Magalu, Via e Americanas: analistas veem mais desafios no curto prazo após queda de até 65% das ações em 2021

Concorrência mais forte, economia mais fraca suscitam tempestade perfeita e ações lideram quedas do Ibovespa em 2021: confira o que esperar

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Com um cenário de alta de juros, desaceleração da economia e com o risco fiscal no radar dos mercados, somado a um terceiro trimestre que já trouxe sinais um tanto desanimadores sobre o ritmo de retomada, as ações das varejistas, em especial as empresas de e-commerce, registram forte queda na Bolsa.

A Via (VIIA3), no acumulado de 2021 até a sessão de quarta-feira (17), tinha queda de 65% de suas ações, maior baixa do Ibovespa, enquanto Magazine Luiza (MGLU3) caía 62%, com os papéis em uma forte baixa de 32% em apenas três pregões após a divulgação do balanço. Americanas (AMER3), por sua vez, tinha baixa de 56% dos seus ativos. Confira mais sobre o tema assistindo ao Coffee & Stocks desta quinta-feira (18) com Carolina Ujikawa, gestora da Mauá Capital (player acima).

O ambiente, que já se desenhava mais negativo para as companhias, ganhou ainda mais um ingrediente após o anúncio do Mercado Livre, que suscitou uma análise do Credit Suisse sobre as empresas do setor.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O Credit revisitou o cenário competitivo para as empresas depois da oferta de ações do Mercado Livre desta semana, que levou a uma captação total de US$ 1,55 bilhão. Os analistas destacam que a companhia, com sede na Argentina e cuja ação é negociada na Nasdaq, assumiu a “pole position” em termos de caixa e agora tem mais poder de fogo para continuar investindo e apoiar um crescimento forte pela frente. A empresa é seguida pelo Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3).

Segundo Victor Saragiotto e Pedro Pinto, analistas do Credit, o cenário atual, mais desafiador, exige um uso mais cuidadoso do caixa. “Como se todos os desafios recentes enfrentados pelas empresas brasileiras de e-commerce não fossem suficientes, a oferta do Mercado Livre retomou o cenário mais competitivo para Magalu, Americanas e Via”, apontam.

Contudo, embora reconheçam que a captação, de cerca de R$ 8,5 bilhões, pareça um volume muito expressivo de capital, Saragiotto e Pinto apontam que não muda drasticamente o cenário competitivo, que permanecerá tão forte quanto foi nos últimos anos. Além disso, Magalu e Americanas ainda têm muito caixa, o que ajuda no crescimento da receita.

Continua depois da publicidade

Porém, as notícias sobre captação devem seguir no radar dos investidores. Os analistas reforçam que, como o e-commerce no Brasil tem tudo a ver crescimento, as principais empresas de comércio eletrônico investiram muito dinheiro para aumentar sua presença no mercado online (as quatro maiores empresas de comércio eletrônico levantaram R$ 40 bilhões desde o início de 2019). Assim, sustentar um balanço patrimonial forte é fundamental para enfrentar o ambiente competitivo persistentemente turbulento.

Os analistas apontam que, apenas para comparação, enquanto o follow-on da MELI representou uma diluição muito pequena, a mesma quantidade diluiria os acionistas da Magalu e da Americanas em 12% e 22%, respectivamente. A situação da Via é um pouco mais extrema, com diluição de 49%.

Os últimos dias ainda lançaram luz sobre mudanças importantes do segundo para o terceiro trimestre de 2021. Nos últimos meses, Magalu foi bastante agressivo em um programa de recompra de ações que, combinada com a piora nas margens verificada no terceiro trimestre e o desembolso para a aquisição do KaBum!, deve reduzir o poder de fogo da empresa, com posição de caixa que caiu de R$ 7,7 bilhões para R$ 5,67 bilhões.

Confira abaixo o “poder de fogo” das companhias entre o segundo e o terceiro trimestre de 2021: 

Fonte: Credit Suisse

Via também teve mudanças significativas, dado o aumento inesperado nas provisões trabalhistas que provavelmente terão um impacto de longa duração nos resultados. Consequentemente, seu “poder de fogo” caiu de R$ 1,86 bilhão para R$ 610 milhões, com uma tendência potencialmente negativa no futuro. A Americanas conseguiu aumentar sua margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) para 11,8%, tendo um “poder de fogo” de cerca de R$ 3 bilhões (ante R$ 3,4 bilhões no segundo trimestre).

Curto prazo segue desafiador

O Credit continua avaliando que o curto prazo seguirá difícil para as empresas de comércio eletrônico, devido ao fraco crescimento dos canais físicos e das bases de comparação fortes nas categorias principais. No entanto, acreditam no aumento da penetração do e-commerce e no crescimento atrativo para 2022, o que pode representar um ponto de inflexão para o Magazine Luiza e Americanas, ambos com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) pelo banco.

Em relação à Via, os analistas do banco seguem sendo menos construtivos, uma vez que o recente aumento nas provisões trabalhistas provavelmente exigirá muito caixa que antes era esperado para ser investido no crescimento, o que ajuda a justificar a recomendação underperform (projeção de desempenho abaixo da média do mercado).

Destacando o cenário desafiador para o setor, o Morgan Stanley aponta seguir bastante seletivo com as empresas de varejo. Com relação ao e-commerce, tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para Mercado Livre, negociada na Nasdaq, e para Magazine Luiza na B3.

Para Magalu, o destaque fica para a tese secular de digitalização, apesar dos ventos contrários no curto prazo. Contudo, o preço-alvo para o ativo foi reduzido, de R$ 19 para R$ 17, ainda um potencial de alta de 83% em relação ao fechamento da véspera. Para a Via, cuja recomendação é equalweight (exposição em linha com a média do mercado), o preço-alvo foi cortado de R$ 9 para R$ 8, ainda um potencial de alta de 44% frente o último fechamento. Para AMER3, também com recomendação equalweight, o preço-alvo é de R$ 43, ou upside de 29%.

A XP, por sua vez, segue vendo um cenário desafiador para o segmento e possui recomendação equivalente à neutra para as três ações de empresas brasileiras com exposição ao e-commerce, com preço-alvo de R$ 10 para o papel VIIA3 (upside de 80%), de R$ 45 para AMER3 (upside de 35%) e de R$ 18 para MGLU3 (alta de 32%).

Com relação aos números do terceiro trimestre, mesmo com a forte base de comparação e maior competição, os canais online das companhias continuaram a crescer na comparação anual no terceiro trimestre, mas houve uma piora de rentabilidade e queima de caixa.

O próximo grande catalisador para os ativos é a Black Friday que, segundo a XP, pode não ser tão fraca quanto a análise de consenso está esperando, uma vez que a intenção de compra dos consumidores permanece elevada. Porém, enxergam um risco do lado de rentabilidade, dado que os analistas da casa acreditam que a conversão de vendas só ocorrerá se os preços e promoções se mostrarem atrativos.

Em teleconferência após os resultados, Frederico Trajano, presidente do Magazine Luiza, destacou suas perspectivas para a Black Friday, esperando escoar o estoque de produtos de 100 dias durante o evento e a tradicional promoção de início de ano da varejista. De acordo com o executivo, o nível saudável de estoque seria de 70 dias. O inventário extra por conta da demanda mais fraca, que fez a empresa registrar uma provisão de R$ 395 milhões no terceiro trimestre, além de um cenário de fraqueza das lojas físicas (consideradas mais rentáveis), contribuíram para as ações do Magalu registrarem forte baixa após o balanço.

“Não estávamos esperando a desaceleração que houve nas vendas das lojas físicas no terceiro trimestre e acabamos com estoque maior”, afirmou Trajano. Houve uma queda de 8% no total de vendas nas lojas físicas do Magalu no terceiro trimestre na comparação anual e de 14,6% no conceito mesmas lojas.

Roberto Rodrigues, diretor financeiro da varejista, afirmou que a provisão será gradualmente revertida conforme a empresa vá reduzindo os estoques. Ele explicou que os estoques não são de produtos obsoletos e que foram montados desde o início do ano em meio aos problemas de logística trazidos pela pandemia que fizeram a empresa temer ficar sem mercadoria suficiente.

O Magazine Luiza, cujas lojas físicas vendem notadamente produtos eletrodomésticos e eletroeletrônicos e com custos variando fortemente com o câmbio, chegou a apostar que teria venda mais aquecida no segundo semestre, destacou Rodrigues.

O executivo afirmou que a empresa estava otimista diante do andamento dos programas de vacinação e retirada de medidas de isolamento social, algo que poderia fomentar o fluxo de clientes nas lojas físicas, muito embora o cenário econômico no país já viesse se deteriorando, com aumento de inflação e juros e desvalorização do real.

Trajano reconheceu que, no “curtíssimo prazo”, a situação das lojas físicas da empresa, que trabalham em sintonia com a plataforma de comércio eletrônico da companhia, continuará “desafiadora”, mas que isso não é motivo para a empresa mudar seu modelo de negócios. “Mas temos um histórico de nos recuperarmos de momentos difíceis”, destacou. “Não é problema de modelo de negócio, é problema macroeconômico”, acrescentou.

Segundo Trajano, o Magazine Luiza, que até o terceiro trimestre vinha sendo comedido em promoções e eventos para evitar aglomerações de clientes em lojas por conta de receios relacionadas à pandemia, mudou a tática a partir do mês passado.

“A ordem é aglomerar…Fomos muito responsáveis em termos o cuidado de darmos o exemplo, mas a partir de outubro estamos com ordem de aglomerar para ter bastante gente em loja, mas isso, obviamente diante do contexto econômico, ainda é muito complicado”, disse Trajano durante a teleconferência.

O executivo explicou que o Magazine Luiza continuará investindo em novas categorias de produtos para ampliar a recorrência de compras dos clientes de sua plataforma digital, de maneira semelhante ao que vem sendo desenvolvido pela rival Americanas. Uma das principais apostas do Magazine Luiza neste sentido é a categoria de moda.

Para a XP, os estoques provisionados do Magalu devem ser diluídos ao longo do quarto trimestre, devido ao cenário maior competição e um consumidor mais fragilizado diante da deterioração macroeconômica, o que leva assim a manter uma visão neutra para o setor.

Desta forma, o cenário de curto prazo é bastante desafiador para as companhias do setor, ainda que alguns analistas vejam positivamente alguns ativos de olho no longo prazo, como é o caso do Credit Suisse e do Morgan Stanley com o Magazine Luiza.

Com relação à Black Friday, os analistas da XP apontam: “Mantemos nossa visão cautelosa para o segmento de e-commerce, enquanto os resultados das empresas de vestuário podem ser uma surpresa positiva”.

(com Reuters)

CDB com 300% do CDI? XP antecipa Black Friday com rentabilidade diferenciada para novos clientes. Clique aqui para investir agora!

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.