Petrobras muda política para acionistas e abre caminho para se tornar boa pagadora de dividendos

Analistas avaliam medida como positiva para a empresa que, contudo, segue repercutindo a aversão ao risco do mercado e viu suas ações caírem forte na sessão

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A princípio ofuscada pelo dia extremamente negativo para os mercados, a alteração da política de remuneração de acionistas pela Petrobras (PETR3;PETR4) anunciada no dia divulgação dos resultados deve ser um tema a ser monitorado com atenção pelos investidores da estatal.

A petroleira destacou que a mudança tem o objetivo de permitir que a administração proponha pagamento de dividendos mesmo em exercícios em que não for registrado lucro contábil.

As mudanças também envolvem a possibilidade de a Petrobras propor, “em casos excepcionais”, a distribuição de dividendos extraordinários mesmo sem lucro contábil, desde que atendida uma meta de endividamento.

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A distribuição de recursos extraordinários, superando o dividendo mínimo legal obrigatório ou o calculado a partir de uma fórmula, poderá ocorrer quando o endividamento bruto da petroleira estiver inferior a US$ 60 bilhões, mesmo em caso de não haver lucro.

Já no cenário de endividamento bruto acima de US$ 60 bilhões, a Petrobras também poderá apresentar proposta de distribuição de recursos aos acionistas mesmo sem lucro contábil, desde que se verifique redução de dívida líquida no período de 12 meses anteriores.

O pagamento deverá ser autorizado “caso a administração entenda que será preservada a sustentabilidade financeira da companhia”, explicou a Petrobras no comunicado.

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De acordo com os analistas de mercado, a notícia é bastante positiva – a despeito da forte queda dos ativos.

Conforme ressalta o Bradesco BBI, com as medidas, será permitido que a Petrobras antecipe o pagamento de mais dividendos, algo que é fundamental para as empresas de petróleo.

Na avaliação dos analistas do BBI, o pagamento de dividendos poderia finalmente desencadear uma importante reavaliação da capitalização de mercado da empresa. “Como temos argumentado, o petróleo se tornou um ativo legado e os dividendos são cada vez mais importantes para definir valores de mercado”, apontam. Antes do anúncio, o BBI havia destacado em relatório recente que a Petrobras estava no caminho de se tornar uma excelente pagadora de dividendos até 2023 (ou 2022, com as vendas de refinarias).

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Para a XP Investimentos, a notícia é bastante positiva porque, além da companhia poder distribuir proventos mais elevados a acionistas antes de atingir a marca de endividamento bruto de US$ 60 bilhões, os proventos refletirão melhor a geração de caixa operacional da companhia.

Na mesma linha, o Morgan Stanley avalia ser importante ressaltar que a política continua vinculada ao perfil de geração de caixa livre, uma vez que é financeiramente sólido já  que a administração continua priorizando a melhoria de sua estrutura de capital e o esforço de desalavancagem.

Dividendos no curto prazo, mas nada excepcional

Dado que a gestão deve continuar a ser cuidadosa com a alavancagem da empresa, isso poderia fazer com que a companhia pague dividendos entre 2020 e 2021, mas os montantes não seriam excepcionais, avalia o BBI.

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O Itaú BBA, por sua vez, ressalta que, nos últimos doze meses, a Petrobras foi capaz de reduzir sua dívida líquida em US$ 12,4 bilhões e o modelo atual estima uma redução da dívida líquida de US$ 18,3 bilhões em 2020. Porém, os analistas veem como improvável uma distribuição de dividendos dessa magnitude.

Para o BBI, é importante destacar que, tendo em vista que a empresa não deve apresentar um resultado positivo em 2020, a Petrobras não precisa cumprir a política de dividendos mínimos para as ações preferenciais em 2021. Portanto, os pagamentos de dividendos em 2021 podem ser iguais para ambas as classes de ações.

Os analistas apontaram que o prêmio que havia até pouco tempo atrás para as ações preferenciais em relação às ordinárias – na sessão desta quarta, as ações chegaram a negociar a valores parecidos, na casa dos R$ 19, era injustificado dado: (1) a perspectiva mais positiva para os preços do petróleo à frente, que tende a favorecer as ações ON; (2) a política de dividendos futura da Petrobras, que deve ajudar a convergir os dividendos para ambas as classes de ações e (3) uma possível oferta de ações PN que estão nas mãos do BNDES e que ainda está pendente, que pode pressionar essa classe de ativos.

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Por outro lado, o estatuto sobre o pagamento de dividendos preferenciais para as ações PNs ainda é válido, lembram os analistas do Itaú BBA. Nesse sentido, segundo o cálculo dos analistas, a classe de ações preferenciais receberá dividendos mais elevados se o valor total a ser distribuído for limitado a aproximadamente R$ 10,5 bilhões (após esse ponto, ambas as classes receberiam valores iguais).

Mesmo com a avaliação positiva sobre os dividendos, um risco fundamental de curto prazo continua sendo a volatilidade do preço do petróleo, em meio à segunda onda de Covid-19 em diferentes regiões do mundo, o que tem levado às perspectivas de recuperação da demanda ficando mais pessimistas. Na sessão, os papéis da Petrobras caem cerca de 5% em uma sessão de forte baixa para os contratos futuros do petróleo do tipo WTI e do brent com vencimento em dezembro, com baixa de 5,51% e 4,73%, com o brent (referência para a Petrobras) abaixo de US$ 40 o barril.

Contudo, a maior parte dos analistas segue bastante otimista com o case de investimentos para a companhia, uma vez que ela vem se tornando mais “enxuta” e apresentando redução da alavancagem, enquanto a perspectiva é de recuperação (ainda que lenta) da demanda para o petróleo a partir de 2021.

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Conforme compilação da Refinitiv, de 7 casas de análise que cobrem o papel PETR3, 6 recomendam compra e só 1 manutenção, possuindo preço-alvo médio de R$ 32 para o ativo, o que corresponde a um potencial de valorização de 61% em relação ao fechamento da véspera. Para os ativos preferenciais, 7 recomendam compra e 1 manutenção, enquanto possuem preço-alvo médio de R$ 33,88 ou potencial de alta de 70%.

Em meio às sinalizações positivas no âmbito micro para a companhia, mas ainda com dificuldades na seara macroeconômica em meio à baixa do petróleo, o Morgan destacou que espera novas sinalizações da companhia na teleconferência após a divulgação de resultados, que acontece amanhã a partir das 10h (horário de Brasília). A partir dela, será possível ter mais detalhes sobre a nova política de proventos da estatal.

(Com Reuters e Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.