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SÃO PAULO – Além dos temores com a desaceleração da economia e a regulação em diversos setores, um fator em específico fez com que as Bolsas chinesas e de Hong Kong registrassem um movimento de forte aversão ao risco nas últimas sessões.
O temor é de um possível default da segunda maior incorporadora imobiliária do país, a Evergrande, deixando bancos e investidores com dezenas de bilhões de dólares pendentes, com esse risco podendo assim se estender pelos mercados mundiais. A Evergrande conta com grandes companhias internacionais entre seus investidores, como Allianz, Ashmore e BlackRock.
A incorporadora com a maior dívida do mundo, com passivos de cerca de US$ 300 bilhões (embora não tenha de fazer pagamentos de bônus em moeda estrangeira antes do ano que vem), afirmou na última semana que pode não conseguir cumprir com suas obrigações financeiras.
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Isso levou à forte queda dos preços de seus títulos e os negócios com suas ações nas bolsas de valores de Shenzhen e Xangai até chegaram a ser suspensos. No ano, a baixa das ações é de cerca de 80%. Apenas nesta quinta, as ações da empresa caíram 6,4% em Hong Kong. A notícia sobre a difícil situação da gigante do setor também elevou as preocupações com a alta alavancagem do setor imobiliário no país, que representa mais de 28% da economia da China.
O índice Lippo Select de 52 ações, que é composto principalmente por empresas imobiliárias sediadas na China continental, caiu 23% no acumulado do ano, fechando no nível mais baixo em quatro anos nesta quinta.
Na sequência dessas notícias, na quarta-feira da última semana, a agência de classificação de risco Moody’s reduziu a nota de crédito em moeda estrangeira da Evergrande de “CCC+” para “CC”, apontando que “default” de algum tipo “parece provável”. A Moody’s, por sua vez, apontou que os credores têm “perspectivas fracas de recuperação” em caso de “default”.
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A Fitch Ratings destacou o potencial de riscos de crédito para vários setores se a Evergrande não pagar as dívidas, acrescentando que bancos menores e incorporadoras vulneráveis podem enfrentar um aumento “significativo” de empréstimos duvidosos.
Na quarta-feira desta semana, houve, de uma certa forma, a confirmação das expectativas, com o anúncio de autoridades chinesas de que os principais credores da Evergrande não devem esperar pagamentos de juros de empréstimos bancários que vencem na próxima semana.
Em busca de expandir seu crescimento, a Evergrande fez financiamentos a juros baixos e, de forma alavancada, foi para outros segmentos como futebol e veículos elétricos, mas agora está ficando sem opções para pagar seus credores. A empresa tem buscado levantar dinheiro tentando vender vários ativos, mas as operações ainda não se efetivaram.
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A crise de liquidez da Evergrande aumenta a preocupação de investidores sobre o desempenho do amplo setor imobiliário chinês. Segundo dados oficiais, o valor das vendas de imóveis caiu 20% em agosto em relação ao ano anterior.
Analistas do Morgan Stanley cortaram projeções de lucro para o setor em 6% este ano e em 12% para 2022 após os resultados do segmento no primeiro semestre.
O banco de investimento mostrou preocupação com a possibilidade de um default da Evergrande afetar fornecedores, outras incorporadoras e mercados financeiros. Analistas também estão preocupados com o risco de uma desaceleração mais ampla do setor e de qualquer expansão das medidas de impostos sobre imóveis.
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Analistas do Goldman Sachs também reduziram as previsões de crescimento dos lucros anuais de incorporadoras imobiliárias chinesas até 2023 em cinco pontos percentuais. Além disso, cortaram os preços-alvo das ações em 18%, em média, citando a pressão considerável sobre o segmento devido às medidas de desalavancagem da China.
Isso ainda pode “levar a um declínio gradual dos preços dos imóveis e da atividade de construção”, escreveram analistas como Yi Wang em relatório na terça-feira.
Os analistas observaram, porém, que a China poderia adotar algumas medidas para conter os danos no setor.
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Theresa Kong, diretora de renda fixa da Matthews Asia, destacou à CNBC que há “muita alavancagem” no sistema. “É por isso que é realmente importante garantir que continue a haver liquidez e que haja confiança”.
“Por último, mas não menos importante, certamente é para garantir que não haja mais agitação social porque Evergrande tem um alcance muito profundo.”
A Evergrande possui mais de 1.300 projetos imobiliários em mais de 280 cidades na China, de acordo com o site da empresa. Nos últimos dias, protestos de compradores de projetos que não se concretizaram e investidores furiosos ganharam força em várias cidades da China.
Analistas apontam que o governo chinês não deve permitir uma quebra caótica. “Uma falência da Evergrande poderia prejudicar a confiança dos consumidores se afetar os depósitos pagas pelas famílias por casas que ainda não foram concluídas, mas presumimos que o governo atuará para protegê-los”, afirmou a Fitch.
As autoridades chinesas, de acordo com agências internacionais, estariam se preparando para uma reestruturação da dívida, reunindo especialistas contábeis e jurídicos para examinar as finanças da incorporadora. Contudo, as principais autoridades de Pequim não dizem se vão ou não permitir que os credores de Evergrande sofram pesadas perdas, de modo que os detentores de títulos descartaram as poucas chances de um resgate.
Cabe destacar que o governo chinês está determinado a diminuir o financiamento o setor imobiliário, justamente para conter o endividamento do setor, em níveis sem precedentes. Assim, apertou as condições de acesso ao crédito para incorporadoras imobiliárias nos últimos meses.
Além disso, segundo as novas regras, Evergrande não pode vender propriedades antes de sua construção estar definitivamente concluída. No passado, o grupo abusou deste modelo para financiar e manter seus negócios funcionando.
“As autoridades chinesas estão muito preocupadas com o rápido aumento da dívida imobiliária por duas razões principais. Em primeiro lugar, o acúmulo excessivamente rápido de dívidas imobiliárias por parte das famílias e incorporadores pode desencadear uma crise financeira sistêmica se os preços das propriedades sofrerem um queda sustentada”, aponta o banco de investimento japonês Nomura.
Já o segundo ponto é que o rápido acúmulo de dívidas é insustentável e exclui o financiamento que poderia ser alocado para usos mais sustentáveis e eficientes, como investimento na fabricação de bens de ponta e consumo doméstico, afirmam os especialistas.
O problema, contudo, é que “cortar” o financiamento deste setor significa enfrentar uma “montanha” de dívidas.
A Nomura alerta que o setor imobiliário na China depende em grande parte do crédito. “De acordo com nossa estimativa, a dívida totalizou cerca de 33,5 trilhões de yuans no final do segundo trimestre de 2021. Por outro lado, os empréstimos hipotecários da China totalizaram 36,6 trilhões de yuans no final do segundo trimestre de 2021, 13% a mais do que no final do segundo trimestre de 2020. Para colocar esses números em perspectiva, o PIB nominal da China em 2020 foi de 101,6 trilhões de yuans”, avaliam.
Já o banco de investimento Natixis espera que mais empreendedores imobiliários privados e pequenos fiquem pelo caminho com regulamentações mais rígidas e receitas mais fracas, especialmente os com alta alavancagem. A China está aumentando sua pressão regulatória em vários setores na tentativa de retomar o controle da economia.
“Uma questão chave é se a queda de Evergrande vai desencadear um efeito dominó e apresentar riscos sistêmicos. A resposta é que os riscos sistêmicos devem ser evitados antes do Congresso do Partido Comunista de 2022, devido ao seu significado histórico. No entanto, não pode ser descartado que a crise da dívida da Evergrande possa crescer como uma bola de neve no futuro, tendo em vista que o crescimento econômico não será tão forte quanto no passado. O cenário mais provável é que a Evergrande seja obrigada a vender ativos com grandes descontos “, conclui Natixis.
Isso pode ter grandes impactos para a China. O setor imobiliário é o maior “contribuinte” para o PIB do país. Com base nos dados de 2020, Nomura estima que o setor imobiliário contribua a cerca de um quarto do PIB da China. A importância do setor imobiliário para as receitas públicas é ainda mais significativa.
Em conjunto, o abrandamento dos volumes de vendas de casas novas e do investimento na construção imobiliária (em termos reais) podem afetar diretamente o crescimento real do PIB no segundo semestre, avaliam os economistas.
(com informações da Bloomberg)
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