Ibovespa tem queda de 2,5% na 3ª semana seguida de baixa e vai a menor patamar desde março; dólar sobe a R$ 5,28

Entenda o que provocou o desempenho negativo da Bolsa e o que esperar daqui para frente

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (17) e encerrou a semana com perdas de 2,49%. Foi a terceira semana consecutiva de desempenho negativo do índice. Entre política, derrocada do minério de ferro e sequência de baixas do Wall Street, analistas destacam que o benchmark devolveu todo o otimismo que veio na esteira da carta do presidente Jair Bolsonaro esfriando o clima de confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF).

O Ibovespa teve queda de 2,07%, a 111.439 pontos com volume financeiro negociado de R$ 44,58 bilhões. Esse foi o menor patamar de fechamento do índice desde 9 de março, quando benchmark encerrou a sessão cotado a 111.331 pontos.

Vale lembrar que hoje teve vencimento de opções, o que inflou os dados de volume.

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Enquanto isso, o dólar comercial subiu 0,33% a R$ 5,282 na compra e a R$ 5,282 na venda. Na semana, a moeda dos EUA se apreciou em 0,28% ante o real. Já o dólar futuro com vencimento em outubro avança 0,76% a R$ 5,305 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu três pontos-base a 7,06%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de oito pontos-base a 9,04%, DI para janeiro de 2025 avançou 11 pontos-base a 10,19% e DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de 11 pontos-base a 10,60%.

Segundo Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, a queda na semana de mais de 20% do preço do minério, que é a commodity metálica mais importante para o Brasil, não ajudou em nada a deixar os investidores mais confortáveis para abrirem e manterem posições compradas.

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Para piorar, Attuch explica que a decisão do governo de aumentar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) deixou claro que o cenário de crescimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais incentivou o governo Bolsonaro a ficar mais populista.

Hoje, o presidente Jair Bolsonaro publicou um decreto que aumenta o IOF para financiar a elevação do benefício do Bolsa Família. Agora, as operações de crédito de pessoas jurídicas terão alíquota de 2,04%, contra 1,5% antes, e as das pessoas físicas terão alíquota de 4,08%, ante 3%.

O governo espera arrecadar R$ 2,14 bilhões a mais e garantir o pagamento do benefício provavelmente a partir de novembro desse ano, já no novo valor (ainda não definido, mas estimado em torno de R$ 300).

“O Bolsonaro tenta comprar popularidade porque a sensação de bem-estar na economia hoje não lhe garante uma reeleição. O efeito disso no mercado é juro longo subindo, câmbio subindo e Bolsa para baixo, o que leva também a uma onda de revisões para baixo nas projeções para o crescimento da economia”, afirma.

Attuch acredita que depois do alívio da carta conciliatória, intermediada pelo ex-presidente Michel Temer, ficou claro que os problemas econômicos do Brasil não foram embora. “Os problemas não foram embora, a inflação segue aumentando e as perspectivas para a economia pioram. Qual é o custo econômico do governo comprar popularidade e deixar parada a agenda de ajuste fiscal?”, questiona.

Já João Beck, economista e sócio da BRA, analisa que o aumento do IOF anunciado pelo governo deve ajudar a ancorar a curva curta de juros, mas com bastante redução da atividade e prejudica a recuperação da economia num momento importante de pós-Covid.

“O governo encarece os financiamentos e empréstimos em um momento de fraqueza econômica e de endividamento recorde. A saída do Executivo vem por conta de uma relação difícil com o congresso, que tem limitado a capacidade do Planalto de negociar saídas mais responsáveis para financiar os programas sociais.”

Na opinião de Beck, o Brasil já passa por um nível alto de endividamento e com o aumento da alíquota do IOF passa a ficar ainda mais endividado e o crédito fica mais caro. “Para os setores mais ligados ao consumo interno, é prejudicial. O consumo das famílias vai ser impactado.”

Em termos de perspectivas, Roberto Attuch enxerga que a volatilidade continuará a dar o tom nos mercados. Ele recomenda que os investidores tenham carteiras defensivas e expostas ao exterior. “O Brasil, nos próximos 12 meses, a não ser que haja algum game changer, será um mercado apenas para alocação tática”, sumariza.

Lá fora, o dia foi de mais uma baixa dos índices americanos por conta dos temores em relações ao coronavírus e diante da expectativa pela reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) na semana que vem. Setembro também é historicamente um mês de desempenho fraco no mercado americano.

Além disso, esta sexta foi dia de “quadruple-witching”, termo que nos Estados Unidos se refere a um dia em que ocorre o vencimento de opções de ações, de índices futuros de ações, de ações e de “single-stock futures”. Assim, os mercados acionários norte-americanos podem ter um dia mais volátil.

A China injetou US$ 14 bilhões de liquidez no sistema financeiro, com objetivo de acalmar o mercado em meio às preocupações sobre o caso Evergrande, mas a pressão sobre os papéis da incorporadora imobiliária, que recuaram 3,42% na sexta (após perdas chegarem a mais de 11% na sessão), continuam. Os papéis são prejudicados por temores quanto a problemas do grupo com endividamento.

Enquanto isso, o minério de ferro continua caindo, sendo cotado à US$ 101,70 em Singapura. Já na Bolsa de Dalian, a queda é de cerca de 7%, a 629 iuanes, abaixo dos US$ 100.

Já na Europa, dados divulgados nesta sexta indicam que as vendas no varejo no Reino Unido caíram inesperadamente em agosto, recuando 0,9% no mês, frente a uma previsão média de analistas ouvidos pela agência internacional de notícias Reuters de alta de 0,5%.

Política

No Congresso, a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios.

A PEC encaminhada pelo governo divide em dez parcelas o pagamento dos precatórios de mais de R$ 66 milhões e impõe uma limitação provisória dos pagamentos anuais de precatórios a 2,6% da receita corrente líquida, o que também sujeitará precatórios entre R$ 66 mil e R$ 66 milhões a eventual parcelamento. Pelo texto, os precatórios de até R$ 66 mil serão integralmente quitados.

Já o presidente Bolsonaro, em sua live semanal na quinta-feira, afirmou que alertará, em discurso que fará na Assembleia da ONU na próxima semana, sobre supostos riscos à segurança alimentar do Brasil e do mundo caso o Supremo Tribunal Federal (STF) não reconheça o chamado marco temporal para a demarcação de terras indígenas, que estabelece uma linha de corte a comprovação de que esses territórios estavam ocupados pelos povos na promulgação da Constituição, em 1988.

Atenção ainda para a pesquisa Datafolha de intenção de voto. Lula teria 56% no segundo turno, ante 31% de Bolsonaro

O ex-presidente aparece com 44% das intenções de voto para o primeiro turno da eleição e segue à frente na corrida presidencial, enquanto Bolsonaro conta com 26% das intenções de voto.

Por fim, caminhoneiros se reuniram em Brasília para debater uma agenda única e cogitar greve.

Covid e vacinação de adolescentes

Na quinta (16), a média móvel de mortes por Covid em 7 dias no Brasil ficou em 582, patamar 7% abaixo daquele de 14 dias antes. Em apenas um dia, foram registradas 637 mortes.

As informações são do consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias de Saúde no Brasil, que divulgou, às 20h, o avanço da pandemia em 24 h.

A média móvel de novos casos em 7 dias foi de 15.592, queda de 28% em relação ao patamar de 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 35.128 novos casos.

Chegou a 140.373.340 o número de pessoas que receberam a primeira dose da vacina contra a Covid no Brasil, o equivalente a 65,8% da população. A segunda dose ou a vacina de dose única foi aplicada em 77.790.266 pessoas, ou 36,47% da população.

A dose de reforço foi aplicada em 233.641 pessoas, ou 0,11% da população.

Na quinta-feira, o Ministério da Saúde voltou atrás, e passou a recomendar a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos somente para aqueles portadores de comorbidades e privados de liberdade. Até o momento, a única vacina aprovada para adolescentes no país é a da Pfizer, aplicada também para esta faixa etária em países como Estados Unidos, Chile, Canadá, França e Israel.

Em transmissão pelas redes sociais, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, confirmou que o pedido da alteração partiu do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Segundo informações do jornal O Globo, a decisão ocorreu sem ouvir técnicos do Programa Nacional de Imunizações (PNI), e surpreendeu especialistas, governadores e a própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo ressalta que a mudança é alvo de críticas de especialistas e pelos Conselhos Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse também que os adolescentes sem comorbidades que receberam a primeira dose da vacina contra Covid-19 devem ter a imunização suspensa e não receber a segunda aplicação.

Em entrevista coletiva, o Ministério da Saúde ressaltou que foram registrados 1.545 eventos adversos da vacinação entre adolescentes, sendo que 93% deles seriam de erros de vacinação de jovens que receberam outras vacinas que não a da Pfizer. A Anvisa reafirmou a recomendação de uso deste imunizante.

Há registro ainda de uma morte, em São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo, temporalmente associada à vacina, o que significa que ocorreu na época em que o jovem foi vacinado, e que está em investigação. A vacina aplicada foi a Pfizer, autorizada pela Anvisa para esta faixa etária.

Em nota, o governo de São Paulo classificou de “irresponsável” a disseminação de informações sobre o caso que, de acordo com o Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado, ainda está em investigação. “Qualquer afirmação ainda é precoce e temerária”, afirmou. O governo paulista disse que seguirá com a vacinação.

Queiroga disse que a nota técnica que tratava de autorização para vacinação de adolescentes falava apenas da vacinação a partir da metade de setembro, depois que todos os adultos e adolescentes com comorbidades tivessem sido vacinados.

Agora, no entanto, Queiroga alega que não há evidências científicas definitivas sobre isso, mesmo com autorização para aplicação do imunizantes da Pfizer nesta faixa etária.

Vários Estados já estão com vacinação avançada entre adolescentes. De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, a maior parte dos Estados não planeja parar a imunização deste grupo.

Além disso, o relator da CPI da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou na quinta-feira que pretende fazer uma seleção criteriosa dos tipos penais que serão usados contra o presidente Jair Bolsonaro para que o relatório do colegiado tenha consequência rápida na Procuradoria-Geral da República (PGR) e no Tribunal Penal Internacional (TPI).

Para preparar seu parecer final, a comissão tem consultado um grupo de juristas que apontaram ao menos sete crimes praticados por Bolsonaro no enfrentamento à pandemia. Os juristas também devem respaldar a denúncia contra o governo no TPI.

“É evidente que nós teremos crimes comuns –são muitos os crimes comuns–, crime de responsabilidade e crime contra a humanidade”, disse Renan. “Mas nós vamos fazer isso com critério, com responsabilidade.”

“Nós não vamos… incoerentemente, querer atribuir um número máximo de crimes apenas para penalizar as pessoas publicamente. Não. Nós queremos fazer, presidente Omar, escolhas acertadas, para que esse relatório tenha uma consequência rápida na Procuradoria-Geral da República e também no Tribunal Penal Internacional” reforçou.

Segundo a agência internacional de notícias Reuters, há receio de que o futuro relatório contra Bolsonaro que será encaminhado à PGR não avance, diante do fato de o atual procurador-geral, Augusto Aras, ter sido recentemente reconduzido pelo presidente.

Já a Polícia Federal cumpre na manhã desta sexta-feira mandados de busca e apreensão em endereços da Precisa Medicamentos em São Paulo, em atendimento a determinação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que aceitou pedido feito pela CPI da Covid no Senado, informou a cúpula da comissão de inquérito em nota.

“A operação destina-se à busca e apreensão de informações relativas ao contrato entre a Precisa Medicamentos e a empresa indiana Bharat Biotech, assim como todos os documentos relacionados a este contrato”, afirma a nota assinada pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), pelo vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

Radar corporativo

Vale (VALE3)

O conselho de administração da Vale aprovou a distribuição de dividendos referente ao primeiro semestre, no valor de R$ 8,108 por ação, com pagamento previsto para o próximo dia 30, informou a companhia.

Segundo fato relevante, o valor refere-se à antecipação da destinação do resultado do exercício deste ano. A Vale ressaltou que o valor dos dividendos por ação poderá sofrer pequena variação em decorrência do programa de recompra e a consequente alteração do número de ações em circulação.

A Vale também anunciou que o conselho aprovou o cancelamento de 152.016.372 ações adquiridas em programas de recompra anteriores.

BRF (BRFS3)

A companhia de alimentos BRF anunciou nesta quinta-feira que fechou contrato com a Pontoon para construir um parque de autogeração de energia solar em Mauriti e Milagres, no Ceará, com capacidade instalada de 320 Megawatt pico (MWp).

Segundo a empresa, o investimento estimado no projeto é de aproximadamente R$ 1,1 bilhão (3,7 milhões/MWp instalado), e a BRF investirá diretamente cerca de R$ 50 milhões. O parque deve iniciar as operações em 2024.

Em 1.170 hectares, serão instalados 600 mil painéis solares, que permitirão que a energia gerada seja distribuída às unidades da BRF no Sul do País.

A iniciativa se soma à joint venture da BRF anunciada no mês passado com a AES Brasil (AESB3) para autoprodução de energia eólica no Complexo Eólico Cajuína (RN), e outros projetos em andamento, envolvendo produtores integrados.

Companhia Brasileira de Alumínio (CBAV3)

A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) estimou impacto total da crise hídrica no segundo semestre em entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), informou a empresa controlada pelo conglomerado Votorantim na quinta-feira. Para 2022, a companhia afirmou que tem “um excedente de lastro de energia ainda não vendido para lidar, se for o caso, com um cenário de geração hídrica tão crítico quanto 2021”.

Allied Tecnologia (ALLD3)

A Allied Tecnologia anunciou que avalia fazer uma nova oferta pública subsequente de ações com esforços restritos. Para isso, convocou BTG Pactual, Bradesco BBI, Itaú BBA, XP para assessorá-la na possível oferta.

“A efetiva realização da potencial oferta, assim como qualquer operação deste tipo, está sujeita, entre outros fatores, às condições do mercado”, afirmoua Allied em fato relevante.

Fundada em 2001, a varejista de produtos eletrônicos de marcas como LG, Samsung e Apple estreou na B3 em abril com uma oferta inicial de ações (IPO) que movimentou cerca de R$ 190 milhões.

Portobello (PTBL3)

A fabricante de revestimentos cerâmicos Portobello anunciou nesta quinta-feira que seus acionistas aprovaram a emissão de R$ 300 milhões em debêntures simples, com prazo de cinco anos.

Por meio de fato relevante, a Portobello explicou que os recursos da captação serão usados para resgate antecipado das debêntures da emissão anterior.

(com Estadão Conteúdo e Reuters)

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.