Ruído fiscal e político aumentam volatilidade, mas por enquanto não mudam cenário para Bolsa e dólar

Jennie Li da XP e Jason Vieira da Infinity enxergam mais instabilidade, mas pouco de concreto na profusão de notícias vindas de Brasília

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa e o dólar, nos últimos dias, têm apresentado bastante volatilidade devido ao cenário político. Ao que parece, esses fatores devem continuar a fazer preço, visto que não há solução simples à vista conforme se aprofunda a crise institucional do país e se aproxima o ano de 2022, que será marcado por eleições presidenciais.

No entanto, isso não significa que a tendência de alta para a Bolsa se inverteu completamente. Para Jennie Li, estrategista de ações da XP, por enquanto as notícias sobre aumento do benefício do Bolsa Família, Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios, novo Refis e discussões sobre o sistema eleitoral ainda são questões em que nada está decidido.

“Acho que por enquanto só aumenta a volatilidade por conta disso. Para nós da XP, o Ibovespa segue com preço-alvo de 145 mil pontos, pois nada disso foi decidido ou aprovado, então não incorporamos esses ruídos nas nossas projeções”, comenta.

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Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, tem uma visão semelhante. Na opinião dele, o ponto mais relevante desse cenário é que com a elevação da Selic a 5,25% ao ano e comunicado mais hawkish (favorável a seguir com aperto monetário) do Comitê de Política Monetária (Copom) ao mesmo tempo em que o Federal Reserve reluta até mesmo em reduzir as compras mensais de ativos realizadas para estimular a economia, o mercado brasileiro poderia ver uma valorização dos ativos e do real devido ao diferencial de juros, algo que não ocorre porque instabilidade política tem que ser precificada.

“Estamos perdendo uma oportunidade. A vacinação avança no mundo, a economia americana está se recuperando bem como mostraram os dados do Relatório de Emprego e a inflação de alimentos está se reduzindo, então o cenário externo é positivo, mas nem o real se valorizou e nem a Bolsa está conseguindo engatar mais altas”, avalia.

Vieira explica que nenhum investidor quer instabilidade, de modo que cada notícia sobre crise institucional ou quebra do teto de gastos embute mais risco aos investimentos no Brasil.

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Entretanto, o economista também enxerga o horizonte como imponderável, sem qualquer fator que realmente sirva para inverter a tendência de valorização que a Bolsa registra no Brasil. “Não sabemos para que ponto vai e o que efetivamente está acontecendo nessa situação política. Se é cortina de fumaça ou recuo institucional. Pode ter todo cenário possível e imaginável, e isso entra no preço, especialmente nas curvas e no câmbio.”

Jennie Li diz que a figura seria outra se fosse sancionada uma PEC de precatórios com muita coisa fora do teto, um Refis excessivamente benevolente e um aumento muito expressivo no Bolsa Família sem recursos no Orçamento para isso.

Por outro lado, a estrategista aponta que, por enquanto, o fator político mais importante para investimentos em Bolsa no longo prazo continua sendo a reforma tributária, pois ela tem impactos quantificáveis no balanço das empresas e, para períodos mais longos, o que realmente impacta o mercado de ações é a capacidade das empresas de gerar resultado.

“Essa briga institucional é barulho, acho difícil vermos algo muito grave, mas a Bolsa cai com essas notícias porque geram incerteza”, conclui.

Impacto da política na Bolsa esta semana

Na segunda-feira, o índice parecia que teria alta de mais de 1%, mas amenizou ganhos no fim da sessão e avançou apenas 0,59% com informações de que o Bolsa Família teria seu benefício médio elevado de R$ 250 para R$ 400 por meio de recursos fora do teto de gastos. O dólar caiu 0,86%.

Já na terça, houve algum alívio e o benchmark avançou 0,9%, enquanto o dólar subiu 0,53%, com o governo desmentido a notícia do dia anterior e o senador Celso Sabino (PSDB-PA), relator da reforma do Imposto de Renda, afirmando que o novo parecer tem impacto neutro e elimina o rombo anterior de R$ 30 bilhões.

Na quarta, o cenário político deu trégua, mas dados fracos nos Estados Unidos fizeram a Bolsa recuar 1,44% e o dólar ter queda de 0,13%.

Quinta-feira, o Ibovespa parecia que iria voltar a subir, mas notícias de um novo Refis que garante até 90% de corte na dívida das empresas e 12 anos para pagar fizeram o índice cair 0,14% enquanto o dólar subiu 0,57%.

Por fim, nesta sexta-feira (6), o Ibovespa subiu 0,97% seguindo o exterior e notícias de que o governo pode vetar partes do texto do Refis aprovado no Senado, o que garantiu à Bolsa não recuar na semana apesar de toda a volatilidade.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.