Programa do governo para baratear carros também incluirá caminhões e ônibus: quais ações serão impactadas com as mudanças?

Visões são divergentes e há quem veja impacto limitado nas empresas, mas novidades aumentam leque de empresas de bens de capital beneficiadas

Mitchel Diniz

Linha de montagem de caminhão em fábrica da Mercedes-Benz (Foto: Divulgação)

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O programa de desconto para carros populares trouxe mudanças significativas em relação ao anúncio preliminar, feito no último dia 25 de maio. A inclusão de caminhões e ônibus no programa foi a principal novidade, estimulando a renovação de uma frota já bastante envelhecida. Assim, o governo também atendeu às demandas da indústria, com um pedido direto de inclusão de veículos pesados no programa, feito pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O programa vai ter um impacto fiscal de R$ 1,5 bilhão e quando esse montante for atingido, os estímulos serão encerrados. Os analistas acreditam que a longevidade da iniciativa é limitada, assim como o impacto para empresas.

“As notícias são positivas para a indústria automotiva. Ainda que o programa preveja um prazo máximo de quatro meses e seja restrito a R$ 1,5 bilhão, os fabricantes poderão tomar certo fôlego”, diz relatório da Levante Ideias de Investimentos.

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De acordo com os analistas da casa, fabricantes de autopeças para montadoras são as principais beneficiadas pelas medidas, dentre as empresas listadas na Bolsa.

“O formato anterior só beneficiava as empresas com receita relevante no mercado de leves, como a Mahle Metal Leve (LEVE3) e a Iochpe-Maxion (MYPK3). Agora, a extensão para o segmento de pesados passa a favorecer também as fabricantes focadas em pesados, como a Randon (RAPT4) e a Tupy (TUPY3)”, afirma a equipe de análise.

O BTG Pactual também avalia que, com os estímulos à compra de veículos pesados (caminhões e ônibus), pode haver benefício marginal para as empresas diretamente envolvidas na cadeia produtiva desses produtos ao melhorar as perspectivas de volume. Isso é positivo para players como a Randon, que está diretamente ligada à cadeia de valor da indústria de caminhões (incluindo a subsidiária Frasle). Tupy e Iochpe também devem se beneficiar, embora em menor escala.

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Já a reoneração do diesel antes do previsto, para compensar o impacto fiscal da medida, é uma má notícia para as transportadoras, como a JSL (JSLG3). “No entanto, entendemos que a companhia seja capaz de repassar esses aumentos nos contratos”, diz a Levante.

O Santander vê a notícia como levemente negativa para locadoras de veículos, dado que os descontos devem impactar o segmento de seminovos enquanto o programa durar. “Essas companhias poderiam compensar parcialmente esse efeito com a compra de novos veículos, caso o governo estenda o benefício a compradores corporativos”, escreveram os analistas Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Gabriel Tinem.

Para Vamos (VAMO3), o Santander vê perspectivas positivas, já que a medida poderá turbinar as vendas de caminhões usados da companhia.

O BTG Pactual vai na mesma linha. Com esse novo formato, aponta, o governo visa o crescimento da indústria de veículos pesados e, embora o espaço fiscal seja limitado, o que pode reduzir o financiamento disponível para o programa, mecanismos de crédito eficazes para proprietários de caminhões antigos podem melhorar o mercado de caminhões usados.
Caminhões com mais de 25 anos seriam substituídos por outros de 10 a 15 anos, que seriam então substituídos por modelos mais novos.

“Esse cenário facilitaria a desmobilização de caminhões usados e beneficiaria empresas como a Vamos e, em menor escala, a Localiza”, avalia. Embora a trajetória de crescimento recente da Vamos mostre que suas vendas de ativos não são um desafio, uma demanda maior por seus ativos usados seria naturalmente benéfica, aponta o BTG (a companhia vendeu 993 caminhões usados no primeiro trimestre e 1.618 unidades em 2022).

No setor de autopeças, o Santander destaca a Marcopolo (POMO4), já que o programa de renovação de frota é relevante, na avaliação dos analistas. “Para outras empresas de componentes automotivos, vemos impacto bastante limitado”.

O Bradesco BBI também acredita que a Marcopolo poderá se beneficiar do programa, com maiores vendas de carrocerias de ônibus. Para a empresa, aponta o BTG, o programa pode servir como um incentivo a mais para a renovação da frota de ônibus, mas isso já ocorre devido a outros fatores, como a recuperação do trânsito, a migração do transporte aéreo para viagens de ônibus e programas como o Caminho da Escola.

Saiba mais:

Já para a Vamos, o BBI tem uma leitura neutra do programa, e acredita que os clientes da companhia não vão ser impactados. O banco lembra que para conseguir o desconto entre R$ 33.600 e R$ 99.400, o cliente corporativo deve entregar um caminhão ou ônibus de mais de 20 anos de uso para sucata.

A casa também vê impacto neutro para as locadoras, pois acredita que o programa deverá durar apenas 1 mês para veículos leves. Como a pessoa física tem preferência na aquisição dos carros com desconto por duas semanas, o BBI acredita que a maioria das unidades (57.400, pelos cálculos dos analistas), serão vendidas nesse período.

Assim, restariam 43% da frota com desconto para as locadoras adquirirem. Numa hipótese em que Localiza comprasse 9.200 carros e Movida, 4.600, os números seriam pouco expressivos em relação à frota dessas companhias (583,3 mil e 212,99 mil, respectivamente).  O BBI conclui que o programa teria pouca influência no valor de carros usados.

“Para Localiza e Movida, acreditamos que o impacto deve ser limitado, diante da curta duração desse programa”, endossam Regis Cardoso e Henrique Simoes, analistas do Credit Suisse. A casa voltou a dizer que as empresas devem sentir o impacto de uma depreciação de frota no curto prazo, mas esse efeito seria reduzido no longo prazo, se as locadoras também conseguirem adquirir veículos com desconto. Os carros apreciariam de valor quando os subsídios acabassem.

Contudo, assim como o BBI, o Credit acredita que o programa vai durar pouco tempo, atingindo o seu limite em menos de dois meses.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados