Juros na mínima e estrangeiro ainda de fora na bolsa: em quais ações investir neste cenário?

João Braga, Carlos Eduardo Rocha e Luis Felipe Amaral discutiram o cenário para investimento no Brasil na Expert Talks

Lara Rizério

Carlos Eduardo Rocha, Luis Felipe Amaral e João Braga (Foto: Fernando Perecin)

FLORIANÓPOLIS – A aparente contradição entre o otimismo praticamente de consenso dos locais em bolsa brasileira, ao mesmo tempo em que os investidores estrangeiros parecem não estar de olho no Brasil, segue sendo uma grande polêmica no mundo dos investimentos.

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Em meio a diferentes hipóteses sobre os motivos da falta de apetite estrangeiro no País, João Braga, gestor da XP Asset, Carlos Eduardo Rocha, gestor da Occam e Luis Felipe Amaral, gestor da Equitas, discutiram o tema durante painel realizado na última sexta-feira (22) na Expert XP Talks Floripa, em Florianópolis (SC). O debate foi mediado pelo estrategista-chefe da XP, Karel Luketic.

Com o País registrando uma taxa de juros na mínima histórica, Rocha destacou que o Banco Central ainda pode encontrar mais espaço para cortar os juros. Este cenário, avalia, mostra que estamos vivendo em um momento único e que vai favorecer e muito o mercado de ações. “A salvação se dará pelo risco”.

Um risco que não está sendo tomado pelos estrangeiros, porque “tudo o que está acontecendo aqui não foi entendido”, segundo Amaral.

Para ele, contudo, há um pouco positivo nisso: o valuation ainda barato da bolsa, possibilitando a realocação de pessoas físicas e de fundos locais em ações sem pagar muito por isso.

Já para Braga, o estrangeiro não está no Brasil porque ele não apresenta no momento uma das duas coisas que o atrai para cá: crescimento (através de uma aceleração do PIB) e rendimento (através de juros mais altos).

“O Brasil pode crescer, tudo bem. Mas o estrangeiro vai sentar e esperar”, avalia o gestor da XP.

Rocha, por sua vez, avalia que o fenômeno acontece não por questões internas propriamente, e sim porque o cenário dos países de origem destes investidores também está bastante complicado, o que reduz o apetite por emergentes. Assim, mesmo que de forma a princípio contraditória, “o cenário de incerteza nos desenvolvidos gera a migração [de volta aos desenvolvidos]”.

Porém, o gestor da Occam também aponta que o estrangeiro está entrando no País via oferta de ações, o que ajudará a B3 a se tornar mais robusta. E ainda há mais oportunidades, uma vez que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem a intenção de vender mais de R$ 120 bilhões em participações acionárias, que incluem empresas como Petrobras, Vale e JBS.

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Para Rocha, até mesmo o crescimento fraco não é um obstáculo para o investidor gerar valor, uma vez que “qualidade do crescimento está melhor”, com melhores componentes sem tantos investimentos do setor público.

Segundo o gestor da Occam, após se acostumar a sempre seguir o “curto caminho longo” (aparentemente mais fácil, mas que acaba demorando mais para chegar ao objetivo), o Brasil está começando a seguir o longo caminho curto (em que não são existem soluções fáceis, mas o objetivo é alcançado), o que deixa o investidor animado.

No que investir?

Juros baixos chamando investidor para renda variável e valuations ainda baratos. Com esse cenário desenhado, os gestores apontaram quais são as teses de investimento que estão de olho já para 2020 e os setores mais atrativos.
Fazendo a ressalva de que não costuma olhar setores, mas sim empresas para colocar o patrimônio dos fundos, Braga avaliou que as estatais seguem como uma boa oportunidade de investimento.

“Se eu não investir agora em estatal, vou investir quando? As empresas passaram por um ciclo terrível e agora estão em um ambiente pró-privatização. A BR Distribuidora (BRDT3) foi privatizada e não vimos um cartaz, ninguém comentou direito sobre a privatização da parte de investimento do Banco do Brasil em parceria com o UBS. Temos na carteira Copel (CPLE6) e Sanepar (SAPR4), que gostamos muito”, avalia o gestor.

Contudo, as principais posições do fundo são em Via Varejo (VVAR3) e Qualicorp (QUAL3) pela oportunidade de “turnaround” com trocas de gestão e estratégia de ambas as empresas. Com o cenário favorável para a economia, isso fica mais fácil.

Amaral, por sua vez, aponta que o corresponde a um terço das ações da bolsa brasileira com desempenho atrelado à economia doméstica, como é o caso de varejistas, pode se beneficiar da melhora econômica do País.

Os outros “terços” correspondem a commodities e setor financeiro. “As commodities estão relacionados ao exterior, onde as perspectivas não são boas. No setor bancário, o modelo de lucros altíssimos está sendo desafiado pelas startups”, avalia o gestor da Equitas.

Rocha, por sua vez, também cita as estatais, uma vez que poucos emergentes possuem agenda de privatização como a brasileira.

“O Brasil é o maior case do mundo de redução de juros nominais e reais nos últimos três anos”, aponta. Em logística, o gestor da Occam destacou preferência em Rumo (RAIL3) e empresas no setor financeiro não-bancário, projeta perspectivas positivas para seguradoras e para a IRB Brasil (IRBR3), empresa de resseguros.

B3 (B3SA3), por conta das ofertas públicas e busca das companhias por financiamento no mercado de capitais, e teses de investimentos em tecnologia, como do Magazine Luiza (MGLU3), também foram destacadas por Rocha.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.