A concorrência dos estrangeiros (ainda) não preocupa a Renner, aponta Galló

O ex-CEO e hoje presidente do conselho da varejista também contou que investe metade de seu patrimônio em ações

Lara Rizério

José Galló (Foto: Fernando Perecin)

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FLORIANÓPOLIS – Com uma experiência de mais de duas décadas como CEO da Lojas Renner (LREN3) e, desde abril de 2019 na presidência do conselho de administração da empresa, José Galló vivenciou de perto a transformação do setor de varejo, com as mudanças de hábitos de consumo e a tecnologia ganhando espaço.

Na Expert XP Talks Floripa 2019, evento realizado pela XP Investimentos em Florianópolis, Galló destacou o que realmente mudou o mercado, e as previsões que não se confirmaram, como a de que o e-commerce tomaria o lugar das lojas físicas.

“Muitas empresas (essencialmente) do e-commerce estão crescendo menos e estão indo agora para as lojas físicas”, afirmou. Ele ressaltou que a Renner também está no comércio online, mas não acredita no fim das lojas físicas, uma vez que elas são cada vez mais uma experiência para o consumidor.

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Outra questão que, a princípio, poderia gerar temores na Renner, mas que não tira o sono de Galló, é sobre a entrada de concorrentes estrangeiras. Ele citou o exemplo da Forever 21, que neste ano pediu recuperação judicial, como um exemplo que não deu certo no Brasil (ainda que tenha feito a ressalva que a empresa enfrenta dificuldades no mundo por problemas de gestão).

Para Galló, a entrada de uma estrangeira no país é complicada por conta dos altos custos e das dificuldades logísticas, o que dá uma “certa proteção” aos nacionais. As altas tarifas de importação para vestuário, atualmente em 35%, também ajudam a proteger o mercado da concorrência externa.

Galló disse, porém, que a Renner não está acomodada. Cabe lembrar que uma das pautas que está na agenda de reformas do governo é a de redução das tarifas de importação.

Menor complexidade

Ao falar sobre a cultura da empresa, Galló apontou que um dos motivos para a Renner ter virado uma varejista nacional foi que a empresa deixou de ser complexa e passou a adotar modelos mais simplificados.

E, para que isso fosse foi feito, foi necessária uma mudança do próprio Galló: “Ser simples é muito difícil. E, para você ser rápido, não pode ser complexo. Eu era complexo. Antes de transformar a Renner, eu tive de me transformar.”

Galló afirmou que começou a eliminar atividades após perceber que levava uma vida muito ocupada, com reuniões e compromissos durante todo o dia. Saía do escritório às 20h e ainda levava trabalho para a casa. “Vi que, com as mudanças, começou a sobrar tempo na minha vida. Aprendi a concentrar esforços e a sair da Renner às 19h mais leve”, o que melhorou a qualidade de vida do executivo.

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Essa mudança teve reflexos na estruturação da Renner, levando a uma transformação em processos e às chamadas “Leis da Simplicidade” para que os funcionários passassem a “confiar mais uns nos outros e controlar menos”.

Falando sobre a situação atual do país, Galló disse estar “otimista realista”. “O capital privado está começando a se movimentar, enquanto as reformas estão se incorporando na mentalidade dos congressistas.”

Durante sua fala, o executivo ainda revelou parte de sua estratégia de investimentos. Ele se definiu como um “investidor ousado”, com 50% de seu patrimônio em ações. Além disso, afirmou que possui um family office que investe em startups: “Tenho muita alegria nisso, posso distribuir conhecimento. O maior patrimônio de um país é o empreendedorismo”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.