Lobaev: a história do fabricante de armas russo que tentou financiar a guerra na Ucrânia com criptomoedas

O CoinDesk obteve dados em blockchain que provam movimentação de criptomoedas de Vladislav Lobaev na Binance

CoinDesk

(getty images)

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A exchange de criptomoedas Binance congelou uma carteira relacionada a Vladislav Lobaev, um fabricante de armas russo que arrecadou fundos para as tropas do país na Ucrânia. A informação veio de um representante de Lobaev, bem como via análise de dados de blockchain.

Embora o governo ucraniano não tenha mencionado Lobaev ou qualquer outra pessoa pelo nome, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SSU) publicou na semana passada um comunicado dizendo que a agência “bloqueou uma carteira de criptomoedas pertencente a um cidadão russo que está patrocinando a guerra russa na Ucrânia”. O CoinDesk confirmou então que a carteira era a conta de Lobaev na Binance.

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Fundador da Lobaev Arms, uma empresa que produz rifles e outras munições militares, Lobaev é um entusiasta e defensor da invasão da Ucrânia pela Rússia. Em seu canal do Telegram, ele pede frequentemente aos assinantes que doem dinheiro para que ele possa fornecer mais munição às tropas russas em solo ucraniano.

O canal listou vários métodos de pagamento para os assinantes doarem, incluindo endereços de Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e Tether (USDT).

Depois que a polícia ucraniana descobriu a campanha de arrecadação de fundos, aparentemente convenceu a Binance a congelar a conta, que até então havia recebido mais de US$ 21 mil em Bitcoin, Ethereum e USDT.

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O Serviço de Segurança da Ucrânia não respondeu aos pedidos de comentário. A Binance também não comenta sobre a propriedade das carteiras de cripto em questão.

“Qualquer governo ou agência de segurança no mundo pode fazer solicitações legais em relação a usuários em sua jurisdição, desde que acompanhadas pela autoridade legal apropriada”, disse um porta-voz da Binance.

“No entanto, a Binance também protege seus usuários e se reserva ao direito de rejeitar solicitações que não resistem ao escrutínio legal, onde nenhuma finalidade legal é atendida ou há falhas na abordagem investigativa. Aplicamos o mesmo nível de escrutínio às solicitações que qualquer banco, instituição financeira ou uma grande empresa multinacional faria”, afirma a nota.

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“Lobaev Z”

Vladislav Lobaev é um fabricante de armas conhecido por seus posicionamentos de direita. A Lobaev Arms, que ele toca com seu irmão Nikolay, produz armas de fogo desde 2003, e é especializada em rifles de precisão.

De acordo com o serviço de notícias estatal Sputnik, a empresa já se beneficiou de sanções à Rússia, quando a importação de munição ocidental no país parou. O uso dos fuzis de Lobaev durante a guerra na Ucrânia também foi anunciado pela mídia estatal russa.

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Em seu canal no Telegram, Lobaev tem apoiado ativamente a invasão da Ucrânia pela Rússia e até renomeou seu canal como “Lobaev Z”, acrescentando a letra que as tropas russas colocaram em seus veículos e que se tornou um símbolo não oficial da Rússia durante a guerra.

No grupo da rede social, Lobaev elogia as tropas russas, analisa as armas usadas pelo exército ucraniano e fala mal da Ucrânia, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da comunidade LGBT.

O CoinDesk entrou em contato com Lobaev por meio de seu canal do Telegram e recebeu uma resposta de uma pessoa dizendo que ele era o filho de Lobaev, Evgeny, responsável pela arrecadação de fundos em criptomoedas. Ele confirmou que a conta Binance de Lobaev foi congelada e disse que não sabia o que fazer neste caso.

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Ele também enviou ao CoinDesk uma captura de tela de um bate-papo com a equipe de suporte da exchange. Segundo o atendente, a conta foi “bloqueada devido à uma revisão da conta”.

“Evgeny Lobaev”

Desde meados de março a Binance parou de aceitar cartões bancários russos, após as sanções internacionais ao país e a saída do território russo de empresas como MasterCard e Visa. Questionado sobre como ele conseguiu sacar criptomoedas de uma conta da Binance, “Evgeny Lobaev” disse que usou o mercado de balcão (OTC).

Ele também disse que as criptomoedas não constituíam “uma grande parte” das doações recebidas. Lobaev também usa o serviço de pagamento russo Yoomoney e tem uma conta no banco russo Sberbank.

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Evgeny Lobaev não é uma pessoa pública e as raras menções a ele na internet costumam estar relacionadas à guerra. Há uma conta no LinkedIn para um Evgeny Lobaev trabalhando como coordenador da cadeia de suprimentos na Lobaev Arms. A pessoa na conversa online, contudo, não respondeu ao CoinDesk se era sua conta do LinkedIn ou não.

Segundo relatos, Evgeny Lobaev participou da guerra. Em um vídeo amador publicado no YouTube em 1º de março, um homem em uniforme militar está sorrindo na frente de máquinas de artilharia atirando. Outro vídeo amador diz que essa pessoa era Evgeny Lobaev e que ele foi capturado pelas forças ucranianas.

Mais tarde, um blogueiro russo conhecido como WarGonzo publicou um vídeo mostrando uma pessoa de aparência semelhante, dizendo que era Lobaev e que ele não foi capturado. “Lobaev” disse ao CoinDesk que ele não foi capturado pelas tropas ucranianas e que estava na Rússia.

Carteiras bloqueadas

Em comunicado enviado à imprensa, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SSU) disse que identificou as carteiras de criptomoedas que um certo indivíduo usou para arrecadar fundos para munições e armas que mais tarde estavam sendo enviadas para as tropas que invadiam a Ucrânia. Ainda na nota, o SSU disse estar trabalhando para confiscar os fundos.

O indivíduo, que não foi citado pela agência, conseguiu arrecadar uma quantia equivalente a 800 mil hryvnias ucranianas (US$ 21,7 mil), segundo a nota, e usou esse dinheiro para comprar equipamentos para as tropas das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk – regiões separatistas do leste da Ucrânia que recebem apoio armado clandestino da Rússia desde 2014.

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Desde que a Rússia iniciou sua invasão completa da Ucrânia em fevereiro, ela vem recrutando ativamente a população dessas regiões para ajudar suas próprias tropas.

O site de notícias ucraniano Liga.net identificou o indivíduo mencionado pelo SSU por meio de fotos divulgadas no comunicado à imprensa, que correspondem às fotos no canal do Telegram de Lobaev.

De acordo com a empresa de análise de blockchain Crystal Blockchain, todos os endereços de criptomoedas publicados por Lobaev para arrecadar recursos pertencem à Binance.

Isso explica como as autoridades ucranianas conseguiram bloquear as carteiras. Blockchains descentralizadas, como Bitcoin e Ethereum, não permitem que ninguém bloqueie ou congele endereços ou transações. No entanto, exchanges de custódia centralizadas, como Binance, Coinbase e FTX, que detêm criptomoedas em nome de seus usuários, podem recusar o serviço a usuários individuais a pedido das autoridades.

Não é a primeira vez que isso acontece. Tal bloqueio já aconteceu no passado com contas que receberam dinheiro roubado de exchanges hackeadas ou de terroristas. Além disso, smart contracts (contratos inteligentes) para tokens criados em blockchains, como o contrato que emite USDT, permitem o congelamento de carteiras individuais. A Tether, emissora da USDT, já fez isso anteriormente.

Dinheiro arrecadado

De acordo com dados blockchain, a carteira de Bitcoin que Lobaev listou para levantar recursos recebeu, desde abril, mais de 6,4 BTC (cerca de US$ 19,7 mil). A carteira de Ethereum recebeu 3,25 ETH (mais de US$ 1,5 mil), enquanto uma carteira USDT na blockchain Tron recebeu pouco mais de US$ 840 na stablecoin atrelada ao dólar.

Todas as carteiras foram em grande parte drenadas, com as últimas transações registradas entre o final de julho e 14 de agosto. Isso não significa necessariamente que Lobaev conseguiu sacar todas as suas doações de criptomoedas.

Isso porque endereços de depósito fornecidos por exchanges podem ser usados apenas para armazenamento temporário das moedas, e o que realmente está acontecendo com o dinheiro dos usuários não é totalmente refletido na blockchain pública, apenas nos registros privados das corretoras.

Em julho, a empresa de análise Chainlalysis disse que 54 grupos militantes e voluntários pró-Rússia arrecadaram mais de US$ 2,2 milhões em criptomoedas por meio das redes sociais. Essas organizações usaram doações para comprar armas de fogo, suprimentos médicos, hardware de comunicação via satélite e outros produtos.

A lista incluía o Terricon, um grupo liderado pelo cidadão russo Alexander Zhuchkovsky, banido pelos EUA; Rusich, um grupo associado ao grupo mercenário russo conhecido como Wagner; e os blogs Rybar e SouthPost, que têm autores anônimos.

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