Mineradoras de cripto dos EUA e da UE permanecem na Rússia apesar da guerra e das sanções

A investida da Rússia contra a Ucrânia pode ter prejudicado muitos mercados, mas não o de mineração

CoinDesk

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Depois que a Rússia iniciou a guerra na Ucrânia em fevereiro, a União Europeia (UE) e os Estados Unidos ampliaram as sanções contra o país. Por causa disso, as empresas ocidentais fugiram da nação, deixando para trás instalações, bens e funcionários locais.

O esperado era que o mercado russo de mineração de criptomoedas, muito popular por causa da energia barata na Sibéria, também fosse impactado. No entanto, não foi exatamente isso que aconteceu.

Tirando o caso da BitRiver, uma mineradora da Rússia que em abril foi atingida pelas sanções e perdeu negócios com a Compass, uma empresa de mineração dos EUA, nenhuma outra empresa do setor foi sancionada até agora.

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Além disso, clientes da UE e dos EUA não estão saindo em pânico da região – pelo contrário, eles ficaram e alguns novos estão entrarando, dizem pessoas do setor.

“Nada mudou. No mercado de criptomoedas, as pessoas não se importam com essas sanções. Todos que trabalham aqui continuam na ativa”, disse Artem Eremin, CEO da Chilkoot, revendedora de hardware de mineração.

O motivo para o cenário é que a Rússia é um lugar atraente para a mineração de criptomoedas graças à eletricidade barata, ainda mais agora, visto que outras jurisdições até então populares tornaram a vida mais difícil para as mineradoras.

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A China proibiu a mineração no ano passado. E o Cazaquistão cortou toda a eletricidade das mineradoras por vários meses no início de 2021, além de aumentar os custos de energia com um novo imposto neste ano direcionado para o setor.

“Não há mais para onde ir”, disse Eremin.

Ninguém vai embora

A MEATEC, uma empresa alemã, está operando uma instalação de mineração em uma antiga fábrica abandonada em Irkutsk, uma das maiores cidades da Sibéria. A companhia tem atualmente 110 megawatts (MW) de capacidade de hospedagem, dos quais 40 MW estão desocupados, e pretende adicionar outros 60 MW antes do final deste ano, disse Dan Haas, CEO e cofundador do grupo, ao CoinDesk.

A empresa tem sido procurada por clientes da Alemanha, Reino Unido, EUA, Canadá, Irã, Japão, Nova Zelândia e outros países, bem como por mineradores russos locais, disse o chefe de relações exteriores da MEATEC, Alexander Swid. A Europa responde por cerca de 50% do mix; a Rússia, 30%; e os EUA representam cerca de 10%, disse Haas.

“Nenhum cliente está saindo”, falou Swid. Mesmo agora – com o rublo mais forte em relação ao dólar e os preços da eletricidade mais altos – a Rússia continua sendo um local de mineração preferível, completou ele.

A MEATEC iniciou seus negócios de mineração em 2017 na Áustria, disse Haas. No entanto, os preços da eletricidade não eram atraentes. Mais tarde, a empresa fez parceria com uma fazenda de mineração sediada nos EUA (nem a Haas nem a Swid citaram os nomes), mas a colaboração não foi satisfatória, falou. Segundo ele, o tempo de atividade da instalação era geralmente em torno de 60% a 70%, o que significa que o hardware não estava funcionando mais de 70% do tempo.

Em 2017, a MEATEC mudou-se para a Rússia, reaproveitou a fábrica abandonada em uma fazenda de mineração e assinou um contrato de 65 anos com a Irkutskenergo, a empresa de eletricidade local, segundo Haas e Swid. Por vários anos, a firma manteve um perfil discreto e não fez nenhum marketing, então os clientes tinham que encontrar a MEATEC por meio do boca a boca.

A razão pela qual as mineradoras dos EUA e da Europa estão interessados no ponto da MEATEC na Sibéria é que a rede elétrica local tem muita capacidade ociosa. Nos EUA, por outro lado, a recente onda de calor esticou os recursos de energia e os mineradores tiveram que se desconectar algumas vezes, observou Tatiana Yakim, diretora financeira da Summit Mining, uma empresa de mineração com sede na Irlanda que trabalha principalmente com clientes na França.

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Os negócios da Summit Mining começaram essencialmente na Rússia, disse Tatiana ao CoinDesk, quando o fundador da empresa, Mathieu Vincent, pediu que ela ajudasse a montar sua instalação de mineração lá em 2019. Agora, a Summit também tem equipamentos nos EUA, Canadá e Islândia, mas as fazendas russas em Irkutsk e Krasnoyarsk ainda hospedam 40% das 20 mil máquinas que a empresa opera em todo o mundo, disse. Todas as máquinas na Rússia foram compradas antes do início da guerra em fevereiro de 2022, disse ela.

Expansão

As notícias da guerra e das sanções não preocuparam os clientes da Summit, disse Tatiana. No entanto, a empresa decidiu descartar um plano para construir sua própria instalação de mineração na Rússia, que estava em fase final de aprovação.

No início de fevereiro, a empresa estava prestes a investir 1 milhão de euros (cerca de US$ 1 milhão) na construção de sua primeira fazenda de mineração no país, falou ela. Até agora, a Summit tem hospedado suas máquinas em locais de propriedade de grandes mineradoras russas – ela não disse quais. Mas depois que a guerra começou, o projeto foi encerrado.

“Não está claro até onde as sanções irão”, disse Tatiana “Se algo der errado, não está claro como tirar dinheiro da Rússia e devolvê-lo à nossa empresa europeia”. Agora, a Summit considera apenas a expansão para os EUA e Canadá, acrescentou Tatiana.

O principal problema com a Rússia atualmente é que nenhum banco europeu enviará dinheiro para uma empresa local, disse ela, mesmo que a firma esteja usando um banco fora da lista de sanções.

“Se você é um novo minerador na Europa e está tentando enviar dinheiro para a nação pela primeira vez, seu banco fará perguntas sobre por que você começou a fazer negócios com a Rússia de repente”, explicou.

No entanto, os bancos em Dubai e nos Emirados Árabes Unidos continuam a fazer negócios com seus pares russos, disse Tatiana. Ela disse que a Summit encontrou uma solução para enviar dinheiro de e para o país por meio de um banco fora da Europa.

Noventa por cento dos clientes da Summit são franceses, disse Tatiana, minerando principalmente Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH) – as máquinas de mineração ETH estão à venda agora por causa da atualização “Merge” (Fusão, na tradução para o português).

Precedente assustador?

A BitRiver foi a primeira mineradora a ser listada no Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, em inglês), agência do Tesouro dos EUA encarregada de prevenir violações de sanções, e seu caso era diferente de outros projetos cripto sancionados, como a corretora Suex, a exchange Chatex e o mixer Tornado Cash (todos com raízes russas também).

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A BitRiver não foi acusada de nenhuma irregularidade, como lavagem de dinheiro; o problema era que as empresas de mineração “ajudam a Rússia a monetizar seus recursos naturais”, disse a OFAC em um comunicado de imprensa de abril.

“Os Estados Unidos estão comprometidos em garantir que nenhum ativo, por mais complexo que seja, se torne um mecanismo para o regime de Putin compensar o impacto das sanções”, dizia o documento.

A MEATEC aceitou a notícia com calma. A principal entidade legal da empresa, a MEATEC LLC, está registrada na República da Geórgia, e tem duas firmas registradas na Rússia, então “não há risco”, disse Swid.

“Estamos trabalhando com advogados especializados em sanções globais e eles disseram que não estamos violando nenhuma sanção no momento”, falou Tatiana.

Atualmente, os mineradores que trabalham na Rússia estão escondendo quem são os verdadeiros donos do negócio com mais frequência do que antes, disse Eremin, da Chilkoot, mas a demanda por fazendas de mineração locais permanece alta.

Alguns mineradores do Ocidente deixaram seus equipamentos na nação e desistiram, mas outros estão sentados e continuam a minerar, disse Nikita Vassev, fundador de uma popular conferência de mineração no país, a TerraCrypto, ao CoinDesk.

A cada quatro anos, o software da rede Bitcoin reduz em 50% a quantidade de novas unidades da criptomoeda pagas aos mineradores pela mineração de um bloco, em um evento chamado halving, tornando esse negócio mais desafiador ao longo do tempo.

“Agora é um momento importante: faltam apenas dois anos para o próximo halving, e todos entendem que precisam trabalhar duro para ganhar algum dinheiro antes que as recompensas sejam cortadas pela metade”, disse Vassev.

“Nenhum cliente [da Europa e da América] saiu”, disse Sergey Arestov, cofundador da empresa de mineração russa BitCluster, ao CoinDesk, acrescentando que os clientes chineses, enquanto isso, estão mais dispostos a minerar no país do que antes.

Ele reconheceu que questões puramente pragmáticas surgiram depois que a guerra começou e as sanções foram impostas à Rússia. À medida que o país ficou mais isolado do sistema financeiro global e os pagamentos, os clientes do Ocidente pararam de importar novos equipamentos de mineração para as fazendas locais.

Além disso, a taxa de câmbio extraordinariamente alta do rublo russo em relação ao dólar, combinada com o baixo preço do BTC em dólar, torna a mineração na Rússia menos lucrativa, acrescentou Aresov. Quando a guerra começou, alguns clientes da BitCluster suspenderam o transporte de suas máquinas para o país, mas depois tudo voltou ao normal.

“As pessoas olharam em volta, viram que a guerra nuclear não começou e voltaram ao trabalho”, disse Arestov.

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