Petrobras: plano estratégico até 2025 traz controvérsia após salto das ações, mas não afasta ânimo com estatal

Estimativa de produção desapontou analistas, mas que ponderaram ao destacar foco da companhia em desinvestimento

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Depois de um início de 2020 aparentemente promissor, com a ação preferencial chegando a atingir os R$ 30 em 6 de janeiro, a Petrobras (PETR3;PETR4) passou por um verdadeiro “inferno astral” durante boa parte do ano.

A companhia estatal foi especialmente impactada pela forte queda do petróleo entre a guerra de preços entre dois dos países integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) – notoriamente Arábia Saudita e Rússia – e por conta da forte baixa da commodity com a redução da demanda em meio à pandemia do coronavírus. O ápice do temor do mercado foi em março, quando o papel chegou à casa dos R$ 11 (mais precisamente dia 18, quando a ação fechou a R$ 11,29).

Em abril, o preço do petróleo chegou a ficar negativo, fazendo com que o papel negociasse entre R$ 15 e R$ 16 em boa parte do período.

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Contudo, a resiliência da companhia durante a pandemia apresentada pelos resultados – apesar do alto prejuízo financeiro entre o segundo e o terceiro trimestre – e a recuperação gradual dos preços do petróleo voltou a guiar o otimismo com os papéis da estatal na Bolsa.

A recuperação é ainda mais nítida durante o mês de novembro, em que o otimismo com as vacinas fez com que o contrato futuro do petróleo brent – referência para a Petrobras – voltasse ao maior nível em mais de oito meses na última quarta-feira, a US$ 46,80 o barril. Com isso, na véspera, os papéis PN da companhia chegaram a R$ 26,25, maior patamar desde  o início de março. No mês, a ação acumulava ganhos de quase 40%.

Gráfico do desempenho das ações da Petrobras em 2020 (fonte: Refinitiv/Reuters)

Essa forte alta no período, assim como a do petróleo, contudo, também aumentou o debate sobre se a ação da Petrobras ainda está atrativa nesses valores. Isso ainda mais levando em conta que o cenário para o petróleo segue desafiador no curto prazo em meio à segunda onda do coronavírus em grandes economias, como Europa e EUA.

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Com isso, o plano estratégico da Petrobras para o período de 2021 a 2025 era visto como um evento a ser observado com atenção pelos investidores, por trazer mais indicações de como seriam os planos da companhia. A leitura inicial, contudo, não foi de todo positiva.

Entre os destaques, a produção de petróleo foi estimada em 2,23 milhões de barris por dia em 2021, subindo para 2,3 milhões em 2022 e depois para 2,5 milhões de barris ao dia em 2023.

Em relatório, o Credit Suisse considerou um pouco decepcionante a projeção de 2021, assim como o Morgan Stanley, que apontou a projeção como conservadora.

“No curto prazo, a curva de produção decepcionou nossas expectativas (2,23 milhões de barris por dia versus 2,3 milhões de barris por dia em 2021) e a explicação pode estar parcialmente relacionada a desinvestimentos em 2020 e o adiamento das paradas de manutenção de 2020 para 2021, devido às restrições a bordo relacionadas à Covid-19”, avaliaram os analistas do banco suíço.

No longo prazo, a curva de produção de petróleo é 200 mil barris por dia menor do que o plano anterior, mas ainda cresce até 2,7 milhões de barris por dia, em 2025, este ponto acima das estimativas do banco, de 2,4 milhões de barris por dia. A Petrobras ponderou que a projeção de 2,75 milhões de boed para 2021 não inclui o desinvestimento já ocorrido em Baúna e os desinvestimentos a ocorrerem em 2020.

Assim, a empresa prevê um crescimento em sua produção total de óleo e gás natural de 2,75 milhões de barris equivalentes de óleo por dia (Mboed) para 3,3 Mboed em 2025, um crescimento anual composto de 3,7%. “A companhia tinha citado a meta de 3,5 Mboed e diminuiu. Assim, os investidores aguardam a coletiva da estatal no dia 30 para entender mais as projeções da companhia”, destacou Fabrício Lodi, professor do Projeto os 10%, escola de traders, em referência ao Petrobras Day, que acontece na próxima segunda-feira.

Tempos desafiadores, medidas duras

Contudo, essa redução na produção pode ser entendida como uma forma da companhia se preservar em meio ao cenário ainda desafiador para o seu mercado.

Conforme destacam Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP Investimentos, a diminuição da dívida e a desalavancagem financeira continuarão a ser prioritárias, sendo a geração de caixa operacional e os desinvestimentos fundamentais para esses fins. De janeiro de 2019 a setembro de 2020, mesmo com os impactos da Covid-19 e do choque do petróleo em 2020, a empresa conseguiu reduzir a dívida bruta em US$ 31 bilhões e manteve a meta de atingir US$ 60 bilhões em 2022.

A estatal fez um corte em seu plano de investimento de cinco anos em 27% em relação ao anterior para US$ 55 bilhões visando preservar o caixa, uma vez que a pandemia de coronavírus derrubou a demanda e os preços globais do petróleo.

Ela apontou que vai se concentrar nos produtivos campos de petróleo do pré-sal, uma vez que vende ativos não essenciais para reduzir a dívida. Cerca de 84% dos investimentos, ou US$ 46 bilhões, será em exploração e produção, comparado aos US$ 64 bilhões do programa anterior.

A aprovação de investimentos a novos projetos será limitada para aqueles que possam ser lucrativos com preços do petróleo tão baixos quanto US$ 35 o barril. Antes da pandemia, em novembro de 2019, a Petrobras disse que iria investir US$ 75,7 bilhões entre 2021 e 2024.

“Em nossa visão o novo plano estratégico da Petrobras reitera seu compromisso de se tornar uma companhia mais financeiramente robusta, com menor endividamento, focada em ativos de exploração e produção mais rentáveis no pré-sal. Também vemos como positiva a divulgação de metas para indicadores ESG”, destacam os analista da XP, em referência aos parâmetros de investimentos responsáveis em termos ambientais, sociais e de governança.

Conforme ressalta a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, o principal ponto sobre a agenda de sustentabilidade são os indicadores a serem monitorados para definição da remuneração variável dos executivos e funcionários terem um misto de metas ambientais e financeiras, de maneira objetiva e clara, o que reforça o compromisso e alinha interesses internos em relação às metas definidas para a companhia.

Os principais indicadores são: i) Intensidade de emissões de gases de efeito estufa (IGEE); ii) Volume vazado de óleo e derivados (montante que “escapa” do processo produtivo para o meio ambiente); iii) dívida bruta de US$ 67 bilhões a ser atingida em 2021 e iv) variação positiva do EVA (Valor econômico adicionado – métrica medida pelo diferencial do custo de capital e o lucro econômico da companhia) de US$ 1,6 bilhão anuais.

“O plano mantém os principais pilares como a redução do custo e maximização do retorno do capital empregado atrelado à segurança na operação e busca por eficiência. Acreditamos que a atual gestão provou sua capacidade de execução e continuará gerando valor para a companhia daqui em diante, cumprindo com as metas divulgadas”, ressalta a Levante.

Vale destacar que, no início dessa semana, o Bank of America elevou a recomendação para os papéis preferenciais da petroleira de neutra para compra, passando o preço-alvo de R$ 28 para R$ 38. Já o American Depositary Receipt (ADR) também teve recomendação e preço-alvo elevados, passando de US$ 10,50 para US$ 14.

O analista Frank McGann avalia que a petroleira terá um cenário mais favorável para os preços do petróleo nos próximos doze meses, além de ver uma demanda mais forte por produtos refinados com a retomada da economia e em meio às tendências de alta da produção, principalmente no pré-sal.

Na avaliação de McGann, depois de um ano bastante desafiador os preços de petróleo devem subir para US$ 50 no ano que vem, também destacando a redução gradual da pandemia em meio ao desenvolvimento e posterior distribuição de vacinas.

Com relação à produção a ser apresentada no plano estratégico, o analista do BofA já destacava que ela deveria ser menor do que a esperada anteriormente em meio a metas financeiras mais rigorosas da companhia, mas que deveria proporcionar  uma perspectiva financeira forte, com concentração em empreendimentos do pré-sal de baixo custo.

Na mesma linha, o Bradesco BBI aponta que, apesar do plano ser um pouco decepcionante em termos de produção, mantém uma visão positiva para o nome, destacando que a Petrobras está em um processo forte de desalavancagem o que, em algum ponto, deve levar a um significativo aumento no pagamento de dividendos.

No fim de outubro, a companhia alterou a política de remuneração de acionistas, com  o objetivo de permitir que a administração proponha pagamento de dividendos mesmo em exercícios em que não for registrado lucro contábil, desde que atendida uma meta de endividamento.

A distribuição de recursos extraordinários, superando o dividendo mínimo legal obrigatório ou o calculado a partir de uma fórmula, poderá ocorrer quando o endividamento bruto da petroleira estiver inferior a US$ 60 bilhões, mesmo em caso de não haver lucro.

Conforme ressalta o Bradesco BBI, com as medidas, será permitido que a Petrobras antecipe o pagamento de mais dividendos, algo que é fundamental para as empresas de petróleo. Vale destacar que, no terceiro trimestre, mesmo registrando prejuízo, a companhia teve uma redução nos custos de produção e uma forte geração de caixa o que, segundo os analistas do BBI, justifica essa nova política de dividendos da estatal (veja mais clicando aqui).

Na ocasião, e também entre os pontos destacados como positivos no resultado, estiveram mais uma queda no custo de extração de petróleo do pré-sal, chegando a US$ 2,27 dólares, sem os custos de frete e participação governamental.

Um dos pontos a serem monitorados pelos investidores ainda é que, com o cenário mais calmo com as perspectivas para a demanda de petróleo, a Opep pode se sentir menos pressionada a estender o programa de corte de produção de 7,7 milhões de barris por dia. Um novo encontro entre o cartel deve acontecer na próxima semana mas, na avaliação do BBI, o caso base é de o corte seja estendido de três para seis meses, adentrando 2021.

Desta forma, conforme destacado no quadro abaixo com as projeções de analistas consultados pela Refinitiv, o cenário para a companhia segue positivo, ainda que de volatilidade em meio ao ambiente incerto por conta da pandemia.

Assim, na próxima semana: dois eventos serão monitorado de perto pelos investidores da companhia: o Petrobras Day, com mais detalhes sobre o cronograma das plataformas, as projeções de fluxo de caixa e de economia de despesas, assim como a reunião da Opep sobre sua política de produção, em 30 de novembro e 1° de dezembro.

Confira abaixo as projeções para as ações da Petrobras, segundo compilação da Refinitiv: 

Ação  Recomendação de compra Recomendação neutra Recomendação de venda Preço-alvo médio Potencial de valorização*
Petrobras ON 7 0 0 R$ 33,07 +27%
Petrobras PN 8 0 0 R$ 37,59 +46%
ADR PBR (equivalente ao ON – NYSE) 13 0 0 US$ 14,16 +42%

*em relação à cotação de 16h45 da sessão desta quinta-feira

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.