O que esperar da temporada de resultados do 3º trimestre de 2022? Confira ações e setores em destaque

Mercados avaliarão impactos da inflação global em alta, a economia brasileira mostrando sinais de resiliência, mas riscos crescentes de recessão no mundo

Lara Rizério

(Getty Images)

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Ao mesmo tempo em que a reta final das eleições movimenta o mercado, a temporada de resultados do terceiro trimestre de 2022 (3T22) ganha força nesta semana e também deve repercutir na Bolsa brasileira.

Conforme destaca a equipe de estratégia de ações da XP, formada por Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, os mercados vão avaliar os impactos da inflação global em alta, a economia brasileira resiliente e riscos crescentes de uma recessão nas principais economias nos balanços das empresas brasileiras.

Apesar dos desafios, é esperado crescimento de receita e lucros para o terceiro trimestre no Brasil. Em relação ao mesmo período de 2021, o mercado, de acordo com o consenso Bloomberg, projeta um crescimento do Lucro por Ação (LPA) das empresas do Ibovespa em 19%, provavelmente explicado pela recuperação no cenário doméstico e a maior capacidade de repasse da inflação aos consumidores.

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Já em relação ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), a projeção é de 25% de crescimento. E para a receita, o consenso também espera sólido crescimento de 23%. Frente o trimestre anterior, o mercado espera certa estabilidade em receita e Ebitda.

“Durante essa temporada de balanços, investidores irão analisar os impactos da inflação e das disrupções nas cadeias de suprimentos globais, e se as empresas estão conseguindo repassar custos maiores adiante”, avaliam.

Para exportadores de commodities, preços menores desses materiais durante o terceiro trimestre podem ter um impacto negativo, que pode ser parcialmente compensado pelo dólar mais forte.

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Dentre as empresas de cobertura da XP, a expectativa é que bancos, varejo alimentar e de alta renda, papel e celulose, shoppings e operadoras de telefonia sejam destaque.

Os analistas veem que as instituições financeiras devem apresentar resultados sólidos, se beneficiando do robusto crescimento do crédito, expansão das receitas de tarifas, e menor consumo de índice de cobertura. Para o varejo alimentar, o destaque fica para o atacarejo, com forte SSS (same store sales ou vendas nas mesmas lojas) e crescimento de receita, enquanto as de alta renda vêm surpreendendo mesmo frente ao cenário macro desafiador.

Shoppings devem continuar mostrando uma forte recuperação, especialmente para carteiras dominantes com maior exposição no segmento de alto padrão como Iguatemi ([ativo=IGT11]) e Multiplan (MULT3).

Confira o calendário de resultados do 3º trimestre de 2022 da Bolsa brasileira

Papel e Celulose serão beneficiadas pelos preços resilientes da celulose durante o trimestre. Já entre as teles, TIM (TIMS3) e Vivo (VIVT3) devem apresentar um trimestre sólido com a consolidação do mercado com a aquisição da Oi Móvel.

Confira abaixo as projeções para o terceiro trimestre de 2022:

Durante o terceiro trimestre, como já mencionado, o dólar seguiu seu movimento de apreciação em relação a maioria das moedas globais, com o real apresentando desvalorização de 2,9% ao longo do trimestre passado. Em dólares, o Morgan Stanley espera que as empresas brasileiras devam apresentar resultados modestos, com uma taxa de crescimento anual de 15% para receitas, 3% para o Ebitda e estabilidade para lucros.

Os estrategistas do Morgan destacam a SLC (SLCE3) no setor agrícola, com a expectativa de novos resultados fortes, mas mais fracos para players de açúcar e álcool em geral com o impacto do clima. Já para educação, os players de livros didáticos devem apresentar números mais fortes na avaliação do banco, com destaque para Arco Platform, listada na Nasdaq, enquanto os dados para as empresas de ensino superior não devem ser tão expressivos.

Para o setor de saúde, que conta com diversos segmentos, espera-se outro trimestre fraco, com receita orgânica lenta, pressão de margem e queda de lucro por ação, com exceção de RD, ex-Raia Drogasil (RADL3) no varejo farmacêutico, com forte abertura de lojas e aumento de preços regulados), e Hypera HYPE3), com crescimento sólido de receita, mas alguma pressão de margem.

O Morgan afirma estar com uma postura cada vez mais construtiva para o consumo doméstico em 2023, mas ainda não vê os resultados do terceiro trimestre do setor como um todo como uma inflexão positiva para as varejistas discricionárias.

Confira as ações e setores em destaque:

Bancos e instituições financeiras em geral

Os bancos começam a divulgar os resultados no próximo dia 26 de outubro, com a divulgação dos números do Santander Brasil (SANB11).

Na avaliação do Bradesco BBI, a chave para entender a evolução dos resultados em 2023 deve ser a qualidade dos ativos e os
números de crescimento dos empréstimos no 3T22, juntamente com as mensagens das equipes de gestão.

“Todos os olhares devem estar voltados para os indicadores tradicionais de qualidade dos ativos dos bancos (taxa de inadimplência e custo do risco), além de indicadores secundários, como: i) baixas, ii) renegociações e iii) venda de carteiras de crédito”, avaliam os analistas.

Dito isso, o lucro líquido recorrente médio deve ficar relativamente estável na variação trimestral (-2% na variação trimestral); Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4) devem apresentar resultados fortes, enquanto o Santander Brasil pode enfrentar pressão. Entre os bancos de média capitalização, o ABC (ABCB4) deve apresentar os resultados mais fortes, o Banco Pan (BPAN4) deve apresentar desempenho misto e os resultados do Banrisul (BRSR6) podem permanecer sob pressão.

“De fato, as taxas de inadimplência devem continuar se deteriorando devido ao aumento dos empréstimos para pessoas físicas e pequenas e médias empresas, levando a um maior custo de risco no 3T22, enquanto também esperamos que os bancos apresentem uma quantidade significativa de crédito renegociado e/ou vendido”, apontam os analistas.

No entanto, neste trimestre, também acreditam que os bancos podem apresentar alguma desaceleração na originação de produtos mais arriscados (créditos não garantidos), principalmente para a base de não clientes, e com isso, questões sobre mix e crescimento de crédito para o próximo ano devem começar a ganhar importância. Na verdade, isso importa porque pode impactar o resultado com intermediação financeira (NII) em 2023 e se os bancos poderão continuar compensando o maior custo do risco.

As atenções se voltam ainda para o Bradesco (BBDC4). Cabe ressaltar que, neste mês, JPMorgan e Itaú BBA cortaram a recomendação para as ações do banco, de olho na temporada de balanços. O BBA reduziu a recomendação para equivalente à neutra destacando que não espera mais que a inadimplência atinja um pico e que os spreads com clientes continuem melhorando, o que neutralizaria os efeitos negativos da tesouraria. Os spreads com clientes começam a se estabilizar na medida que a mudança de mix não ajuda na margem (rentabilidade) e as taxas na ponta já se encontram em patamares elevados.

Além disso, a inadimplência que, até então, se concentrava no varejo, começa a subir para as pequenas e médias empresas, aumentando nossas preocupações de uma eventual piora para grandes empresas no ano que vem. “Para este ano, já esperamos que as despesas com provisões fiquem acima do topo do guidance (projeção). E em 2023 devem acelerar e continuar pressionando os resultados”, avalia o BBA.

O Goldman Sachs aponta esperar que as tendências de crédito devem ser positivas em termos líquidos, mas a qualidade dos ativos terá deterioração. Os analistas destacam que o Itaú deve se destacar entre os grandes bancos.

“No curto prazo, prevemos tendências mistas para a temporada de resultados do 3T22. Entre os destaques  1) o crescimento do volume de crédito deve permanecer acima dos níveis normalizados (13% na base anual em média); 2) o mix de crédito continua mudando para linhas com acréscimo de NIM (margem financeira); 3) taxas mais altas tendem a sustentar as margens do passivo e capital de giro. No entanto, do lado negativo esperamos: 1) um aumento esperado nos índices de inadimplência (+15 pontos-base na base trimestral na média) e nas provisões (principalmente para BBAS3); 2) alguma fraqueza dos NII (receita líquida de juros) de bancos privados; 3) impacto parcial do reajuste salarial anual (alta de 8% na base anual a partir do início de setembro); bem como 4) menor inflação impactando os resultados de seguros do Bradesco”, apontam os analistas.

Entre as empresas do setor financeiro não-bancário, a Genial Investimentos aponta que espera mais um trimestre com melhoras para Cielo (CIEL3), com a guerra entre adquirentes seguindo mais pacífica com aumento de preços e volumes robustos, crescendo em dois dígitos.

“Com isso, esperamos um lucro de R$ 424 milhões no 3T22 para a Cielo, com bom crescimento de 10,5% na base trimestral e 100,4% ano a ano. Nossas estimativas estão 17% acima do consenso do mercado. Para 2022, estimamos que a empresa entregue um lucro de R$ 1,478b (contábil recorrente), com um belo crescimento de 78,3% na comparação anual”, avaliam os analistas.

Varejo: cenário desafiador continua

A expectativa, com diferenças entre os vários segmentos, é de que o terceiro trimestre seja um período de resultados fracos para o setor, avalia a XP, diante da renda disponível ainda pressionada, desafios relacionados ao clima e uma base de comparação mais normalizada.

“Os destaques positivos devem ser as varejistas de alta renda, enquanto as varejistas alimentares e farmácias devem permanecer como as mais resilientes, apesar do crescimento orgânico desacelerar trimestre a trimestre. Quanto aos destaques negativos, o e-commerce deve permanecer com o crescimento de receita pressionado, enquanto as varejistas de moda de média-baixa renda devem ser impactadas pelo clima, cenário macro e níveis de inadimplência elevados”, aponta a XP.

Analisando os diferentes segmentos, são esperados resultados mistos para os nomes de consumo discricionário, com destaque novamente para as varejistas de alta renda, apesar de algumas já começarem a reportar desaceleração do crescimento por conta da base de comparação normalizada.

Quanto às varejistas de média-baixa renda, espera-se um crescimento de receita pressionado pela antecipação da demanda de inverno no 2T22, pela primavera atrasada e pelo impacto do cenário macro em outras categorias (casa e decoração e fashiontronics), enquanto as margens devem cair por conta da menor alavancagem operacional. “Por fim, continuamos a ver um cenário desafiador para a Petz PETZ3) e Natura&Co NTCO3, apesar de uma melhora versus o segundo trimestre”, avalia.

Para o varejo alimentar, a projeção é de sólido crescimento de receita, apesar de uma desaceleração do indicador de vendas mesmas lojas (SSS) por conta da deflação. O atacarejo seguirá como destaque, com forte SSS e crescimento de receita, enquanto as operações de varejo devem reportar uma melhora de SSS diante de uma base mais normalizada. Quanto a rentabilidade, esperamos uma pressão de margem por conta da forte expansão (atacarejo) e um cenário macro desafiador (varejo).

No e-commerce, crescimento pressionado e queima de caixa continuam. “Esperamos que o varejo físico continue a se recuperar, enquanto o online (principalmente 1P, estoque próprio) deve continuar desacelerando por conta do cenário macro, base de comparação difícil e normalização do mix de canais. Não esperamos recuperações de margem significativas, dado que o baixo crescimento limita a alavancagem operacional, contribuindo para a continuidade dos prejuízos e queima de caixa”, aponta.

Cabe ressaltar que as ações de e-commerce tiveram uma forte queda na última semana, na expectativa pelo resultado, com destaque para Americanas (AMER3).

Para o BTG Pactual, o trimestre deve continuar mostrando um ponto de inflexão nos fundamentos da maioria das empresas de sua cobertura, com a receita líquida crescendo 70% versus o 3T19 e 15% na base anual, e o Ebitda crescendo 22% na base anual (ainda impulsionado pelo crescimento mais rápido e esforços para otimizar custos e adotar abordagens mais racionais de preços).

Mas o ritmo de recuperação será fraco em comparação aos trimestres recentes, especialmente para segmentos discricionários e aqueles em que a inflação desacelerou recentemente. Enquanto isso, custos de financiamento mais
altos devem afetar o resultado consolidado do setor (queda de 39% na base anual).

Já para as farmácias, avalia a XP, devem continuar reportando resultados sólidos, mas em desaceleração, diante da forte sazonalidade do 2T por conta do reajuste de preços. Quanto à rentabilidade, enxergam margens estáveis ou ligeiramente melhores, por conta da alavancagem operacional e ganhos de eficiência, que são parcialmente compensados por investimentos estratégicos.

Na visão do Safra, no varejo farmacêutico, o crescimento de mais de 25% no faturamento da Panvel (PNVL3) é o destaque em um trimestre geralmente positivo para o setor farmacêutico em termos de vendas, apesar da desaceleração da receita de serviços (testes Covid).

A abertura de lojas e a alta demanda por antigripais e anti-inflamatórios resultaram em uma dinâmica de receita positiva. Além disso, o reajuste de preços de abril sustentou os contínuos ganhos de margem.

Quanto à indústria, a Hypera Pharma deve ser o destaque, que deve apresentar um crescimento de receita de mais de 22% no ano, suportando a expansão da margem Ebitda (Ebitda sobre receita). Já a Blau (BLAU3) deve ser o destaque negativo com outro conjunto de resultados sem brilho com um ambiente competitivo ainda difícil para imunoglobulina.

Commodities

Mineradoras e siderúrgicas

Com relação à mineração e siderurgia, a XP aponta que o 3T22 deve apresentar resultados mais fracos quando comparado ao trimestre anterior devido aos menores preços das commodities (minério de ferro com queda de 24% no trimestre e vergalhões com queda de 19% no trimestre), com as melhorias sazonais na produção compensadas pela inflação de custos.

“Ainda esperamos discussões sobre o setor chinês de infraestrutura e imobiliário, impactando a demanda por minério de ferro e aço, e temores de recessão econômica na Europa e nos EUA. Das empresas  sob nossa cobertura, o Ebitda deve cair dois dígitos trimestralmente”, apontam os analistas da casa.

Na avaliação do BBI, os  preços mais fracos devem pesar sobre os resultados da Vale (VALE3), projetando um Ebitda ajustado (sem considerar as despesas de Brumadinho) de US$ 4,3 bilhões (queda trimestral de 22%). Os volumes de minério de ferro devem começar a melhorar sazonalmente (recuperação mais acentuada apenas no 4T22) e espera 75 milhões de toneladas no 3T22 (avanço de 3% no trimestre, mas ainda 1% menor em base anual).

Para a Gerdau (GGBR4), as margens devem cair, mas ainda em níveis saudáveis (EUA ainda em 32%). “Estimamos o
Ebitda da Gerdau no 3T22 em R$ 5,2 bilhões, recuo de 22% no trimestre de 26% em um ano”, aponta o banco. No Brasil, os volumes e preços domésticos de aços longos devem permanecer estáveis no trimestre. Do lado negativo, o custo
caixa/tonelada deve aumentar Na América do Norte, esperam que os volumes diminuam 10% no trimestre e os preços
praticados comecem a cair. A divisão LatAm deve registrar volumes estáveis no trimestre, mas preços mais fracos, enquanto a divisão de Aços Especiais deve registrar volumes e margens menores também no trimestre.

A Usiminas (USIM5), na visão dos analistas, terá um trimestre para esquecer, já que as pressões de custo impactam (embora algum alívio seja esperado no quarto trimestre). “Estimamos Ebitda recorrente ao redor de R$ 680 milhões, 64% menor no trimestre”, afirmam os analistas.

Por fim, CSN (CSNA3) & CSN Mineração (CMIN3) terão outro trimestre difícil, mas volumes maiores de minério de ferro trarão algum alívio. O BBI estima Ebitda consolidado da CSN em R$ 2,7 bilhões, recuo trimestral de 17% e de 37% em um ano. Os resultados da divisão de aço devem cair no trimestre, em função dos menores preços praticados (preços domésticos caíram 10% no trimestre), parcialmente compensados por maiores volumes (volumes domésticos cresceram 8% no período).

Já para as empresas de alumínio e ouro, a XP avalia que, apesar dos altos preços de energia e baixos estoques de alumínio, os bloqueios chineses e as preocupações com a recessão econômica derrubaram os preços do alumínio durante o 3T22 (-19% no trimestre). Para a CBA (CBAV3), espera resultados mais fracos devido aos menores preços do alumínio e maiores custos caixa. Para os produtores de ouro, as preocupações com a recessão e os bancos centrais comprometidos em reduzir a inflação resultaram em preços mais baixos do ouro neste trimestre (-8% no trimestre). No entanto, a melhora de produção para Aura (AURA33) na base trimestral deve impactar positivamente os resultados da empresa.

Papel e celulose

A XP aponta que o setor deve apresentar bons resultados neste trimestre. Os preços da celulose permaneceram resilientes durante o 3T (média China BHKP em US$ 862 a tonelada, alta de 7% na base trimestral), principalmente devido a restrições de oferta, gargalos logísticos e inflação de custos. Para papel e embalagens, esperamos preços e volumes resilientes e custos caixa mais baixos. A demanda de celulose e papel e a dinâmica de custos devem ser o tema principal das  teleconferências, avalia.

Além disso, as preocupações com a queda dos preços da celulose continuam impactando o posicionamento dos investidores no setor.

Para os próximos trimestres, os investidores estão preocupados com: (i) medo de recessão na Europa e EUA, (ii) preocupações com bloqueios na China impactando a demanda por metais e P&P, (iii) desaceleração econômica global no 4T22 e 2023.

Petroleiras em destaque

A XP destaca que ainda observa narrativas mistas impulsionando os preços das commodities no 3T22: temores de uma recessão global, bloqueios na China e vendas de reservas estratégicas dos EUA por um lado, juntamente com a preocupação com a escassez de derivados e a incerteza sobre o fornecimento de petróleo bruto no médio prazo, por outro lado.

“Para este trimestre, prevaleceu a narrativa negativa, resultando em uma redução geral do preço do brent (média do 3T22 em US$ 97,70 o barril, queda de 12,6% na base trimestral), parcialmente compensada pela depreciação do real (média do 3T22 em R$ 511 o barril versus R$ 550 média 2T22, baixa de 7,5% ante o 2T22).

“No entanto, continuamos confiantes de que esses preços poderão proporcionar mais um trimestre de bons resultados para as empresas sob nossa cobertura. Adicionalmente, pensamos que os temas de atenção dos investidores incidirão nas particularidades/desafios específicos de cada empresa, como o andamento das aquisições e a evolução dos planos de redesenvolvimento dos campos, para as empresas júnior”, avalia.

Com relação à Petrobras, que registra forte volatilidade com a proximidade do segundo turno das eleições, o Credit Suisse espera resultados fortes e altos dividendos novamente, uma vez que os preços médios do brent foram de US$ 98 o barril no período.

“Na verdade, acreditamos que a Petrobras poderia anunciar dividendos de US$ 6 bilhões a US$ 9 bilhões (rendimento de 7%-10%) no 3T22. (…) Não completamente descartado, há também um cenário mais remoto em que a empresa poderia pagar até US$ 12 bilhões em dividendos, dependendo de quanto embolsou de desinvestimentos e do fluxo de caixa livre esperado no 4T22”, destacam.

Frigoríficos, alimentos e bebidas

Os analistas da XP esperam resultados mistos para os frigoríficos brasileiros devido à sua diversificação geográfica e de proteínas. Para carne bovina no Brasil, projetam margens aumentando devido a preços resilientes, principalmente no mercado de exportação, aliados a custos mais baixos em função do aumento do abate e, portanto, da oferta de gado.

“Para a carne bovina dos EUA, esperamos que a compressão das margens continue no trimestre como resultado da acomodação dos preços e devido à crescente restrição de oferta de gado no país, o que está aumentando significativamente os custos para os frigoríficos e, consequentemente, afetando negativamente as margens”, apontam.

Já para indústria avícola, os analistas veem uma tempestade perfeita. A crise Rússia/Ucrânia aliada à gripe aviária no Hemisfério Norte limitou a oferta de aves no mundo, sustentando os preços mais altos da proteína. Além disso, os consumidores estão trocando a carne bovina por carne de frango, após preços mais altos e uma inflação persistente que prejudica o poder de compra dos consumidores. Além disso, parte da indústria enfrentou problemas de eclodibilidade que afetaram negativamente a produção avícola. Essa perspectiva, juntamente com a queda nos preços das commodities e, portanto, custos mais baixos, representarão um aumento nas margens dos frigoríficos brasileiros expostos a aves, tanto no Brasil quanto nos EUA, na visão da casa.

Como a carne suína continua sendo a terceira opção para o consumidor brasileiro, o setor segue cada vez mais voltado para a exportação, o que aumenta sua dependência da China. No entanto, os preços da carne bovina e de aves estão subindo no mercado interno, levando o consumidor a aumentar o consumo de carne suína. Os analistas veem a China novamente em um ponto de virada para sua produção de suínos com preços em alta, o que deve levar a um aumento nas importações, seja o curto ou médio prazo.

Especificamente sobre as operações nos EUA, o Credit Suisse aponta que espera uma segunda metade do ano mais fraca do que a primeira metade de 2022, mas ainda assim acima do nível histórico. Os preços do atacado caíram 22% nos últimos 12 meses, mas no varejo ficaram praticamente estáveis. A forte demanda dos varejistas trouxe uma margem para um nível, que os analistas veem que não será sustentável, mas que não deve impactar adicionalmente nos preços de atacado.

Na parte de frango, as conversas indicam um bom caminho, mas sem grandes destaques. A dinâmica parece ter deteriorado um pouco com a queda de preços, especialmente para os cortes mais premium.

Entre as empresas das bebidas, a Ambev (ABEV3) divulgará seus números do terceiro trimestre no dia 27 de outubro, com os analistas do Itaú BBA estimando que os resultados fiquem levemente abaixo do que tinham inicialmente para o período.

“Apesar de enxergamos a receita da divisão de Cerveja Brasil (principal catalisador de crescimento da empresa) 15% maior ano contra ano, puxada sobretudo pela política de preços adotada pela companhia, entendemos que o desempenho mais fraco da divisão CAC (Caribe e América Central) e o aumento nas despesas financeiras relacionadas ao “hedge” (mecanismo de proteção) cambial na Argentina (pertencente à divisão da América do Sul) possam pressionar os resultados no curto prazo”, avaliam. Assim, calculam que a Ambev reportará Ebitda consolidado de R$ 5,5 bilhões (alta de 1% em um ano).

Construtoras e shoppings

A visão para os analistas da XP é distinta, a depender do segmento de atuação.

Do lado das construtoras de baixa renda, seguem vendo resiliência na demanda no segmento no terceiro trimestre de 2022, devido a uma combinação positiva de (i) incorporação das atualizações do CVA, aumentando o poder de compra dos mutuários e melhorando a rentabilidade das empresas; (ii) capacidade de financiamento robusta do FGTS; e (iii) sinais de arrefecimento da inflação de custos.

“Dessa forma, vemos cenário misto para o 3T22, com as construtoras que já operavam com rentabilidade (Cury CURY3 e Direcional DIRR3) conseguindo acelerar o volume de vendas líquidas, mantendo uma rentabilidade saudável, possivelmente mantendo crescimento de receita líquida e margens brutas saudáveis”, afirmam os analistas.

Por outro lado, veem os nomes mais negativamente impactados com a dinâmica de custos reduzindo o volume de lançamentos e vendas líquidas para recuperar margens, reduzindo os níveis de receita líquida e margem bruta, buscando aumentar a margem a apropriar, aumentando a rentabilidade no médio prazo.

“Continuamos com uma visão neutra para as construtoras de média e alta renda no 3T22, dado o ambiente de juros desafiador e dificuldade de repasse de preços, o que deve afetar a margem bruta. Além disso, vemos uma volatilidade maior na demanda, dado cenário eleitoral e a Copa do Mundo, o que deve aumentar a incerteza e reduzir o volume de lançamentos no 2S22”, apontam os analistas. Eles veem ainda um movimento de vendas de estoque mais intenso no segmento de média e alta renda, o que é positivo devido à diminuição do carrego de projetos das companhias, porém implica em descontos maiores, o que pode ter efeitos na margem bruta das companhias.

Já a XP aponta que, do lado dos shoppings, esperam seguir vendo uma forte recuperação do setor no terceiro trimestre de 2022, especialmente para portfólios dominantes e com maior exposição no segmento de alto padrão (Iguatemi e Multiplan), o que já pode ser visto nas primeiras prévias de vendas do trimestre.

Dito isso, esperam ver uma continuação da tendência de crescimento dos números operacionais e financeiros, dada (i) redução progressiva dos descontos; (ii) fluxo de veículos se recuperando significativamente em relação aos níveis de 2019; (iii) inadimplência líquida e custos de ocupação sob controle, apesar do aumento significativo da receita de aluguel, o que leva a um risco potencial de revisão para alta das estimativas de consenso.

Já a Eleven Financial avalia que, para os shoppings, o trimestre apresenta sazonalidade por ser um trimestre mais fraco em termos de vendas, uma vez que não há datas comemorativas relevantes e tem férias escolares.

“Apesar disso, esperamos um crescimento de vendas em termos reais tanto na comparação com o 3T19 quanto 3T21, com avanço na taxa de ocupação média do setor e queda da inadimplência líquida, mesmo com a retirada de descontos, o que
reforça o momento positivo para o setor de shopping centers”, avaliam os analistas.

Em termos de alavancagem, entendemos que o resultado financeiro deve continuar impactando o lucro líquido e  o fluxo de caixa proveniente das operações ajustado (FFO, na sigla em inglês), com destaque para a brMalls (BRML3). Dessa forma, mantém visão construtiva e positiva para o setor, que sazonalmente tem o 4T como melhor trimestre do ano, sendo que nossas preferências são Multiplan e Iguatemi pelo portfólio mais premium, que tendem a apresentar maior resiliência dado o posicionamento dos shoppings, mantendo MULT3 como a top pick da casa de análise.

Telecomunicações e tecnologia

O Credit Suisse aponta o momento operacional forte para as empresas de sua cobertura com o crescimento da receita do segmento móvel, reforçando a visão de que a consolidação do mercado levou a um cenário competitivo mais benigno, combinado com o potencial de valorização considerável com a redução do ICMS.

“Esperamos que a receita líquida do pré-pago acelere a partir do terceiro trimestre, já que as operadoras de telefonia móvel optaram por aumentar seus lotes de GB ao invés de reduzir os preços. Estamos menos confiantes dos ganhos de ICMS no segmento de pós-pago e fixo”, afirmam os analistas.

Do lado mais negativo, o time comenta a pressão de lucros observada no trimestre dadas as altas despesas financeiras e a expectativa é de que essas despesas devam continuar elevadas enquanto a Selic permanecer alta.

No fim, o efeito líquido de receitas mais fortes e despesas financeiras mais altas ainda é negativo e assim reduziram as suas estimativas para o lucro no ano. Em relação aos riscos, inflação continua sendo o principal tema e também o fator que os investidores quase sempre comentam pra justificar uma certa falta de apetite pelo setor.

A XP aponta ter uma visão positiva para as big teles. TIM e Vivo devem apresentar mais um trimestre de resultados sólidos, refletindo um cenário competitivo mais racional em meio à consolidação do mercado com a aquisição da Oi Móvel. Ambas as empresas estão conseguindo fazer aumentos de preços mantendo o churn (taxas de cancelamento) sob controle.

As empresas estão migrando sistemas para aplicar descontos aos consumidores nos planos pós-pagos e não terão impacto nos resultados, porém, no pré-pago as empresas mantiveram o preço mínimo de recarga e deram mais gigas de dados aos clientes. Portanto, o saldo líquido no pré-pago é positivo e o impacto da menor alíquota de ICMS mais do que compensa o menor nível de recarga devido à maior franquia de dados.

Em relação aos ISPs (provedor de serviços de Internet) sob sua cobertura Brisanet (BRIT3), Unifique (FIQE3) e Desktop (DESK3), os analistas destacaram um cenário macroeconômico ainda desafiador, além de uma competição mais acirrada, que impactaram negativamente as adições líquidas.

A Brisanet deve ser o destaque positivo do trimestre impulsionado principalmente pela expansão de margem Ebitda. Por outro lado, os números operacionais da Anatel para julho e agosto já foram divulgados e a Unifique reportou um fraco ritmo de adições líquidas orgânicas, avalia a casa.

Educação

Rafael Barros, analista da XP, espera que as empresas de educação apresentem resultados mistos no 3T22.

“Projetamos que a maioria das empresas sob nossa cobertura apresente números positivos de captação no 2S22, seguindo uma tendência semelhante ao que vimos no 1S22”, afirma. Além disso, espera que as empresas agora se tornem um pouco mais seletivas em relação aos preços, preservando a rentabilidade e revertendo a tendência de queda de tickets que temos observado ao longo dos últimos anos.

“Vemos as empresas priorizando a melhoria de eficiência e a redução da alavancagem, sendo considerados desinvestimentos para atingir esses objetivos”. Para o analista, a Cruzeiro do Sul (CSED3) espera que o destaque positivo desta temporada de resultados.

O ambiente econômico atualmente não favorece as empresas de educação, dado que a incerteza quanto a mercado de trabalho e renda tende a pressionar a decisão de começar a faculdade. As empresas parecem ter mudado a abordagem de preços, reduzindo os descontos usados ​​para trazer volumes. Assim, espera que os tickets médios – tanto no segmento presencial quanto no digital – finalmente parem de cair. “No entanto, achamos difícil que as empresas passem a inflação cheia para os seus alunos”, aponta.

“As empresas passaram por momentos muito desafiadores em relação às suas operações e, além disso, aumentaram a alavancagem financeira para crescer de forma inorgânica. O ponto comum entre as empresas é que, agora, as prioridades passaram a ser tornar a operação o mais eficiente possível (enxugando o negócio em alguns casos) e reduzir o peso da dívida nos resultados”, avalia.

Transportes 

Embora os trimestres de meio de ano sejam historicamente mais fracos para as companhias aéreas, os resultados de Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) devem ser neutros, avaliam os analistas da Genial, que estão mais positivos para o resultado de Azul.

“Se do lado positivo tivemos bons volumes e precificações assertivas das passagens, do lado negativo segue mais pressão de custos. Os grandes vilões seguem sendo a combinação dólar alto e querosene de aviação ainda não reajustado”, apontam.

O combustível, apesar das diminuições nos preços de querosene de aviação realizadas pela Petrobras, possui uma defasagem de aproximadamente 45 dias até impactar as companhias aéreas, portanto, apesar de o preço do querosene ter diminuído pouco mais de 10% no 3º trimestre, essa medida só terá impacto no resultado do 4T22. O dólar se manteve alto, tendo um pico no final do trimestre. Ao longo dos meses do 3T22, a média de fechamento ficou 3,7% maior que a média do 1T22 e 5,4% acima do 2T22. Dado que os pagamentos de leasings são contabilizados no último dia do mês, a expectativa é de que tenhamos um aumento nas despesas financeiras das companhias.

Em outros segmentos, a XP destaca um forte trimestre operacional para a Rumo (RAIL3) e a Hidrovias do Brasil (HBSA3) conforme as exportações de grãos enfrentam fortes perspectivas de volume no 2S22, com dinâmica positiva de rendimento principalmente para a Rumo devido aos custos de logística relativos favoráveis.

Os analistas da XP veem resultados mistos para as empresas de aluguel de carros com a Localiza (RENT3) provavelmente reportando resultados neutros (em grande parte poluídos pelo primeiro trimestre reportado após a fusão com a Unidas). A equipe de análise espera que a Movida (MOVI3) mostre resultados mais fracos à medida que o segmento de Seminovos normaliza seus resultados para margens mais baixas. Já veem os resultados continuamente fortes no aluguel de caminhões com a Vamos (VAMO3) reportando resultados otimistas mais uma vez (forte crescimento com preços sustentados em níveis elevados).

Elétricas e saneamento

Sob a ótica de resultados operacionais, a XP espera pouca volatilidade.

Distribuidoras e transmissoras de energia não devem apresentar surpresas em relação a comparação anual. Já as geradoras vivem um bom momento com a alta dos reservatórios e incremento da geração hídrica.

Por outro lado, a alta pluviosidade na região Nordeste reduziu a incidência de ventos, afetando a geração eólica dos parques da região. O mesmo motivo influenciou os resultados das térmicas, que foram menos despachadas no período. “Esperamos, no entanto, que cias com alta concentração de hidrelétricas apresentem resultados ainda impactados negativamente pelo hedge de energia a feito em 2021”, afirmam os analistas.

No segmento de saneamento, a XP acredita que deve postar resultados com baixa variação frente ao trimestre anterior.

Saúde

Para o Itaú BBA, as empresas do setor de saúde devem apresentar resultados mistos no terceiro trimestre. “Esperamos que uma frequência alta siga impactando o resultado da maior parte das empresas do segmento, apesar do período ser
sazonalmente mais fraco para a ocupação dos hospitais. Ainda assim, estimamos um ambiente ainda desafiador
para a maior parte dos operadores de saúde”, avaliam os analistas do banco.

Para os hospitais, de forma geral, os resultados devem ser impactados por uma taxa de ocupação sequencialmente mais
baixa, apesar da busca por procedimentos eletivos seguir forte. “Esperamos ver também leve aumento de preço (ticket) médio na maior parte dos grupos hospitalares e, depois de um primeiro semestre impactado pela alta dos preços de suprimentos, devemos ver maior normalização dos custos de materiais e medicamentos”, avaliam os analistas.

Para o banco, em sua avaliação, Rede D’Or ([ativo=RDOD3]) deverá apresentar uma taxa de ocupação mais baixa sequencialmente e um aumento de ticket médio de 2,5% que, combinados com maior diluição de custos de materiais e medicamentos, deve impulsionar uma leve expansão de rentabilidade (margem).

Com relação a operadores de planos, no caso de Hapvida (HAPV3), avalia que um ambiente competitivo em que a maioria dos competidores deve apresentar alta sinistralidade deva ajudar a companhia, o que leva a projetar um crescimento de 147 mil beneficiários, sendo a maior parte deles vindo da vertical Intermédica. “Apesar dos reajustes começarem a gerar algum resultado, esperamos que o forte impacto de aumento de custos com pessoal leve a uma sinistralidade um pouco mais alta na comparação trimestral de 73,1%, bem como contração de margem”, aponta.

“Para OdontoPrev ODPV3, esperamos aumento de receita com leve melhora de sinistralidade, ajudando a rentabilidade; enquanto para Qualicorp QUAL3, imaginamos a perda de 46 mil novas vidas, com números de inadimplência altos”, afirmam os analistas.

Eles esperam ainda que as empresas de diagnósticos apresentem os melhores resultados do trimestre, especialmente Fleury. “Esperamos que a companhia tenha bom crescimento de receita, impulsionado pelo forte volume de exames e pela performance das aquisições, levando a um aumento de rentabilidade”, avalia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.