de alta frente o 4T22) foi uma surpresa positiva, taxas de serviços mais fracas (+2% na base anual) e outras despesas mais altas (de volta ao nível de R$ 2 bilhões, versus a média de R$ 1,2 bilhão por trimestre em 2022) levaram aos números piores do que o esperado”, aponta o banco americano.

A qualidade dos ativos apresentou uma deterioração significativa, com o índice de inadimplência (NPL) em alta, liderado por pessoas físicas.

O Bradesco BBI pontua que o índice de inadimplência acima de 90 dias deteriorou-se mais 0,1 ponto percentual no trimestre, para 3,2%, com deterioração de 0,2 ponto percentual em pessoas físicas, enquanto as pessoas jurídicas ficaram estáveis em 1,4%. Enquanto isso, os NPLs antecipados permaneceram estáveis em 4,5%, já que a deterioração de 0,2 ponto percentual em pessoas físicas para 6,5% foi compensada por uma melhora de 10 pontos percentuais nos NPLs corporativos.

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“Os resultados foram fracos no geral, mostrando um longo caminho para o banco ajustar sua operação para reduzir o risco, o que deve continuar prejudicando os resultados dos próximos trimestres. Não vemos implicações claras para os resultados de outros bancos, que esperamos serem fracos para o Bradesco (BBDC4) e fortes para o Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3)”, avalia o Citi.

Para o Bradesco BBI, o Santander Brasil apresentou tendências predominantemente negativas no 1T23, uma vez que suas margens com clientes foram melhoradas pela atualização da curva de rentabilidade dos spreads de captação, enquanto a margem de produtos continua pressionada pelo mix conservador.

“Enquanto isso, acreditamos que as despesas de provisão podem não ser comparáveis às nossas estimativas e ao 4T22, uma vez que todas as provisões adicionais passaram pelo fortalecimento do balanço patrimonial de R$ 4,2 bilhões, sem impactos na demonstração de resultados. Por último, o banco se beneficiou de pagamentos de juros sobre o capital próprio no trimestre, o que conduziu a um benefício tributário”, aponta o banco, que mantém recomendação equivalente à venda para o ativo. O JPMorgan e o Citi, por sua vez, têm recomendação equivalente à neutra para os ativos.

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Para a XP, o banco apresentou resultados fracos, porém esperados para o 1T23. Embora seus números ainda tenham sido afetados por maiores provisões (com o adicional de R$ 4,2 bi oriundo de reversão de provisões) e Margem financeira  com o mercado negativa, o Santander apresentou algumas melhorias marginais que devem ajudar os resultados do banco ao longo do ano, como: i) mix e crescimento da carteira de crédito; ii) NPL subindo levemente e fechando o trimestre em um patamar saudável de 3,2%; e iii) aumento do índice de cobertura.

“Em suma, não esperamos que esta divulgação de resultados provoque qualquer reação relevante do mercado e reiteramos nossa visão conservadora sobre a ação”, avalia a casa, que tem recomendação neutra para SANB11, com preço-alvo de R$ 34.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.