Petrobras (PETR4): o resumo das sessões de forte turbulência para a estatal em 8 atos

Sem dividendos extraordinários, com onda de revisões para baixo por bancos e com bastidores sobre próximos passos, analistas chegam a uma conclusão sobre ativos: incerteza aumentou

Lara Rizério

Posto da Petrobras em Brasília 07/03/2022 REUTERS/Adriano Machado

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Mais um passo para o “fim de uma era” de dividendos gordos para a Petrobras (PETR3;PETR4) se desenhou na noite da última quinta-feira (7), quando a companhia divulgou o não pagamento dos tão esperados proventos extraordinários, base para a tese positiva de muitos analistas para a companhia estatal.

Entre o noticiário de que os dividendos “represados” em uma reserva estatutária podem ser pagos a qualquer momento – já que, segundo o estatuto, não podem ser usados para investimentos – e os rumores de que as regras do estatuto podem ser mudadas, a incerteza aumentou e as ações da companhia fecharam a sessão de sexta (8) em forte queda, movimento que se seguiu na segunda, após os papéis ensaiarem uma leve recuperação. Confira abaixo o passo a passo das baixas nas últimas duas sessões:

1. O prenúncio da derrocada

O mercado já começou a se preparar para receber “más notícias” por volta das 21h (horário de Brasília) da última quinta-feira (7), enquanto aguardava ansiosamente pelos dividendos e pelo resultado da companhia. O Broadcast divulgou, citando fontes, que a companhia não pagaria dividendos extraordinários, que era a base para diversas recomendações mais otimistas com a estatal, fazendo com que os ADRs (American Depositary Receipts, equivalentes a ativos negociados nos EUA) PBR da Petrobras (equivalentes aos ordinários) chegassem a cair 13% no after-market da NYSE. As negociações no pós-mercado americano se encerraram às 22h, com PBR em queda de 9,10%.

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2. Oficial: sem dividendos extraordinários

Às 22h06, ou seja, seis minutos após o encerramento do after-market da NYSE, a Petrobras divulgou o comunicado tão esperado e que confirmou os rumores de não pagamento de dividendos extraordinários. Foi feita proposta pelo Conselho de distribuição de dividendos ordinários de R$ 14,2 bilhões, sem pagamento extra. Enquanto isso, a proposta é de que um valor de R$ 43,9 bilhões fosse destinado para uma reserva estatutária.

Logo na sequência, a companhia divulgou seus resultados do período, com um lucro de cerca de R$ 31 bilhões, queda anual de 28% e abaixo das projeções, assim como o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) decepcionou as projeções, mas por efeitos não-recorrentes. Contudo, o resultado foi totalmente ofuscado pelo noticiário sobre os dividendos (ou a falta deles).

3. Primeiros diagnósticos: nada positivo para o investidor

As primeiras avaliações dos bancos e analistas já deram o tom do que seria uma sessão bastante negativa para a ação. O Itaú BBA ressaltou a decisão de não pagamento de dividendos extraordinários como a “notícia que ninguém gostaria de ouvir”, enquanto a XP destacou que o anúncio faz com que os investidores repensem sua visão sobre os riscos da Petrobras.

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4. Onda de revisões de recomendações para baixo

Antes da abertura do mercado, diversas casas que tinham recomendação de compra para a ação rebaixaram para neutra, caso de Santander, Bank of America e Bradesco BBI. Os analistas do BBI ressaltaram que a decisão da empresa de pagar apenas US$ 2,9 bilhões em dividendos pelos resultados do quarto trimestre, com base no mínimo exigido pela política da estatal, “traz incerteza à política, que costumava ser muito clara”. “Como resultado, não vemos mais o ‘dividend yield’ da Petrobras como atraente em comparação com seus pares globais”, apontou.

Para o Santander a falta de dividendos extraordinários manda sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo, especialmente porque vê a Petrobras detendo cerca de US$ 18 bilhões em caixa no final de 2023. Mais para o fim da sessão, foi a vez do Morgan Stanley rebaixar a recomendação.

5. Perda de até R$ 72 bilhões de valor de mercado

Na B3, as ações já abriram com queda de mais de 10%, com a companhia chegando a perder R$ 72,7 bilhões em valor de mercado no pior momento do dia, quanto as ações preferenciais recuaram 13,1%, a R$ 35,10, e as ONs caíram 14%, a R$ 35,47.

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6. Rumores confirmados de divisão do Conselho: Prates mais fraco?

Além das revisões em si e expectativa de dividendos, outro fator de pressão foi o noticiário sobre os bastidores da reunião do Conselho que decidiu apenas pela distribuição dos dividendos mínimos.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi voto vencido em decisão do conselho, conforme apontou a Reuters. A diretoria comandada por Prates tinha proposta de distribuir 50% dos dividendos extraordinários possíveis pelo estatuto, mas conselheiros ligados à União barraram a ideia. Posteriormente, em teleconferência, Prates confirmou que defendeu a distribuição de metade dos proventos extra permitidos. “Eu, como presidente, me abstive de votar, porque não faria diferença nenhuma para o resultado, e acompanhei o voto da minha diretoria que propôs 50%/50%, foi nosso encaminhamento inicial”, disse Prates.

7. Executivos tranquilizaram, mas alívio durou pouco

As ações chegaram a diminuir as perdas para cerca de 8% durante a teleconferência de resultados que teve início no fim da manhã, após executivos da companhia afirmarem que a companhia poderá distribuir aos acionistas montante destinado à reserva estatutária a qualquer momento, caso haja uma decisão futura neste sentido.

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Contudo, na última hora de pregão, os papéis voltaram a cair mais forte com a notícia da Reuters de que a decisão do conselho de administração partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governo quer que a empresa use para investimentos o dinheiro que seria destinado à remuneração extra aos acionistas. Além disso, para que a Petrobras possa usar os recursos da reserva estatutária, o governo vai tentar mudar regra relacionada ao tema. PETR3 fechou em queda de 10,37%, PETR4 caiu 9,14%, levando a uma perda de mais de R$ 50 bilhões de valor de mercado em só uma sessão.

Confira o gráfico que mostra o desempenho das ações PETR3 na última sexta:

8. Recuo continua na segunda

Quem esperava um alívio para as ações da Petrobras na segunda-feira (11) pós turbulência viu mais uma vez uma queda dos ativos, fracassando em manter a recuperação observada no intraday. PETR4 fechou em queda de 1,30%, a R$ 35,65, após chegar a subir a R$ 37,74. Os investidores chegaram a reagir positivamente à notícia de que poderia haver reversão da decisão que reteve os dividendos extraordinários e das falas de Prates reafirmando que as reservas de R$ 43,9 bilhões iriam para os proventos. Contudo, ao longo da sessão, os papéis amenizaram os ganhos, virando para queda na reta final, após o presidente Lula afirmar em entrevista ao SBT que a Petrobras não tem de pensar apenas nos seus acionistas, defendendo que recursos destinados a dividendos sejam transformados em investimentos.

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Antes da divulgação das declarações de Lula na entrevista, o CEO da estatal, Jean Paul Prates, disse que a proposta feita pela diretoria para distribuir 50% dos volumes possíveis de dividendos extraordinários referentes a 2023 ainda está na mesa e poderia ser aprovada em assembleia de acionistas prevista para abril. Prates, Lula e o ministro Fernando Haddad estavam reunidos em Brasília quando a bolsa fechou.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.