Itaú (ITUB4) surpreende com crescimento em crédito de risco e inadimplência controlada, mas ação fecha em queda

CEO afirma que banco não tem apetite em expandir linhas de maior risco e vê cenário desafiador

Mitchel Diniz

Publicidade

Os resultados do Itaú (ITUB4) no terceiro trimestre deste ano foram bem avaliados pelos analistas do mercado financeiro. O crescimento da carteira de crédito, aliado a um controle da inadimplência, é o principal aspecto observado pela casa de análise. Também chamou a atenção a capacidade do banco de crescer em linhas de crédito de maior risco, enquanto a concorrência pisou no freio nesse sentido.

Milton Maluhy Filho, presidente-executivo do banco, garante que o Itaú fez ajustes relevantes e reduziu de forma “vigorosa” a concessão em determinados produtos, como cartão de crédito, empréstimos para não correntistas e financiamento de veículos.

“Isso mostra que estamos conseguindo fazer ajustes necessários. O mais importante é que as safras estão enquadradas dentro do nosso apetite”, explicou, em teleconferência com analistas sobre os resultados.

Continua depois da publicidade

Segundo ele, não haverá revisão do apetite em expandir em linhas de maior risco. “A menos que sejam clientes, com histórico, bom relacionamento e uma boa penetração”, afirmou. O executivo diz que o Itaú tem conseguido aumentar o “share of wallet” desses clientes.

Maluhy Filho disse ainda que o equilíbrio do portfólio ajuda o Itaú a navegar por momentos difíceis.

“Somos muito relevantes em todos os segmentos que o banco se propõe a atuar e existem compensações importantes no nosso portfólio”, complementou.

Continua depois da publicidade

O executivo também afirmou que o custo de crédito vem sendo acompanhando pelo banco e vai haver, sim, arrefecimento na carteira. “Para o ano que vem a carteira deve crescer menos do que o que gente viu em 2022.”

Ele também estimou menor crescimento da margem financeira com clientes nos próximos trimestres, já que a economia deve sentir de forma mais intensa o efeito dos juros mais altos, com desaceleração de crédito.

Leia também:

Continua depois da publicidade

Números do 3º trimestre foram bem recebidos

Na avaliação da XP, os resultados do banco continuaram a se beneficiar do crescimento da carteira de crédito, para R$ 1,1 trilhão, e de uma gestão de risco equilibrada, que permitiu o banco manter uma inadimplência (de 2,8% sob controle.

ITUB4 é o atual top pick da XP no setor, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 31.

De maneira geral, a Levante Ideia de Investimentos avalia que o balanço trimestral reafirmou o papel de liderança de Itaú e o prêmio na avaliação de múltiplos entre os grandes bancos, em meio a um cenário desafiador.

Continua depois da publicidade

Para a Levante, o banco mostra a força de suas verticais na entrega de resultados e retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) acima da média e com qualidade.

“Os investimentos em inovação do banco geram resultados diretos no equilíbrio direto de sua receita de serviços, em um contexto no qual a tendência do mercado é de declínio, dada a entrada de novos players aumentando a competividade”, diz a análise.

Dentro os aspectos dos resultados, destacados pelos analistas da casa, está o índice de cobertura de 90 dias do banco, que sofreu apenas uma queda residual, para 215%.

Continua depois da publicidade

“Na nossa visão, o indicador novamente reafirma a força do Itaú no know-how de crédito, enquanto outros bancos estão vendo largas quedas nesse parâmetro, ao mesmo tempo em que crescem muito as provisões. O Itaú parece conseguir trafegar pela deterioração da inadimplência com maior estabilidade”, escreveram os analistas da Levante.

Na avaliação da casa, o Itaú é a melhor opção do setor para atravessar o atual momento de incertezas e os resultados reafirmam essa escolha.

“Dentre os grandes, o Itaú parece ser o mais blindado a esta volatilidade, ao mesmo tempo que tem mostrado competência em manobrar sua carteira de crédito de modo eficiente, enquanto apresenta execução nos resultados de sua tesouraria”, diz a equipe de análise.

O Credit Suisse foi além nos elogios, afirmando que o balanço de trimestral do Itaú foi uma “aula de excelência operacional e de execução”, colocando o banco em um patamar acima das outras instituições financeiras. Os analistas destacaram a expansão relevante da carteira, com ativos saudáveis, e uma forte expansão de margem com os clientes.

“Acreditamos que o resultado vai ajudar a responder às preocupações do mercado sobre o problema sistêmico de qualidade de crédito no varejo, reforçado pelo crescimento das linhas de crédito ao consumidor sem garantia do Itaú”, diz a análise do banco.

O Credit diz perceber que os participantes do mercado estão passando por um crivo, especialmente em cartões de crédito e empréstimos pessoal, com Itaú e Nubank “claramente” se saindo melhor.

Assim como a Levante, o Credit acredita que o Itaú é o “melhor veículo para enfrentar o ambiente cada vez mais incerto no Brasil”, principalmente considerando que as taxas de juros permanecerão altas por um bom tempo.

ITUB4 também é top pick da casa, com avaliação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 36.

Já o Bradesco BBI apresentou reação moderada aos resultados, afirmando que o banco teve um trimestre decente, mostrou tendências sólidas e não entregou grandes surpresas.

“Mesmo seguindo preocupados com a qualidade de crédito, acreditamos que o banco foi capaz de compensar maiores custos de risco com uma margem financeira líquida (NII) forte, mantendo um índice de cobertura estável, em linha com a média de 2019 [pré-pandemia”, escreveram os analistas da casa.

No entanto, o BBI questiona o quão sustentável é o crescimento da carteira do Itaú em linhas mais arriscadas, como cartões de crédito e empréstimos pessoais, nos próximos trimestres.

O BBI mantém avaliação outperform para ITUB4, com preço-alvo de R$ 38.

Mesmo com tantas visões positivas, a ação fechou em baixa hoje na B3. O papel recuou 3,22%, a R$ 26,73, com o setor financeiro ainda pressionado em meio às preocupações fiscais, enquanto ativos de empresas ligadas ao setor de commodities dispararam.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados